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OS INTEGRANTES DAS CEB’s

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CAPÍTULO I: AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE

1. O QUE É COMUNIDADE ECLESIAL DE BASE

1.12 OS INTEGRANTES DAS CEB’s

Conforme Löwy (2000) um aspecto importante destacado por ele em seus estudos é que os integrantes das CEB’s, principalmente os de áreas urbanas eram compostos em sua maioria por mulheres, chegando a ser 60%. Em comunidades de São Paulo, por exemplo, a presença feminina no movimento era fortalecida principalmente pelo fato de que a maioria dos agentes pastorais era do sexo feminino e que muitas comunidades são organizadas por ordens religiosas femininas (LÖWY, 2000, p.83). Tanto nas CEB’s como nas Pastorais Sociais, o protagonismo feminino é marcante. São mulheres que buscaram serem profetisas, ou seja, serem testemunhas da justiça em todos os lugares. Neste caso, elas abraçam a luta em defesa da vida, do pobre e dos abandonados de forma concreta. Luta marcada pela indignação diante das injustiças sociais, mas também marcadas pela coragem e perseverança (ALMEIDA e MOREIRA, 2017). Outro aspecto importante para compreender os integrantes das comunidades de base, segundo Carolina Lemos (2011), é a questão da migração. Mesmo sendo a realidade das CEB’s mais urbanizada, a maioria dos seus membros eram migrantes da região do nordeste ou vindos principalmente da zona rural; fugindo normalmente da realidade da seca e da falta de terras para cultivo e chegam para se aglutinarem nas periferias das grandes cidades brasileiras, principalmente da região Sudeste. No entanto quem eram estes católicos das CEB’s?

Em outros tempos, segundo Novaes (1996), ser católico tinha uma compreensão de não ser infectado por sangue de mouro ou de escravo africano. Após algum tempo, a confissão e a missa passaram a dar a definição de ser católico. Mais tarde com as CEB’s surgem novas exigências para a identidade ser católico: tem que participar de comunidade. Se não for de comunidade não é católico. Dentro dos movimentos de classe média, como Cursilho22, surgem novas

exigências para a identidade católica: a pessoa de CEB tem que ter um compromisso social (NOVAES, 1996, p.106). Pode-se assim entender, como nos salienta o teólogo Clodovis Boff que a luta social é uma característica interna das

22 Movimento católico iniciado em 1948, na Espanha franquista, que buscava orientar, em encontros periódicos, a consciência dos leigos a respeito de determinadas bases doutrinárias da religião, seu sentido prático e seus compromissos comunitários.

comunidades de base (in LEMOS, 2011, p.138). Desse jeito, este movimento sociorreligioso pode ser definido como:

(...) um pequeno grupo de pessoas que regulamente se reúnem para leitura da Bíblia, confrontando-se com a própria vida e postulando transformações das condições cotidianas dos agentes envolvidos. As CEB’s se caracterizam como ‘comunidades’, na medida em que reúnem pessoas que propõem a partilharem os mesmos ideais em que unem por laços de solidariedade e de compromisso de vida. São ‘eclesiais’, porque são constituídas de cristãos e cristãs que se reúnem em razão de sua fé e em comunhão com a igreja universal (...). São ‘de base’, porque são integradas por pessoas das camadas populares (BORGES e SILVA, 2016, p.65-66).

Para os membros desse movimento essa junção: comunidade – eclesiais – base, mostra-se um novo significado de ser igreja, ou seja, anunciar o Evangelho de Jesus Cristo tendo uma atuação pastoral clara de uma opção preferencial pelos mais abandonados (BOFF, 1986). Neste caso, é dentro da comunidade eclesial que os leigos, os pobres, as mulheres, os negros, os oprimidos em geral encontram um espaço para se reunir; para ler a Bíblia e meditá-la; para poder cantar; dançar e confraternizar; confrontando a Palavra com a própria vida e com a realidade que os cerca (BORGES e SILVA, 2016).

Neste sentido, quem eram os militantes das CEB’s? Como surge esta vocação desse movimento para o compromisso social? Não se pode negar que as comunidades de base são um fruto do Concílio Vaticano II (1964), nascidas para atualizar e adaptar a Igreja ao mundo atual, as CEB’s procuraram assumir desde a sua origem um maior protagonismo dos leigos/as no âmbito de cultivar uma Igreja libertadora (BOFF, 1996).

Consequentemente, qual é o principal objetivo das CEB’s para seus participantes? “O objetivo das CEB’s é atingir os excluídos que não estão no mercado de consumo, nem inseridos na produção, que estão alijados dos exercícios da cidadania e não estão também nas CEB’s” (NOVAES, 1996, p. 79).

Neste sentido, a comunidade de base é um meio forte para se chegar a esta massa de excluídos, ou seja, os pobres, os desempregados, os sem-terra, sem teto, dentre outras formas de exclusão. De acordo com Michel Löwy (2000) as CEB’s, contribuem para a criação e o desenvolvimento de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Em certo tempo, a experiência nestas comunidades estimulou vários membros e lideres a entrarem para partidos

de trabalhadores ou frentes revolucionárias (LÖWY, 2000, p.85). A figura do agente pastoral, também se tornou de suma importância para a propagação de movimentos sociais ligados a este movimento. Pois o agente pastoral procura conscientizar os membros da comunidade falando-lhes de fraternidade, união, direitos humanos, mundo novo, ricos e pobres. Juntamente com o povo, esse agente vai além de sensibilizar a consciência, ele mobiliza a população através das suas necessidades básicas (BETTO, 2013).

Dentro da perspectiva da importância do leigo na Comunidade Eclesial de Base, cabe agora nos questionar o processo de conscientização que as comunidades de base se utilizavam em momentos de difíceis, de perseguição política e corrupção latente. Neste sentido, a conscientização neste movimento religioso é compreendida como um compromisso histórico (FREIRE 1979, p.15). É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece pode se considerar a leitura popular da Bíblia.

Justamente no protagonismo do leigo, que é justamente a maioria dos integrantes, que este processo de conscientização se dá de forma clara e latente.

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