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V. Abordagem Proposta

6.3 Vertente Conceptual do Protótipo

6.3.2 Os Estados Emocionais e a Cor

Os quatro estados básicos da emoção estética - a Alegria, a Serenidade, a Tensão e a Tristeza - surgem no protótipo através da cor, do impacto que esta tem na mente, e da sua inerente capacidade em traduzir sensações de quente e frio, comportando efeitos cinéticos, activos ou passivos, no organismo, e de claro ou escuro, afectando a percepção segundo estados positivos ou negativos.

Para a composição cromática de cada pintura foram estudadas várias conjugações de cor, de modo a se perceber o efeito psicológico das cores em relação umas às outras, atendendo também à sua psicologia e carga simbólica. Para além dos vários estudos dos comportamentos dos vários matizes de cor, testando os valores de luminância e saturação, foi realizado um levantamento da simbologia da cor e dos vários usos no quotidiano e na cultura humana (Sanz, 2001), tendo por base as reacções do corpo humano salientadas pelos autores já referidos no capítulo V.

Foram concebidas paletas de cor que serviram como base para as composições cromáticas pictóricas que potenciem cada estado emocional básico. Primeiramente, foram seleccionadas os oitos matizes principais no seu estado mais puro: o amarelo, o laranja, o vermelho, o roxo, o azul, o verde, o castanho e o preto. A partir destas “prim|rias” foram adicionadas duas tonalidades diferentes de cada, uma com um índice maior de bancos e outro com um índice maior de pretos ou com alguma mistura da cor seguinte (Figura 82).

Figura 82. Paleta cromática base.

Para o estado da Alegria, compreendeu-se que cores claras e vivas eram potenciadoras de estados positivos, albergando uma grande actividade e estados energéticos, tais como foram observados nas pinturas compostas pelas primárias pela relação do verde com o laranja e o amarelo. Não só o elevado grau de saturação funciona como excitante, como também o facto de se confrontarem cores quentes com algumas cores frias, desde que sejam claras e vivas, representa uma combinação potencialmente activa. Repare-se que apesar de serem as cores quentes que revelam estados positivos apositivos, potencialmente alegres, a presença de cores frias, para além de ser uma ocorrência minoritária, reforça o contraste de cor quente-frio, enfatizando a qualidade e a força das cores quentes. As cores dominantes desta paleta são as cores primárias, admitindo-se também o verde e o laranja. Na concepção do protótipo, convencionou-se que cores quentes e claras são incentivadoras de estados de alegria, caracterizadamente, positivos e activos.

O estado de Serenidade é um estado positivo, mas passivo, pelo que se convencionou que cores claras, reveladoras de estados tendencialmente positivos, e frias, potencialmente passivas, são as mais passíveis de suscitar um estado tranquilo. A paleta resultante é dominada pelas cores frias, os azuis e os verdes, sendo acrescentados os roxos e os rosas que, embora sejam mais quentes, quando em conjunto com as outras vêm equilibrar a composição.

O estado de Tensão é caracterizado por ser um estado negativo, mas com um índice de agitação elevado que o torna activo. As cores dominantes são cores quentes,

mas escuras. A paleta que caracteriza este estado compõe-se do vermelho, o preto, o amarelo, o laranja e o castanho. O amarelo é a cor que aparentemente contraria a composição, no entanto é precisamente o facto do amarelo ser uma cor excitante e clara que cria um grande contraste com as restantes, enfatizando a perturbação e a confusão do contraste.

O estado de Tristeza é um estado passivo e negativo, que se reflecte em cores frias e escuras. Entre elas destacam-se o cinzento, o azul-escuro e o verde-escuro. O preto e o violeta em conjunto com estas cores vêm enfatizar o estado grave e negativo.

Comparem-se as pinturas e os respectivos sistemas de cor, simplificados nas cores básicas que compõem cada imagem, com os sistemas de cor referidos, potenciadores de um estado emocional. A primeira imagem (figura 83) é uma pintura composta essencialmente por laranja, verde e amarelo, embora na sua concepção se tenha recorrido a todas as cores do sistema que origina a Alegria. Em termos de temperatura esta primeira imagem é próxima da pintura da figura 84, mas em termos de estado é oposta, pois representa a Tensão, um estado negativo determinado pela prevalência de tonalidades escuras. A imagem 85 representa a Serenidade, enquanto a última imagem (figura 86) representa a Tristeza.

