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Origens e evolução do Ensino Superior em Portugal

CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 A U NIVERSIDADE DE A VEIRO NO CONTEXTO DO E NSINO S UPERIOR PORTUGUÊS

2.4.1 Caracterização do Ensino Superior português

2.4.1.1 Origens e evolução do Ensino Superior em Portugal

A criação da Universidade em Portugal ocorreu no final do século XIII como resposta às necessidades de formação de uma elite intelectual da burguesia e do clero. Começando por funcionar em Lisboa, durante o século XIV alternou o seu funcionamento entre Coimbra e Lisboa, sobretudo devido às dificuldades de recrutamento de docentes e fixou-se em definitivo em Coimbra a partir do início do século XVI. Em meados deste século é também criada a Universidade de Évora que, ligada à Ordem dos Jesuítas, funcionou até meados do século XVIII, sendo extinta em 1759 no contexto da reforma pombalina. Nesta reforma, sendo reconhecido o papel da Universidade na renovação de quadros superiores da administração pública, é defendida a ruptura com o conhecimento meramente livresco e verbalista em favor da aprendizagem de fundamentos concretos e experimentais.

No século XIX, no contexto da revolução liberal que defendia o progresso social promovido pelas luzes do intelecto, implementa-se a obrigatoriedade do ensino primário, são criadas escolas do ensino secundário em todas as capitais de distrito, bem como diversas escolas do ensino superior em Lisboa e no Porto: o Colégio dos Nobres e a Academia Real dão lugar à Escola Politécnica de Lisboa; cria-se a Academia Politécnica do Porto; são criadas as Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto; o Conservatório de Arte Dramática de Lisboa; as Escolas de Belas Artes de Lisboa e do Porto e o Ensino Superior de Letras em Lisboa.

No início do século XX, com a implantação da República, foi dado novo ênfase ao papel da educação na reforma de mentalidades e do progresso do país. Neste contexto, a Universidade de Coimbra sofre uma reforma, através da reformulação de planos de estudo e da criação de novas faculdades: Ciências, Letras, Direito, Medicina, Escola de Farmácia e Escola Normal Superior. São formalmente criadas as Universidades de Lisboa e do Porto. A primeira agregou as Faculdades de Letras, Ciências, Medicina, Agronomia, Ciências Económicas e Políticas, as Escolas de Farmácia, Medicina Veterinária, a Faculdade de Estudos Sociais e Direito e a Escola Normal Superior. A segunda agregou as Faculdades de Ciências, de Medicina, de Comércio e a Escola de Farmácia. O alargamento da rede de estabelecimentos do Ensino Superior Português foi ainda complementado em 1930 com a Universidade Técnica de Lisboa, congregando o Instituto Superior Técnico, o Instituto Superior de Agronomia e a Escola de Medicina Veterinária.

