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3 ORIGENS, DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO DAS REDES HOTELEIRAS NO BRASIL

3.1 AS ORIGENS DO SETOR HOTELEIRO

Através dos tempos, a hospitalidade tem envolvido os atos de acolher estranhos ou estrangeiros, oferecendo, de acordo com as necessidades do viajante e as posses do anfitrião, ora leito, ora pão, ora alimento ou bebida, ou, então, o conjunto de todos esses elementos. A hospitalidade - vista, muitas vezes, como uma atividade graciosa, como um costume de receber as pessoas, ou, ainda, como troca de favores -, torna-se também uma atividade comercial, com o surgimento dos primeiros meios de hospedagem. Em várias passagens da história, a hospitalidade está implícita nas viagens, e, através dos tempos, ocorre um aprimoramento dos estabelecimentos voltados para a prática de hospedagem. O desenvolvimento desses locais acompanhou as transformações da própria sociedade, como foi o caso brasileiro.

Alguns fatos balizaram as transformações do mundo ocidental. Em 1776, as colônias inglesas da América do Norte proclamaram a sua independência. A partir de 1789, a Revolução Francesa pôs fim ao antigo regime na França, ao mesmo tempo em que na Inglaterra ocorria uma revolução silenciosa, a Revolução Industrial. A utilização de novas fontes de energia, a invenção de maquinários, destinados principalmente à indústria têxtil e o controle do comércio internacional transformaram a Inglaterra na maior potência mundial da época. Para Rangel (1981), sob o impulso da Revolução Industrial, a Inglaterra deslancha para uma fase expansiva que se inicia em 1790 até 1815, e uma fase recessiva de 1815 a 1848, cuja imensa periferia subdesenvolvida, na qual o Brasil se enquadra, busca se adequar às suas condições conforme a dinâmica ditada pelo centro do sistema.

De acordo com Caio Prado Jr (2007), a transferência da Corte portuguesa em 1808 deu à emancipação política do Brasil um caráter singular no conjunto do processo histórico da independência das colônias americanas. Todas elas, mais ou menos na mesma época, romperam laços de subordinação que as prendiam às nações do Velho

Mundo, embora, no Brasil, o próprio governo metropolitano que fazia da colônia sede da monarquia é quem vai paradoxalmente lançar as bases da autonomia brasileira, muito embora a independência tenha se dado anos mais tarde, em 1822.

É importante ressaltar que quando se concretiza a independência do Brasil em 1822, estrutura-se politicamente a primeira dualidade brasileira61, isto é, o pacto de poder que alia os barões e senhores de escravos com os comerciantes exportadores e importadores, a classe dominante que surge a partir da Abertura dos Portos (1808)62.

As formas comerciais de hospedagem foram influenciadas pelo aparato comercial que se formou, principalmente após a Abertura dos Portos e da expansão econômica que dela resultou. A vinda da Família Real e a Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, abrindo os portos brasileiros, o que refletiu diretamente no incremento do comércio, principalmente nas cidades portuárias, em especial no Rio de Janeiro, mais do que qualquer outra cidade portuária da época, foi beneficiada por abrigar a Família Real. A cidade assume o status de sede de uma monarquia europeia e capital de um império colonial.

Portugal buscava controlar o Brasil por meio das cidades litorâneas, comerciais e político-administrativas, pois “o caráter exportador e dominador da colonização requeriam a presença de cidades e o caráter latifundiário e escravista das relações de produção mostrou- se pouco urbanizador, onde apenas os grandes fazendeiros residiam nas cidades” (MAMIGONIAN, 2005, p. 237). Assim, “esta contradição entre as partes do sistema colonial resolveu-se pelo surgimento de poucas cidades litorâneas consideradas grandes para a época” (MAMIGONIAN, 2005, p. 237), como foi o caso do Rio de Janeiro.

A abertura dos portos foi um ato historicamente previsível, impulsionado pelas circunstâncias do momento, pois Portugal estava ocupado por tropas francesas e o comércio não podia ser feito através dele. Para Coroa, era preferível legalizar o extenso contrabando existente entre a colônia e a Inglaterra e receber os tributos devidos.

