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Parte 3: RESULTADOS E CONCLUSÕES

9. OS ALUNOS COMPREENDEM ARTIGOS DE OPINIÃO?

9.1. Os alunos reconhecem os temas dos textos?

O tema de um texto indica o assunto tratado nele. Pode ser expresso através de uma palavra ou expressão ou pode não estar explicitamente indicado. Via de regra, o vocabulário utilizado indica o tema, por agregar várias palavras de um mesmo campo semântico (tal como esporte, violência, arte...). Assim, para identificar o tema de um texto, é necessário que o leitor consiga realizar uma análise global do mesmo, operando com a estratégia de generalização e apreensão de sentido geral.

Reconhecer o assunto tratado em um texto é extremamente relevante para compreender seu conteúdo. Quando a temática focalizada é familiar, torna-se mais fácil para o leitor antecipar os significados e até inferir o que estiver implícito. Quando a temática não é familiar, o reconhecimento do assunto pode ajudar o leitor a adotar estratégias de monitoração mais conscientes, dedicando maior atenção aos conceitos e pressupostos subjacentes ao texto. Assim, o reconhecimento do tema é fundamental para que o leitor ative os conhecimentos prévios acerca do assunto e possa utilizá-los para fazer as devidas antecipações.

Neste trabalho, para que os temas pudessem ser identificados, nos dois textos, os alunos deram respostas à questão 1 de cada prova: “Neste texto, do que o autor está falando?”.

O texto “Atleta nem que seja só por poucas horinhas”, denominado aqui de texto A, fala sobre a necessidade das crianças praticarem atividades físicas para terem mais saúde. Esta temática (esportes), além de estar relacionada aos cuidados com a saúde, também remete ao desejo de cuidar da beleza do corpo, fato que suscita bastante interesse entre os adolescentes. Tal fato motivou a escolha desse texto nesta pesquisa.

Esse tema foi facilmente reconhecido pelas crianças, pois, dos vinte e quatro alunos que responderam à questão relativa à identificação do tema, dezessete não apresentaram dificuldades para realizar essa tarefa, conforme podemos observar na tabela 3.

Tabela 3: Freqüência e percentagem de alunos que identificaram o tema dos textos A e B (grupos 1 e 3)

Texto A Texto B

Categorias

Freq. % Freq. %

Identificou o tema principal. 17 70,8 22 91,6

Identificou um tema que não é o principal.

6 25,0 1 4,2

Não identificou um tema relacionado ao texto.

1 4,2 1 4,2

Total 24 100 24 100

Conforme podemos ver, a maioria das crianças (70,8%) conseguiu responder corretamente sobre o que o texto A estava tratando. Entretanto, seis delas (25%) identificaram um tema relacionado ao texto, mas que não se constituía na temática principal focalizada pelo autor. Entre essas, duas repetiram o título, o que pode ser interpretado como uma confusão conceitual entre tema e título, duas se referiram às condições ideais para a prática dos esportes e duas mencionaram alguns esportes citados no texto. Assim, elas, embora tenham retirado do texto a resposta à questão, não conseguiram apreender o sentido geral a ponto de reconhecer qual era o assunto que perpassava todo o texto. Além dessas, outra criança também não conseguiu indicar a temática central do texto. Para a identificação do tema, é necessário, como foi dito no início desse tópico, operar através de generalização e análise global do texto. Esses alunos não demonstraram possuir essa habilidade que deve ser ensinada através de atividades de leitura mediadas pelo professor.

O texto “Legião de fãs de todas as idades”, denominado aqui Texto B, fala da preferência das crianças pré-adolescentes (9 a 11 anos) pelos novos estilos musicais representados pelo rock. Em relação à identificação da temática tratada pelo autor, também aqui os alunos não apresentaram dificuldades. Ainda de acordo com a tabela 3, verificamos que dos vinte e quatro sujeitos que responderam às questões principais, vinte e dois (91,6%) conseguiram identificar o tema do texto B. Vale salientar que apenas dois alunos não focalizaram a temática principal, porém fizeram referência a outros assuntos que se relacionavam com o principal tema tratado pelo autor. Um deles citou os cantores de músicas infantis e o outro generalizou demais quando respondeu apenas que o autor estava falando de música. Tal resposta não está errada, mas não apresenta o foco específico tratado no texto.

Além da temática do texto B ter sido mais facilmente identificada pelas crianças (91,6% de acertos), parece também ter sido mais empolgante para alunos quase-adolescentes que a temática do texto A (esportes). Podemos constatar, através dos depoimentos a seguir, o

grau de envolvimento deles: “Eu mesmo adoro rock, rock pra mim é tudo” (sujeito 2, sexo feminino, 9 anos); “O rock é bom às vezes para esfriar a cabeça, por isso eu digo rock é bom” (sujeito 26, sexo feminino, 11 anos); “O rock é uma música muito legal, é divertido e animado” (sujeito 35, sexo masculino, 12 anos). Houve até quem reconhecesse a preocupação dos adultos com o novo gosto musical das crianças e os tranqüilizasse: “As mães das crianças não precisam se assustar e se impressionar porque isso é normal” (sujeito 27, sexo feminino, 10 anos). Essas respostas evidenciam o envolvimento com a temática porque, mesmo sem que tenham sido convidados a falar se gostavam do tema, os sujeitos da pesquisa o fizeram espontaneamente. Eles comentavam sobre o texto e seu tema. Portanto, o conhecimento prévio dos alunos sobre o rock deve ter contribuído significativamente para o reconhecimento da temática do texto B.

Há outro elemento presente nos discursos argumentativos que talvez também possa explicar o envolvimento maior dos sujeitos com a temática do texto B: a discutibilidade do tema. Segundo Rosenblat (2005), a discutibilidade dos temas é determinada tanto por sua natureza social como pela situação de produção dos textos, podendo, assim, haver uma grande relação com a faixa etária dos interlocutores. Acreditamos que a idade dos alunos explique seu maior interesse e, conseqüentemente, seu maior envolvimento com um tema que fala de música e dança que os aproxima do mundo adulto.

De acordo com a natureza social da temática dos dois textos, podemos admitir maior grau de discutibilidade ao texto B. Se fôssemos comparar a necessidade da prática de esportes e a preferência pelo rock entre crianças é evidente que o segundo tema seria mais polêmico, provocaria mais diversidade de opiniões. Enquanto as atividades físicas são reconhecidas quase unanimemente como uma prática necessária à saúde, incentivar a paixão pelo rock em crianças certamente não encontraria adesão de todas as pessoas, principalmente dos pais. Essa possibilidade de gerar opiniões diferentes, pudemos identificar em um depoimento de um dos sujeitos “Na minha opinião eu não gosto de rock. Rock tem muita baixaria. Eu não gosto” (sujeito 32, sexo feminino, 9 anos).

Portanto, o grau de discutibilidade do texto B deve ter exercido maior influência na motivação que os alunos tiveram para se posicionarem e responderem questões sobre sua preferência pelo rock, um estilo musical que os identifica como adolescentes e não como crianças.