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Inúmeras são as dificuldades de entrada do etanol no mercado europeu. Ainda há intensas discussões e o Brasil espera maiores aberturas do mercado dos biocombustíveis na Europa. Entretanto, as discussões quanto ao acesso da produção brasileira ao mercado alemão e europeu está sendo conduzida com base em informações errôneas, sustentadas em interesses de produtores locais e de grupos lobistas.

Muitas vezes esses argumentos estão sendo pautados pela afirmação de que a produção das bioenergias brasileiras está sendo desenvolvida a partir do desmatamento da Amazônia e demais importantes ecossistemas como a Caatinga, Serrado e a Mata Atlântica. Em parte, a expansão do plantio da cana de açúcar não está sendo feita em áreas de floresta. Ou seja, não há um avanço direto no plantio da cana, tendo em vista

que as áreas atuais de plantio e os potenciais para a expansão encontram-se muito distantes das florestas tropicais (KOHLHEPP, 2008). No mapa abaixo é possível ter uma parâmetro das áreas de expansão da produção de cana de açúcar para a produção de etanol.

Fonte: NIPE-UNICAMP e CTC

Figura 39 - Área de expansão do cultivo da cana de açúcar

O Brasil dispõe de 90 milhões de hectares agricultáveis e mais 62 milhões de hectares agricultados. Destes, apenas 6 milhões são destinados a produção de cana. Porém, outros 200 milhões de hectares são de pastagens, dos quais 90 milhões são aptos para agricultura tropical, pois dispõem de clima, topografia e relevo adequados; destes, 22 milhões são aptos para o plantio de cana. Com base nessas estatísticas, o cenário da agricultura começa a mudar no Brasil: a pecuária extensiva começa a dar lugar a intensiva e, nos campos cerrados, cuja vegetação natural já está reduzida a 20% em razão da agricultura, o número de gado por área poderá aumentar facilmente com o melhoramento dos pastos: em vez de criar uma cabeça de gado em 2 ha, seria possível criar uma cabeça por 0,7 ha (média em São Paulo). Isso mostra que, com uso reduzido de área, a pecuária pode ser conduzida muito mais eficientemente do que nas

pastagens na floresta tropical – que também é climaticamente desfavorável (MACEDO, 2005).

Ou seja, a melhor redefinição das áreas agrícolas do Brasil, o uso de tecnologias mais eficientes e novas técnicas de produção, poderão multiplicar por seis a produção de cana no Brasil. A partir do aprimoramento das técnicas da hidrólise será possível produzir etanol não apenas no suco da cana de açúcar, mas também a partir do bagaço. No gráfico abaixo é possível analisar o percentual de terras ocupadas pelas atividades de uso da terra no Brasil. Nos proximos 15 anos pastos degradados podem ser liberados para cultivar cana de açúcar em áreas onde novas unidades estão sendo construídas, ou onde usinas estão sendo ampliadas, sem ser preciso avançar em áreas de florestas.

Fonte: FMI/Goldemberg, 2009

Figura 40 - Uso da terra do Brasil 2009 (Milhões/hectares)

Portanto, a discussão necessária a ser feita a partir da proposta de expansão do uso dos biocombustíveis remete-nos às perspectivas do que é essencial, ou seja, será necessário estabelecer em que região haverá expansão do plantio da cana de açúcar. Para tanto, é necessário estabelecer as restrições quanto ao desenvolvimento do plantio. Para que este cenário possa ser desenhado, faz-se necessário o

desenvolvimento de estudos de Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE)52. Esse estudo deve estar acompanhado com a obrigatoriedade da criação de áreas de proteção ambiental, parques e reservas visando sua proteção definitiva.

Outro ponto bastante criticado pelos argumentos contrários ao desenvolvimento das bioenergias baseia-se em usar áreas de plantio para a produção de etanol ao invés de cultivar alimentos. Esses argumentos também não se sustentam, já que nas últimas colheitas, viu-se um aumento tanto na produção de matéria-prima para biocombustíveis quanto na produção de alimentos e de grãos para o mercado mundial. Estudos de Zoneamento Agro-Ecológicos demonstram que o Brasil tem terra suficiente para expandir tanto a produção de cana de açúcar como a de grãos e alimentos sem comprometer ou ameaçar ecossistemas e biomas sensíveis, como a Amazônia e o Pantanal.

Diversos estudos governamentais e privados – conduzidos por agências especializadas como a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) e por universidades como Unicamp e Coppe-UFRJ – demonstraram que o Brasil tem todas as condições de expandir sua produção de biocombustíveis a níveis muito mais altos do que os atuais. O país dispõe de áreas agricultáveis, tecnologia agrícola e tecnologia industrial para atender à demanda sem comprometer a oferta de alimentos e o aumento do plantio de grãos, como demonstrado nos últimos anos.

