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2.2 A história da formação dos educadores da educação infantil paulistana: o que se revela ao longo do

2.2.1 Os formatos da formação da educação infantil na rede municipal paulistana: 1970 a 2004

A partir dos anos 1970 é possível localizar nos arquivos da MTD indicadores quanto ao modo como a formação continuada foi proposta pela administração municipal aos seus profissionais. São encontradas informações que permitem identificar que, nesse período, as propostas se fundamentam em diferentes formatos, denominados como sendo treinamento, capacitação, reciclagem e formação.

Essas propostas foram organizadas de diferentes maneiras e oferecidas aos profissionais da rede sob a nomenclatura de cursos, palestras, encontros, oficinas e reuniões (Gráfico 3).

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% Capacitação

Curso Encontro Formação Continuada Formação Inicial em Serviço Grupo de Formação Oficina Orientação Palestra Projeto Reciclagem Reunião Sem definição Treinamento Percentual de documentos F o rm at o s da f o rm aç ão 2001-2004 1993-2000 1983-1992 1970-1982

Gráfico 3 - Distribuição percentual de documentos sobre a formação na educação infantil da

Rede Municipal Paulistana por formato e por período, de 1970 a 2004.

Fonte: Organizado pela autora a partir dos arquivos da Memória Técnica Documental da SME/SP

Pode-se observar que um alto percentual de documentos que tratam de ações de formação relaciona-se a cursos, tendo esse formato ocorrido em todos os períodos destacados no gráfico, atingindo seu pico no período de 1993 a 2000 com 45% das ações de formação. Atividades organizadas sob o formato de encontros também mostram alto percentual a partir de 1983, correspondendo a 25% das formações.

Importante também ressaltar dentre os formatos das ações de formação ao longo no período de tempo analisado, aquelas definidas como treinamento. Elas aparecem com grande ênfase no período de 1970 a 1982 na rede municipal (Gráfico 4). Esse formato desaparece nos períodos de 1993 a 2000 e de 2001 a 2004.

O termo treinamento foi encontrado com frequência em documentos que tratavam de formação de educadores especialmente nos documentos da década de 1970. Quanto a esse formato, concorda-se com Marin (1995, p. 15) quando a autora ressalta que as formações pautadas em treinamentos podem ser admitidas em algumas situações, onde a necessidade de construção de automatismos seja necessária, mas podem apresentar-se inadequadas “quando forem distantes das manifestações inteligentes, pois não estamos, de modo geral, meramente

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 1970-1982 1983-1992 1993-2000 2001-2004 Treinamento P e rí o do s

modelando comportamentos ou esperando reações padronizadas; estamos educando pessoas que exercem funções pautadas no uso da inteligência”.

Gráfico 4 - Distribuição percentual de documentos no formato treinamento na educação

infantil da Rede Municipal Paulistana, por períodos, de 1970 a 2004

Fonte: Organizado pela autora a partir dos arquivos da Memória Técnica Documental da SME/SP

O que foi observado no ordenamento legal sobre a concepção de educação infantil na rede paulistana, no início deste capítulo e que se apresenta predominante na década de 1970, se estendendo até a abertura política no início dos anos 1980, caracterizando-a em função da pré-escola preparatória, é referendado com o predomínio de formação no formato de

treinamento, em 50% dos documentos. Os treinamentos eram destinados aos professores e se

pautavam tanto na comunicação da programação curricular para a educação infantil como no treinamento das habilidades desses professores para desenvolver os conteúdos nas diferentes áreas do conhecimento junto às crianças. A ênfase era dada na sugestão de atividades, considerando a necessidade preparatória para o ensino primário ou de primeiro grau, com a finalidade de evitar o fracasso escolar. Importante destacar outros formatos de formação que foram propostas na década de 1970 e início dos anos 1980, conforme detalhamento desse período mostrado no Gráfico 5, mas em quantidade inferior, por exemplo, 19% para capacitação e 12% para cursos.

Gráfico 5 - Distribuição percentual de documentos na educação infantil da Rede Municipal

Paulistana, de 1970 a 1982, por formato

Fonte: Organizado pela autora a partir dos arquivos da Memória Técnica Documental da SME/SP

O formato de treinamentos ainda aparece em documentos da década de 1980, período em que o cenário da educação infantil transitava de uma perspectiva preparatória para uma proposta mais vinculada à ideia de compreender as crianças e seus processos de desenvolvimento.

