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CAPÍTULO I  REVISÃO DA LITERATURA

1.8. Os Investimentos Públicos Direcionados para o Estabelecimento do SPED

Estabelecimento do SPED

Oportuno foi identificar o montante do investimento destinado ao projeto SPED, já que é sabido por todos, que a principal fonte de recursos financeiros do Estado, para que ele possa exercer suas funções adequadamente, são provenientes da arrecadação realizada pelas administrações tributárias sobre os contribuintes.

Sendo assim, qualquer que seja o valor ou a origem do recurso destinado ao projeto SPED, já que é passível de ser via financiamento de terceiros, é certo que o desembolso será realizado utilizando-se de recursos provenientes da arrecadação tributária.

Os investimentos feitos para o estudo, especificação e desenvolvimento do SPED não estão claros para a sociedade. Não foi possível identificar, de forma transparente e clara nos relatórios contábeis públicos, a origem e a aplicação individual dos recursos, que também são públicos, destinados ao projeto SPED. Nos relatórios pesquisados os dados financeiros são classificados por função, por subfunções, por órgão, por departamento e, em alguns casos, até por projeto, mas não foi encontrado em nenhum deles qualquer informação, que não fosse generalista, sobre o projeto SPED.

A pesquisa por informações, sobretudo financeiras, específicas ao projeto SPED foi intensa e exaustiva, executada através de visitas presenciais, envios de e- mails e análise dos dados disponíveis nos sites da Secretaria da Receita Federal, da Controladoria Geral da União, do Ministério da Fazenda, do SERPRO e de várias das empresas privadas classificadas como integrantes do Projeto Piloto, contudo, o resultado, ainda que útil, foi pouco representativo.

Diante da dificuldade de encontrar e compilar dados que fossem confiáveis para subsidiar o referido estudo, este pesquisador se utilizou de um dispositivo legal recém-instituído, cujo objetivo principal é dispor sobre os procedimentos a serem adotados pelos órgãos públicos a fim de garantir ao cidadão o acesso às informações que julgar pertinente obter conhecimento, desde que elas existam. Trata-se da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, conhecida como lei de acesso à informação.

A erg n a fei a no i e “http://www.acessoainformacao.gov.br/sistema/” em 24 de agosto de 2012, registrada sob o nº de Protocolo 16853.006984/2012-83, foi direcionada para esclarecer o valor dos investimentos já realizados no projeto SPED, transcrita na íntegra:

Prezados Senhores,

Sou professor universitário e pesquisador, sobretudo em temas tributários e informatização de processos. Pretendo discorrer em um trabalho de Mestrado, sobre o impacto (em minha visão positivo) dos investimentos públicos em tecnologia da informação (viés

direcionado para o projeto SPED) nos custos empresariais. Minha ideia é apresentar à sociedade uma visão clara de que, quanto mais se investe neste projeto, mais os custos das empresas diminuirão, mais se arrecadará, independente do crescimento do país e da majoração de tributos, além do ganho percebido com a eliminação da concorrência desleal praticante de evasão fiscal. Preciso, portanto, de dados reais sobre os investimentos feitos e previstos para o projeto SPED e qual é o retorno percebido, sob a ótica pública, de redução de custos e aumento da eficiência. Eu medirei a parte correspondente ao mercado e confrontarei as visões. Acredito ser um trabalho de interesse público.

Desde já agradeço e aguardo resposta.

