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PARTE 1 – ECONOMIA EMPRESARIAL E GESTÃO ESTRATÉGICA DE BALANÇO

3.2 O COMPORTAMENTO DOS BANCOS NUMA ECONOMIA EMPRESARIAL 60 

3.2.2 Os bancos nas fases de expansão e contração dos negócios 74 

Em contextos de otimismo e de inexistência de outras classes de ativos menos arriscados que permitam o alcance da rentabilidade esperada, os bancos tendem a aumentar suas posições em ativos cujo retorno monetário seja elevado e cujo prêmio de liquidez seja baixo, como operações de crédito80. Estas instituições estarão mais propensas a alongar os prazos (aumentar a relação entre ativo realizável e ativo total) e aumentar a proporção entre ativos com baixo e alto grau de liquidez em carteira (reduzir disponibilidades e aplicações em títulos de curto prazo, públicos e privados), a despeito de incorrem em maiores riscos de juros, liquidez e crédito. E tendem a fazer isso conjuntamente, de sorte a evitar perdas de fatias de mercado para os demais concorrentes. Nesses ambientes, os bancos “fazem posição” (position making) no sentido sugerido por Minsky (1975, p.124), ou seja, privilegiam ativos com altos retornos monetários, menos líquidos.

Na fase de expansão dos negócios, pois, os bancos tendem a reduzir suas margens de segurança, inserindo-se na região de riscos crescentes. Conforme assinala Kregel (1997), os bancos geralmente não percebem que suas margens de segurança estão sendo reduzidas, pois: 1) a própria expansão dos negócios tende a aumentar a convicção dos banqueiros (peso do argumento) de que os potenciais mutuários apresentam boas condições de repagamento; e 2) o estado de otimismo influencia positivamente o histórico de risco do tomador de empréstimos, que em outras condições fatalmente teriam seus pedidos recusados. O aumento da demanda por financiamento, por seu turno, responde às expectativas otimistas e altamente confiantes dos empresários em relação à taxa esperada de retorno dos projetos de investimento, condição que inclusive os induz a subestimar eventuais erros de previsão. Neste contexto, cumpre salientar que os próprios bancos tendem a “correr atrás de mutuários”, na ânsia de tirar proveito das oportunidades de ganhos surgidas e viabilizar a preservação ou a expansão de suas respectivas participações de mercado. Portanto, os banqueiros reduzem suas margens de segurança de forma imperceptível nos momentos de expansão e de confiança não porque são ignorantes ou desconhecedores das reais condições dos mutuários, mas porque o próprio estado geral de

80 No que compreende às operações de empréstimos, a incerteza será em relação à capacidade futura de pagamento

do mutuário (principal + juros). De modo que incerteza contemplará não apenas o ambiente macroeconômico vindouro, mas todos os vetores que exercem influência sobre a capacidade dos devedores honrarem seus compromissos, com destaque à liquidez do colateral e à eficiência do sistema de exigibilidades de garantias, entre outros fatores.

expectativas prevalecente sanciona a ampliação das operações mais arriscadas, ainda que não percebidas, a partir dos parâmetros usualmente utilizados para proceder administração estratégica de seus ativos e passivos.

Com efeito, as posturas financeiras arrojadas dos mutuários são validadas. Ansiosos para tirarem proveito das oportunidades de lucro, os bancos, assim como os demais agentes, reduzem o grau de liquidez do lado esquerdo de seus balanços, alterando sua composição em direção a aplicações mais arriscadas81 (KALECKI, 1937; MINSKY, 1986). Trata-se de instituições que assumem comportamentos eminentemente pró-cíclicos: ao mesmo tempo em que são indispensáveis para dar curso ao processo de dinamização do ritmo de acumulação de capital, amplificam a instabilidade sistêmica. Segundo Minsky (1986, p.228-29):

[…] bankers live in the same expectational climate as businessmen, profit-seeking bankers will find ways of accommodating their customers; this behavior by bankers reinforces disequilibrating pressures. Symmetrically, the process that decrease the prices of capita assets will also decrease the willingness of bankers to finance business.