No período de 1983 a 1992, detalhado no Gráfico 6, o formato dos documentos que passa a predominar as formações são os encontros e cursos apresentando os maiores percentuais, 25% e 19% respectivamente, na organização das atividades formativas nesse período. Os treinamentos também se mantiveram em alta (25%), mas foram paulatinamente perdendo terreno nos formatos oferecidos pela rede paulistana ao longo dessa década. Na análise do ordenamento legal no início deste capítulo, esse período de 1983 a 1992 foi caracterizado pela transição de um modelo de educação infantil preparatória para a escola de 1º grau para uma abordagem pautada nas especificidades do desenvolvimento e das necessidades de aprendizagem das crianças da primeira infância. Por essa razão, as propostas de formação também revelam uma hibridez de concepções. Essa hibridez antecedeu a modificação nos formatos das propostas de formação que seriam adotadas nos próximos períodos analisados. Os treinamentos não mais retornariam à cena nos próximos períodos.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Capacitação Curso Encontro Orientação Projeto Reunião Treinamento

P o rc e nt ag e m de do cum e nt o s formatos da formação

Gráfico 6 - Distribuição percentual de documentos na educação infantil da Rede Municipal

Paulistana, de 1983 a 1992, por formato

Fonte: Organizado pela autora a partir dos arquivos da Memória Técnica Documental da SME/SP

Os documentos no formato de capacitação ainda aparecem em 8% dos documentos no período de 1983 a 1992, evidenciando forte diminuição, esperada na transição entre os anos 1980/1990 na rede municipal.

Quanto ao termo capacitação, segundo Marin (1995), ele pode ser entendido de duas formas: a primeira, se refere a tornar capaz/habilitar e a segunda, se refere a convencer/persuadir. Da mesma maneira, as ações de capacitação de profissionais de educação podem ser entendidas sob essas duas perspectivas.

Além de esclarecer os dois entendimentos do termo, a autora (1995, p. 17) adverte que “os profissionais da educação não podem, e não devem, ser persuadidos ou convencidos de ideias; eles devem conhecê-las, analisá-las, criticá-las, até mesmo aceitá-las, mas mediante o uso da razão”. Outro importante destaque que a autora faz é sobre o fato de que essa concepção de formação continuada também foi amplamente utilizada para a “venda de pacotes educacionais ou propostas fechadas aceitas acriticamente em nome da inovação e da suposta melhoria” da qualidade da educação, revelando a dualidade do conceito de capacitação quando aparece nas diversas ações de formação propostas pela rede municipal, especialmente na década de 1990.

Os documentos que tratam de pacotes de formação vinculados ao conceito de qualidade total foram preponderantes a partir de 1993 na rede municipal paulistana e trouxeram uma nova forma de se estabelecer o que os profissionais de educação deveriam

0% 5% 10% 15% 20% 25%

Capacitação Curso Encontro Orientação Projeto Reunião Treinamento

P o rc e nt ag e m de do cum e nt o s Formatos da formação

saber para implantar essa proposta. Exemplo disso foi a contratação, nesse período, em convênio firmado entre a Secretaria Municipal de Educação e a Universidade de São Paulo, de cursos destinados aos coordenadores pedagógicos, diretores de escola e supervisores escolares entre os anos de 1995 e 1996 e que envolveram todos os profissionais da rede municipal em exercício naqueles cargos à época. Essa ação de formação foi considerada a de maior abrangência de profissionais em programa de formação em serviço, destinada aos gestores da educação municipal desenvolvida pela rede até aquela época.

Ao implementar formação a partir das contratações de fundações como a Fundação de Apoio da Faculdade de Educação (Fafe)26 e Fundação Instituto de Administração (FIA)27, ambas da Universidade de São Paulo, inaugura-se uma tendência de contratação de assessorias externas à rede municipal para qualificar seus profissionais.

Essa tendência, presente em maior ou menor intensidade nas décadas seguintes, não só na educação municipal paulistana, confirmada no relatório da pesquisa sobre formação continuada de professores da Fundação Carlos Chagas (2011), será adotada em muitas redes públicas brasileiras, como uma das estratégias para garantir a formação continuada dos educadores e a consequente busca pela qualidade da educação. Esse relatório (2011, p. 66), afirma que “as políticas de formação continuada de grande parte das SEs [secretarias de educação] investigadas estão centradas em práticas consideradas clássicas [...], ou seja, cursos preparados por especialistas para aprimorar os saberes e as práticas docentes”.

A partir do início dos anos 1990, considerando as tendências apresentadas pelos estudos acadêmicos e pela legislação educacional, é a formação continuada que passa a ser a modalidade de formação mais difundida. Os documentos com esse formato de formação teve forte impulso com a composição dos grupos de formação, principal inovação trazida para a Secretaria Municipal de Educação na gestão de 1989 a 1992.

Esse formato de formação continuada não foi mais abandonado, de acordo com o que será apresentado adiante neste trabalho, evidenciando-se como proposta de formação por excelência nos anos subsequentes, embora com diferenças de enfoque metodológico e de conteúdos.

Desse modo, a ênfase nos documentos pesquisados passa a ser na formação continuada ou em serviço, dando-se destaque ao formato como as gestões públicas organizam

26 A Fafe em parceria com a SME/SP ministrou entre 1995 e 1996 aos gestores da rede municipal os seguintes

cursos: O Coordenador Pedagógico: Identidade em Construção; Gestão da Escola: Conceitos, Metodologias e Instrumentos Selecionados e Supervisor Escolar: Reconstrução de Significados.

27 A FIA em parceria com a SME/SP ministrou entre 1995 e 1996 aos gestores da rede municipal os cursos: O

essas ações de formação. Esse formato concentra-se principalmente em cursos que passaram a ser maciçamente propostos como ação de formação para os profissionais de educação da rede, conforme mostra o Gráfico 7.