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Conforme descreve Rangel (1981), a primeira dualidade forma-se nas condições da “fase b” do ciclo longo, do 1º Kondratieff, datando-a em 1815, que é o ano do Waterloo, da estruturação da Santa Aliança, do início da fase recessiva do 1º Kondratieff e da Carta da Lei, que fundava o Reino Unido do Brasil. O Sete de Setembro de 1822 e o Sete de Abril de 1831 foram atos homologatórios das mudanças que já de fato tenham sido efetivadas. A situação política e social do Brasil mantém-se até a Abolição da Escravatura.

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O capital mercantil português, com intima aliança com o capital industrial nascente na Europa era alijado, sendo seu lugar tomado, no interior da nova sociedade, pelo novo capitalismo mercantil do Brasil, porém não tão brasileiro na época.

Pode-se perceber que a Inglaterra foi a principal beneficiária da medida, já que o Rio de Janeiro tornou-se o porto de entrada dos produtos manufaturados ingleses, com destino não só ao Brasil como ao rio da Prata. Em agosto de 1808 existia na cidade um importante núcleo de 150 a 200 comerciantes e agentes comerciais ingleses (FAUSTO, 2010).

Em razão de um expressivo contingente de comerciantes estrangeiros que se estabeleceu a partir da abertura dos portos, a população do Rio de Janeiro cresceu consideravelmente. A cidade passou a abrigar comerciantes, grandes proprietários coloniais, profissionais liberais, tais como médicos, boticários e advogados, tropas militares e uma massa de escravos, formando, assim, uma população bastante diversificada, o que desencadeou uma revolução nos hábitos e padrões culturais da sociedade. Na medida em que a cidade crescia, multiplicava-se também a demanda por serviços, e, cada vez mais, o estilo de vida das pessoas era influenciado pelos comportamentos europeus. Para atender as exigências da nova população que se formara, o Rio de Janeiro sofreu profundas transformações não somente no contexto quantitativo populacional, mas também espacial63.

O episódio da transferência da Família Real portuguesa para o Brasil e a consequente abertura dos Portos não podem ser considerados como marcos da história da hotelaria no Brasil. Entretanto, as atividades mercantis desencadearam no aumento da circulação de pessoas, bem como a presença da Corte suscitou no crescimento populacional. As melhorias urbanas foram criadas para atender a essas demandas e a atividade hoteleira encontraria as condições necessárias e suficientes para emergir e desenvolver-se. Assim, as primeiras estruturas de hospedagem com características comerciais surgiram em decorrência do incremento do comércio e da necessidade de promover a acolhida aos viajantes estrangeiros que em maior número passaram a vir para o Brasil. De acordo com Fausto (2010), durante o período de permanência de Dom João VI no Brasil, o número de habitantes no Rio de Janeiro dobrou, passando de cerca de 50 mil para 100 mil pessoas, muitos dos novos residentes eram imigrantes, não somente portugueses, mas espanhóis, franceses, ingleses, que viriam formar a classe média de profissionais e artesãos qualificados. Dos viajantes estrangeiros que vieram ao Brasil no período, alguns deles eram naturalistas e

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No ponto de vista do crescimento espacial, a cidade do Rio de Janeiro, entre 1808 e 1818, construiu-se 600 casas e abriram-se aproximadamente 100 chácaras. Interessado em dar feições mais urbanísticas à cidade, o Príncipe Regente realizou melhorias quanto ao abastecimento de água, à construção de pontes, ao calçamento, à iluminação e ao ordenamento urbano (PIRES, 2001).

mineralogistas como o inglês John Mawe, zoólogo; o bávaro Spix; e o naturalista francês Saint-Hilaire, que em seus relatos foram fontes indispensáveis para conhecimento da sociedade da época.

Saint Hilaire, em passagem pela capital paulista, em 29 de outubro de 1819, registra a realidade dos meios de hospedagem da época:

Indicaram-me a hospedaria de um indivíduo conhecido como Bexiga. Fizeram entrar num terreiro lamacento, cercado de um lado por um fosso e dos outros dois lados por pequenas construções, cujas numerosas portas davam para o referido terreiro. Essas construções eram os quartos ou aposentos destinados aos viajantes. Bexiga dava a estes permissão para levarem seus burros para seus pastos, mediante o pagamento de um vintém por noite e por cabeça, e ao viajante não era cobrado nada. Entretanto, não pude deixar de sentir um arrepio quando vi o cubículo úmido, infecto, de uma sujeira revoltante, sem forro, sem janela, e tão apertado que, embora nossas malas tivessem sido empilhadas uma sobre as outras, pouco espaço sobrava para nos mexermos (SAINT HILAIRE, 1972, p. 146).

