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Os Antecedentes do Tombamento O Projeto “Memória e Patrimônio Cultural ”

21 ARQUIVO NORONHA SANTOS, 2009.

1.1 Os Antecedentes do Tombamento O Projeto “Memória e Patrimônio Cultural ”

Em 1987, Cataguases, através da Secretaria de Municipal de Cultura, solicitou a presença da SPHAN/FNpM

com o objetivo de fazer um levantamento de dados visando o resgate da cultura e memória cataguasense, evidenciando, sobretudo a fase do modernismo na qual a cidade se faz presente de modo expressivo”22

A partir daquele momento iniciou-se uma parceria entre Prefeitura Municipal de Cataguases, a 7ª DR SPHAN/FNpM de Minas Gerais e a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cataguases (FAFIC) no projeto “Memória e Patrimônio Cultural de Cataguases” que desenvolveu pesquisas de história oral, memória visual, evolução urbana e inventário de bens móveis e integrados além de pesquisa documental no Arquivo Municipal e no Forum de Cataguases.23

Os trabalhos foram divididos por três equipes com pessoal das instituições parceiras, especialmente, com professores e estudantes da faculdade local. Cada equipe responsabilizava-se por um tema - História Documental, Evolução Urbana (bens imóveis) e Bens Culturais Móveis e Integrados. Além do trabalho de memória oral outras atividades foram desenvolvidas, conforme consta nos documentos da época:

A Equipe de Inventário de Bens Móveis e Integrados trabalhou, em uma primeira etapa, o acervo público da cidade – painéis, pintura, mural e esculturas – e os Acervos do Museu de Belas Artes de Cataguases e do Museu de Arte Popular do Colégio Estadual Manuel Inácio Peixoto. Este trabalho consistiu em reconhecer, identificar e inventariar através de fichas cada peça dos acervos públicos.

A segunda etapa do trabalho, já iniciada, prevê o inventário dos acervos particulares que compreendem pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, tapeçaria e mobiliário.”24

22

ANEXO A.

23

ESTANISLAU, 1991.

Os trabalhos foram iniciados com as “Oficinas de Pesquisas”25, ocorridas entre 18 a

22 de abril de 1988, que incluíram leitura comentada da bibliografia específica, exercícios de teatro e conferência de profissionais convidados. As oficinas tinham o objetivo de preparar equipes locais para o trabalho de campo, análise de material coletado e organização de um centro de memória.

Segundo Antônio Fernando Batista dos Santos, responsável pela equipe de bens móveis e integrados

Quando a gente chegou ali as pessoas não tinham noção do que tinham. O primeiro trabalho que eu fiz na oficina lá... O grupo que trabalhou comigo... Foi mostrar o que tinha de importante na cidade. Na verdade eu apresentei várias imagens de arte modernista e no meio tinha várias coisas de Cataguases, coisas que eles passavam na porta todos os dias, tinha aquela escultura da praça ali [escultura de Bruno Giogi na praça José Inácio Peixoto], tinha a escultura do Jan Zach no jardim do Hotel, tudo estava ali... Ninguém, ninguém tinha visto. Nem isso aqui eles tinham visto, nem isso aqui eles tinham visto. Nem esses passarinhos aqui eles sabiam localizar que eram de Cataguases. [referência ao painel Os Pássaros de Anísio Medeiros que ilustra a capa do Guia Modernista de Cataguases que estava nas mãos de Antônio] Então eu tinha que mostrar: isso aqui é Cataguases. Às vezes a gente passava na porta... A gente entrava no grupo [Educandário Dom Silvério] quinhentas vezes e eles não sabiam que ali tinha um Anísio Medeiros. Então passou por aí. Aí eles passaram a identificar que aquilo que eles viviam todos os dias tinha alguma importância. Para falar a verdade acho que muitos deles não tinham noção que tinha coisa tão importante.26

De acordo com Maria das Dores Freire, a técnica do SPHAN/pró-Memória, inicialmente responsável pela condução dos trabalhos em Cataguases, foi uma surpresa para os técnicos encontrar uma cidade que estava buscando o auxílio do da SPHAN com o objetivo de implementar uma política de patrimônio cultural. Surpresa que se dava, segundo Freire, porque geralmente as gestões municipais das cidades que se relacionavam com a SPHAN, as mineiras do ciclo do ouro, viam o Instituição como órgão fiscalizador e policiador, o órgão que aflorava os conflitos relativos à dinâmica urbana dessas cidades. A SPHAN era vista com reservas pelas cidades em que atuava. Em Cataguases essa situação não estava em pauta.

25 ANEXO B. 26

Segundo Freire, por a cidade não possuir nenhuma experiência anterior com a preservação, ou até mesmo com o tombamento, a facilidade e oportunidade de “trabalhar diferente” era maior. Cataguases estava aberta às iniciativas de preservação, não estava contaminada pelas adversidades afloradas nas cidades sobre a tutela da SPHAN. Para a técnica o “trabalhar diferente” significava que o objetivo era desenvolver um trabalho de divulgação e valorização das manifestações culturais da cidade na intenção de preservá-las, diferente do que vinha sendo feito nas cidades históricas mineiras tombadas pelo IPHAN. O objetivo seria promover a preservação a partir da conscientização da população através do reconhecimento da importância de suas manifestações culturais. Não era intenção de o projeto fazer tombamento. Ou, se chegasse, o tombamento seria um desejo que afloraria da comunidade.

Porque eles não chamaram a gente para tombar nada. [...] A gente apostava que a comunidade poderia ser a melhor guardiã de seu patrimônio.

[...] Nunca foi objetivo nosso. Nem foi, por exemplo, “comer pelas beiradas”, vamos chegar... Nem foi estratégico para chegar ao tombamento. Não era isso. O projeto era aquilo mesmo: trabalhar com a cidade valorizando a sua memória, o seu patrimônio cultural que seria revelado neste trabalho... ia sendo revelado...

[...] Para mim (o tombamento) era uma contramão do nosso jeito, do nosso projeto original. 27

Neste sentido, o arquiteto Flavio Grillo, que coordenava a equipe de evolução urbana no projeto, corrobora e ratifica as ideias de Freire

O inicio do trabalho começou com um convite pela Lurdinha [Maria de Lourdes Paixão, secretária municipal de Cultura] e o Tarcisio, prefeito. Através da Doia [Maria das Dores Freire] chegaram no IPHAN querendo desenvolver um trabalho de preservação do patrimônio cultural dentro da cidade, mas uma coisa bem... até bastante bem diferente do trabalho que normalmente o IPHAN fazia. O IPHAN tinha, quero dizer, não sei hoje como é que está, porque eu tenho andado meio afastado de lá, mas tinha aquela coisa de tombar primeiro, quero dizer, usar o mecanismo de tombamento como preservação. Em Cataguases a coisa começou não pensando nisso. Pensou uma forma de desenvolver, dentro da cidade, um trabalho que gerasse uma formação no grupo que pudesse desenvolver dentro da cidade mesmo... que servisse como um núcleo que