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Foto 17 Mural sobre Escritoras Negras − Dia do Estudante, 10 ago 2017

5 PROJETO DE LETRAMENTO – APLICAÇÃO E ANÁLISE – ESPERANÇA

5.2 REVISAR – REVER – REESCREVER É ≠ DE PASSAR O TEXTO A LIMPO

Para mim, um texto não está pronto enquanto não é revisitado, revisto, refeito. Para os estudantes da Oficina de Redação para Concursos esta não era uma tarefa corriqueira (escrever, revisar, refazer etc.). Ao propor a reescrita, acreditava que, para eles, era uma estratégia conhecida, ainda que não fosse cotidiana. Ledo engano. Os sujeitos que estavam na

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oficina em 2017 não tinham o hábito de fazer reescrita; no máximo, o que eles faziam era passar o texto a limpo. Por conta disto, tive algumas situações inusitadas. A principal foi o fato de alguns alunos fazerem, praticamente, um novo texto. Felizmente, foram poucos nesta condição. A segunda situação inédita foi a dificuldade de os estudantes seguirem o roteiro de autocorreção.

Ao perceber que alguns não estavam fazendo a reescrita e sim a elaboração de outro texto, perguntei-lhes: o que é reescrever um texto? As respostas foram transcritas literalmente, preservando a originalidade da sala de aula.

“Para mim reescrever um texto é escrever novamente um texto já escrito, só que corrigindo os erros cometidos ao longo do texto” – Jéssica.

“É observar os erros que cometemos, e aprendendo escrever melhor, entendendo os parágrafos e tudo que se diz a respeito sobre o que se pede no mesmo” − Maria

Célia.

“É um processo de renovação ou correção sobre um texto anterior, na minha opinião e traduzir de uma forma que obedeça uma regra ou exigência feita pelo solicitante” – Ingrid.

“Seria o momento em transcrever, assim corrigindo detalhes apontados, acrescentar conteúdo, rever coerências, disseminar ideias, etc.” – Erisvaldo.

“Reescrever é quando escrevemos um texto e depois reescrevemos. É reavaliar o texto escrito observando os erros de pontuação gráfica, ortografia e acrescentar no texto, se necessário for. Portanto, é importante que outra pessoa leia para que possamos ter mais segurança naquilo que escrevemos. O texto também precisa estar coerente” – Solange.

“É fazer as correções que foram sinalizadas de acordo com a orientação que foi dada e buscar elaborar um texto com objetividade e clareza” − Jose.

“Reescrever um texto é produzir o mesmo texto, porém com outras palavras e editar coisas que já foram ditas do texto base” – Jeferson.

“É corrigir algo que fizemos que não ficou legal, não ficou com muito objetivo, nem colocamos algo com muita dissertação e faltou os argumentos certos para o texto abordado” − Ana Paula.

“Reescrever um texto é corrigi-lo e repensa-lo, usar novos argumentos e observar o que falta para melhora-lo” – Beatriz.

“Em minha opinião reescrever é fazer uma análise do texto original eliminando os possíveis erros, enxugando os parágrafos longos, revendo e reformulando opiniões”

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Embora eu tenha perguntado (e escrito no quadro), “o que é reescrever um texto?” uma das alunas entendeu assim: “Qual o objetivo de reescrever um texto?”. E respondeu:

“Para mim, é algo que ajuda muito, quando reescrevemos podemos corrigir erros despercebidos e melhorar nosso ponto de vista de como se colocar em um texto mostrando claramente todos os pontos que se tem a discutir” − Criystal.

Ao ler e reler essas respostas, percebi que, de modo geral, os estudantes têm uma ideia concreta do conceito de reescrita, mesmo que não consigam colocá-lo totalmente em prática.

Quando Jéssica diz que “é reescrever o texto novamente, corrigindo os erros...”, fica evidente que a ideia núcleo deve ser mantida e que é necessário rever o que não está adequado – na visão do corretor. Mas, então, como se justifica o fato de ela ter suprimido períodos em vez de reestruturá-los? Vejamos:

Tema: Pobreza em evidência no Brasil – 1ª Versão

Pobreza em evidência no Brasil

Por conta da desigualdade social e econômica percebe-se a pobreza no Brasil. A evidência nesse assunto é muito grande, basta olhar para as pessoas que moram nas ruas, para as que estão desempregadas e as que estão passando fome e necessidade. A pobreza também é fruto da crise econômica, que vem causando um grande desconforto nas famílias brasileiras. Por conta da crise, várias pessoas perdem seus empregos e passam a ter dificuldades em colocar comida na mesa de casa, e assim vem surgindo a pobreza.

