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Foto 17 Mural sobre Escritoras Negras − Dia do Estudante, 10 ago 2017

1 PROFESSORA: O SONHO – ESPERANÇA

1.1 OS ESTUDOS SE INTENSIFICAM: É PRECISO ESCREVER

Em 2014, tomei conhecimento do Mestrado Profissional em Letras na Universidade Federal da Bahia e interessei-me imediatamente pelo conceito oferecido: usar os conhecimentos adquiridos em um Mestrado para intervir em sala de aula. Me inscrevi e, embora tenha sido classificada nas edições anteriores, minha classificação não foi suficiente para preencher uma vaga, o que ocorreu na terceira tentativa. As aulas do PROFLETRAS começaram em março de 2016. Desde então, as discussões e leituras nas/das disciplinas foram essenciais para a mudança de minha postura em sala de aula. Pude ampliar a minha formação e, consequentemente, a dos estudantes, pois sempre considerei que o saber científico deve ter uma função social.

Quando estava dando início ao projeto, pensava nas aulas de “Elaboração de Projetos e Tecnologia Educacional” e em como o Prof. Márcio Ricardo Coelho Muniz sempre dizia: “a relação de sala de aula é dialógica, vocês precisam construir com os estudantes”. Ao pensar na análise e escrita dos textos dos sujeitos que estão em sala de aula, volto-me para as questões sociais, mas jamais posso perder de vista que o domínio dos elementos linguísticos é fundamental para que esses sujeitos escrevam de forma padrão (exigida pela sociedade e instituições) e se posicionem, ocupando seus espaços, brigando por seus direitos. Isto porque sabemos que o ato de redigir é muito mais do que um exercício de busca da língua padrão e de treino mecânico.

As aulas de “Gramática, Variação e Ensino” com a Profa. Ana Lúcia Silva Souza foram fundamentais para discutirmos sobre variação e preconceito linguístico sob a ótica de teóricos como Marcos Bagno (2007), Carlos Alberto Faraco (2008), Sírio Possenti, Luiz Carlos Travaglia, Antonio Marcuschi, dentre outros. Embora ainda estivesse fazendo o diagnóstico para precisar o foco do projeto de intervenção a ser desenvolvido, já sabia que faria algo relacionado à escrita, uma vez que minha atuação em sala de aula é com redação e as discussões sobre outras possibilidades de abordagem gramatical foram importantes.

Nas aulas da professora Simone Bueno, na disciplina “Aspectos Sociocognitivos e Metacognitivos da Leitura e da Escrita”, no primeiro semestre de 2016, tive acesso aos estudos dos Letramentos e às ideias da Profa. Angela Kleiman (2007) que, no artigo “Letramento e suas implicações para o ensino de Língua Materna”, trata da escolha dos gêneros textuais como prática social. A abordagem dela, neste texto, é favorável a que os professores da Educação Básica não se atenham ao estudo dos textos exclusivamente através

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dos gêneros textuais, mas sim, que os estudos partam da necessidade social dos alunos e estejam relacionados às suas praticas sociais.2

Através do PROFLETRAS, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente escritores- estudiosos os quais fazem parte de minha pesquisa. Em uma aula do segundo semestre de 2016, na disciplina “Alfabetização e Letramento”, tivemos a ilustre presença da professora Stella Maris Bortoni-Ricardo, em atividade organizada pelos professores José Henrique de Freitas Santos, Ana Lúcia Silva Souza e Simone Bueno (Foto 1). Na disciplina “Texto e Ensino”, analisamos os livros Falar, ler e escrever em sala de aula, de Stella Maris Bortoni- Ricardo e Maria Alice Fernandes de Sousa, e A construção da leitura e da escrita, de Márcia Elizabeth Bortone e Cátia Regina Martins, coordenação de Stella Maris Bortoni-Ricardo, os quais foram fundamentais para nossa formação.

