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Os instrumentos de recolha de dados

CAPÍTULO 3. Metodologia

3.4. Recolha e análise dos dados

3.4.1. Os instrumentos de recolha de dados

Neste trabalho recorreu-se a diferentes formas de recolha de dados tal como é recomendado na investigação qualitativa. A recolha de dados decorreu no ambiente natural da sala de aula, onde a observação das aulas assumiu a principal fonte, em simultâneo, com a recolha documental de relatórios, composições e trabalhos elaborados pelos alunos. Foi ainda realizado um questionário a todos os alunos da turma e uma entrevista a alguns alunos selecionados.

Observação

A observação, conforme afirmam Pardal e Correia (1995) é uma das mais antigas técnicas de recolha de dados. Esta tem ocupado um lugar privilegiado como método essencial na área da educação (Almiro, 1997; Cohen & Manion 1994, citado por Dias, 2008).

A observação “capta os comportamentos no momento em que eles se produzem e em si mesmo, sem a mediação de um documento ou de um testemunho” (Quivy & Campenhoudt, 2003, p. 196).

Para Ludke e André (1986, citados por Almiro, 1997, p. 97) “a observação possibilita um contacto pessoal e direto entre o investigador e o fenómeno estudado”. Ainda segundo estes autores, o observador pode recorrer aos seus conhecimentos e

experiências anteriores para compreender e interpretar o fenómeno em estudo. Apesar de este método de recolha de dados apresentar algumas limitações, nomeadamente pela possibilidade de provocar alterações no comportamento das pessoas observadas e de o investigador poder distorcer o fenómeno observado, estas podem ser minimizadas através de uma ação prolongada do observador em campo e do confronto das expectativas do investigador com o que está a ser observado.

Matos e Carreira (1994) destacam a importância do observador em detetar factos ou situações que poderão passar despercebidas aos participantes, por serem demasiado rotineiras, mas que podem ser importantes para o estudo.

A aplicação das tarefas que constituem esta intervenção durou cinco sessões de noventa minutos cada, onde assumi o papel de observadora participante. Nas primeiras aulas em que estive presente adotei o papel de espectadora, sentando-me no fundo na sala tentando não interferir no decorrer da aula e ao mesmo tempo habituar os alunos à minha presença o que veio a revelar-se uma estratégia eficaz. Os alunos rapidamente começaram a solicitar o meu apoio para o esclarecimento de dúvidas tanto no que se refere aos recursos tecnológicos em uso como em relação à tarefa proposta. Devido ao papel que assumi na sala de aula, de colaboração sistemática com o professor da turma, os alunos acabaram por me encarar também como mais uma professora da turma, ou seja, como professora deles.

Esta situação serviu para criar entre mim, investigadora, e os alunos uma relação de confiança e proximidade. Tal facto permitiu-me compreender melhor os processos e raciocínios desenvolvidos pelos alunos. Para Merriam (1988), a observação participante maximiza as vantagens do investigador como instrumento permitindo-lhe compreender a complexidade que reside na interação entre os sujeitos, registada na mais pequena observação.

No entanto, esta situação influenciou o meu papel como observadora, restringindo a possibilidade de ter uma visão global da sala de aula, mas permitindo um olhar mais localizado em certos alunos, principalmente nas sessões em que o recurso tecnológico usado foi o computador. Nestas aulas foi frequente a solicitação de ajuda, tendo os alunos recorrido ao professor ou a mim de forma natural. Matos e Carreira (1994) afirmam que não é fácil lidar com o duplo papel de observador e de participante pois é necessário conciliar a observação e a participação de tal modo que seja possível interpretar a situação como alguém que faz parte dela e de a descrever como alguém que está de fora.

Após cada sessão foram sempre registadas notas de campo de modo a que alguns episódios mais relevantes não ficassem registados apenas na memória, podendo-se perder com o passar do tempo. Destas notas escritas destacam-se os episódios mais significativos, as dificuldades sentidas no decorrer da implementação das tarefas, ideias trocadas entre professor e alunos da turma e algumas questões que os alunos me colocavam.

Questionário

O questionário é um instrumento de recolha de informação, preenchido pelo informante, que permite colocar uma série de perguntas relativas a qualquer ponto de interesse do investigador (Quivy & Campenhoudt, 2003). É uma fonte de informação acerca de aspetos não diretamente observáveis. É particularmente adequado quando se pretende inquirir um conjunto numeroso de pessoas (Varandas, 2000).

As questões que compõem um questionário podem ser fechadas, abertas ou preformadas (Lessard-Hébert et al, 1994). As questões fechadas limitam o informante à opção por uma de entre as respostas apresentadas (Pardal & Correia, 1995). Por outro lado, este tipo de questões permite uma fácil análise das respostas dadas (Varandas, 2000). As questões abertas permitem liberdade de resposta ao inquirido, permitindo estudar um assunto com mais profundidade. No entanto, o seu tratamento é mais complexo, quer pela variedade de informação que pode surgir, quer pelo tempo que ocupa o seu tratamento (Pardal & Correia, 1995). Nas questões preformadas existe um compromisso entre questões fechadas/ abertas (Lessard-Hébert et al, 1994).

O questionário usado nesta investigação (Anexo 11), e aplicado a todos os alunos da turma, foi composto por questões fechadas e abertas. As questões fechadas, com opção entre uma resposta afirmativa ou negativa, foram sempre complementadas com uma questão aberta. Pretendia-se, mais do que saber se a resposta à questão era afirmativa ou negativa, averiguar a razão de tal resposta.

