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1 A VERTICALIZAÇÃO DO CENTRO DE SÃO PAULO

1.1 OS EDIFÍCIOS PIONEIROS

“Na passagem do século XIX para o XX, a cidade registra um crescimento espantoso: com população aproximada de 40 mil habitantes em 1880, passa a 200 mil habitantes em 1900. Tal repentino aumento populacional, conjugado com o desenvolvimento dos setores econômicos e a expansão da estrutura espacial urbana apontam para a cres- cente necessidade de readequação do antigo ambiente urbano, para a função de polo convergente pudesse se dar de modo eiciente.” (XAVIER, 2007, p. 27).

Neste contexto, entre os primeiros edifícios produzidos na região central, po- demos destacar: 1912 – Ed. Casa Médici1 (Rua Líbero Badaró e Rua Dr. Falcão

Filho) Samuel e Cristiano Stockler das Neves; 1912 – Ed. Guinle / Gustavo Pujol; 1919 - Banco Francês e Italiano2 / Guido Miceli.

1. “A Casa Médici (1912), na esquina da rua Líbero Badaró coma Dr. Falcão Filho, é o primeiro edifício vertical construído na cidade (obra do Escritório de Arquitetura Samuel das Neves), sendo, também, o primeiro edifício de escritórios existente em São Paulo. Na mesma data, tem início a construção do edifício Guinle, com sete andares, ediica- ção destinada a sediar os escritórios da família Guinle, principal concessionária da operação do porto de Santos.” (DEVECCHI, 2014, p. 90).

2. “O edifício destaca-se pela fachada, uma cópia não muito ile do Palazzo Strozzi, cons- truído por Giuseppe Chiappori, engenheiro-arquiteto a quem Micheli se associara em 1909.” (FIALHO, 2007, p.74).

1.1

Ed. Casa Médici. Fonte: DEVECCHI, 2014, p. 93.

1.2

Ed. Guinle. Fonte: CARAM, 2001, p. 127.

1.3

Ed. Banco Francês e Italiano. Fonte: acervo do autor.

“Ainda nesses primeiros anos de verticalização, (...), todos construídos entre 1924 e 1929: Esses edifícios indicam a presença, no mercado de trabalho, de escritórios de engenheiros e arquitetos, como Stockler das Neves, Ramos de Azevedo, Pujol & Toledo, Reinmann & Carvalho, Albuquerque & Longo. Tal conjunto de escritórios produz os grandes ícones de produção verticalizada, alinhados com a produção eclética e com alusões estéticas a palácios europeus.” (DEVECCHI, 2014, p. 92).

A promulgação da Lei n.2.3323, de 1920, que regulamenta as alturas das ediica-

ções e o uso do elevador, induz a um crescimento dentro do triângulo histórico. Do mesmo modo, a partir de 1929, a Lei n. 3427 – que consolida o Código de Obras4, normatizando, além das alturas, os recuos e incluindo um capítulo sobre

3. “O primeiro corpo legal a versar sobre o processo de verticalização é a Lei n. 2.322, de 1920. Fazendo referência ao uso de elevadores, controla também a altura dos edifícios, esta- belecendo uma relação com a largura da rua. Posteriormente, em 1929, é promulgada a Lei n. 3.427. Conhecida como Código de Obras da Cidade, tal lei esboça um primeiro zoneamento da cidade, estabelecendo quatro zonas: central, urbana, suburbana e rural. Na denominada zona central, que corresponde aproximadamente ao recorte aqui utilizado, todos os edifícios deviam ter altura mínima de quatro andares. Além disso, estabelece que as ediicações verticais podem ser construídas no alinhamento da rua, tendo como gabarito máximo, em ruas de até nove metros de largura, uma altura equivalente a duas vezes essa largura; já naquelas com 9 metros a 12 metros, duas vezes e meia; e três vezes para as ruas de mais de 12 metros de largura.” (DE- VECCHI, 2014, p. 123).

4. “O código, assim como os planos viários concebidos no período, notadamente o Plano de Avenidas, elaborado pelos engenheiros Francisco Prestes Maia (1896-1965) e João Florence de Ulhôa Cintra (1887-1944), conformaram a face urbano-arquitetônica visível de uma metrópole que buscava se airmar como polo industrial, terciário e inanceiro do país. Se a zona urbana, onde prevaleceu o modelo anglo-saxão de cidade-jardim e a arquitetura de estilos, caracterizou-se pelos aspectos bucólicos, pitorescos e anti-urbanos que a elite almejava para seus espaços de moradia; se a zona suburbana e rural, onde se concentravam o trabalho, o comércio e a moradia popu- lar, foram deixadas a margem, escondidas pela distância; o centro, zona privilegiada dos negócios, da riqueza e do poder, foi pensado como o núcleo de representação do progresso e da modernidade metropolitana, sintetizados pela imagem do arranha- -céu.” (SILVA, 2010, p. 116).

o concreto armado5, normas de resistência, armaduras e dimensionamento –,

sugere coeicientes e potenciais elevados, conforme destaca DEVECCHI:

“Em tais edifícios, ao analisar-se o coeiciente de aproveitamento dos terrenos para o período, veriica-se que ele é máximo, com potenciais construtivos que chegaram a atingir 33 vezes a área do terreno. Há predomínio de edifícios com coeiciente de apro- veitamento superiores a 5, representando aproximadamente 80% do universo analisado. E aproximadamente 60% desse universo apresenta coeiciente de aproveitamento que varia entre 5 a 10 vezes a área do terreno, com 20% do total apresentando coeicientes superiores a 10.” (DEVECCHI, 2014, p. 82).