Ainda, Saint Hilaire (1972), relata que, além dos ranchos, alguns viajantes utilizavam o próprio meio de transporte, carregado de mercadorias e puxado por bois, como uma forma de alojamento: “Os proprietários desses veículos servem-se dos mesmos como tendas ou ranchos, abrigando-se sob eles para dormir e livrar-se da chuva, exemplo que eu próprio segui, mais tarde, quando viajei num grande carretão” (Saint Hilaire 1972, p. 140).

Percebe-se que nos relatos de Saint Hilaire, o único meio de deslocamento disponível era o transporte animal, pois se adaptavam melhor as condições naturais das longas jornadas em terreno acidentado e em estradas que não deixavam de ser trilhas. O tipo de alojamento utilizado pelos viajantes que desbravaram o interior do Brasil foi o rancho.

O rancho era uma construção erguida à beira das estradas, sem nenhum conforto que servia para abrigar os viajantes das intempéries do dia ou do sereno noturno. Por muito tempo, serviu de local de apoio para o fluxo de pessoas e de mercadorias. Belchior e Poyares (1987) chamam

a atenção para o trinômio tropeiro-rancho-vendas que terminou por exigir a diversificação do comércio, pois a presença constante de tropas e tropeiros nos ranchos e nas vendas desencadeou a realização da prestação de serviços além da hospedagem.

Distingue-se a existência de dois tipos de estabelecimentos, o primeiro o “rancho” localizado à beira da estrada, situado em locais distantes, e o segundo, a “venda” responsável pelo abastecimento dos tropeiros por meio da negociação de produtos.

Os ranchos eram “construídos por particulares, donos das terras onde passavam as tropas, mas também a expensas do Tesouro Real e, por isso, chamados de “rancho real”. Estes não tiravam do proprietário a posse da terra, embora houvesse uma administração por parte da Coroa que arcava com as despesas da construção” (PIRES, 2001, p. 158). O privilégio de explorá-lo, no entanto, permanecia com o proprietário que vendia produtos e serviços aos tropeiros. Entre os serviços colocados à disposição dos tropeiros, além da acomodação e alimentação, estavam o serviço de guia, escravo ou aluguel de mulas.

Os viajantes também se hospedavam nas casas-grandes dos engenhos e fazendas, nos casarões das cidades, nos conventos, assim como nos ranchos que existiam à beira das estradas, erguidos, em geral, pelos proprietários das terras marginais. Era comum, também, as famílias receberem hóspedes em suas casas, havendo, em muitas, o quarto de hóspedes (ANDRADE; BRITO; JORGE, 2000).

Ressalta-se que antes mesmo de existir uma estrutura de acolhimento aos viajantes, os abrigos religiosos foram também utilizados como meios de hospedagem; cita-se a Casa Anchieta, em São Paulo, no século XVI, que servia de abrigo aos religiosos da Companhia de Jesus (SERSON, 1999). O Terreiro de Jesus, em Salvador, primeira capital do Brasil Colônia, foi endereço de uma Casa dos Hóspedes, no Colégio de Jesus, que recebeu personalidades ilustres, vindas da Europa, e também pessoas que necessitassem de acolhida caridosa. No Rio de Janeiro, aposentos para hospedagem foram construídos em um prédio anexado ao Mosteiro de São Bento e um abrigo para desocupados foi instalado junto ao Convento da Ajuda, no século XVIII (BELCHIOR; POYARES, 1987).

Belchior e Poyares (1987) apontam a quase absoluta falta de hospedagem comercial sentida pelos viajantes que aportavam no Rio de Janeiro, no fim do século XVIII e a falta de clareza na indefinição da natureza dos estabelecimentos. No Brasil Colonial, os autores apontam a existência das tavernas, das estalagens, das casas de pasto e das hospedarias como meios de hospedagem, pois ofereciam alojamento e

alimentação aos viajantes e por isso podem ser considerados como embriões dos futuros hotéis64.

As casas de pasto forneciam alimentação, as tavernas, por longo tempo, dedicavam-se à venda de bebidas como atividade principal. O termo taverna também era empregado para designar casa de pasto de inferior qualidade. Já o termo estalagens era utilizado para contornar os prejuízos causados à população pelo abuso da aposentadoria passiva65. Os mesmos serviços encontrados nas casas de pasto e nas estalagens poderiam ser encontrados nas hospedarias.

