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A luz dessa reflexão, João Barroso et al, na obra As Políticas Educativas como objecto de estudo e de formação em Administração Educacional (2007), afirmam que as políticas educacionais não são alicerçadas apenas em medidas políticas ou decisões burocráticas administrativas dos governantes. Por sua vez, Luiz Dourado, em sua publicação Políticas e gestão da educação básica no brasil: limites e perspectivas (2007), contribui ao dizer que “Sendo assim, políticas educacionais efetivamente implicam o envolvimento e o comprometimento de diferentes atores, incluindo gestores e professores vinculados aos diferentes sistemas de ensino” (p. 923-924). Por outro lado, ele também

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demonstra preocupação com a política de capacitação dos professores, que também está interligada a gestão educacional e, sendo assim, também deve ser considerada como fator que interfere na atuação desses profissionais. João Barroso et al.também menciona alguns fatores que devem ser considerados e diz que

As políticas educacionais devem ser entendidas como espaços comunicacionais e sociais nos quais se exprimem e interagem diferentes concepções e modos de relação com o mundo educacional. Consequentemente, têm de ser observadas a partir de múltiplos pontos de sua produção e ancoragem: nos documentos oficiais e oficiosos, como a legislação, nos textos de comissões, nos estudos e nos relatórios prévios ou posteriores ao estabelecimento formal de uma política, nos lugares de mediatização, nomeadamente na imprensa periódica não especializada, etc (BARROSO et al., 2007, p. 08).

Conforme descrição de Barroso et al. (2007), pode ser percebido que eles também visualizam o universo de possibilidades que pode existir para se compreender a educação, sendo possível assim, encontrar nos mais diversos espaços de comunicação que envolvem o contexto escolar, como por exemplo nas normas, nos órgãos de deliberação, em relatórios que antecedem a implantação de uma nova política e nos textos oficiais ou não que procuram retratar uma certa política educativa. Resumindo, é ampla os lugares onde se podem encontrar informações úteis para o desenvolvimento de uma política e, assim, alicerçá-la.

Sob essa perspectiva, Barroso et al também esclarecem em sua obra As Políticas Educativas como objecto de estudo e de formação em Administração Educacional (2007) que eles desenvolveram um projeto chamado de The role of knowledge in the construction and regulation of health and education policy in Europe, cujo objetivo foi estudar o papel da educação na elaboração e regulação8 de

uma política pública, com ênfase para tornar o conhecimento uma ferramenta que auxilie os gestores nas tomadas de decisões políticas. Nesse estudo, o autor afirma que Portugal deu um salto tanto na qualidade e quantidade educacional, como na democraticidade das escolas públicas, nas últimas três décadas mas que, para isso, precisou transformar os mais diversos programas governamentais através do estímulo financeiro proporcionado pela União Europeia (UE), o que gerou um aumento no número de alunos, professores qualificados e escolas. Por fim, ao ratificar as ideias do autor, podemos associar essa concepção também para a realidade brasileira quando ele diz que “[...] é preciso analisar os desafios que se colocam hoje à organização e administração do sistema educativo português” (p. 07-

8 Para Barroso (2005, p. 733), a “regulação” (entendida como a intervenção das autoridades governamentais na prestação de um serviço público) é vista

como um “movimento” oposto à “privatização” (entendida como a transferência para autoridades não-governamentais, com fins ou sem fins lucrativos, do controlo e prestação desses mesmos serviços).

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11). Dourado (2007) também contribui com essas reformas nas quais várias nações, dentre elas o Brasil, andam executando para se adaptarem a realidade das novas políticas educacionais e seus padrões de qualidades. Como exemplo ele cita a formação pedagógica quando fala que,

Rever a formação pedagógica requer, portanto, a articulação entre as políticas educacionais e as concepções de formação enquanto processos de construção coletiva. Implica, também, resgatar as experiências implementadas por estados e municípios como passos importantes no fortalecimento das ações do MEC9, em apoio às políticas de formação de professores e

aos processos de organização, gestão educacional e escolar. Nesse sentido situam-se também as ações voltadas à organização da educação nacional, cujo norte político- pedagógico, no campo e na cidade, deve considerar a riqueza e a diversidade de experiências e as condições e especificidades com as quais se realizam processos formativos para professores e estudantes, considerando a garantia de parâmetros de qualidade e indicando alternativas e perspectivas pedagógicas centradas em uma sólida concepção de educação, escola, cultura e gestão educacional (DOURADO, 2007, p. 924- 925).