Foto 1 − Professoras Stella Bortoni-Ricardo, Simone Bueno, Ana Lúcia Souza e colegas do PROFLETRAS em sala de aula da UFBA − Salvador, set. 2016

Fonte: Acervo da pesquisadora, 2016

Também no segundo semestre, a partir das aulas do Professor José Henrique de Freitas Santos, pudemos desfrutar da presença da escritora Ana Maria Gonçalves, quando palestrou sobre a presença da mulher negra na literatura (Foto 2). Na oportunidade, ela falou sobre a construção do seu magnífico livro Um defeito de cor. Para mim, especialmente, foi um momento ímpar, pois havia lido o livro em 2014 e tive a oportunidade de levar para este encontro algumas alunas da escola privada onde trabalhei que, por minha influência, também

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No Capítulo 3, veremos como a discussão sobre letramento ganha corpo na intervenção que desenvolvi em sala de aula.

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leram o livro. É um romance histórico emocionante. As pessoas costumam “correr” para pedir autógrafos aos seus ídolos. Eu também faço isso. Meus ídolos são escritores.

Foto 2 – Escritora Ana Maria Gonçalves em palestra sobre a presença da mulher negra na literatura, na UFBA – Salvador, out. 2016

Fonte: Acervo da pesquisadora, 2016

Em 3 de outubro de 2016, participamos de encontro com Dra. Roxane Rojo, no Instituto de Letras, também capitaneado pela Profa. Simone Bueno. Na ocasião, houve a discussão sobre multiletramentos e gêneros discursivos. Neste encontro, tivemos acesso ao livro Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos cujas ideias têm alicerçado meus argumentos.

É um privilégio ter participado dos encontros promovidos − ou com participação – pelos/dos nossos professores da UFBA. Participei do Simpósio de Letramento, Identidade e Formação de Educadores (SLIFE), promovido pelo Departamento de Educação (DEDC II) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus II, Alagoinhas, em que as palestrantes, na abertura e fechamento, foram, respectivamente, as professoras Angela Kleiman e Ana Lúcia Silva Souza (Foto 3). Na oportunidade, apresentei individualmente, sob supervisão de minha orientadora Ana Lúcia Silva Souza, na sessão de comunicação, a pesquisa com os estudantes da Oficina de Redação para Concursos. Ouvir outros colegas apresentando os trabalhos desenvolvidos em suas salas de aula me deu esperanças e forças para continuar acreditando que ser professora faz sentido nos dias atuais. Além disso, pude perceber como são, nos bastidores, os simpósios. Ser autora de uma ideia e apresentá-la para muitos ajuda- nos a entender a nossa função social.

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Foto 3 − Professoras Angela Kleiman e Ana Lúcia Souza e as colegas do Profletras, Aldalice Damasceno e Daiane Oliveira em participação no SLIFE − UNEB Campus II, Alagoinhas-Ba, set. 2016

Fonte: Acervo da pesquisadora, 2016

Participei também, como ouvinte, do Seminário de Pesquisa Estudantil em Letras (SEPESQ), em 2016. Ver os colegas da turma anterior à minha do PROFLETRAS apresentando suas pesquisas ajudou-me a perceber os percursos que cada um fez durante o mestrado. Importante ser testemunha das experiências de outros colegas que têm desafios semelhantes aos nossos.

Em maio de 2017, após ter concluído as disciplinas presenciais, tomei conhecimento, através de colegas da turma posterior à minha, da presença da Professora Irandé Antunes em um encontro com os estudantes do Mestrado Acadêmico da UFBA. No encontro, a professora nos apresentou suas reflexões sobre textualidade e as propriedades do texto. Ouvi atentamente as críticas e reflexões da professora, uma vez que fundamentavam a intervenção que eu começara a fazer na pesquisa em curso. Este foi, certamente, outro momento muito importante da minha formação, como poderão perceber, para o que me propus a fazer na intervenção.

Em dezembro de 2017, participei como ouvinte do XI SEPESQ. Simultaneamente, ocorreu o II Seminário “Rasuras Epistêmicas das (Est)Éticas Negras Contemporâneas”, organizado pelo Grupo de Pesquisa Rasuras coordenado pelos professores José Henrique Freitas e Ana Lúcia Silva Souza no qual apresentei comunicação. Nem eu acredito em tanto caminhar e crescimento. Aprendi muito e, entre outras questões, a discussão sobre relações raciais no Brasil tem hoje outra dimensão em minha vida. Caminhei, não sem titubear, sem me sentir cansada demais com tantas atividades a fazer e com uma imensa carga horária de aulas. Mas caminhei.

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