A resposta tinha previsão de ocorrer até 27 de setembro de 2012, mas foi concedida apenas em 02 de janeiro de 2013, como segue:

Prezado Sr. Edson,

Em atenção ao requerimento formulado, cumpre-nos informar que a demanda foi encaminhada à Receita Federal do Brasil - RFB, que se posicionou conforme abaixo:

‘De a ordo om o er ro e ro ê a infraestrutura tecnológica, o desenvolvimento e a manutenção dos sistemas, os custos relativos ao projeto foram de 157 milhões de reais e, para 2012, estão estimados em 41,7 milhões de reais. Os recursos despendidos fazem parte do Orçamento Anual do Ministério da Fazenda. O interessado poderá obter maiores informações no Portal Sped. Agradecemos a ar i i a o’. ( IC/M )

Em 08 de janeiro de 2013, insistiu-se no esclarecimento dos valores informados, dessa vez por grupo de gasto dentro de cada subprojeto do SPED. O novo questionamento foi encaminhado por meio do mesmo mecanismo e foi registrado através do Protocolo 16853000041/2013-28, como segue:

Preciso saber:

1. Do investimento feito, qual foi destinado à parte de: (a) desenvolvimento;

(b) aquisição de infraestrutura; e

(c) qualificação ou contratação de pessoas.

2. Do investimento feito, quanto foi direcionado para cada subprojeto a saber:

(a) NF-e;

(b) EFD ICMS/IPI; (c) ECD;

(d) EFD CONTRIBUIÇÕES; (e) Outros.

3. Quanto está previsto investir nos próximos anos (de 2013 para frente) em cada um dos subprojetos.

O primeiro questionamento feito recebeu uma resposta muito abrangente que não permite medir e correlacionar o esforço público em um projeto e o benefício gerado por ele à população empresarial, objeto maior do estudo proposto.

A resposta tinha previsão de ocorrer até 07 de fevereiro de 2013, mas foi concedida apenas em 29 de agosto de 2013, como segue:

De acordo com o Serviço Federal de Processamento de Dados – Serpro, os investimentos realizados desde o início do projeto Sped, até agosto de 2013 foram na ordem de R$ 388.097.363,22. Desse montante foram investidos em:

a) desenvolvimento do projeto: R$ 73.879.123,69; b) aquisição de infraestrutura: R$ 144.747.013,35;

c) qualificação ou contratação de pessoas: R$ 52.805.678,66. Os investimentos realizados (até agosto 2013*) nos subprodutos Sped, desde o início de cada projeto somente em Tecnologia da Informação - TI: 1. Fcont: R$ 2.015.831,27 2. EFD IRPJ: R$ 4.084.693,00 3. CT-e: R$ 1.389.992,64 4. EFD IPI/ICMS: R$ 4.379.502,49 5. ECD Contábil: R$ 4.110.359,75 6. NF-e: R$ 7.574.780,92 7. NFS-e: R$ 1.077.682,50 8. Portal Sped: R$ 1.006.165,70 9. EFD Contribuições: R$ 2.519.971,40 10. EFD Financeiras: R$ 0,00

Os investimentos estimados para os exercícios de 2013 (a partir de agosto) e 2014, respectivamente, nos subprodutos Sped (valores em reais) são: 1. Fcont: R$ 700,723,00 e 150.000,00 2. EFD IRPJ: 1.260.000,00 e 1.000.000,00 3. CT-e: 1.658.803,00 e 1.657.446,00 4. EFD IPI/ICMS: 766.203,62 e 1.585.966,46 5. ECD Contábil: 855.748,00 e 400.000,00 6. NF-e: 3.690.432,59 e 3.690.432,59 7. NFS-e: R$ 0.00 e 0.00 8. Portal Sped: 105.000,00 e 300.000,00 9. EFD Contribuições: 4.000.000,00 e 5.500.000,00 10. EFD Financeiras: 1.500.000,00 e 5.000.000,00

Os dados foram retirados do Sistema de Gestão de Produtos de TI. As estimativas podem sofrer alterações por questões orçamentárias. Esclarecemos que os demais dados solicitados ainda não foram estimados ou exigem trabalhos adicionais de consolidação de dados e informações – art. 13 do Decreto nº. 7.724/2012.