Existe uma nítida diferença entre a excelência da hospitalidade espontânea e aquela oferecida mediante pagamento. Os visitantes por viajarem nas mais diferentes condições, muitas vezes seguindo tropas de mulas, souberam registrar tal diferença, “pode-se dizer que as hospedarias primavam pela improvisação, pelos péssimos serviços e, principalmente, pelos preços exagerados” (PIRES, 2001, p. 142), a

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Os autores alertam da confusão semântica atribuída aos termos nos relatos dos viajantes estrangeiros, pois eles não se preocupavam em caracterizar com precisão a natureza dos estabelecimentos, muitos deles classificavam de acordo com padrões existentes nos seus países de origem. Pode-se constatar que o fornecimento de alimentação como a principal função exercida por esse tipo de estabelecimento.

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As aposentadorias passivas, especialmente em 1808, davam adeus ao direito à propriedade. Com a família real, chegaram em grande número fidalgos, empregados e criados de todas as ordens, e tantos eram que faltavam casas para receber a todos eles. Os criados de menor graduação tiveram mesa e acomodação nas ucharias (segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), o termo ucharia significa despensa, especialmente para carnes, nas casas reais e abastadas), localizadas no pavimento inferior do convento do Carmo que se ligara ao palácio. Os fidalgos, empregados e criados de outras ordens foram beneficiados pelas famosas aposentadorias. Não houve habitantes da cidade do Rio de Janeiro que dormisse tranquilo na sua casa própria, e que acordasse com a certeza de anoitecer debaixo do mesmo teto. Quanto mais bela e vasta era uma casa, mais exposta ficava ao quero absoluto dos fidalgos. Havia um juiz aposentador que era responsável por realizar as aposentadorias. No primeiro momento o fidalgo desalojado dirigia-se ao aposentador e dizia-lhe que precisava da casa tal da rua tal, após o aposentador encarregava-se de ir satisfazer o desejo e com um pedaço de giz na mão, saía para identificar a propriedade designada. Ao identificar escrevia na porta P. R. (Príncipe Regente). Nesse caso, o proprietário ou morador da casa teria que mudar-se em vinte e quatro horas. Por último, dava-se a posse da propriedade ao fidalgo. As aposentadorias foram uma estratégia utilizada pela Corte para que os vassalos fiéis e bons servidores que vieram acompanhando a família real ao Brasil não ficassem no meio da rua. Os aposentados deveriam pagar aluguel das casas que tomavam, mas muitos deixaram de cumprir esse dever, e houve alguns que não só não pagaram o aluguel de que se tratava, como, no retorno a Portugal, arrancaram as portas e as tábuas dos assoalhos das casas em que estavam morando, a fim de fazer os caixões necessários para levar as suas baixelas e o mais que lhes pertencia (MACEDO, 2005, p. 41).

escala de preço não dependia da variedade de comidas, mas do tratamento dispensado ao hóspede e do asseio da toalha. O tratamento dispensado pelas hospedarias pertencentes a estrangeiros caracterizava- se por um serviço de melhor qualidade se comparada a outras cujos proprietários eram brasileiros.

A acomodação era sinônimo de precariedade e desleixo, como a falta de asseio e despreparo no atendimento. Situações relatadas por Saint-Hilaire (1972) sobre a viagem pela Província de São Paulo, Goiás e a caminho do sul do Brasil, também relatadas por Pires, as quais expressam as condições dessas hospedarias.

Era extremamente amplo e capaz de comportar uma enorme quantidade de mercadorias, mas estava coberto de pó e de sujeira, e o seu chão pulava de pulgas e bichos-de-pé. Censurei o proprietário por não mandar varrer o rancho, que lhe dava proveito, permitindo que os viajantes fossem devorados pelos insetos que o infestavam (PIRES, 2001, 158-159).

Os primeiros hotéis no Brasil surgiram no primeiro quartel do século XIX, que não se pode definir precisamente se eram hospedarias ou hotéis.

Muitos dos proprietários dos meios de hospedagem eram estrangeiros e, por isso, muitos deles utilizavam termos franceses para identificar o serviço e o tipo de estabelecimento de hospedagem conforme foi evidenciado por Belchior e Poyares (1987) e Pires (2001). De acordo com os autores, a denominação “hotel” significava o olhar do estrangeiro na intenção de designar os tipos de negócio resultantes da hospitalidade comercial.

