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3 O OUTRO COMEÇO E O ÚLTIMO DEUS

3.2 Os Futuros

Os Futuros estão no senhorio do saber enquanto saber verdadeiro. Quem alcança esse saber não se deixa calcular nem forçar. Este saber é ademais inútil e não possui “valor” algum (...) (HEIDEGGER, 2006, p. 318). (Tradução nossa).

Despertai, poetas, despertai os que ainda / Estão dormindo, dai-nos leis, dai-nos vida. / Triunfai heróis, vós que como Baco sois / Os únicos com direito de conquista. (HÖLDERLIN, 1991a, p. 95).

A arte, a poesia e o pensamento meditativo fazem o Da-sein “conectar-se” com sua essência originária, de onde brota toda sua liberdade e criatividade. Na essência originária, o Da-sein “atinge” seu potencial pensante ao desvelar o ser (Seyn) através de qualquer coisa não produtiva ou calculável. O Da-sein pode “beber” dessa fonte essencial originária e “estar” na presença do

sagrado (dos deuses) pelo Ereignis recém (re) adquirido (alcançado). Mas alguns poucos, aqueles cuja coragem [Mut] extrapolou todos os limites, cujo Salto fora mais comprido e sua queda (no abismo) mais profunda, estes atingem o patamar de artista, poeta ou pensador, por se projetarem mais adiante e assim abrir (possibilitar) um futuro onde o Da-sein prossiga no estranhamento da pergunta fundamental pelo ser (Seyn). Estes homens (que já não são mais homens no sentido racional (moderno) de sua definição) aproximam-se do ser (Seyn) ao ponto de “criar” novas (outras) instâncias onde “propague” sua Ressonância àqueles ainda completamente inseridos no estado da indigência e do encantamento. Dina Picotti em seu livro Heidegger – Uma Introdução reflete sobre os Futuros:

São poucos insólitos os que de tempos em tempos novamente perguntam, põem renovadamente à de-cisão a essência da verdade; depositam toda curiosidade, amam o abismo, é nele que conhecem o mais antigo fundamento; chegam ao mais elevado ânimo (tonalidade afetiva) de solidão para pensar a nobreza do ser (Seyn) e dizer acerca da sua singularidade. (PICOTTI, 2010, p. 83). (Tradução nossa).

Os poucos que se projetam mais fundo e com mais afinco no Outro Começo, Heidegger denomina de os Futuros. Assim como Ressonância, Passe, Salto e Fundação, os Futuros também estão sob a mesma conjugação que os “leva” em consonância para o mesmo destino. Os Futuros devem estar em sincronia com os outros conjugados e, por isso mesmo com o ser (Seyn), para poderem abri-lo mais uma vez de acordo com uma nova e recém adquirida transformação (estremecimento). Essa denominação especial de Da-sein geralmente exacerba sua criatividade artisticamente, enquanto poesia e também no pensamento, cada um abre um caminho distinto de Ereignis, mas ambos levam ao mesmo ser (Seyn) que se mostra (se experimenta) no verdadeiro, ao ponto que se fecha (se obscurece) em sua verdade (fundamental) abismal. Os Futuros estão em plena consonância com o ser (Seyn) e com tudo que essa palavra traz ao pensamento, eles possuem como tarefa principal preparar o Da-sein para o ser (Seyn). Os Futuros resistem ao choque [Stoß]120 inicial do ser (Seyn), “captam” sua essência expondo, através do dizer pensante, a expressão de seu próprio abismo, tornando-o compartilhável “passando adiante” a essencial experiência que os

120 Stoß, além de choque, significa ainda “solavanco”, “tremor” ou “ventania”. Com isso, Heidegger quer dizer que o Da-sein deve ser capaz de resistir ao radical desvio proposto nas Contribuições, desvio este que possui como

característica a “quebra” com todo padrão ortodoxo de se dizer e de se pensar. Isso provoca um impacto no pensamento, bifurcando-o, abrindo-o para outra possibilidade de se realizar (MAGGINI, 1998, p. 250).

arrebatou. São os transmissores do ser (Seyn), cujo sacrifício os fez capazes de “desenhar” um novo (outro) caminho, para realizar uma pergunta sem jamais respondê-la. Os Futuros são capazes ainda de abrir e ao mesmo tempo fechar a verdade, desafiando o pensamento do Da-sein a saltar junto deles para estabelecer lá (nas obras) sua própria verdade (Fundação).