A partir de 1926, com a instauração da ditadura, o acesso à Universidade passou a ser considerado um privilégio das elites e a autonomia universitária é restringida. A partir das décadas de 50 e 60, a industrialização do país, o crescimento económico, a emigração e a guerra colonial acentuam a escassez de mão-de-obra qualificada, o que criou uma conjuntura favorável ao alargamento da rede de estabelecimentos do Ensino Superior português. Com a Reforma de Veiga Simão (Portugal, 1973), de 1970 a 1974 são então criadas novas Universidades (Universidade do Minho, Universidade de Aveiro, Instituto Universitário de Évora) e Institutos Politécnicos (Institutos Politécnicos de Tomar, Covilhã, Vila Real, Faro, Leiria e Setúbal). Já após o 25 de Abril, com o reforço da importância dada à democratização do Ensino Superior e ao seu papel no progresso económico e social, ocorre um novo conjunto de transformações. Em 1976 surge a Universidade Aberta e o Instituto Universitário da Madeira. A partir da década de 80 o Instituto Politécnico da Covilhã foi substituído pela Universidade da Beira Interior, o Instituto Politécnico de Vila Real é substituído pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, o Instituto Politécnico de Évora dá lugar à Universidade de Évora e o Instituto Universitário da Madeira dá lugar à Universidade da Madeira. Criam-se ainda as Universidades do Algarve e dos Açores. A par destes estabelecimentos do Ensino Superior Público, a Universidade Católica Portuguesa, fundada em Lisboa na década de 40, cria novos pólos em Braga, Viseu, Leiria e na Figueira da Foz. A partir da segunda metade da década de 80 verifica-se também uma expansão acentuada do Ensino Superior Particular e Cooperativo. O Ensino Superior Politécnico, com origem no Ensino Superior de curta duração criado pela Reforma de Veiga Simão, é formalmente criado através do Decreto-Lei 513/T/79, de 26 de Dezembro, definindo-se então uma rede de ensino superior politécnico em Portugal. A descentralização do controlo Estatal, a consolidação da Autonomia Universitária e a criação de órgãos colegiais de decisão onde participam docentes, estudantes e não docentes eleitos pelos seus pares constituem grandes linhas estratégicas deste período de normalização do Ensino Superior e cujo reflexo se encontra bem presente na Lei de Bases do Sistema Educativo, de 1986 e na Lei de Autonomia das Universidades, de 1988 (Portugal, 1986, 1988). Durante a década de 90 e os primeiros anos do século XXI a autonomia das instituições do ensino superior viria ainda a ser reforçada através da aprovação da Lei de Autonomia dos Politécnicos e a publicação de um novo decreto-lei sobre a Autonomia Universitária que veio atribuir a autonomia financeira às universidades (Portugal, 1990a, 1996). Paralelamente a este processo são também publicadas normas de reforço do papel de supervisão do Estado. Assim, em 1994 e em 2003 definem-se, respectivamente, as Bases de Avaliação e Acompanhamento das Instituições do Ensino Superior e o Regime Jurídico do Desenvolvimento e da Qualidade do Ensino Superior (Portugal, 1994, 2003a) e de 1992 a 2003 definem-se as Bases de Financiamento do Ensino Superior (Portugal, 1992, 1997ª,1997b, 2003b). Durante este período são ainda reforçadas as preocupações das instituições na criação de planos de desenvolvimento ligados às regiões onde se inserem e às políticas nacional e europeia. Por fim, como corolário das preocupações crescentes com a promoção da mobilidade de docentes e estudantes no espaço europeu e com a empregabilidade dos diplomados para a concretização do processo de Bolonha,

em 2005 a Lei de Bases do Ensino Superior é alterada pela Lei n.º 49/2005, de 30 de Agosto e é aprovado o novo regime jurídico de atribuição de graus e diplomas do Ensino Superior ao qual as instituições se estão actualmente a adaptar (Portugal, 2005, 2006).

No decurso desta evolução, actualmente o Ensino Superior português engloba instituições do Ensino Superior Público, Particular e Cooperativo e Concordatário e apresenta uma estrutura dual onde coexistem o ensino universitário e o ensino politécnico. Segundo dados do Observatório da Ciência e do Ensino Superior (2004a), o Ensino Superior Público Universitário é composto por 15 instituições e 53 Unidades Orgânicas e o Ensino Superior Público Politécnico é composto por 15 instituições e 99 unidades orgânicas. Para além destas, fazem ainda parte do Ensino Superior Público 6 instituições do Ensino Militar e Policial. Por sua vez, o Ensino Superior Não Público desdobra-se por 14 Universidades do Ensino Particular e Cooperativo, por 108 estabelecimentos particulares ou cooperativos do ensino universitário, politécnico ou misto e pela Universidade Católica, por sua vez repartida em 26 unidades orgânicas.

Segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo, em 2006 e enquanto não forem implementadas em definitivo as novas regras para atribuição de graus e diplomas, o Ensino Superior Universitário, para além conferir o grau de licenciatura através de cursos com uma duração que varia entre quatro a seis anos, confere ainda os graus de mestre, através de cursos com a duração de dois anos, e de doutor. Por seu lado, o Ensino Superior Politécnico concede o grau de bacharelato, através de cursos de duração de três anos e o grau de licenciatura, com cursos cuja duração varia entre os quatro e os cinco anos (Portugal, 1986, 1997a). De acordo com Simão, Santos e Costa (2002), a distinção entre os dois sectores de ensino assenta também em diferentes culturas institucionais, designadamente na sua ligação com a sociedade. Esta será menor no Ensino Superior Universitário, onde a expectativa do «saber», mais vocacionada para o médio e longo prazo, precede a expectativa do «saber fazer». Por sua vez, no Ensino Politécnico, a ligação à sociedade será maior e mais permanente e a expectativa do «saber fazer» situa-se no curto prazo, admitindo-se mesmo a coincidência temporal entre o «saber», o «saber fazer» e o «fazer», através da investigação aplicada e do desenvolvimento que lhe está associado.

2.4.1.2 Evolução do número de inscritos no Ensino Superior Público Português no período