Gráfico 7 - Distribuição percentual de documentos na educação infantil da Rede Municipal

Paulistana, de 1993 a 2000, por formato

Fonte: Organizado pela autora a partir dos arquivos da Memória Técnica Documental da SME/SP

Os documentos que tratam de formação no formato continuada, entendida como necessária e descrita como fundamental para o novo papel traçado para os profissionais de educação nos ordenamentos legais de meados da década de 1990, passa a despontar na formação dos educadores paulistanos, nos períodos mostrados nos Gráficos 7 e 8.

Os documentos referentes ao último período que será analisado neste estudo, que vai de 2001 a 2004, apresentam as variações da formação continuada no Gráfico 8. A responsabilidade de oferecer a formação inicial, necessária à função docente, fez com que esse novo formato aparecesse em 34% dos documentos. Os documentos se referem a formação inicial em serviço, com a finalidade de habilitar os profissionais de educação em nível médio (na transição das creches da Assistência Social para a Educação) e em nível superior (para aqueles que atuavam na educação infantil e ensino fundamental que já tinham a habilitação em nível médio). De 2001 a 2004 foi essa a ênfase na formação proposta à rede municipal pela SME/SP (Gráfico 8).

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Capacitação Curso Encontro Formação Continuada

Grupo de Formação

Oficina Palestra Sem

definição P o rc e nt ag e m de do cum e nt o s Formatos da Formação

Gráfico 8 - Distribuição percentual de documentos na educação infantil da Rede Municipal

Paulistana, de 2001 a 2004, por formato

Fonte: Organizado pela autora a partir dos arquivos da Memória Técnica Documental da SME/SP

Verifica-se o desaparecimento das ações de treinamento, reciclagem e capacitação na nomenclatura das ações de formação proposta, embora não se possa afirmar que estas perspectivas não estivessem presentes na metodologia de alguns dos cursos ou oficinas propostos.

Os documentos no formato de cursos e encontros totalizam 34% das atividades de formação e os de formação continuada e formação inicial e em serviço somaram 51% do total de ações propostas.

Para ampliar a compreensão desse processo na rede paulistana, vale ressaltar ainda que no final dos anos 1990 são formados nas DRE os Grupos de Acompanhamento Pedagógico

(GAP), que tinham como responsabilidade fomentar as ações de formação em nível local, em

cada uma das treze regionais da SME/SP. A partir daí, ainda que passando por diferentes nomenclaturas, foram essas equipes que assumiram a formação dos educadores na maioria absoluta dos cursos propostos, em nível local, favorecendo a continuidade da formação na rede. Esses profissionais, atualmente atuando nas Diretorias de Orientação Técnico- Pedagógica (DOT-P) de cada DRE, são os responsáveis pela formação continuada dos educadores da rede municipal, tendo a incumbência de fortalecer os pressupostos das políticas públicas de educação, divulgar e formar os educadores para os programas propostos pela SME/SP e estabelecer contratos de assessorias com universidades e outras instituições de formação para os profissionais da região de abrangência de cada DRE.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Curso Encontro Formação

Continuada Formação Inicial em Serviço Oficina P o rc e n tage m d e d o cu m e n to s Formatos da formação

É por esse motivo que as formações centralizadas na SME/SP diminuíram sobremaneira, o que explica o decréscimo no número de arquivos encontrados junto ao acervo da MTD a partir dos anos 2000 e, a crescente evidência de continuidade nas formações propostas no âmbito das DRE.

As atividades de formação na rede paulistana a partir de 2005, conforme relatado no início deste capítulo, pautaram suas ações em torno da redação e implementação das Orientações Curriculares e Expectativas de Aprendizagens para todas as modalidades da educação atendidas pela SME/SP. Embora outras ações de formação também tenham sido propostas, dois programas de formação basearam as atividades e cursos ocorridos no período de 2005 a 2012: o programa “Ler e Escrever” para o ensino fundamental e o programa “A Rede em rede” para a educação infantil.

O primeiro programa se pautava na perspectiva de que a leitura e a escrita deveriam ser a base de toda a proposta curricular do ensino fundamental e o compromisso de todos os educadores com o sucesso dos alunos na construção da competência leitora e escritora. O segundo programa, destinado aos educadores da educação infantil, conforme trecho do próprio documento:

Traz como temática básica a organização do tempo e do espaço nas Unidades Educacionais e pretende recuperar o sentido da socialização no desenvolvimento da criança, particularmente pela apropriação por ela de diferentes linguagens presentes na cultura. (São Paulo – Município, A Rede em rede: a formação continuada na Educação Infantil – fase 1, 2007, p. 15)

Por se tratar do objeto e fonte de pesquisa deste trabalho, o segundo programa será detalhado no capítulo3.

Considerados os formatos que a rede paulistana adotou para os processos de formação de seus profissionais, a próxima seção tratará de quais foram os públicos envolvidos na formação a cada época e o perfil de profissional que se pretendia formar.

2.2.2 Os profissionais e a formação da educação infantil na rede municipal paulistana de

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