Os Futuros. (...) Os detentores da verdade do ser (Seyn), onde o ente se ergue no simples domínio e alento essencial de cada coisa. (...) Os Futuros: os fundadores dessa essência da verdade, vagarosos e de apurada escuta. Os resistentes ao choque do ser (Seyn). (...) Os Futuros são esses vindouros que permanecem aguardando em oferecida retenção, advém o aceno e instalação da distância e proximidade do Último Deus. Para esses Futuros se deve preparar. A tal preparação serve ao pensamento inicial como silenciamento do Ereignis. (HEIDEGGER, 2006, p. 317). (Grifos nossos). (Tradução nossa).

Os Futuros (parágrafo 248) são aqueles capazes de unir os conjugados do ser (Seyn) em uma simples essência e depositá-la na coisa. Os Futuros estão na verdade (poética-originária) e podem com isso fundar novas verdades, pois possuem o que é necessário para tanto, a saber, a disposição serena [Stillstein]121 (vagarosa) para escutar a história, dela resgatar a matéria prima e

assim criar “em cima” disso. Portanto, os conjugados devem trazer o mesmo sob outro ponto de vista. Os Futuros realizam a “criação” de uma verdade, com isso, são capazes de mostrar e oferecer sua mais autêntica (e própria) experiência, “juntando” todos os conjugados em uma mesma disposição (tonalidade afetiva) essencial, a retenção [Verhaltenheit]. O sacrifício dos Futuros ao criar acenos para frutificar o ser (Seyn) pode ser descrito como a responsabilidade em aguardar e permanecer aberto à retenção e assim preparar o Da-sein para a importância da “chagada” do Último Deus. Néstor Corona, em seu livro Leitura de Heidegger – A Questão de Deus promove comentários sobre as Contribuições, cito um trecho onde aborda justamente a reflexão sobre a “função” dos Futuros e do Último Deus na configuração de um Outro Começo. Segue-se o apontamento de Corona:

121 Sereno aqui vem da palavra Stillstein (quieto, calmo, silencioso, vagaroso), não confundir com a comum tradução

portuguesa da noção heideggeriana de Gelassenheit por Serenidade. Em Contribuições, o Da-sein Futuro deve poder ser capaz de “diminuir a marcha” e apreciar as pequenas coisas que desabrocham (acontecem apropriadamente) bem diante dos seus olhos a cada vez. Regido normalmente pela “pressa” calculadora, esses acontecimentos “invisíveis” permanecem velados para a maioria. É necessária certa lentidão (silenciosa) para deixar-se captar os acenos (poéticos) do Último Deus nas coisas.

O porvir é, contudo, já espreitado nas Contribuições. O porvir vem dito por Heidegger ao apresentar àqueles poucos que entre nós precisamente já tem a ver com isso, e que ele chama então os Futuros. Os Futuros são aqueles que nessa época de transição se referem já de alguma maneira ao Deus que vem, ao Último Deus. (CORONA, 2002, p. 205). (Tradução nossa).

Como um texto “preparatório”, Contribuições realiza a transição do pensamento até o porvir (o futuro), para isso acontecer Heidegger precisa apontar o Outro Começo como consequência do conhecimento daqueles homens audazes que trouxeram à linguagem a essência de Deus e do mundo (das coisas). Os Futuros já estão na transição, pois já conseguem reter a verdade que Heidegger busca encontrar nas Contribuições. Para Heidegger, um poeta como Hölderlin não precisa de um “manual” que “ensine” a experimentar o ser (Seyn), pois sua palavra alcança e retem ao ser (Seyn), antes de qualquer pensamento (filosófico ou maquinador). Corona afirma que o “objeto” dos poetas (sempre) é Deus e, no caso de Hölderlin, esse Deus se presentifica nas coisas do mundo, sendo retido por um olhar livre de qualquer determinação metafísica, científica ou técnica. Para se preparar para o futuro, o homem deve escutar aqueles que disseram o futuro em obra e por isso já se pertencem ao Outro Começo:

O Deus sagrado é “coisa” em primeiro lugar dos poetas, e seu fazer-se presente como destino – em sua palavra – sugere a superação epocal de todo pensar metafísico e científico-técnico. E essa superação começa, precisamente (...) com o retorno do ser desde seu retiro e de sua manifestação como apropriador destinal (Ereignis) do pensamento. (...) E tanto os pensadores, quanto os poetas são Futuros, isto é, pertencem aquele habitar porvir, que é um habitar encaixado nas coisas (...). (CORONA, 2002, p. 205). (Grifos nossos). (Tradução nossa).

O comentário de Corona condensa adequadamente os movimentos finais de Contribuições, mais precisamente se referindo as duas derradeiras conjugações do ser (Seyn), a saber, os Futuros e o Último Deus. A citação esclarece o seguinte: primeiramente, a palavra dos Futuros se realiza no pensamento em um confronto com a época histórica referente a indigência. Os Futuros superam a indigência trazendo o retorno do ser (Seyn) em sua manifestação mais autêntica: o próprio ser (Seyn) acontecendo sem intermédios e de acordo com seu verdadeiro destino (Outro Começo); em segundo lugar: Corona diz que, em sua manifestação autêntica (Ereignis), o ser (Seyn) é promovido

pelo poeta ou pelo pensador (originário) não como um “conceito”, mas como um habitar. No habitar poético/meditativo exposto pelo dizer dos Futuros, as coisas se realizam de modo a permanecerem “resguardadas”, no que diz respeito à relação que o homem traça com elas. O habitar também mantem encerrado o Mistério das coisas, ou seja, a verdade só é verdade se não esgota mundo, mas apenas permanece junto a ele.

Os Futuros estão em consonância com o Mistério e (como pensadores, artistas e poetas) respeitam o Mistério como aquilo que traz dignidade à coisa e a permite mais uma vez ser questionada e colocada à mostra segundo uma outra possibilidade de abertura, onde a verdade acontece e se preserva, pois foge totalmente de sua interpretação pela Maquinação. Ainda segundo Corona (2002), podemos afirmar que os Futuros são causadores do estremecimento e da transformação do homem racional em Da-sein pensante, por esse motivo são detentores de grande responsabilidade em serem honestos e verossímeis ao transmitir a experiência do ser (Seyn) à coletividade e ainda assim manter a singularidade dessa experiência aberta a cada vez para um Da- sein em especial. Com a verdade (clara e obscura) do ser (Seyn) exposta novamente (e de outro jeito) na coisa, os Futuros fundam o Mistério “captando” o choque inicial com rigor. A “captação” (resistência) do choque pelos Futuros é a preparação para a definitiva “entrada” no Outro Começo, abrindo o Da-sein (seu pensamento) à convivência com o próprio e Último Deus:

Ressonância e Passe, Salto e Fundação tem cada um sua disposição condutora que concorda originariamente a partir da disposição fundamental. (...) A disposição fundamental contem a tonalidade afetiva, o ânimo da coragem enquanto querer disposto-sabedor do Ereignis. A consonância originária das disposições condutoras é apenas plenamente entoada através da disposição fundamental. Nela estão os Futuros e enquanto dispostos assim são de-terminados pelo Último Deus. (HEIDEGGER, 2006, p. 317-318). (Grifos nossos). (Tradução nossa).

Heidegger afirma no parágrafo 249 a concordância entre a disposição condutora [Leitstimmung]122 trazida com os conjugados do ser (Seyn) e a disposição fundamental [Grundstimmung] adquirida pelos Futuros. Mas o que isso realmente quer dizer? É preciso

122 Disposição condutora [Leitstimmung]. Leit quer dizer “levar”, “conduzir”, enquanto Stimmung significa

“tendência”, “postura”, “humor” ou em Heidegger, tonalidade afetiva. Trata-se de um estágio preparatório e investigativo do Da-sein durante sua transição ao Outro Começo e à assunção da disposição fundamental (Grundstimmung, Grund, “chão”, “fundamento”) aberta pelas manifestações do pensamento dos Futuros.