[…] It is [banks] a disruptive force that tends to induce and amplify instability even as it is an essential factor if investment and economic growth are to be financed. [inclusão nossa]

Portanto, à medida que o estado geral de expectativas vai se robustecendo, ou melhor, que as perspectivas otimistas vão se generalizando, os bancos tendem a reduzir suas margens de segurança, mesmo que imperceptivelmente. A concorrência e a necessidade de preservar fatias de mercado podem levá-los a realizarem empréstimos ainda mais arriscados. Ao invés de privilegiar o fluxo de rendas esperado de um projeto de investimento, estas instituições passam a enfatizar, por exemplo, os valores dos colaterais tomados em garantia ou os valores esperados dos ativos. Os bancos vão assumindo, assim, posturas financeiras cada vez mais arrojadas, contribuindo para a conformação de uma estrutura financeira frágil do sistema (MINSKY, 1986, p.234).

Para que esta postura operacional arrojada do lado do ativo seja viabilizada, os bancos terão de administrar dinamicamente as suas obrigações, seja para cumprir as exigências impostas pela autoridade monetária, seja para viabilizar a implementação de estratégias competitivas orientadas para a obtenção de lucros extraordinários. Isto porque para maximizar seus ganhos,

81 Os bancos aumentam, pois, a razão entre ativos com menores graus de liquidez e ativos com maiores graus de

liquidez. Segundo Kalecki (1937, p.442), dois fatores fazem o risco marginal aumentar quando o investimento aumenta: 1. maior a exposição ao risco de insucesso; e 2. maior o grau de iliquidez assumindo pelos atores econômicos. Isto, aplicado aos bancos, significa que à medida que os bancos assumem menores margens de segurança, tomando-se por base a acepção minskyana, vão assumindo riscos crescentes, pois ficam mais expostos ao risco de insucesso dos empréstimos (inadimplência), de um lado, e aumentam o grau de iliquidez de suas aplicações, de outro.

conforme já salientado, os bancos precisam não apenas maximizar suas receitas, mas também minimizar seus custos. Para isso, além de buscarem intermitentemente ativos lucrativos novos e em escala cada vez maior, estas instituições estão sempre buscando novas maneiras de captar recursos a custos e prazos favoráveis (MINSKY, 1986, p.237).

Para manterem as reservas primárias nos níveis estipulados pela autoridade monetária, os bancos mudam a composição de seus ativos, reduzindo as suas reservas secundárias. Com efeito, os bancos são capazes de aumentar o volume de empréstimos sem que isso implique perda de reservas primárias (STUDART, 1995; PAULA, 1997). Ao mesmo tempo, nas fases de expansão dos negócios, estas instituições buscarão captar recursos mediante o oferecimento de obrigações que economizem reservas e, assim, atribuam maior flexibilidade em relação às exigências institucionais, de sorte a compatibilizar suas obrigações com uma postura mais arrojada do lado esquerdo de seus balanços (PAULA e ALVES JR., 2003a). Isto pode ser realizado de diferentes maneiras, mutuamente complementares.

Para economizarem reservas sobre os depósitos, os bancos buscam oferecer produtos diferenciados no mercado. Suas estratégias implementadas para a obtenção de fundos, contudo, são orientadas não apenas para a captação de depósitos dos clientes. Os bancos podem emitir papéis de dívida diversos, no país e no exterior, além de poderem contar com os recursos do mercado interbancário. Isto porque, tal como sublinhado anteriormente, os bancos têm uma pressão inata por inovar, seja mediante a introdução de novos produtos ou serviços no mercado, seja a partir de novas maneiras de se disponibilizar produtos e/ou serviços já existentes para o público.

Estas instituições podem fazer uso dos expedientes acima aludidos também com vista a ampliar os prazos de suas obrigações, de tal modo a compatibilizá-los com os termos de suas aplicações. Não obstante, a despeito de todos os esforços envidados pelos bancos no sentido de viabilizar a dilatação das maturações de seus passivos, no ciclo expansivo estas instituições tendem a assumir uma postura ainda mais especulativa, notadamente no que compreende à transformação de prazos em favor do devedor. Deve-se salientar, contudo, que o próprio desenrolar do ciclo expansivo, ante o contexto de confiança prevalecente, tende a favorecer a estratégia dos bancos de aumentar a maturação de suas obrigações. Isto porque a redução das margens de segurança do público em geral, e não apenas dos bancos, concorre no sentido de

viabilizar a absorção de títulos de dívida mais longos pelo mercado. Recoloca-se novamente, então, a importância do aspecto institucional, visto que em países que não dispõem de mercados de capitais profundos, torna-se dificultosa a consolidação financeira das dívidas assumidas pelos atores econômicos.