No que diz respeito à qualidade da informação obtida, a primeira resposta recebida forneceu um norte, mas, assim como as demais informações já conhecidas através da pesquisa feita nos sites da RFB, CGU, MF e SERPRO, dificultaria o desenvolvimento de uma métrica capaz de medir, de forma mais específica, o impacto do projeto SPED nas organizações pesquisadas, por ser muito abrangente. Mesmo assim, por constar em documentos públicos oficiais, recebeu a devida atenção.

A segunda resposta, porém, por ser mais detalhada, por transparecer ter sido objeto de uma pesquisa mais aprofundada da administração pública, com o propósito de responder ao questionamento feito por este pesquisador e por ser igualmente válida, precedeu as demais, foi consolidada e organizada com o objetivo de atender aos propósitos desta pesquisa. Entretanto, muito embora forneçam mais detalhes sobre os investimentos realizados e estimados por grupo de gasto e projeto, ela também possui em si própria, certo grau de incongruência.

Conforme foi observado nos dados fornecidos pelo SERPRO, os investimentos realizados desde o início do projeto SPED até agosto de 2013 foram da ordem de R$ 388.097.363,22. Entretanto, os valores indicados como destinados a Desenvolvimento do Projeto (R$ 73.879.123,69), Aquisição de Infraestrutura (R$ 144.747.013,35), Qualificação ou Contratação de Pessoas (R$ 52.805.678,66) e os investimentos já realizados especificamente em cada subprojeto (R$ 28.158.979,67) somente em despesas de TI somaram R$ 299.590.795,37, ou seja, R$ 88.506.567,85 ditos como já realizados até agosto de 2013 não foram identificados. Mesmo se os valores indicados como estimativas de investimentos somente em TI para o restante do exercício de 2013 (R$ 14.536.910,21) e para o completo exercício de 2014 (R$ 19.283.845,05) fossem considerados como já realizados, ainda faltaria apresentar destinação clara à R$ 54.685.812,59.

Diante da complexidade do tema e da dificuldade de se conseguir informações confiáveis para a elaboração de um estudo dessa natureza, este pesquisador decidiu diluir o valor de R$ 88.506.567,85 ainda não destinado,

proporcionalmente entre as atividades de Desenvolvimento do Projeto, Aquisição de Infraestrutura e Qualificação ou Contratação de Pessoas, conforme a Tabela 1.

Tabela 1  Distribuição proporcional de investimentos não identificados por natureza

Natureza do Investimento Destinado Valor % Destinado Valor não % Ajustado Valor %

Desenvolvimento do projeto 73,879,123.69 27% 24,089,982.44 27% 97,969,106.13 27% Aquisição de infraestrutura 144,747,013.35 53% 47,198,082.97 53% 191,945,096.32 53% Qualificação ou contratação de pessoas 52,805,678.66 19% 17,218,502.44 19% 70,024,181.10 19% Total 271,431,815.70 100% 88,506,567.85 100% 359,938,383.55 100%

Fonte: Elaborada pelo Autor

Após ajuste, consolidaram-se os valores informados pelo SERPRO aos investimentos realizados e previstos por cada um dos subprojetos do SPED, conforme Tabela 2.