entender a disposição condutora como o estado de ânimo (ou tonalidade afetiva) relacionada ao ser (Seyn) que se encontra em mesmidade com Ressonância, Passe, Salto e Fundação. Essa disposição conduz o pensamento à transição e pode acender no Da-sein o ímpeto de querer “ainda mais” e, assim, exacerbar seu “espírito” livre ao fazer acenos que aproximem do ser (Seyn) através de uma disposição fundamental somente “atingida” pelos Futuros. A disposição condutora observa (e escuta) a história aparente do ser (Sein) em busca dos resquícios originários do ser (Seyn) abertos na aurora do pensamento. A disposição fundamental prepara o Da-sein ao seu próprio Futuro e, deste modo, o faz capaz de dizer essa história oculta mais uma vez sob um outro olhar livre da objetividade do ente (entidade) e da Maquinação como única via de conhecimento possível.

Para “obterem” a disposição fundamental, além de “colocarem” o pensamento em consonância com os conjugados do ser (Seyn) (através da disposição condutora), os Futuros devem ainda “se valerem” da coragem para se disporem à verdade e assim tornarem-se conhecedores profundos (abismais) do Ereignis. Heidegger mostra que a coragem é a força motivadora à liberdade do Da-sein. Com a coragem para superar sua atual vivência indigente e a “vontade” para se dispor fundamentalmente diante do ser (Seyn), o Da-sein adquire a sabedoria dos Futuros, podendo assim criar livremente seus próprios retratos do ser (Seyn) através das aberturas singulares nas regiões privilegiadas do Ereignis. Essas regiões são determinadas por um tipo de divindade essencial, o Último Deus, expressão tão difícil de entender devido ao arraigo judaico- cristão persistente em nosso cotidiano que “automaticamente” nos faz ter uma ou outra opinião e interpretação baseada em suas diretrizes ao ouvir falar em qualquer coisa relacionada a Deus.

Para “alcançar” esse êxito, deve haver no pensamento uma consonância (uma espécie de tranquila harmonia) entre a disposição condutora (o que levou ao ser (Seyn)) até sua plenitude fundamental onde apenas se encontram os Futuros. Estes possuem um autêntico conhecimento histórico que os assegura o saber senhorial [Herrschaftlichen] da verdade. São capazes de dizer a verdade a partir da inauguração de um Ereignis que aconteça e faça ver (experimentar) propriamente a essência do ser (Seyn). Na concepção de Heidegger, aqueles que conseguem atingir esse nível de saber geralmente não se prestam ao cálculo ou ao fazer maquinador, pois estão diretamente envolvidos com este (outro) saber inútil e “sem valor” (parágrafo 250). Esse saber começa com o próprio conhecimento histórico (não no sentido historiográfico) onde se de-cide a história vindoura. Seguindo esta linha, podemos afirmar: os Futuros são aqueles cujo Da-sein se

dispôs fundamentalmente ao mistério inesgotável do ser (Seyn) e, por isso, diz o ser (Seyn) pela linguagem da arte, da poesia e também do pensamento meditativo com a coragem proeminente para “abandonar” o cálculo (exatidão, progresso) sobre o ente e “abraçar” o estranho e inútil saber (pensamento) do Ereignis.

Heidegger chama os Futuros de aqueles que vão no O-caso do ser (Seyn). O-caso [Unter- gang]123 deve ser entendido aqui como o caminho do ser (Seyn), um caminho de transição que leva até o pensamento vindouro de uma nova/outra espécie de homem, um homem que se singulariza radicalmente no Da-sein e pelo Ereignis. O caminho preparatório se dá como O-caso onde a cada instante o Da-sein de-cide pela proximidade (chegada) ou distância (falta) dos deuses em sua convivência cotidiana. Aqueles que vão no O-caso (os Futuros) se “expõem” à mais originária e fundamental pergunta, devem resistir e reter a verdade clara-obscura da sua resposta, transformando-se em Senhores do Saber (detentores do saber senhorial). Os Futuros são poucos e muito raros, se projetam de maneira singular, trazendo uma concepção (retrato) da verdade do ser (Seyn) de acordo com sua essência inesgotável. O Da-sein segue os passos dos Futuros quando de- cide transitar ao Outro Começo. Com a guia (o roteiro) dos Futuros, essa passagem acontece e se perpetua através de seu dizer pensante, bem como traz a essência do ser (Seyn) ao pensamento em sua inesgotável verdade.

