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3. OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NAS LAGOAS DE ARITUBA E DE

3.1 Os instrumentos normativos que incidem sobre as lagoas

A legislação ambiental brasileira é bastante ampla e engloba a grande maioria das áreas ambientais do país, tornando-se assim uma das mais completas legislações do mundo. Porém, há uma grande deficiência quando trata-se de colocar em prática as devidas leis por não haver uma fiscalização abrangente em todo o território brasileiro.

No município de Nísia Floresta, a realidade não é diferente. Por ser um município com muitas áreas naturais, recursos hídricos e um grande complexo de lagoas, demanda uma fiscalização mais intensiva para evitar infrações e crimes ambientais, como também a ocupação desordenada das áreas de proteção, havendo a necessidade de um esforço efetivo por parte do poder público e da população em geral.

As lagoas de Arituba e Alcaçuz estão situadas numa Área de Proteção Ambiental (APA) estadual, que designa a seguinte definição:

Essas áreas pertencem ao grupo de UCs [Unidades de Conservação] de uso sustentável, em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, com atributos bióticos, abióticos, estéticos ou culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. [...] tem como objetivo proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (ICMBio, 2011)

Foi criada através do Decreto Estadual Nº 14.369 de 22 de março de 1999 a APA Bonfim-Guaraíra, com o intuito de preservar, proteger e ordenar o uso dos ecossistemas dunares, de mata atlântica e manguezal, assim como todas as lagoas,

rios e demais recursos hídricos e todas as espécies vegetais e animais. Engloba os municípios de Nísia Floresta, São José de Mipibu, Goianinha, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Arês, no litoral Oriental do Estado do RN, e possui uma área superior a 42 mil hectares, configurando-a como a maior Unidade Estadual de Conservação em área emersa do estado (ver Mapa 2).

Mapa 2: Área da APA Bonfim-Guaraíra/RN

A APA Bonfim-Guaraíra (APABG) ainda possui em sua área três outras unidades de conservação oficiais: a Floresta Nacional de Nísia Floresta (FLONA) que é de âmbito federal; o Parque Estadual Mata da Pipa de domínio estadual e a Reserva Faunística de Tibau do Sul (REFAUTS) de esfera municipal. Há também o Santuário Ecológico de Pipa, no município de Tibau do Sul que mantém uma grande reserva de mata atlântica.

Para gerenciar a APABG há um conselho que foi instituído através do Decreto Estadual Nº 22.988 de 18 de setembro de 2012 e é composto por 24 instituições que compõem as esferas federais (SPU e IBAMA), estaduais (SAPE, SETUR, IGARN e IDEMA) e municipais (os poderes legislativos e executivos) e ainda grupos representativos da sociedade, como os sindicatos e as associações dos moradores e também do setor produtivo atuante na área da APA. Como infraestrutura, a APABG possui uma sede que está localizada no município de Nísia Floresta conhecida como Ecoposto, onde integra a sede administrativa, a casa do pesquisador e o alojamento da Companhia Independente de Proteção Ambiental (CIPAM).

O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) da referida APA, até o presente momento, é inexistente. Muitas prorrogações foram feitas pelos órgãos competentes e o plano de manejo da APABG ainda não consiste em estratégias e programas de atuação do ZEE, mesmo sendo um instrumento imprescindível para fornecer diretrizes para o uso e ocupação do solo, ordenando o território por meio de planejamentos que integralizem as relações ambientais com as econômicas e sociais.

Devido ao crescimento turístico nas áreas lacustres, o IDEMA tem dado mais atenção às atividades que ocorrem nas lagoas, fazendo o cadastramento de algumas atividades de lazer praticadas nesses espaços, como por exemplo, os passeios de quadriciclo nas dunas e lagoas, porém a fiscalização e o monitoramento são feitos basicamente só quando há ocorrências de conflitos em determinada área ou com denúncias anônimas feitas ao IDEMA.

Ainda no domínio estadual, o município de Nísia Floresta está estabelecido na Lei Nº 7.871 de 20 de julho de 2000, que dispõe sobre o ZEE do Litoral Oriental do RN, que foi instituída a partir do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro. Faz parte da Zona Especial Costeira que “compreende as unidades ambientais legalmente protegidas e aquelas que, por suas características físicas, restringem o uso e a

ocupação do solo [...]” (Art. 8º, 2000, p. 2), englobando todas as nascentes dos corpos d’água de superfície, lagoas e demais mananciais.

No âmbito municipal, as áreas lacustres estão amparadas por uma norma específica da Lei Complementar Nº 001/2007 de 05 de novembro de 2007, o Plano Diretor de Nísia Floresta, onde a mesma regulamenta o uso das margens das lagoas. De acordo com o Plano Diretor de Nísia Floresta, as áreas lacustres estão inseridas em zonas especiais de proteção ambiental, garantindo normas específicas para proteger ao máximo tais áreas. Para isso, o Art. 17, § 2º da Lei Complementar Nº 001/2007 de 05 de novembro de 2007 institui que:

[...] Ao redor das lagoas, lagos, rios, cursos d’água e nascentes não será permitida qualquer construção nas áreas situadas em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, contado da margem do espelho d água, em projeção horizontal, com largura mínima de: [...] cinquenta metros, ao redor de lagos e lagoas naturais, situadas em área urbana; [...] (NÍSIA FLORESTA, 2007, p. 22)

E para complementar, o § 3º assegura ainda que:

[...] áreas de domínio público ou privado, destinadas à proteção integral dos recursos ambientais nela inseridos, especialmente os ecossistemas lacustres, associados às formações dunares móveis ou com vegetação remanescente da Mata Atlântica e às demais formas de vegetação natural de preservação permanente, onde não serão permitidas quaisquer atividades modificadoras do meio ambiente natural ou atividades geradoras de sobre- pressão antrópica, constituindo estas zonas, as áreas situadas em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal [...] (NÍSIA FLORESTA, 2007, p. 22 e 23)

Sendo assim, observa-se que a legislação existe, mas não é aplicada como deveria nessas áreas, visto que as faixas mínimas para quaisquer tipos de construções não são respeitadas como deveriam, caracterizando ações que prejudicam a preservação desses ambientes e modificam a paisagem natural do espaço.

Nas duas lagoas dessa pesquisa, é notável o descumprimento da legislação, pois os bares e restaurantes estão construídos na beira da lagoa, desconsiderando totalmente o limite mínimo para tal, além dos equipamentos de lazer, como os pedalinhos, caiaques, mesas e cadeiras, etc, que tomam conta das margens.

Na esfera federal, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a lei maior do país, é estabelecido que todas as pessoas têm o direito de desfrutar de

um meio ambiente que seja equilibrado às suas feições ecológicas, afirmando que o meio natural é um bem de uso comum a todos e de suma importância para uma boa qualidade de vida, decretando que o Poder Público e toda a sociedade têm o dever de defender o meio ambiente para que todas as pessoas do presente e do futuro possam usufruí-lo. (Art. 225, 1988)

Trata-se de uma lei bem abrangente que não cita especificamente os ecossistemas lacustres ou qualquer outro, mas é a lei mais soberana do Brasil sendo assim a legislação de base para a institucionalização de qualquer outra, seja ela estadual, federal ou municipal.

Acerca de tudo isso, é possível constatar que as lagoas de Arituba e de Alcaçuz são regidas por leis ambientais que especificam o uso e ocupação delas, porém não são totalmente cumpridas, o que dificulta a proteção dessas áreas e inviabilizam qualquer punição quando há infrações ou crimes ambientais.

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