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2.4 O domínio da História

2.4.6 Os desafios da modelagem conceitual no domínio da História

Esta pesquisa se propõe a investigar as primitivas de uma ontologia que possa estender- se para uma base de conhecimento. Nesse sentido, os desafios aproximam-se mais das questões de identificação e posicionamento adequado dos conceitos em um sistema de representação capaz de lidar com o discurso histórico, seja qual for a interpretação que lhe é atribuído, e mesmo, que consiga lidar com essas interpretações.

Podemos sintetizar os desafios nas seguintes questões:

• Quais seriam as categorias principais no domínio da História?

• Quais os limites temporais para ações, eventos e processos? O que distingue um do outro? O conceito de evento para a historiografia seria o mesmo que para as outras ciências?

• Quais os critérios para a existência de identidade das entidades do domínio? O que garante esta identidade? (GUARINO, 1997; GUIZZARDI, 2005)?

• Como ordenar os eventos?

• Tempo e espaço são grandezas absolutas, universais e independentes, ou grandezas existencialmente dependentes de outras entidades?

• Como lidar com a incerteza na datação de eventos? • Como lidar com interpretações na história?

59 O principal objetivo do materialismo histórico é explicitar as causas que governam a direção da mudança

Smith (2002), ao discutir a relação entre ciência (no caso, a História) e Ontologia (enquanto domínio de conhecimento preocupado com a existência dos seres), afirma que enquanto o papel da ciência é ‘explicar’ a natureza, o papel da Ontologia seria, uma vez que fossem obtidas as explicações, descrever, organizar e sistematizar o conhecimento obtido. Esta é a orientação que fundamenta o presente trabalho. Trabalho este que reconhece, acima de tudo, que para muitas das questões acima não há simplesmente uma única resposta possível, mas sim formas diferentes de apropriação do ferramental técnico e metodológico disponível, capaz de endereçá-las.

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Metodologia de pesquisa

A metodologia da pesquisa se baseia em uma abordagem prática, uma vez que será proposta uma ontologia inicial amparada por pressupostos visitados. É também de caráter qualitativo, pois visa a coletar conceitos e suas inter-relações, a partir de diversas fontes de conhecimento sobre o domínio. Assim, segundo classificação proposta por Lakatos e Marconi (1991), trata-se de uma pesquisa aplicada quanto à sua natureza, qualitativa quanto à forma de abordar o problema e exploratória quanto aos seus objetivos.

Sobre os procedimentos de pesquisa, algumas direções foram demarcadas. Primeiramente, a pesquisa bibliográfica que permitiu delimitar o espaço de debate envolvendo os conceitos fundamentais acerca do tema. Buscaram-se principalmente autores seminais e formuladores das teorias, embora estejam presentes, conforme o caso, autores comentadores dos primeiros.

Foi realizada revisão de literatura sobre metodologias de construção de ontologias cujos critérios de seleção se basearam na clareza quanto à sistematização das etapas, existência de documentação e citações na área. Foram analisadas as metodologias de Gruninger e Fox (1995), a Methontology de Gómez-Pérez et al (1996, 1997), o método 101 de Noy e McGuinness (2001) e a Ordnance Survey (KOVACS et al, 2006), envolvendo as seguintes etapas: especificação, aquisição do conhecimento, conceitualização, integração com outras ontologias, formalização, implementação e documentação. Estas três últimas não chegaram de fato a serem aplicadas neste estudo, porém suas diretrizes são explicitadas para fins de entendimento do processo como um todo.

Fechando o marco teórico, foi feita uma análise do domínio da História, onde são expostas as principais questões que permeiam o ofício do historiador nas palavras de alguns autores expoentes do campo historiográfico, como Marc Bloch, Jacques Le Goff, Peter Burke, Ciro Flamarion Cardoso e Marieta de Moraes Ferreira.

O levantamento de ontologias e projetos afins faz parte da metodologia da pesquisa, pois questões sobre reuso e interoperabilidade são centrais no processo de construção do modelo. Este levantamento está descrito no próximo capítulo, e seu desdobramento se traduz na modelagem conceitual da ontologia em si, sistematizada como o campo empírico desta dissertação. A experiência consiste em aplicar o que foi aprendido com as metodologias estudas, descrevendo as seguintes etapas consideradas mais apropriadas:

• Identificação do domínio, escopo e questões que a ontologia deverá responder; • Identificação de ontologias que possam servir de referência;

• Identificação dos conceitos recorrentes ao domínio com a ajuda de textos, verbetes e listas de vocabulário controlado;

• Identificação das categorias principais, a partir do agrupamento coerente dos conceitos;

• Identificação dos atributos e relacionamentos das entidades do domínio.

Os resultados buscam responder às questões centrais da pesquisa - expostos no capítulo introdutório -, que versam sobre quais princípios metodológicos orientariam o desenvolvimento de uma ontologia no domínio da História; como as estruturas ontológicas representariam apropriadamente a dinamicidade temporal presente na História; e quais conceitos deveriam ser integrados à ontologia.

A partir desse raciocínio, e com base na literatura, foram propostas algumas classes nucleares para o domínio em questão, com uma seleção de possíveis atributos e relacionamentos concebidos principalmente a partir do cotejamento com ontologias externas. Para cada classe, foram expostas definições segundo sua inserção no campo histórico, e ao final, um quadro síntese com uma seleção das propriedades levantadas.

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Estado da arte e ontologias relacionadas

A história como disciplina e ramo do conhecimento trata essencialmente de registrar e explicar eventos relevantes do passado (Merriam-Webster Dictionary; CARR, 1978; SEWELL JR, 1996) e a importância dos eventos é recorrente nos relatos de experiências de desenvolvimento de ontologias focadas em, ou próximas a este domínio (NAGYPÁL, 2005; HYVOBEN et al, 2007).

Para obter um panorama do estado da arte dessas experiências, o presente capítulo reúne algumas ontologias que lidam com a noção de evento sob algum aspecto. Ontologias de topo ou de domínio, elas foram selecionadas principalmente pela relevância apontada na literatura, nos estudos de caso e existência de documentação. Serão examinadas no que as fazem aproximar-se, distanciar-se ou contribuir de alguma forma para a ontologia de história ora proposta, doravante identificada como Ontologia de História ou Ontologia HIST.

Das ontologias visitadas, são consideradas de topo ou de fundamentação OpenCYC, DOLCE e Unified Foundational Ontology. As que tratam eminentemente de eventos são Event Ontology, Dolce Ultralite Ontology, Simple Event Model e Linking Open Description of Events. Já a CIDOC-CRM e Europena Data Model não chegam a ser identificadas como ontologias de topo, no sentido de abrigarem noções gerais do conhecimento, mas não são exatamente ontologias de domínio visto que seus objetivos estão em servirem de frames à representação de conceitos na área da cultura e patrimônio, de forma abrangente; elas se situam no meio termo. VIVO e VICODI são experiências mais restritas a domínio: a primeira no campo acadêmico e de publicações, e a segunda na história da Europa moderna. A DAML Time Ontology é uma ontologia de topo focada na modelagem de noções temporais independentes de domínio.