Estima-se que a pobreza no Brasil terá impacto maior nas áreas urbanas, já que nas áreas rurais as pessoas estão se tornando mais independentes. No Brasil, é só olhar para as escolas públicas, bairros pobres – onde na maioria das vezes se vê crianças descalças brincando em meio ao lixo, onde ela corre o risco de pegar doenças graves – que saberá o grau de pobreza.

A desigualdade social e econômica é uma das causas da crise econômica, que também é fruto da crise, que vem causando grande desconforto nas famílias brasileiras.

Observemos a supressão do primeiro período. Nele se encontrava a tese. Ela também usa um elemento de coesão referencial sem ter citado o referente. Observemos, a seguir, o uso do pronome demonstrativo “nesse” na primeira linha.

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Tema: Pobreza em evidência no Brasil – 2ª Versão

Pobreza em evidência no Brasil

A evidência nesse assunto é muito grande, basta olhar para as pessoas que moram nas ruas, as que estão desempregadas e as que estão passando fome e necessidade. A pobreza pode ser percebida através da desigualdade social e econômica, com salários dissonantes e a exploração da mão de obra. A pobreza também é fruto da crise que vem causando grandes desconfortos nas famílias brasileiras. A corrupção com políticos descomprometidos e escamoteadores e o desemprego, causado pela instabilidade política e econômica.

Estima-se que a pobreza no Brasil terá impacto maior nas áreas urbanas, já que nas áreas rurais as pessoas estão se tornando mais independentes. No Brasil, é só olhar para as escolas públicas, para os bairros pobres – onde na maioria das vezes vê-se crianças descalças brincando em meio ao lixo – postos de saúde públicos, etc. e saberá o grau de pobreza.

A pobreza de certo ponto de vista, é algo global, no entanto há como amenizar esse problema, como erradicar a fome através de doenças, ajudar pessoas necessitadas.

Quando fiz a intervenção, não pedi que ela retirasse o parágrafo. Logo, parece que ela não teve critérios para fazer a revisão. Reitero que os critérios foram sinalizados na atividade escrita, no momento em que apresentei o texto do colega, para que pudéssemos fazer comparações. A reflexão que quero apresentar é: os estudantes sabem o que deve ser feito, mas precisam de mais tempo para se apropriarem da estratégia de reescrita. Eles acreditam que é um bom caminho, mas ainda precisam de prática. Precisam construir o percurso de reler, rever, reconstruir o texto.

Maria Célia quando diz que reescrever: “É observar os erros que cometemos, e

aprendendo escrever melhor, entendendo os parágrafos e tudo que se diz a respeito sobre o que se pede no mesmo” demonstra que sabe o que é reescrever, embora misture os modos

verbais e não tenha objetividade na elaboração do conceito. Ela também generaliza informações: “[...] entendendo os parágrafos e tudo que se diz a respeito sobre o que se pede

no mesmo”. Observo, quando ela se refere aos parágrafos, que tem influência da minha

intervenção, pois, quando começamos as aulas, ela não encadeava as ideias em parágrafos, mas, com minha orientação, ela tem conseguido desenvolver em cada parágrafo uma ideia, ainda que com alguns equívocos.

Logo que faço a primeira leitura, faço também a correção dos diversos aspectos gramaticais: ortografia, concordância verbal e nominal, regência, por exemplo. Este procedimento da correção está alicerçado nas ideias de Serafini (1995, p. 107) quando afirma

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que “a correção de um texto é um conjunto de intervenções que o professor faz para apontar defeitos e erros”. Ao fazer a “higienização” do texto (JESUS, 2001), ofereço a oportunidade de o sujeito pensar outros aspectos para revisão. Os elementos linguísticos constitutivos da modalidade escrita da língua portuguesa se apresentam, para a maioria dos estudantes, como a única competência necessária para se constituir um texto considerado adequado. É claro que isto é um equívoco, porque “a atividade escrita envolve aspectos de natureza variada (linguística, cognitiva, pragmática, sócio-histórica e cultural)” (KOCH; ELIAS, 2015). Portanto, natureza linguística é apenas uma das cinco competências da avaliação do ENEM, por exemplo. Então, quando a minha intervenção tem poucas marcas nesta competência, os estudantes costumam ficar felizes, pois não compreendem que questões de coesão e coerência estão quase imperceptíveis e que o texto ainda precisa de revisão.