Dessa feita, de acordo com a tese de doutoramento de Eugénio Silva, cujo título é O burocrático e o político na administração universitária. Continuidades e rupturas na gestão dos recursos humanos docentes na Universidade Agostinho Neto (Angola) (2004), “[...] a política educativa influenciada agora pelos valores da competitividade e da qualidade, serve de fonte de inspiração para a estruturação do contexto universitário como lugar de debate público e de construção negociada do saber” (p. 466). De acordo com o autor, essa política tem a capacidade de envolver os sujeitos e transformá-los em agentes participativos, aproveitando o conhecimento adquirido por cada um ao longo da vida para que possam contribuir com a criação e desenvolvimento de novas políticas, em que cujo alicerce esteja a importância de ser ter uma instituição e sociedade bem desenvolvidas.

Por fim, Barroso (2005, p. 746-747) defende que o modelo atual de regulação burocrático- profissional, apesar de ter servido de base para a expansão da escola pública do passado, entrou em falência. Dessa forma, novas formas organizacionais pedagógicas e educativas, bem como uma nova regulação devem ser criadas de forma a permitir a “[...] recriação da escola como espaço público de decisão coletiva, baseada numa nova concepção de cidadania”. Denota-se mais uma vez, a importância que o autor manifesta em relação à criação de novas formas de regulação que tenham em seu âmago a participação popular e que estejam de acordo com as novas dinâmicas da sociedade. Pode-se dizer que esse seja o grande desafio para os que querem proporcionar um serviço público educacional de qualidade para os jovens, de forma a gerar mais oportunidades e diminuir as

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desigualdades sociais. Assim, ele conclui ao dizer que as políticas educacionais, as múltiplas instâncias e momentos de decisão, as diversas formas de associações nos espaços públicos e a participação cada vez maior de atores faz com que a regulação educacional torne-se cada vez mais complexa, compactuando da ideia de Oliveira, D., quando diz que:

Um redesenho da organização e gestão desses sistemas está sendo esboçado e há muita contradição nesse processo. Os sistemas escolares continuam a contribuir na regulação da sociedade, quer como agências formadoras de força de trabalho, quer como disciplinadores da população, papel que ganha relevância no que se refere aos pobres, em face das transformações sociais atuais” (OLIVEIRA D., 2005, p. 764).

Essa complexidade também pode ser vista em outro trabalho de Oliveira, D. (2006), quando afirma que na América Latina, as políticas públicas educacionais adotaram uma nova pauta de discussão sobre o novo modelo de regulação e tem apresentado um projeto que vem reduzindo a democratização da educação ao ensino de massa. Esse projeto segue uma lógica que, além de formar uma mão de obra exigida pelo mercado de trabalho, disciplina uma classe crescente de pobres que não tinham expectativas de uma vida melhor, até então. Para István Mészáros, em sua obra A educação para além do capital (2007, p. 125), “Não pode existir uma solução positiva para a auto- alienação10 do trabalho sem promover conscientemente a universalização conjunta do trabalho e da

educação”. Da mesma forma que para Oliveira, D. (2006, p. 1373-1374), não faz sentido falar em reformas educativas em uma realidade aonde o desemprego e a má distribuição de renda vem aumentando a cada dia.

Oliveira, R. (2009, p. 754-755) por sua vez, entra na discussão ao analisar a complexidade dessa questão quanto ao equacionamento das ofertas públicas, o que envolve aspectos relativos à eficiência da gestão, os diferentes modelos organizacionais do Ensino Superior, o surgimento das novas tecnologias da informação e o financiamento do Ensino Superior. Segundo o autor, para que isso se torne possível, será preciso implantar uma séria política de valorização do setor público e finaliza ao dizer que “Entretanto, transformar tal formulação em política prática pressupõe superar desafios complexos, que se iniciam com a construção de uma estratégia comum de valorização do público”.

10 Mészáros (2007, p. 122) ao seguir os princípios de Karl Marx, esclarece sua visão sobre o termo auto-alienação do trabalho e segundo ele “Vivemos sob

condições de alienação desumanizante e de uma subversão fetichista do estado real de coisas dentro da consciência (muitas vezes também caracterizada como ‘reificação’), porque o capital não pode exercer as suas funções sociais metabólicas de reprodução alargada em qualquer outra direcção. Mudar estas condições exige uma intervenção consciente em todos os domínios e a todos os níveis da nossa existência individual e social. É por isto que, segundo Marx (1956, p. 123), os seres humanos devem mudar "dos pés à cabeça as condições da sua existência industrial e política, e consequentemente toda a sua maneira de ser".

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