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OS PRINCIPAIS TEÓLOGOS DA LIBERTAÇÃO

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CAPÍTULO I: AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE

1. O QUE É COMUNIDADE ECLESIAL DE BASE

1.6 OS PRINCIPAIS TEÓLOGOS DA LIBERTAÇÃO

Os teólogos da libertação fundamentam-se a necessidade de compreender a Palavra de Deus através do caráter histórico (MOLINER, 2011, p.78). Para Löwy (2000, p.56), os principais intelectuais da TdL são provindos da América latina: Gustavo Gutiérrez (Peru), Rubem Alves, Hugo Assmann, Carlos Mesters, Leonardo e Clodovis Boff, Frei Betto (Brasil), Jon Sobrino, Ignacio Ellacuría (El Salvador), Segundo Galilea, Ronaldo Muñoz (Chile), Pablo Richard (Chile/Costa Rica), José Miguez Bonino, Juan Carlos Scanone, Rubem Dri (Argentina), Enrique Dussel (México), Juan-Luis Segundo (Uruguai), Samuel Silva Gotay (Porto rico). Acrescenta-se aqui a participação efetiva das mulheres na TdL, como Ivone Gebara, Nancy Cardoso, Maria Pilar Aquino, Lina Boff, Ivoni Richter Reimer, Maria Clara Bingemer e Maria Soave. Neste caso, cabe nos destacar a figura de dois teólogos: Gutiérrez e Betto, o primeiro para o nascimento da TdL e o segundo para consolidação da mesma.

O termo teologia da Libertação foi desenvolvido pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez (1928), sacerdote católico e professor universitário, lutou a partir do Evangelho, da história da Sociologia e de experiências de homens e mulheres comprometidos com o processo de libertação cristã no continente Latino Americano. Suas ideias logo se espalham por todos os cantos de uma América sofrida com o militarismo, inclusive influenciam várias figuras importantes no Brasil. Gutiérrez denunciava as injustiças no nosso continente.

Estamos, na América Latina, em pleno processo de fermentação revolucionária. Situação complexa e movediça, que resiste interpretações esquemáticas e exige continua revisão das posições adotadas. Seja como for, a insustentável situação de miséria, alienada e espoliação em que vive a imensa maioria da população latino-americana pressiona, com urgência, a encontrar o caminho de uma libertação econômica, social e política. Primeiro passo para uma nova sociedade (...). A busca da libertação do subcontinente vai mais longe que a superação a dependência econômica (...) consisti mais profundamente, em ver o devir da humanidade como um processo de emancipação do homem ao longo da história, orientando para uma sociedade qualitivamente diferente, na qual se sinta o homem livre de toda servidão, seja artífice de seu próprio destino. E busca a construção de um homem novo (GUTIÉRREZ, 1975, p. 84-87).

O homem novo19 de Gutiérrez, pautado nos Evangelhos, guiou essa nova

forma de pensar Igreja, ou seja, buscar a emancipação – libertação – de toda a humanidade. Nestes anos difíceis, principalmente na década de 1970 com várias ditaduras espalhadas na América Latina, muitos sacerdotes foram perseguidos e encarcerados. Houve mudanças na Igreja, ela passou a trabalhar no silêncio, mesmo depois da Conferência de Medellín as publicações da Igreja foram cautelosas (SOUZA, 2014).

Os teólogos da Libertação como pertencem à análise social, visam à importância do marxismo para compreensão desta realidade social. Para fazer esta análise social a TdL utiliza o marxismo como mediação sociopolítica e para analisar a realidade sócio histórica, ela se utiliza do método científico. Esta escolha pode ser justificada pela tradição marxista, pois ela compreende o mundo a partir dos oprimidos, com certa ênfase na luta de classes (MOLINER, 2011, p. 71). Esta luta

social de classes que teve seu início na Revolução Industrial (1760), na Inglaterra, a população, em sua maioria composta de trabalhadores, começou a desejar uma vida melhor, tal melhoramento não ocorreu, por isso o povo lutou para obtê-lo. Essas reivindicações incomodaram os donos das fábricas, mas sendo eles pessoas influentes na política local, fizeram de tudo para impedir o avanço das exigências dos operários. A Revolução Industrial, iniciada em solo britânico, espalhou-se por outros países. Houve em toda a parte, guerra aos sindicatos. Apesar de todos os esforços legais e ilegais, os sindicatos resistiram apesar das prisões e bens sindicais confiscados (HUBERMAM, 2011, p.158). Portanto, o marxismo tem um papel puramente instrumental na TdL e no âmbito da fé; a fé recorre ao marxismo a fim de compreender melhor a realidade que a cerca.

Neste sentido, as CEB’s, compreendem a práxis de libertação popular e a teologia da libertação como ajudar para Igreja “retomar as origens: o povo pobre – os excluídos” (BETTO, 1994). Priorizando a prática, as CEB’s pautavam-se o seu trabalho principalmente nas roças, cooperativas, farmácias comunitárias, nos mutirões para construção de casas e nas atividades do campo. Todo este labor apontou para uma sociedade alternativa, em que a teoria (teologia) ilumina a prática (libertação). Assim, a Teologia da Libertação defende e valoriza o saber do povo. É uma educação que conscientiza, dignifica o oprimido, que o liberta da ignorância (GONÇALVE, SANTOS, 2013, p.59-60).

Outra figura importante na difusão da Teologia da Libertação no Brasil e na América Latina foi Leonardo Boff (1938), teólogo; filosofo e professor universitário. Boff ficou por muitos anos à frente da Editora Vozes e escreveu vários livros sobre diversos assuntos ligados a religião, política e a ecologia. O marco dessa teologia no Brasil foi à publicação do livro: “Jesus Cristo Libertador” (1972). Neste livro, Boff investe em um Jesus de Nazaré comprometido com os excluídos e com os empobrecidos.

O próprio Jesus não consiste em proclamar que o Reino há de vir, mas em que sua presença e atuação o Reino já está perto (Mc 1,15) e no meio de nós (Lc 17,21)! O projeto fundamental de Jesus é, portanto proclamar e ser instrumento da realização do sentido absoluto do mundo: libertação de tudo o que estigmatiza: opressão, injustiça, dor, divisão, pecado, morte; e libertação para a vida, comunicação aberta do amor, a liberdade, a graça e a plenitude de Deus (BOFF, 2003, p. 27).

Neste sentido, Leonardo Boff está dentro de uma visão de leitura popular da Bíblia, ou seja, uma leitura a partir da luta e da sua realidade, no entanto sem deixar de ser um ato comunitário, orante e de fé. Ele procura valorizar assim os saberes de todos, em especial dos os excluídos (BOFF, 2003).

Vimos que os teólogos da libertação têm como base o povo pobre, dentro de uma perspectiva sociológica, humanística, libertária e de fé comprometida com um Deus próximo do povo. Neste momento cabe-nos entender qual é o método que TdL para difundir e ensinar, tendo em vista que ela procura trabalhar com o povo pobre e simples.

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