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5.2 As metas dos biocombustíveis na UE

5.2.1 Os biocombustíveis na Alemanha

A Alemanha possui 82 milhões de habitantes que consomem perto de 60 bilhões de litros de combustíveis, dos quais 27 bilhões de gasolina e 33 bilhões de diesel. Com base nas instabilidades do preço do petróleo e constantes ameaças ao abastecimento, soma-se a obrigatoriedade no cumprimento das metas de redução das emissões de gases de efeito estufa.

A Alemanha, no início dos anos 1990, dispunha de apenas algumas esmagadoras dedicadas à produção de biodiesel. Mediante essa nova conjuntura econômica e

ambiental, o governo alemão estabeleceu um expressivo programa de incentivo à produção de Biodiesel a partir da canola. Neste período, ampliaram-se na Alemanha as atividades em torno do biodiesel e os agricultores alemães perceberam as oportunidades financeiras que viriam com este novo combustível. No modelo alemão de produção, os agricultores plantam a canola para nitrojenar naturalmente o solo, uma vez que este está bastante exaurido, demandando uma quantidade significativa de fertilizantes.

O sistema produtivo de biodiesel na Alemanha, bem como dos demais países europeus, tem a seguinte configuração: o óleo é extraído da canola (rape seed). O farelo protéico produzido nesta etapa é direcionado para ração de animais; o óleo de canola é transformado em óleo diesel vegetal, agora caracterizado como biodiesel; este é distribuído de forma pura (B100), isento de qualquer mistura ou aditivação, para uma enorme rede de abastecimento de combustíveis composta de mais de 1.000 postos. Nos postos de abastecimento alemão, é possível dispor de dois bicos numa mesma bomba de combustível, sendo um para o óleo diesel de petróleo, e o outro, com selo verde, para o biodiesel. Ou seja, o mesmo modelo de abastecimento adotado com o consumo de etanol. Essas estruturas de abastecimento possibilitam aos alemães um amplo acesso aos combustíveis alternativos e a redução do consumo dos fósseis (COMISSÃO, 2007).

Inicialmente ao processo, grande parte dos usuários misturava, nas mais diversas proporções, o biodiesel com o diesel comum, até ganhar confiança no novo combustível, cerca de 12% mais barato. Outro mecanismo de incentivo ao uso do biodiesel foi as vantagens ambientais, dentre as quais uma menor emissão de gases de efeito estufa. Isso ajudou a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa no setor dos transportes e melhorar o fornecimento de energia.

No ano 2000, a produção alemã chegou a 265 toneladas de biodiesel e o rápido crescimento veio com a criação da lei federal de subsídio aos biocombustíveis, que elevou a capacidade de produção de biodiesel em 2006 para volumes acima de 2 milhões de toneladas. Em 2007 a capacidade produtiva chegou a 4,5 milhões de toneladas, sendo hoje o maior produtor e consumidor europeu.

A prática de um menor preço para o biodiesel na Alemanha foi sustentada inicialmente pela completa isenção dos impostos em toda a cadeia produtiva. Hoje, o biodiesel representa 2% do total do diesel que é consumido naquele país. Porém, até o fim de 2010, a meta era substituir 10% do diesel fóssil pelo biodiesel. Mas muitos são os agravantes que impedem que o país consiga atingir esta meta. A Alemanha, considerada o país mais avançado do mundo em programas de biodiesel, enfrenta desafios para manter o combustível competitivo sem os subsídios iniciais de governo. Esse, como demonstra a Tabela 13, será gradativamente taxado em cumprimento da Biofuel Quota Act, substituindo os incentivos ficais que estavam em vigor anteriormente. O efeito desta medida provoca uma redução gradual dos incentivos ao biodiesel e óleo vegetal e que, por sua vez, acabam por elevar o preço dos biocombustíveis.

Tabela 13 - Imposto sobre o Biodiesel na Alemanha

Ano Imposto biodiesel (euro/litro) Imposto óleo vegetal (euro/litro)

2007 0,09 0,00 2008 0,15 0,10 2009 0,21 0,18 2010 0,27 0,26 2011 0,33 0,33 A partir de 2012 0,45 0,45 Fonte: UFOP, 2007

A isenção de impostos sobre biodiesel acaba exatamente quando o combustível se torna mais popular entre os alemães, e os fazendeiros expandem a produção para atender à crescente demanda. Em conseqüência, o preço do litro do biodiesel aumentou nove centavos de euro a partir de 2007. Posteriormente, aumentos de seis centavos por ano, a partir de 2008, vão fazer com que os preços do biodiesel e do diesel convencional estejam equiparados em 2012. Entretanto, é consenso entre especialistas em energias alternativas que a capacidade de produção de combustíveis, especialmente a preços competitivos, é reduzida na Alemanha e nos demais países europeus.

Outro problema característico dos países europeus é o total de área agricultável. Hoje, mais de dois milhões de hectares de terras são utilizadas para o plantio de

matérias-primas para a indústria de energia - cinco vezes mais que no final dos anos 1990. Destes, cerca de 1,1 milhão de hectares são reservados à canola. Por isso, tanto a Alemanha como os demais países da Europa, dispõe de restrições referentes a disponibilidade de terras agricultáveis. Um maior incentivo no aumento da produção das bioenergias poderia competir com as áreas destinadas à produção de alimentos, causando sérios problemas de abastecimento. Tal cenário nos remete a discussão inicial (no capitulo I). Ou seja, o governo alemão precisa escolher entre produzir alimentos e abastecer a população ou óleo vegetal para substituir a gasolina usada nos carros que circulam no país.

Outro ponto importante refere-se ao clima. Na Alemanha o clima frio não possibilita o desenvolvimento de práticas agrícolas que favoreça. Se o país utilizasse metade da superfície disponível para plantar esta oleaginosa, a produção total seria de 1,5 bilhão de litros de biodiesel, menos de 5% do consumo total anual de diesel. Com esses impedimentos, criam-se condicionantes favoráveis ao desenvolvimento de oportunidade para os países em desenvolvimento, em especial o Brasil, no suprimento da demanda crescente por biocombustíveis na Alemanha.

Em 2008 a Alemanha esperava substituir 12% do consumo de diesel com biodiesel (sendo 5% misturado ao diesel e o restante B100). Porém, para que se mantenha o percentual de mistura ao diesel, a Alemanha precisou importar, em 2005, 400 mil toneladas de biodiesel, enquanto sua produção foi de 1,5 milhões de toneladas. Dados da UFOP estimam que a Alemanha investiu nos últimos anos cerca de 400 a 500 milhões de Euros no crescimento da produção de biodiesel.

Porém, os cenários de exportação ainda se encontram ligados a aspectos político- econômicos, sobretudo porque na UE há inúmeras dificuldades quanto à adoção efetiva de aumento na mistura do etanol da gasolina a 10% até 2020. No entanto, ainda não é possível obter uma avaliação fundamentada da produção de biodiesel, isso porque o processo é recente e atende somente ao mercado nacional. Já para o Brasil, o aumento do lucro pela exportação de biocombustíveis, isto é, do etanol e biodiesel, é muito importante (KOHLHEPP, 2008).

Para Kohlhepp (2008) há um forte lobby das indústrias do petróleo, das empresas de produção de alimentos, a forte influência da indústria automobilística, bem como a atuação dos produtores de biocombustíveis europeus nas críticas à produção de etanol no Brasil. Essas se fundamentam na tentativa de impedir as possíveis importações do produto pela Europa, usando de subsídio a forte influencia das organizações não governamentais (ONG’s) na estruturação das críticas ao programa de produção das bioenergias do governo brasileiro.