Tabela 2  Investimentos realizados e previstos para o SPED por subprojeto

Natureza do Investimento Início até 08.2013 09 à 12.2013 2014

Investimento % Investimento % Investimento %

Desenvolvimento do projeto 97,969,106.13 36% - 0% - 0% Aquisição de infraestrutura 191,945,096.32 71% - 0% - 0% Qualificação ou contratação de pessoas 70,024,181.10 26% - 0% - 0% Subtotal 359,938,383.55 100% - 0% - 0% FCONT 2,015,831.27 7% 700,723.00 5% 150,000.00 1% EFD IRPJ 4,084,693.00 15% 1,260,000.00 9% 1,000,000.00 5% CT-e 1,389,992.64 5% 1,658,803.00 11% 1,657,446.00 9% EFD ICMS/IPI 4,379,502.49 16% 766,203.62 5% 1,585,966.46 8% ECD 4,110,359.75 15% 855,748.00 6% 400,000.00 2% NF-e 7,574,780.92 27% 3,690,432.59 25% 3,690,432.59 19% NFS-e 1,077,682.50 4% - 0% - 0% Portal SPED 1,006,165.70 4% 105,000.00 1% 300,000.00 2% EFD Contribuições 2,519,971.40 9% 4,000,000.00 28% 5,500,000.00 29% EFD Financeiras - 0% 1,500,000.00 10% 5,000,000.00 26% Subtotal 28,158,979.67 100% 14,536,910.21 100% 19,283,845.05 100% Total 388,097,363.22 14,536,910.21 19,283,845.05

No que diz respeito ao meio pelo qual se obteve as informações, tornou-se necessário registrar que, muito embora, em um tempo maior do que o previsto e com informação com questionável grau de confiabilidade, o mecanismo de comunicação transparente instituído pela Lei de acesso à informação têm sido muito útil e funcional, e, na visão deste pesquisador, deveria ser encarado como um exemplo singular da aplicabilidade racional e objetiva dos recursos públicos para um fim específico e da possibilidade de tornar o retorno à sociedade mais mensurável, detectável e percebido por ela.

1.9. Aderência do SPED ao Atual Sistema Tributário Brasileiro

Salvo os problemas de infraestrutura tecnológica que o Brasil ainda possui, a maioria dos contribuintes, principalmente aqueles estabelecidos próximos dos grandes centros, já se utiliza dos recursos tecnológicos disponíveis para efetuar tanto as suas transações comerciais, quanto sua escrituração fiscal e contábil. O desenvolvimento e a implantação do Sistema Público de Escrituração Digital, neste sentido, não têm enfrentado grandes dificuldades.

No tocante às múltiplas competências tributárias, cuja interação se tornou fator crítico de sucesso do projeto SPED, pelos exemplos colhidos com a implantação das obrigações acessórias já estabelecidas neste ambiente, sobretudo a Nota Fiscal Eletrônica, a Escrituração Fiscal Digital do ICMS e do IPI, a Escrituração Fiscal Digital das Contribuições e a ECD pode-se afirmar que o dispositivo constitucional tem sido cumprido.

Entretanto, o Sistema Tributário Brasileiro possui, além das múltiplas competências e dos inúmeros tributos que precisam ser administrados, uma vasta malha de atos legais emitidos a todo o momento e que impactam diretamente o desenvolvimento sustentável de um projeto como o SPED. Segundo o IBPT (2013), de de a rom lga o da Car a Magna de 1988 “foram edi ada em média 30 norma ri ria or dia 1 25 or ora”.

Atualizar-se frente a este volume de alterações legais ainda é difícil e custoso, pois, geralmente, é feito por pessoas e não sistemas, o que torna o processo mais suscetível a erros. Nesse sentido, o desenvolvimento do Sistema

Público de Escrituração Digital não trouxe mudanças significativas, sendo ele próprio mais um mecanismo de publicação de normas.

Como exemplo, a Instrução Normativa nº 787 de 19 de novembro de 2007, instituidora da Escrituração Contábil Digital sofreu, em apenas 5 anos de existência, mais de 6 alterações legais diretas, enquanto que o Escrituração Fiscal Digital do ICMS e do IPI sofreu, no mesmo período, mais de 32 alterações legais diretas.

Compreender os condutores de complexidade e custos de conformidade, os

trade-offs entre eles e os objetivos de equidade fiscal e da eficiência econômica

deveria sensibilizar os decisores políticos a procurarem o ponto de equilíbrio necessário para que os benefícios esperados com o projeto SPED sejam alcançados antes mesmo de se efetuar uma reforma mais ampla no próprio ordenamento tributário existente, cujo processo de consolidação e revisão sequer foi iniciado, ou, pelo menos, não tem obtido o mesmo destaque.

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