5. “Em 1929, com a Lei n. 3.247, consolida-se o Código de Obras, incorporando as posturas de arruamentos e ediicações existentes até então. Essa lei, além de ixar normas so- bre altura das ediicações e recuos, introduz um capítulo sobre o concreto armado, sendo deinidas normas de resistência, armaduras, espessuras de laje e dosagens de concreto.” (DEVECCHI, 2014, p. 83).

1.4

Avenida São João – 1928. Fon- te: Acervo Museu Paulista / PMSP- -DOV_OPu-RF_São João_1928_n.0339.

A partir de 19246, podemos destacar alguns dos edifícios construídos na região

central: 1924 - Edifício Sampaio Moreira Cristiano Stokler das Neves; 1924 – Ed. Patriar- ca (Praça Patriarca, 100-116) Siciliano & Silva Eng. e Construtores; 1924 – Ed. Palacete do Carmo (Rua Venceslau Brás, 70-104) Ramos de Azevedo; 1928 – Ed. Rolim (Praça da Sé, 79-89) Escritório Técnico H. C. Pujol Jr., Fred Reimann, Tito Carvalho; 1928 – Ed. Palacete Glória (Praça Ramos de Azevedo, 209-219) Albuquerque & Longo; 1929 – Ed. Saldanha Marinho (Rua Líbero Badaró, 39) Elisário da Cunha Bahiana; 1929 – Ed. Piratininga (Praça da Sé, 96-100) Parcas de Pladevall, Archit. Const.; 1929 - Ed. Casa das Arcadas (Rua Quintino Bocaiúva x Benjamin Constant, 148-182) Dácio A. de Moraes & Cia Ltda; 1929 – Ed. Martinelli7 Giuseppe Martinelli e Ítalo Martinelli; 1929 - Ed.

Alexander Mackenzie8 Preston and Curtis Architects; 1935 - Ed. São Francisco (Rua

Senador Paulo Egídio, 15); 1937- Ed. João Brícola / Mappin Stores Elisário Bahiana.

6. “ Nesse contexto, o arranha-céu, as avenidas e o transporte individual se tornam ícones do processo de civilização almejada, transformando a paisagem da cidade e aparecendo nas revises da legislação e dos códigos urbanos a partir do inal da década de 1920, no investimento massivo em obras viárias como o Plano de Avenidas, e nos comentários da população sobre a cidade, como o que se vê no cartão postal que estampa de um lado da foto do edifício Martinelli e de outro comentário: “ mostre aos americanos que aqui também temos arranha-céus.” (SILVA, 2010, p. 44).

7. “O destaque do Edifício Sampaio Moreira no horizonte do Vale do Anhangabaú seria alterado no período de 1922/1929 com a construção do Edifício Martinelli, primeiro grande arranha-céu da América do Sul, localizado no início da Avenida São João, no quadrilátero das ruas Líbero Badaró e São Bento, oferecendo de seu 30º andar (27 andares mais 3 no ático), uma admirável vista da cidade. Foi o maior edifício de concreto armando do mundo, em seu tempo.” (FIALHO, 2007, p. 70).

8. “Segundo o professor Paulo Y. Fujioka (1996), este trata-se do primeiro edifício de fato construído para escritórios em São Paulo. (...) São 11 pavimentos, mezanino e 27.000 m2 de área útil. O edifício recebeu revestimentos e elementos arquitetônicos produ- zidos artesanalmente pelo Liceu de Artes e Ofícios: lambris, guarnições, molduras de jacarandá-paulista, portões de ferro forjado e mármore em tons de vinho, verde, preto, branco e amarelo-ouro, encontrados nas salas e nas áreas de circulação. O piso de acesso ao Viaduto do Chá e à Rua Xavier de Toledo com pé-direito duplo recebe iluminação natural por três claraboias com vitrais policrômicos, desenhados por Conrado Sorgenicht. A obra foi executada em duas partes: a primeira, pelo E. T. Ramos de Azevedo, e depois, pelo E. T. Severeo e Villares (1925/1929).” (FIALHO, 2007, p. 71).

1.5

Ed. Rolim (1928) / Escritório Técnico H. C. Pujol Jr., Fred Rei- mann, Tito Carvalho. Fonte: Acervo do autor.

1.6

Ed. Saldanha Marinho (1929) / Elisário da Cunha Bahiana. Fonte: ABDALLA, 2013, p. 101.

1.7

Ed. Casa das Arcadas (1929). Fonte: Acervo do autor.

1.8

Ed. Martinelli (1929) – perspectiva de Robert Lacombe. Fonte: HOMEM, 1984, p. 85.

1.9

Ed. Martinelli (1929) – fotograia. Fonte: HOMEM, 1984, p. 106.

1.10

Ed. Alexander Ma- ckenzie (1929). Fonte:

CALLEGARI, 2014, p. 107.

1.11

Ed. João Brícola / Mappin Stores (1937) / Elisário Bahiana. Fonte: Acervo Museu Paulista – cod. 00142 – MP - 00.