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3. OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NAS LAGOAS DE ARITUBA E DE

3.2 Turismo, lazer e impactos socioambientais

A ocupação desordenada nas margens das lagoas e a falta de uma fiscalização mais intensiva, são fatores que contribuem para a ocorrência de vários impactos ambientais e sociais nessas áreas.

O turismo é uma atividade bastante impactante para os recursos naturais, podendo alterar a integridade física e biológica do meio ambiente e causar conflitos a partir da transfiguração do uso e ocupação do solo.

As mudanças da paisagem por intermédio antrópico são bastante evidentes nas lagoas de Arituba e Alcaçuz e estão se modificando cada vez mais, à medida que o turismo vai se desenvolvendo. Essas mudanças configuram novos espaços geográficos, onde novas territorialidades vão sendo conduzidas, com trocas de mercadorias aliadas a paisagem natural (Fotografia 14).

Fotografia 14: Comparativo do uso e ocupação do solo nas margens da lagoa de Alcaçuz nos anos de 2012 e 2019, respectivamente

Fonte: Google Earth, 2019 e Rosyellen Silva – Pesquisa de campo (27 de abril de 2019)

É possível observar na Fotografia 14 o quanto a atividade turística se intensificou nesses últimos seis anos na lagoa de Alcaçuz e como a paisagem foi transformada para atender as novas perspectivas de uso. Em 2012 essa lagoa não era utilizada para fins turísticos como é hoje, portanto não haviam equipamentos de lazer que pudessem ser atrativos para os visitantes, sendo apenas um elemento natural da paisagem sem nenhum suporte turístico.

Atualmente, as lagoas de Alcaçuz e de Arituba estão fortemente inseridas no turismo do município de Nísia Floresta com os equipamentos e serviços necessários para as ofertas turísticas, além de uma divulgação no mercado que chama a atenção dos possíveis visitantes.

Contudo, toda essa difusão das atividades turísticas nas lagoas objeto desta pesquisa, reflete diretamente nos impactos socioambientais, pois com o aumento da quantidade de pessoas nesses ambientes, a poluição das águas e o acúmulo de lixo

se tornam cada vez maiores e quando não há uma consciência ambiental entre os visitantes, fica ainda mais difícil manter o equilíbrio nas lagoas.

A degradação ambiental prejudica a biodiversidade desse ecossistema com a perda da fauna e flora nativas, onde espécies de animais são obrigados a deixar seus

habitats naturais devido ao avanço das áreas urbanizadas, podendo causar até a

extinção dos mesmos e, a vegetação, que cada vez mais é destruída para dar espaço para as construções de diversos tipos e tamanhos, o que prejudica todo o equilíbrio ecológico da lagoa.

O assoreamento das lagoas é um processo natural, mas que pode ser totalmente intensificado através da ação antrópica, principalmente quando a retirada da mata ciliar para fazer construções e “limpar” a área para que os visitantes possam usufruir, deixando-a mais acessível para o banho e também com a inserção de mesas, cadeiras e guarda-sóis nas margens dessas lagoas.

É notório que a retirada da vegetação interfere diretamente no equilíbrio das lagoas, podendo ser um dos fatores que diminui o tempo de vida dessas áreas lacustres, pois o desmatamento fragiliza todo o entorno delas e acelera qualquer processo negativo que influa sobre elas. Logo, a conservação da vegetação no entorno dessas lagoas deve ser fortemente induzida para que o ecossistema continue estável.

Porém, todos esses impactos ambientais só acontecem porque não há uma fiscalização e/ou monitoramento ideais nessas áreas. É totalmente necessário que os órgãos ambientais competentes se façam presentes na prática das legislações, intensificando a fiscalização nesses ambientes naturais, principalmente em espaços turísticos, onde há um grande fluxo de pessoas e serviços. E ainda, incentivando projetos de educação ambiental nas lagoas, fazendo uma conscientização para o uso sustentável, instruindo a todos os meios de preservação.

O descumprimento das leis faz com que os ambientes lacustres sejam prejudicados através do aceleramento da instalação dos suportes turísticos e do consumo desenfreado desses ambientes, pois como não há uma fiscalização adequada, as punições ambientais não são aplicadas como deveriam, tornando-as cada vez mais vulneráveis.

Outro ponto bastante relevante é a expansão da área urbana no entorno das lagoas de Arituba e Alcaçuz. São áreas que acabaram se tornando adensáveis por terem mais estruturas para a população, como os serviços básicos (saúde, educação, abastecimento de água, etc), o acesso a moradia e também a possibilidade da geração de renda, onde quem vive ali, aproveita a atividade turística para ganhar dinheiro e, com isso, fortalecer a economia do local.

No caso específico da lagoa de Alcaçuz, as pessoas que moram no entorno ou perto dela são caracterizadas por uma população mais simples, de pessoas que nasceram na comunidade de Alcaçuz, que era um pequeno povoado onde moravam muitos pescadores e agricultores há um tempo atrás e hoje, com o avanço do turismo, têm uma maior possibilidade de obtenção de renda. Muitos aproveitam com um uso turístico, fazendo com que a economia cresça e a comunidade de Alcaçuz se desenvolva muito mais.

É possível visualizar na Fotografia 15 o quanto a área urbana se expandiu num intervalo de tempo de dezesseis anos e como o desenvolvimento turístico tem transformado a comunidade e economia de Alcaçuz. Assim como a redução da lagoa, que aparenta estar mais seca e com menos vegetação em suas margens, como também a diminuição e o desaparecimento de pequenos corpos d’água ao redor.