Por isso, a consolidação de acordos de cooperação entre o Brasil e a Alemanha na troca de tecnologia e na importação dos biocombustíveis serão possíveis desde que assegurada a sustentabilidade da sua produção. Esses procedimentos serão mais fáceis principalmente no etanol, quando comparado ao biodiesel. Por isso, para que tais acordos

52 O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) é um instrumento de planejamento e uso do solo e gestão ambiental que consiste na delimitação de zonas ambientais e atribuição de usos e atividades compatíveis segundo as características (potencialidades e restrições) de cada uma delas, visando o uso sustentável dos recursos naturais e o equilíbrio dos ecossistemas existentes. O ZEE deve, portanto, basear-se em uma análise minuciosa e integrada da região, considerando-se os impactos decorrentes da ação antrópica e a capacidade de suporte do meio ambiente. No Brasil, o ZEE é previsto no inciso II do artigo 9º da Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981, que estabelece a Politica Nacional de Meio Ambiente. Já o Decreto Nº 4.297, de 10 de julho de 2002 regulamenta o Art. 9º, inciso II, da Lei nº 6.938 estabelecendo critérios para o ZEE.

possam se consolidar, o Brasil precisará desenvolver importantes esforços quanto ao cumprimento dos critérios ecológicos e sociais impostos pela União Europeia.

O ZEE poderá ser um forte instrumento brasileiro de adoção das normas de produção das bioenergias e o cumprimento desses critérios poderá consolidar o Brasil como um forte competidor no mercado global dos biocombustíveis. A posição do etanol certamente será reforçada a partir dos impostos cobrados pela UE tendo como base os calculados das emissões de CO2 veicular.

No âmbito da discussão sobre a segurança climática e a mitigação do aquecimento global, fica evidente que, a princípio, somente o etanol à base da cana de açúcar poderá, no setor dos transportes, realmente contribuir para a redução substancial das emissões de CO2, Esta está ligada diretamente aos objetivos do Protocolo de Kyoto no cumprimento dos compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa. Um estudo da OCDE (2008), no entanto, ressalta que os gases estufa pelo uso de etanol da cana de açúcar são excepcionalmente reduzidos de 70% a 90%, comparado com o uso da gasolina. Observa-se que a redução desses gases no uso do etanol é menor quando produzido do milho (20%-50%), da beterraba (30%-50%) e do trigo (30%-60%) (COMISSÃO, 2007).

Porém, para KOHLHEPP (2008) as bioenergias representam uma fase de transição até o amadurecimento técnico e o uso em massa, no futuro próximo, dos motores elétricos e movidos a hidrogênio. Os carros híbridos, movidos a motores elétricos e a gasolina e/ou protótipos de carros com motores elétricos, estão em destaque nas feiras internacionais de automóveis e chamam muito mais atenção do que carros com motores flex-fuel. Obviamente os biocombustíveis de primeira geração, como etanol da cana de açúcar, são vistos na Europa e na Ásia como uma tecnologia de transição cuja época já terminou antes mesmo de ter sido usada nos automóveis nesses continentes (KOHLHEPP, 2008).

7 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES

A atual problemática das mudanças climáticas coloca-se como uma das principais discussões internacionais sobre o meio ambiente global. A

consolidação de metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, em nível local e internacional, na tentativa de mitigar o aquecimento global,

significou a consolidação de uma nova leitura sobre a atual política ambiental. Longe de construir uma proposta efetiva de redução das emissões de gases de efeito estufa para a mitigação das mudanças climáticas globais, a

assinatura do Protocolo de Kyoto significou uma proposta concreta na criação de instrumentos jurídicos internacionais que poderiam tornar exeqüíveis o cumprimento de tais metas.

Assim, a ratificação do Protocolo de Kyoto foi a primeira, de uma série de medidas a serem tomadas pelos governos mundiais para alcançar a mitigação do aquecimento global. No que tange ao regime climático internacional, as metas quantitativas de redução das emissões são muito modestas, do ponto de vista da mitigação do aquecimento global, assim como contribuem muito pouco para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Fica evidente que as negociações internacionais atribuem a mesma ordem de importância às metas de crescimento econômico, liberalização do comércio e a segurança do clima global. Com o avanço das negociações, constata-se que, dificilmente, essas metas serão alcançadas conjuntamente, já que o sistema mundial do comércio não levou em consideração a

necessidade de discorrer em prol das mudanças do clima. Isto posto, torna-se evidente que o desenvolvimento econômico continua permeando todos os acordos acerca da segurança climática e, portanto, suas soluções ainda estão muito longe de acontecerem.

Porém, este processo obedece a uma perspectiva internacional: as mudanças climáticas são globais nas suas causas e conseqüências e as