Os Senhores do Saber são as peças mais decisivas em um período de indigência, pois deve ser a partir deles que a essência do ser (Seyn) venha a ressoar e despertar no homem a força e a dignidade da pergunta fundamental. Os futuros se assenhoram de tal saber na indigência, isto é, resgatam da história sua verdade oculta e, deste modo, trazem o ser (Seyn) à clareira encontrando a liberdade para permanecer (e dizer) em sua verdade. Desde a indigência o Da-sein percebe a falta e a desde a falta sente um querer disposto-sabedor responsável por manter a procura pela verdade (do ser (Seyn)) em algo verdadeiro (o Ereignis). Liberdade para fazer acenos é o presente dos Futuros, o aceno leva o homem a poder encontrar a simplicidade das coisas. Logo, Da-sein é: o acesso (possibilidade) de se colocar distante ou próximo ao Último Deus e sua referência

123 Sem o hífen colocado por Heidegger, a palavra Untergang significa “queda”, “naufrágio”. O hífen separa as palavras

Unter (prefixo “no”, “sob”, “por baixo”, como o Under do idioma inglês) e Gang (“curso”, “corredor”, “engrenagem”). A tradução de Dina Picotti para O-caso é satisfatória já que a expressão original indica algo que esteja “no curso”, “sob a engrenagem”. O-caso elucida travessia, o “curso do sol poente” e em seu sentido figurado, uma espécie de caminho cadente, como guiado pelo tempo (finito) que põe todas as coisas em nós mesmos de maneira crepuscular, sempre à morte.

essencial (as coisas). Os Futuros podem abrir caminhos, mas é o Da-sein singular que de-cide em trilhar ou não esses caminhos, em reter ou não um Deus na sua relação com as coisas.

Este deus erguerá sobre seu povo as oposições mais simples, porém extremas, como as vias sobre as quais anda mais além de si para descobrir outra vez sua essência e apurar o instante de sua história. (...) Retenção e reserva serão a mais íntima festa do Último Deus e ganharão o modo próprio de confiança na simplicidade das coisas e o fluxo próprio da intimidade de êxtase encantador de suas obras, o abrigo da verdade o fará oculto ao mais oculto e lhe servirá dessa maneira como único presente. (...) Os Futuros, os encarregados da tonalidade afetiva da retenção no Da-sein fundado, somente à qual se dirige o ser (salto) como Ereignis, acontecem e autorizam o abrigo de sua verdade. (HEIDEGGER, 2006, p. 320-321). (Grifos nossos). (Tradução nossa).

O Da-sein fundado (no abismo) mediante seu próprio querer disposto-sabedor é capaz de realizar um Salto ainda mais profundo e assim tornar-se um Futuro. Para chegar a tanto, a tonalidade afetiva da retenção deve estar completamente integrada ao Ereignis do Da-sein fundado. Retenção é uma característica essencial dos Futuros, e ainda, um Futuro que deixa a sua marca na história pode simplesmente “exportar” essa retenção, ensinando-a por meio de seu talento a outro Da-sein que se encontre “vacilante” e inseguro quanto aos seus próprios pensamentos. A retenção retém o Último Deus no convívio íntimo e o abre como opostos (neoplatonismo) diante do Ereignis. O instante (espaço-tempo (lugar instantâneo) abismal) onde o Da-sein se assenhora do saber a partir de sua história é também o instante onde se começa uma relação originária entre o Ereignis e o Último Deus. Dalí, onde deve encontrar a fonte para imprimir no mundo sua marca revolucionária, “passando a chama” para que gerações Futuras venham e também consigam “capturar” esse instante apropriando-se dele, tornando-o um acontecimento singular, o lugar instantâneo da verdade do ser (Seyn). O instante “capturado” (Nietzsche) é o Ereignis.