De 1801 a 1820, foi constatada por Belchior e Poyares (1987), a presença de alguns estabelecimentos que assumiam as funções típicas de hotéis. O primeiro estabelecimento de hospedagem a utilizar o termo hotel na cidade do Rio de Janeiro foi o Hôtel Royaume du Brésil em 1817. Os hotéis eram dotados de instalações acanhadas, limitado número de quartos, sem condições de conforto, ocupando prédios não construídos para esse fim e, na sua maioria, sem os cuidados referentes à higiene.

Por isso que muitos dos estrangeiros que usufruíram dessas instalações descreveram o setor hoteleiro da época como decadente e com poucas opções de estabelecimentos tipo hotéis, pois, de alguma forma, acabavam por compará-los com os padrões da hotelaria europeia.

Conforme afirmaram Belchior e Poyares (1987, p. 57), “muitos dos hotéis não passariam de simples restaurantes e outros utilizaram esta denominação para acobertar encontros furtivos”.

Ainda, segundo os mesmos autores, o Almanaque Laemmert apresentou a quantidade de hotéis no período no Rio de Janeiro, assim como em São Paulo. No período de 1858 e 1859, surgiu no Rio de Janeiro, entre estalagens, hospedarias e hotéis, 195 estabelecimentos, dos quais 78 pertencentes a brasileiros. Em São Paulo, no mesmo período, a existência de seis hotéis, como o Hotel Recreio Paulistano; Hotel Universal; o Café e Hotel do Comércio, que, além da hospedagem, ofereciam uma estrutura para jogo de bilhar.

Assim como se deu a formação de um setor hoteleiro, segundo Holanda (1995), em 1851, tem-se o início, também, do movimento regular das sociedades anônimas; na mesma data, funda-se o segundo Banco do Brasil66; em 1852, inaugura-se a primeira linha teleférica na cidade do Rio de Janeiro; em 1853, funda-se o Banco Hipotecário; em 1854, abre-se o tráfego da primeira linha de estradas de ferro do País entre o porto de Mauá e a estação do Fragoso; em 1855, inicia-se a construção da segunda linha que tinha como objetivo ligar a Corte à capital da província de São Paulo.

É salutar enfatizar que diferentemente da cidade do Rio de Janeiro, que teve um acentuado crescimento de estabelecimentos de hospedagem para atender a demanda de estrangeiros, principalmente após a Abertura dos Portos, no caso de São Paulo, somente se observou tal crescimento a partir de meados do século XIX. Conforme aponta Monteiro (2006), após a criação da Academia de Direito no largo de São Francisco (1828), iniciou-se uma nova fase de construções em São Paulo, ao ponto dos principais hotéis da cidade localizaram-se próximos a essa instituição de ensino superior. Muitos dos estabelecimentos hoteleiros serviram de moradia aos estudantes a exemplo do “Hotel Quatro Estações (1854), palco de memoráveis e alegres banquetes dos jovens acadêmicos do Largo São Francisco, em 1857, mudou de nome para Hotel Itália e em 1875, passou-se a chamar Grande Hotel de France” (MONTEIRO, 2006, p. 32) - muito provavelmente em razão do número de franceses que se instalaram na cidade.

A partir de 1860, inicia-se uma nova fase de crescimento dos hotéis em São Paulo, estimulada pelos capitais gerados em razão da cultura cafeeira e pela implantação das estradas de ferro que permitiram conexão das zonas produtoras de café com o porto e o Rio de Janeiro.

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Mamigonian reforça a ideia de que “o crescimento da economia cafeeira provocou a ampliação do mercado interno (atendido por artigos importados), a criação de ampla rede de estradas de ferro, a implantação da energia elétrica em São Paulo e no Rio” (MAMIGONIAN, 2005, grifos do autor).

O espaço econômico paulista nasceu da expansão mercantil da Europa, como área colonial encarregada de produzir gêneros de exportação em latifúndios escravistas (açúcar, café, etc.). Paralelamente, importava da Europa manufaturas (tecidos, móveis, louças, etc.) e mesmo alimentos (farinha de trigo, bacalhau, etc.). Na divisão internacional de trabalho criada pela Europa mercantil e depois industrial, São Paulo tornou-se área de grandes lavouras tropicais, com função estritamente especializada e periférica. A sociedade paulista, assim sendo, apresentava-se fortemente polarizada e hierarquizada: grandes