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A PERSPECTIVA DO POBRE NA TdL

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CAPÍTULO I: AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE

1. O QUE É COMUNIDADE ECLESIAL DE BASE

1.8 A PERSPECTIVA DO POBRE NA TdL

A Teologia da Libertação latino-americana nasceu da proximidade com os pobres e os marginalizados (MOREIRA, 2012). O significado do conceito de pobres foi evoluindo junto com a TdL, pobre com já foi dito vai desde a alusão àqueles que carecem de bens e de direitos e chega à perspectiva da Teologia da Libertação que vê o pobre como um modo de viver. A fé anima o movimento dos pobres e marginalizados. Os adeptos lendo o Evangelho descobrem que Jesus veio pregar o Reino de Deus. Compreendem que Jesus quer uma sociedade diferente, sem injustiça, sem opressão, com fraternidade e amor (TONUCCI, 1986, p.18). Nesta nova perspectiva muda-se a maneira de enxergar a realidade da pobreza, esta nova visão só é possível de ser percebida com uma ampliação da compreensão do mundo dos pobres em diálogo com teologias em âmbito da América Latina. Este diálogo se dá na apreciação das características que se pode encontrar no universo dos oprimidos, como a sua capacidade humana, religiosa e cultural. Em particular sua capacidade de criar campos novos de solidariedade (MOLINER, 2011). Para Leonardo Boff (1986), só opta efetivamente pelos pobres quem luta contra a pobreza deles, configurando assim a situação de pobreza como um pecado social como vê no número 28 do Documento da Conferência de Puebla (1979):

Vemos, à luz da fé, como um escândalo e uma contradição com o ser cristão, o fosso crescente entre ricos e pobres 11. O luxo de alguns torna-se um insulto contra a miséria das grandes massas. Isto é contrário ao plano do Criador e à honra devida a ele. Nesta angústia e dor, a Igreja discerne uma situação de pecado social, de maior gravidade em países que se dizem católicos e que têm a capacidade de mudar: "remover barreiras de exploração ... contra as quais eles quebram seus melhores esforços promocionais (Juan Pablo II, Alocución Oaxaca 5: AAS 71 p. 209).

Assim, a Igreja primeiramente deve estar presente nas lutas dos pobres para transformar sua presença de bens do Reino de Deus e em segundo lugar deve estudar de forma critica os conteúdos bíblicos, especialmente os conteúdos libertadores da vida de Jesus (BOFF, 1986). Por outro lado, a TdL se mostra

preocupada com a análise estrutural do mundo atual; com temas ligados a pobreza e a corrupção (MOLINER, 2011).

Neste sentido, qual é a perspectiva do pobre em relação à experiência de Deus? Os crentes descobrem a presença de Deus nos pobres, porque a sua situação de opressão chega aos céus e Deus se volta aos pobres, assume a sua causa e consequentemente atua na sua libertação. Assumir a opção pelos pobres deve impelir os cristãos, que são adeptos a TdL, ver neles uma nova manifestação da cruz, o ser humano reage com misericórdia diante do sofrimento do pobre e assume a sua causa. Uma vez assumida a causa do pobre, torna-se importante à presença e manifestação de Deus, pois Ele derrama todo o seu amor ao pobre. Pode-se dizer que para os adeptos dessa teologia, Deus se torna uma presença solidária entre os pobres da terra, ou seja, para eles fazer a opção por Deus é fazer a opção pelos pobres. Assim, concebe que a presença solidária de Deus entre os pobres é muito mais do que um critério sociológico ou hermenêutico; definitivamente é aos pobres que Deus decidiu se manifestar. O Concílio Vaticano II deu uma atenção especial à causa social, sinalizando um sinal dos tempos a luta por justiça social. Com isto, a TdL buscou conciliar esta nova orientação humanística situando- se na causa dos oprimidos. Dessa maneira, entende-se que a Teologia da Libertação não é simplesmente uma teologia da salvação, mas uma teologia da

práxis libertadora, ou seja, a coluna vertebral desta teologia é a perspectiva do pobre

(MOLINER, 2011, p.53).

A opção pelos pobres foi tema de alguns textos da constituição dogmática sobre a Igreja: Lumem Gentium (n.8) e Gaudium Et Spe (n.1), documentos do Concílio Vaticano II. Nestes documentos se concentra uma ampla reflexão sobre a opção pelos pobres que a TdL apóia os seus estudos (MOLINER, 2011, p.55). Então, por que os teólogos da libertação fizeram esta opção pelos pobres? Talvez uma primeira resposta por razões ético-racionais e também políticas, pois querem que os pobres saiam de sua condição de oprimidos e busquem uma libertação integral. Outra explicação está na própria teologia: pois Deus se manifesta para os pobres. Conduzidos por esta vertente política e religiosa os crentes procuram uma práxis libertadora (MOLINER, 2011, p.56). Em 1979, com a conferência de Medellín, se concretiza historicamente a opção pelos pobres. Em Puebla em 1979 foi conferida a opção “preferencial” pelos pobres, aqui se percebe que esta é uma “preferência” e busca evitar cair em um reducionismo da salvação, como se apenas

um setor se salvaria, pelo contrário a estratégia de Jesus é salvar a todos a partir dos pobres, não a partir dos ricos (MOLINER, 2011, p.57).

Assim, a partir da TdL o conhecimento teológico é confrontado com a realidade, buscando o real e deixando de lado as ideologias de mercado, ou seja, ideais puramente capitalistas e individualistas (MOLINER, 2011, p. 64). A grande preocupação da TdL é a libertação do oprimido. Por isto, esta teologia se preocupa inicialmente com as condições reais em que se encontram os oprimidos, sobretudo nas questões de economia em que este empobrecido se encontra. Conhecer este mundo real do pobre faz parte do processo teológico global da TdL, este é um momento de mediação indispensável para o profundo saber da fé. Neste sentido, para fazer esta mediação a TdL usa uma linguagem concreta da Palavra, sem deixar de enxergar o processo histórico e político, ou seja, faz uma análise social do todo (MOLINER, 2011, p. 68). E o movimento que mais realizou tal análise foi sem dúvidas as Comunidades Eclesiais de Base, principalmente na América Latina.

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