Mas embora a compatibilização de prazos entre ativos e passivos reduza o risco de default dessas instituições no ciclo expansivo, ela pode não garantir a solvência financeira do sistema quando da reversão do estado geral de expectativas. Isto porque a tendência à liquidação de ativos, de um lado, eleva o valor real das dívidas dos mutuários (inclusive dos bancos), e, de outro, desvaloriza os colaterais dados em garantia. Por isso a necessidade de regulação e, não raro, de intervenção estatal no sistema financeiro, mesmo quando da observância de práticas financeiras toleráveis ao nível microeconômico.

Nos períodos de dinamização do ritmo de acumulação, os bancos tendem a aumentar a relação entre capitais de terceiros e capital próprio, ou seja, a elevar seus níveis de alavancagem – usam mais recursos do público para comprar ativos, o que tende a elevar a rentabilidade destas instituições. Nestes contextos, as restrições impostas pelo banco central com vista a garantir um crescimento sustentável e financeiramente sólido podem se mostrar insuficientes, posto que o controle sobre o preço das reservas bancárias pelo banco central geralmente se apresenta insuficiente para reprimir a ganância dos banqueiros. Em função disto, a taxa de alavancagem dos bancos e o grau de fragilidade da estrutura financeira da economia constituem os dois lados de uma mesma moeda. Repõe-se, novamente, a necessidade de uma estrutura de regulação e supervisão que busque limitar os riscos assumidos pelos bancos em seu negócio de fazer lucros, posto que esta dinâmica enseja um processo de redução das margens de segurança assumidas pelos agentes – o que implica um aumento da vulnerabilidade financeira do sistema (MINSKY, 1986, p.238).

A despeito de os bancos buscarem permanentemente driblar as restrições impostas pela autoridade monetária, conforme já destacado, sistemas financeiros desregulamentados tendem a assumir um caráter eminentemente autofágico, no sentido de que a inexistência de limites à obtenção de ganhos pelos bancos e demais instituições financeiras tende a torná-los mais suscetíveis a crises oriundas de práticas e comportamentos imprudentes. Logo, a despeito da dialética reguladora, tal como sugerido por Kane (1981; 1984) – ideia de que as restrições

impostas pelo banco central se mostram perecíveis com o passar do tempo82 –, as experiências internacionais sugerem que é melhor a existência de regulamentação prudencial, ainda que recorrentemente ela necessite de aperfeiçoamento, do que sua inexistência. Isto, cumpre salientar, mesmo considerando que o jogo entre os banqueiros e o banco central tem como frequente vencedor os primeiros (MINSKY, 1986, p.250).

Os bancos são obrigados a manter recursos sob a forma de reservas, sejam elas voluntárias ou compulsórias (determinadas pelo banco central), geralmente não remuneradas. Tais recursos representam saldos ociosos para os bancos, constituindo um fator de custo para estas instituições. Minsky (1986, p.242) o denominou custo escondido ou encoberto, ou seja, o custo de oportunidade de se manter saldos ociosos, que normalmente pode ser representado pela taxa de juros que o banco deixa de ganhar ao não aplicar no interbancário. Para evitar a manutenção de elevados níveis de reservas, os bancos podem captar recursos sob a forma de depósitos a prazo, que geralmente absorvem menos reservas do que os depósitos à vista, ou mediante emissão de dívidas no mercado financeiro. Estas formas de captação, contudo, são remuneradas, também constituindo fator de custo para os bancos, que Minsky (1986, p.242) chamou de custos evidentes ou abertos.