Com a aplicação deste questionário, procurei obter junto dos alunos informação relacionada com o uso das tecnologias na sala de aula e com a comunicação matemática escrita. Questões como a importância atribuída pelos alunos à utilização da tecnologia e de como sentiam que esta os ajudava na realização das tarefas propostas ou a

importância e as dificuldades em comunicar, por escrito, foram alguns temas abordados no questionário.

Depois de recolhidas todas as tarefas, a totalidade dos alunos respondeu ao inquérito, durante os trinta minutos finais de uma aula.

Entrevista

A entrevista tem, para Pardal e Correia (1995), algumas vantagens, mas também algumas limitações em relação ao questionário. Como vantagens, os autores apresentam a possibilidade de obter informação mais rica e não exige um informante alfabetizado. Quivy e Campenhoudt (2003) também corroboram esta afirmação quando afirmam que a entrevista permite ao investigador retirar “informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados” (p. 192). Segundo Lessard-Hébert et al (1994), a entrevista pode ajudar a contrariar alguns enviesamentos próprios da observação participante permitindo ao observador “confrontar a sua perceção do «significado» atribuído pelos sujeitos aos acontecimentos com aquela que os próprios sujeitos exprimem” (p. 160).

Entre as desvantagens, Pardal e Correia (1995) destacam a limitação de recolha de informação sobre assuntos delicados e a fraca possibilidade de aplicação a grandes universos. Quivy e Campenhoudt (2003) apontam “o facto de a flexibilidade do método poder levar a acreditar numa completa espontaneidade do entrevistado e numa total neutralidade do investigador” (p. 194). O investigador, ao interpretar a informação, deve ter em consideração a relação específica que o liga ao entrevistado.

A entrevista permite recolher informação acerca de aspetos não observáveis permitindo assim um conhecimento mais profundo de uma dada situação (Varandas, 2000). Segundo Almiro (1997) observar um comportamento pode não ser suficiente, sendo também importante saber o seu significado para o sujeito, o que só se poderá saber se lhe for pedido para aclarar.

Foi nesta perspetiva que, quase no término da intervenção pedagógica, foram realizadas as entrevistas. Após a observação das aulas e após uma primeira análise dos questionários, surgiram aspetos ou situações que exigiram o seu esclarecimento junto dos participantes. Neste sentido, efetuei entrevistas semiestruturadas a quatro alunos, individualmente. Este tipo de entrevistas pressupõe o recurso a um guião orientador, previamente construído, onde são especificadas as questões a colocar.

O principal objetivo das entrevistas realizadas neste estudo foi esclarecer algumas dúvidas que surgiram ao analisar os questionários ou durante as aulas, razão pela qual as quatro entrevistas assumiram pequenas diferenças entre cada um dos alunos. Foi usado um guião para cada um deles (Anexos 12, 13, 14 e 15) uma vez que muitos dos aspetos a esclarecer diziam respeito àquele aluno em particular, mas houve também questões comuns aos quatro alunos, como, por exemplo, quais as representações mais facilitadoras na comunicação escrita ou qual a importância da comunicação escrita.

Durante a realização das entrevistas procurei garantir a existência de um ambiente descontraído de modo a que os alunos se sentissem à vontade na exposição das suas opiniões e pensamentos.

Estas foram gravadas em áudio e, posteriormente, integralmente transcritas.

Recolha documental

A análise documental recai sobre documentos relativos a um local ou uma situação, correspondendo a uma observação de artefactos escritos que não são da autoria do investigador. É uma técnica que tem uma função de complementaridade na investigação qualitativa sendo utilizada para triangular os dados obtidos através de outras técnicas (Lessard-Hébert et al, 1994).

Nesta investigação, os dados recolhidos através da observação e das entrevistas, foram complementados com documentos escritos particularmente produzidos pelos alunos, como por exemplo:

i) composições matemáticas; ii) relatórios escritos;

iii) questionário.

Conforme apresentado no quadro 7, os alunos realizaram cinco tarefas. Cada uma delas teve a sua conclusão com a apresentação de uma composição ou de um relatório. O objetivo era analisar relatórios e composições produzidos pelos alunos onde o recurso à calculadora gráfica ou ao computador foi central. Assim, os alunos produziram três composições matemáticas e dois relatórios. Na última tarefa proposta, foi dada oportunidade aos alunos de escolherem a ferramenta tecnológica para elaborarem uma composição sobre a referida tarefa.

Conjugação dos diversos instrumentos

O quadro 8 apresenta, de uma forma sistemática, a contribuição dos vários dados recolhidos nas respostas às questões em estudo:

1) Como é que as tecnologias influenciam e facilitam o desenvolvimento da comunicação escrita na aula de matemática?

2) De que forma os alunos utilizam as tecnologias ao serviço da comunicação matemática?

3) Comparando a calculadora gráfica com o computador, será possível dizer se uma das duas ferramentas tende a ser mais potenciadora da comunicação escrita do que a outra?

Questões

Investigadora Alunos

Observação Questionário Entrevista Documentos Produzidos

(i)    

(ii)    

(iii)  

Quadro 8 – Contributo dos instrumentos de recolha de dados nas respostas às questões