Fotografia 15: Comparativo temporal da lagoa de Alcaçuz nos anos de 2002 e 2019, respectivamente

Fonte: Google Earth (2002, 2019)

Já no caso da lagoa de Arituba, a expansão da área urbana vem acontecendo mais por conta da especulação imobiliária e do crescimento das redes de hotelaria e condomínios fechados que oferecem equipamentos de lazer em seu interior (Fotografia 16).

Fotografia 16: Comparativo temporal da lagoa de Arituba nos anos de 2002 e 2018, respectivamente

Fonte: Google Earth (2002, 2019)

Por ser localizada bem perto do mar, na zona costeira de Nísia Floresta, se torna uma área cobiçada por muitos para a construção de diversos empreendimentos, sejam eles nas categorias de residências, hotéis e pousadas ou de condomínios fechados. Esses últimos adentram a realidade das residências secundárias, onde muitos só são utilizados de forma ocasional e principalmente nas épocas de veraneio

e férias, entre os meses de novembro e janeiro. Ressaltando que esses empreendimentos não estão nas margens da lagoa, mas influenciam diretamente no uso dela.

Observa-se na Fotografia 16, o destaque da construção de alguns grandes hotéis e condomínios que transformaram a paisagem e abriram portas para o crescimento da região, além de mais residências, onde muitas delas são consideradas residências secundárias, ou popularmente chamadas de casas de praia.

Outro destaque é para a área onde se concentram as atividades turísticas (no extremo leste), que está vigorosamente ocupada afim de receber cada vez mais visitantes e oferecer mais serviços e equipamentos de lazer necessários para a permanência deles. Porém, toda essa ocupação no entorno da lagoa vai fragilizando as suas margens e provocando o desequilíbrio do ecossistema.

A população local das duas lagoas tem uma relação de consonância com o aporte turístico desenvolvido e tem usado isso a seu favor, à medida que percebem que podem utilizar as lagoas para o seu próprio sustento.

Os conflitos sociais gerados através do uso turístico nas lagoas de Arituba e Alcaçuz não foram identificados até a conclusão dessa pesquisa, a não ser a concorrência natural que existe entre os detentores dos serviços prestados no entorno das lagoas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A grande procura por espaços de lazer, tem intensificado a expansão turística em muitas áreas do RN, mas o que chama a atenção no momento atual são as lagoas, pois há uma relevante divulgação para conhecer essas áreas, onde até já foi criado um circuito em que os visitantes podem conhecer várias lagoas em apenas um dia. Porém, muitas vezes a questão ambiental não é tratada da forma como deveria, tendo a conscientização de que as áreas lacustres são ecossistemas frágeis e que necessitam de uma atenção maior no quesito da conservação ambiental.

O município de Nísia Floresta atualmente é um dos locais que mais atrai pessoas que querem apreciar e usufruir das inúmeras paisagens naturais, principalmente as praias e as lagoas, e está fortemente inserido no contexto turístico do estado do RN.

Com a divulgação do Roteiro das Águas, que reúne as sete principais lagoas de Nísia Floresta: as lagoas Redonda, de Arituba, de Alcaçuz, de Boágua, de Ferreira Grande, do Carcará e do Urubu e ainda outras duas lagoas que algumas empresas inseriram em seus roteiros de passeio: a Amarela e da Juventude, essas áreas passaram a gerar um maior interesse no quesito turístico e, consequentemente, econômico para o município.

As lagoas, foco deste estudo, têm uma relevância muito grande para o aporte econômico de Nísia Floresta e talvez por isso, ele induza tanto o crescimento do turismo nessas áreas lacustres, fazendo com que o município seja cada vez mais conhecido por ter as mais belas lagoas do RN, recebendo uma quantidade expressiva de visitantes.

As atividades de lazer nas lagoas de Arituba e de Alcaçuz, transformaram a concepção turística e econômica do município, apostando que essas áreas poderiam ser grandes instrumentos do mercado e do turismo. E está dando certo. Essas lagoas estão cada vez mais conhecidas, atraindo visitantes de vários lugares e, por isso, mais serviços e equipamentos de lazer são ofertados afim de intensificar o movimento de pessoas, estender a permanência delas usufruindo os serviços e gerar mais lucro para quem vende os serviços nessas áreas lacustres.

Todavia, a questão socioambiental não está sendo tratada como deveria, visto que as legislações não são integralmente cumpridas e as punições não são aplicadas. A inexistência de incentivo, por parte dos órgãos públicos competentes, de uma consciência mais sustentável do uso das lagoas, faz com que essas áreas se tornem cada vez mais fragilizadas e com isso, mais difíceis de se manter a preservação. Por isso a fiscalização e o monitoramento nas áreas lacustres são tão importantes, pois diminuem as possibilidades de haver a degradação ambiental e, consequentemente, o descumprimento das leis e a não existência das punições por crimes ambientais, estimulando uma maior preservação das lagoas.

Portanto, pode ser concluído que as lagoas de Arituba e de Alcaçuz estão fortemente inseridas no contexto turístico do município de Nísia Floresta e que ambas possuem equipamentos de lazer para o aporte do uso turístico, o que vem crescendo de modo significativo nos últimos dez anos. E também, que essas lagoas têm infraestruturas distintas, quando comparadas, com relação ao oferecimento de serviços e equipamentos de lazer, onde em Alcaçuz é mais simples e tem o comércio mais caracterizado por pessoas que vivem no entorno ou próximo a lagoa e, em Arituba, a infraestrutura e os serviços ofertados são mais satisfatórios, no que se refere a comodidade e as muitas opções de serviços para os visitantes.

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