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5 INVESTIGAÇÕES A RESPEITO DE CONCEPÇÕES

5.1 Origens da Semiótica

A palavra “semiótica” vem do termo grego semeiotik, que significa “a arte dos sinais”. É a ciência dos signos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Em oposição à linguística, que se restringe ao estudo dos signos linguísticos, essa ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico – artes visuais, fotografia, cinema, música, culinária, vestuário, gestos, religião, ciência, etc.

A origem dos questionamentos sobre o signo, sua significação e sentido remontam ao período do surgimento da Filosofia, tendo como precursores Sócrates, Platão e Aristóteles. No século IV, próximo ao início da Idade Média, Santo Agostinho sustentava que o visível revela o invisível, o divino, e assim os símbolos presentes na Bíblia Sagrada deveriam ser interpretados, pois “As alegrias da visão, da audição, do olfato, do tato nos abrem para a beleza do mundo, para que nela descubramos o reflexo de Deus” (BARATA, 2006, p. 1). Para Umberto Eco, esse bispo e filósofo foi o fundador da teoria do signo, ao afirmar que “signo é toda coisa que faz vir à mente alguma coisa além da impressão que a própria coisa causa a nossos sentidos” (BARATA, 2006, p. 1).

Mas somente no início do século XX, com os trabalhos paralelos de Charles Sanders Peirce (1839-1914), e de Ferdinand de Saussure1 (1857-1913) o estudo dos signos começa a adquirir autonomia e o status de ciência. A semiologia, mais ligada à linguística verbal, é derivada dos trabalhos de Saussure, considerado o pai do estruturalismo linguístico. A produção de significados a partir de signos, sinais estes que poderiam ser interpretados por qualquer audiência, foi estudado por Peirce e recebeu a denominação de semiose, também chamada de semiótica, ou semiologia, dependendo da escola a que se refere.

5.1.1 Charles Peirce

Charles Peirce, nascido nos Estados Unidos, formado em Matemática, Física e Química, é autor de trabalhos em inúmeras áreas: epistemologia, metodologia científica, ciências cognitivas, psicologia, semiótica, estética, fenomenologia, história e teologia. Mas é com base em Immanuel Kant (1724-1804), filósofo prussiano, que Peirce constrói sua visão da ciência.

O autor propõe a semiótica como a ciência das leis gerais dos signos, objetos pertencentes ao conjunto dos fenômenos que são conhecidos por meio de observação e dedução. A tríade signo, objeto e interpretante é a base da teoria peirceana.

Para Peirce a imagem é categorizada como signo icônico ou signo cultural, e o ícone pode ser dividido em ícone puro e signos icônicos, ou hipoícones. De especial interesse no nosso trabalho, o hipoícone, por ser constituído por imagem, diagrama e metáfora. Contudo, Ferreira (2006) adverte que a visão semiótica de Peirce apresenta-se, muitas vezes, com um elevado grau de dificuldade a uma primeira leitura, e aponta que Umberto Eco busca no seu livro Tratado Geral de Semiótica aplicar a estrutura linguística a códigos visuais. Eco pretende contradizer o modelo de campo semiótico e sugerir um método unificado para o estudo de fenômenos que aparentemente diferem entre si, como se fossem mutuamente irredutíveis (ECO, 2005, p. 5).

1 Filósofo linguísta nascido em Genebra, Suiça.

Partindo dessa premissa, e considerando o material hipermídia sobre o tema “Carboidratos”, baseado em imagem, como o nosso objeto de estudo, a obra de um autor contemporâneo que busca estabelecer o limite da semiótica peirceana talvez possa nos ajudar a esclarecer o papel da imagem no contexto proposto.

5.1.2 Umberto Eco

Umberto Eco (1932-), filósofo, professor e escritor italiano, iniciou sua formação acadêmica no curso de Direito, do qual desistiu para estudar Literatura e Filosofia Medieval. Trabalhou como editor de programas culturais da RAI, rede estatal de televisão italiana, e depois como professor de Comunicação Visual e de Semiótica. Em 1971 assumiu a cátedra de Semiótica da Universidade de Bolonha, e em 1974 foi responsável pela organização do primeiro congresso da Associação Internacional para Estudos da Semiótica.

No período compreendido entre as décadas de 70 e 80, Eco procura definir os limites da pesquisa semiótica, baseado em filósofos como Kant e Peirce. No Tratado Geral de Semiótica, escrito em 1975, Eco busca estabelecer os limites da Semiótica e descreve como seu objeto de estudo todos os processos culturais envolvidos na comunicação e que subsistem porque sob eles se estabelece um sistema de significação.

Entretanto, a partir da “tipologia dos signos” proposta por Peirce (Símbolos – arbritariamente relacionados com o seu objeto; Índices – semelhantes ao seu objeto; e Ícones – fisicamente relacionados com seu objeto), Eco contrapõe-se ao pensamento de Peirce. Sugere então “DEFINIR COMO SIGNO tudo quanto, à base de uma convenção social previamente aceita, possa ser entendido como ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA” (ECO, 2005, destaques do autor, p. 11), e afirma que as funções sígnicas devem ser explicadas através de uma teoria da função sígnica e de uma teoria dos códigos.

Ao estabelecer sua “Teoria dos Códigos”, Eco analisa a função sígnica, a expressão e o conteúdo de uma mensagem em relação ao texto, o significado como unidade cultural e o interpretante. Para ele, os

fenômenos da comunicação e da significação, portanto, só acontecem quando existe um código, e são modalidades interpretativas inseparáveis, quando o signo tiver o ser humano como seu destinatário e exigir dele uma resposta interpretativa que tenha sido estabelecida, precedente e preliminarmente, por uma convenção social. Uma mensagem seria então um texto cujo conteúdo é um discurso em vários níveis, o resultado da coexistência de vários códigos (ECO, 2005, p.48).

Umberto Eco faz perceber que através da Semiótica as coisas que vemos como objetos concretos são o resultado transitório de agregações químicas, apenas as aparências superficiais de uma rede subjacente de unidades mais microscópicas. Desta forma, a Semiótica:

dá uma espécie de explicação fotomecânica da semiose, revelando que, onde vemos imagens, existem ajustamentos estratégicos de pontos brancos e negros, alternâncias de cheios e vazios, um pulular de traços não significantes da retina, diferenciáveis pela forma, posição e intensidade cromática (ECO, 2005, p. 40).

Mas se tivermos um objeto teórico, é necessário entender sua natureza correspondente a uma expressão com base na regra instituída por uma função sígnica.

Ferreira (2006), apoiado em Peirce, considera a existência de uma relação de interdependência entre as três “grandezas” semióticas (imagem, metáfora e diagrama), pois a representação de cada uma não acontece sem o auxílio da outra. O mesmo autor discorre sobre a dificuldade da semiótica em definir claramente o que seja imagem, pois ela participa desde os processos psicológicos básicos até os níveis analíticos complexos. Angotti (1999), ao considerar os focos de investigação mais voltados para a aprendizagem e para as teorias cognitivas, a exemplo dos modelos mentais, do pensamento analógico e metafórico, afirma que estes seguramente transcendem o escopo das ciências clássicas e podem acelerar e enriquecer o processo da incorporação do conhecimento atual em ciências nas escolas. Contudo, Souza, de Bastos e Angotti (2007) também ressaltam que muitas vezes as metáforas podem representar obstáculos à aprendizagem de conceitos científicos e tecnológicos.