Com efeito, os bancos buscam substituir obrigações que absorvem mais reservas por outras que absorvem menos reservas até quando os custos abertos forem iguais aos custos encobertos. Isto porque, ante o objetivo de minimizar custos, quando o custo de oportunidade de se manter recursos ociosos na forma de reservas for superior ao custo de remuneração das obrigações que absorvem menos reservas (ou nenhuma), será mais vantajoso o banco arcar com os custos abertos, vez que inferiores aos encobertos. Os bancos, pois, administram seus passivos de modo a minimizar a quantidade de recursos ociosos, bem como o custo médio de suas obrigações (MINSKY, 1986, p.242-45).

82Faz-se importante ressalvar, contudo, que Kane (1981; 1984) não enfatiza o fato de que é a busca incessante pela

acumulação e valorização da riqueza sob a forma monetária que constitui a principal razão para a introdução de inovações financeiras. Neste sentido, pode-se sustentar que a “dialética reguladora” mencionada por Kane (1981; 1984) tem como leitmotiv a lógica concorrencial envolvida na intermitente disputa por ampliação dos lucros por parte dos atores econômicos, ainda que de caráter temporário. Finalmente, faz-se necessário registrar que a ideia de que a introdução de novos instrumentos e práticas financeiras responde à lógica concorrencial envolvida no processo de disputa pela acumulação e valorização da riqueza sob a forma monetária foi originalmente introduzida por Freitas (1997).

E os bancos podem burlar as restrições da autoridade monetária, tais como exigência de capital mínimo, de reservas e outras, mediante operações fora de balanço, conforme já indicado. O processo de securitização de suas carteiras de empréstimos, por exemplo, contribui para manter o grau de alavancagem dos bancos dentro dos parâmetros estipulados pelo banco central. A expansão acelerada do crédito pode estimular a internacionalização destas instituições, de sorte a escapar da jurisdição da autoridade monetária. Não menos importante, os bancos podem emitir garantias de crédito, atribuindo viabilidade à contratação de empréstimos pelos mutuários. Enfim, podem avistar novas possibilidades de captação ainda pouco exploradas ou não utilizadas.

Nas fases de expansão dos negócios e de otimismo, estas instituições tendem a se arriscar mais, assumindo e validando posturas financeiras mais agressivas ou menos cautelosas. Além da tendência ao aumento do grau de alavancagem, tende a prevalecer um descompasso cada vez maior entre os prazos de maturação de seus ativos e passivos. Isto significa que os próprios bancos se tornam dependentes de refinanciamento, o que aumenta a vulnerabilidade financeira do sistema.

Contudo, as fases de otimismo não duram indefinidamente, posto que ensejam a assunção de posturas financeiras frágeis. O aumento do grau de endividamento dos agentes e a redução das margens de segurança tendem a resultar em sobreinvestimento e concentração de riscos. Os bancos passam, então, a fazer um gerenciamento mais parcimonioso de suas aplicações. Os testes de stress realizados pelos departamentos de gestão de riscos dessas instituições passam a sinalizar que uma série de mutuários passaria a recorrer ao refinanciamento de suas dívidas no caso, por exemplo, de um aumento da taxa de juros, pois o aumento dos custos do financiamento reduz a diferença entre o fluxo de rendas esperado e o fluxo de obrigações estimado. O ponto, então, é que o sistema fica cada vez mais suscetível a choques adversos, provocados por modulações inesperadas de variáveis que alterem os fluxos dos retornos estimados. Os que antes eram hedge podem se tornar especulative, ou até mesmo Ponzi, ante a prevalência de diferentes margens de segurança assumidas pelos tomadores de recursos. O aumento do grau de fragilização financeira que se processa ao longo dos ciclos de expansão dos negócios e de otimismo se trata, pois, de um fenômeno que decorre da própria lógica de operação de uma economia empresarial (KREGEL, 1997, p.548).

O estado de convenção que estimulava o comportamento dos bancos em direção aos ativos menos líquidos, agora passa a induzi-los às aplicações com maior grau de liquidez. Não por acaso, registrou Minsky (1975, p.128): “Of all the markets in the economy, the markets for

investments and the debt instruments used to acquire shares and control over capital assets are most clearly based upon tenuous conventions. […]”. Os bancos se mostram mais predispostos a

reterem uma classe de ativos que privilegie o prêmio de liquidez vis-à-vis o retorno monetário, como títulos públicos ou privados de curto prazo83, que fornecem segurança e possuem um custo de carregamento desprezível. O objetivo não só dos bancos, mas de todos os atores econômicos, consistirá em “limpar” seus balanços, conforme destacado por Minsky (1975, p.126), de sorte a viabilizar o cumprimento das obrigações contratuais denominadas em moeda assumidas no passado. Aliás, conforme já salientado, ao agirem desta forma os agentes tendem a instaurar uma espiral deflacionária, aumentando ainda mais o grau de vulnerabilidade financeira do sistema.