Figura 83. Pintura correspondente a “Alegria", comparada com a respectiva paleta crom|tica.

Figura 84. Pintura correspondente a “Tens~o”, comparada com a respectiva paleta cromática.

Figura 85. Pintura correspondente a "Serenidade", comparada com a respectiva paleta cromática.

Figura 86. Pintura correspondente a "Tristeza", comparada com a respectiva paleta cromática.

Embora a definição de paletas cromáticas se apresente como uma paleta definitiva, pela mesma razão que os estados básicos são definidos por relações de contraposição, de facto não são relações estanques. Da mesma forma que os quatro

paletas cromáticas aqui definidas admitem, numa situação prática de expressão plástica, todas as outras cores desde que doseadas por relações de quantidade. Estas paletas constituem a base conceptual que permite introduzir no sistema um padrão de análise comum que facilite a identificação dos estados emocionais automatizada.

A forma intervém no sistema de maneira mais subtil, sendo reconhecida como configuração bem delineada e definida ou diluída e difusa, originando um som ora mais assertivo e imediato, ora mais prolongado e esbatido. Note-se que o reconhecimento de formas mais especificadas, como por exemplo um quadrado ou mesmo uma figura humana, implica uma memória e uma detecção inteligente de determinadas configurações, constituindo um problema de inteligência artificial que no presente contexto não importaria resolver. Para além disso, a cor e a forma não são entidades completamente distintas, sendo que toda a forma surge por meio da cor. Os diversos contrastes e uma organização específica da cor é que são percebidos como forma ao olho humano, tal como o seu movimento e constância perceptivas permitem identificar esse conjunto de organização colorida como uma entidade independente que se destaca de outros eventos (fundo e outras formas/objectos). Esse movimento não é mais que a subtracção de uma frame visível de um dado momento para o seguinte.

6.3.3 Planos Sonoros

O algoritmo que constitui o protótipo contempla uma formulação para a melodia, a harmonia e o ritmo musical. Convém relembrar que estes três principais elementos que definem a música são comparáveis aos três atributos principais que concebem a imagem pictórica: a cor, a forma e o movimento visual.

No protótipo essa tradução é concebida através da subtracção de frames que dita o movimento e, consequentemente o ritmo da música gerada que acompanha a velocidade e o posicionamento espacial dos elementos visuais. O ritmo é também determinado pela cor, indicadora de um estado dinâmico – activo ou passivo - que estabelece se a composição musical é estável/estática ou mais acelerada/dinâmica, traduzindo ritmos lentos ou rápidos.

Os propósitos de complexidade e simplicidade, originados pela diversidade ou pela repetição, que estipulam estados negativos ou positivos, permitem conceber quatro tipologias de som específicos para cada estado emocional. Deste modo, estados de alegria são traduzíveis em ritmos rápidos, mas dotados de simplicidade, e estados de tensão exprimem-se por ritmos acelerados, marcados pela diversidade e complexidade. No contexto musical, o nível de complexidade é acrescido de acordo com as camadas de som em simultâneo, que produzem variedade e diversidade. A harmonia musical advém da simultaneidade de melodias que, no caso do protótipo, é estruturada pela melodia principal definida através da diferença de pixéis entre as frames do vídeo e as melodias de fundo que acompanham e complementam a principal, acrescentando-lhe planos sonoros que determinam o ritmo e o grau de complexidade, previsto para designar cada estado emocional. Estes planos sonoros de fundo denotam a harmonia, e também têm função de equilíbrio, de modo que é originado um som agradável se a harmonia for simples e clara, tendencialmente consonante. Se for uma harmonia complexa de uma forma confusa e tumultuosa, será lido como um som dissonante.

É concebida uma noção de percepção espacial, onde as relações verticais da imagem correspondem ao progresso musical entre notas agudas e graves. As relações espaciais horizontais de esquerda e direita dirigem o som para o posicionamento correspondente.