Nas fases de pessimismo e retração dos negócios, estas instituições envidam esforços para aumentar a proporção entre ativos com maior e menor grau de liquidez, mediante substituição das operações ativas de mais longa maturação por aquelas de prazos curtos, ante o aumento da percepção de risco dos bancos. Considerando a estrutura de balanço patrimonial, os bancos tendem a privilegiar o ativo circulante vis-à vis o ativo realizável. E no âmbito das aplicações de curto prazo, buscam mudar sua composição em direção às operações com títulos e valores mobiliários (TVM), excluindo títulos de renda variável e papéis privados e públicos de maior risco, bem como às relações interfinanceiras, em detrimento das operações de crédito e arrendamento mercantil.

A mudança das condições de crédito, por sua vez, implica alterações nos valores das dívidas passadas, bem como das quase-rendas esperadas dos ativos de capital e financeiros. Induzirá, ainda, modulações nas relações entre prestamistas e mutuários, problematizando as condições de pagamentos do sistema (BELLUZZO, 2004). Nas circunstâncias em que prevalece um aumento da percepção de risco dos agentes, os bancos tendem a aumentar o racionamento de crédito, elevando a franja de tomadores não atendidos no sistema. E fazem isto não apenas

83 Conforme já destacado, enquanto a moeda é líquida par excellence, representando a própria liquidez, os ativos

líquidos são aqueles cujo tempo requerido para negociá-los é pequeno e cuja possibilidade de mudança de seus preços é baixa. Mas, diferentemente da moeda, os ativos financeiros não-monetários apresentam rendimentos positivos e são sujeitos, mesmo que em baixa medida, a variações de preços, a despeito do fato de o custo de carregamento ser pequeno.

mediante elevação da taxa de juros, mas também a partir de restrições quantitativas às operações de crédito, que decorrem da transição da composição de seus ativos em direção a aplicações com maior grau de liquidez. Ou seja, o aumento da preferência pela liquidez dos bancos, ao implicar iniciativas que busquem alterar a proporção entre ativos com menor grau e ativos com maior grau de liquidez, reduz a disponibilidade de crédito do sistema. O racionamento de crédito pelos bancos, cumpre salientar, faz parte das estratégias empenhadas por estas instituições para reduzir o risco de crédito de suas carteiras de empréstimos. Por isso, segundo Keynes (1930b, p.326-27):

The relaxation or contraction of credit by the banking system does not operate, however, merely thought a change in the rate charged to borrowers; it also functions through a change in the abundance of credit. […] Thus there is normally a fringe of unsatisfied borrowers who are not considered to have the first claims on bank’s favours, but to whom the bank would be quite ready to lend if it were to find itself in a position to lend more.

A reorientação da política bancária em direção a ativos com maiores graus de liquidez exerce impacto sobre as decisões de gastos dos agentes, reduzindo o fluxo de caixa esperado das empresas que investiram mediante a contratação de empréstimos bancários84. Ao inviabilizar o refinanciamento dos débitos contraídos pelos demandantes de moeda creditícia, isso pode ensejar os devedores a liquidarem seus ativos, no intento de viabilizarem o pagamento de suas dívidas, induzindo um processo deflacionário que torna suas obrigações impagáveis e reduz o valor dos colaterais tomados em garantia pelos bancos. Ou seja, as posturas financeiras dos próprios bancos são fragilizadas pelas iniciativas tomadas por eles mesmos. Por isto, os bancos como desestabilizadores endógenos impõem a atuação do banco central enquanto emprestador de última instância (MINSKY, 1986, p.250).

Em relação ao passivo, nos períodos de retração dos negócios os bancos buscam aumentar a participação de seus recursos próprios, de sorte a diminuir o grau de alavancagem e disputar

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