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Os media sociais no quotidiano dos adolescentes portugueses

O surgimento de inovações ao nível do software, nomeadamente, o aparecimento das aplicações que têm sido rotuladas por aplicações Web 2.0, tem edificado a ecologia dos media sociais (Dutton e Helsper, 2007; Ellison e boyd, 2013). A Web 2.0 abriu portas para a inovação nos modos de uso e apropriação das aplicações pelos internautas, sendo de referir a maior facilidade de produzir e difundir conteúdos gerados pelo utilizador. Com os media sociais tornou-se exequível para os utilizadores comuns criarem redes virtuais em torno de conteúdos recém-criados e trocar comentários sobre esses conteúdos, recriando assim o papel comunicativo das redes. A Web 2.0 fornece uma forma de consolidar as redes sociais, ampliando as oportunidades de comunicação online existentes, seja através da interação instantânea ou da partilha e do manuseamento em rede dos conteúdos online. As mesmas tecnologias facilitam, ao mesmo tempo, a produção de materiais audiovisuais para uso privado, bem como a articulação do armazenamento e da transmissão de conteúdos com audiências de massa (Dutton e Helsper, 2007). De facto, uma das grandes mudanças na forma como as pessoas usam a internet desde 2005 tem sido o aumento de popularidade dos sites de redes sociais, em particular, entre os mais novos (Lenhart et al., 2010), que se reverteu na expansão das possibilidades existentes para os indivíduos comunicarem e interagirem uns com os outros, tais como o correio eletrónico, chats e blogues. No contexto europeu, Livingstone et al. (2011: 38) indicam que 60% das crianças dos 9 aos 16 anos usam esses serviços. Isto demonstra, segundo Cardoso e Araújo (2009), uma contribuição para o aumento do papel central da comunicação nas redes.

Deste modo, importa olhar para a forma com as crianças utilizam as redes sociais online, com o apoio dos dados recolhidos do inquérito Sociedade em Rede, aplicado em 2013. É de sublinhar que, neste inquérito, só temos dados disponíveis para as crianças na fase da adolescência dos 15 aos 18 anos. A popularidade e ubiquidade das redes sociais online, em particular do Facebook, é bem patente nos dados de 2013. Dos utilizadores da internet dos 15 aos 18 anos, 98,6% é utilizador de redes sociais, e entre esses utilizadores, todos têm perfil no Facebook, sendo de longe a rede social mais popular e a mais utilizada. As redes sociais Twitter, Google+ e Hi5 surgem bem atrás quanto às suas taxas de utilização, 11,4%, 11,1% e 10,4%, respetivamente. O dispositivo mais habitual para

aceder aos sites de redes sociais (SRS) é o computador (para 94,8% dos inquiridos), mas mais de metade (58,8%) costuma utilizar o telemóvel para usar SRS.

No Quadro 7-1, em baixo, podemos ainda averiguar as principais funcionalidades utilizadas pelos adolescentes inquiridos:

Quadro 7-1. Nos sites de redes sociais em que tem perfil criado, que tipo de funcionalidades utiliza?

Funcionalidades %

Serviço de chat 85,9

Envio de mensagens 91,3

Jogar (por exemplo, Farmville, Mafia Wars) 74,0

Apoiar/aderir causas 22,7

Criar álbuns fotográficos 77,5

Enviar presentes virtuais 16,3

Comentar publicações (Posts) 76,2

Gostar / Fazer Like nas publicações de outros 90,5

Criar/aderir a grupos 37,5

Divulgar eventos 30,0

Criar aplicações 14,6

Escrever comentários na Wall 39,5

Alertas de aniversários de amigos 56,4

Fonte: CIES, Inquérito presencial, Sociedade em Rede, 2013

Surgem em destaque os usos relacionais e as práticas comunicativas em termos de envio de mensagens e da utilização do serviço de chat. Outra funcionalidade de destaque para a grande maioria é fazer “Gosto” nas publicações dos outros. Esta funcionalidade pode ter algumas leituras, pode ser entendido como um gesto de reconhecimento, uma forma fática de comunhão face a um determinado conteúdo (uma foto, um vídeo ou comentário), uma forma de facilitação da comunhão ou até uma medida de capital simbólico e social de quem interage nos SRS. Porém, a atividade mais frequente entre os inquiridos dos 15 aos 18 anos (em 54,1% dos casos), feita pelo menos uma vez ao dia, é jogar. Isto sugere que a atividade mais frequente poderá não coincidir com as principais motivações para estar nos SRS. Segundo 34,6% dos adolescentes inquiridos o uso comunicativo e fático de partilhar uma novidade é realizado pelo menos uma vez por dia, enquanto que 18,6% segue a trajetória artística ou profissional de uma pessoa que admira. Este último indicador vai de encontro aos resultados do estudo de Jorge (2014), que examina as práticas de crianças e jovens que utilizam, em conjunto com outros meios, a internet como recurso para fazer um acompanhamento às suas celebridades preferidas ou para exprimir a sua condição de fã ou admirador/a. Saber da vida dos seus conhecidos

sem ter que perguntar diretamente é uma atividade realizada pelo menos uma vez por dia por 14,4% dos inquiridos. É neste item onde se verifica a diferença de género mais relevante, averiguando-se que 20,9% das raparigas o faz, em comparação com 7,2% dos rapazes, o que sugere um uso mais atento à vida dos outros para parte das raparigas.

O estudo de Pempek, Yermolayeva, e Calvert (2009), que se centrou na utilização do Facebook por parte de uma população universitária norte-americana, indica que dar uma espreitadela furtiva e observar as ações dos outros, como ler as atualizações de notícias sobre o que os amigos estão fazer ou olhar para os perfis ou imagens dos outros contatos, eram atividades muito mais comuns do que publicar informações ou até mesmo atualizar o próprio perfil. É neste sentido que Bauman e Lyon (2012) falam de uma vigilância líquida ou suave onde, para além das empresas, os utilizadores dos SRS se envolvem num voyeurismo social mútuo. Contudo, os nossos dados não revelam que isso seja uma prática generalizada, ou pelo menos, muito frequente. Uma outra preocupação, que tem emergido com a popularização dos SRS, é a atenção que requer dos utilizadores para acompanhar as atualizações e gerir uma rede alargada de “amigos” ou contatos. Mas, existe um limite restrito quanto ao número de pessoas em que se investe pessoal e emocionalmente e em quem se aposta em relações de “qualidade”, o que tem reflexos nas interações online (Amichai-Hamburger e Hayat, 2011). Segundo os nossos dados, constituem pequenas minorias os adolescentes inquiridos que alguma vez se sentiram desconfortáveis por não conseguirem acompanhar as atualizações de todos os seus amigos nas redes sociais (5,4%) ou por terem dificuldade em gerir as suas relações sociais online (3,5%), provavelmente por serem criteriosos quanto à informação e aos contatos que seguem. Embora fique aqui a hipótese em aberto, até porque se trata de um campo de pesquisa fresco.

Ainda quanto à potencial absorção dos SRS, a Figura 7-1, dá-nos uma imagem das horas semanais despendidas nas redes sociais online vis-à-vis as horas gastas ao telemóvel e em interações face-a-face com os amigos. Pela leitura da Figura 7-1 verifica- se que os adolescentes têm a perceção que despendem mais horas semanais nos SRS do que ao telemóvel (embora seja necessária alguma cautela metodológica na leitura dos dados visto que não podemos saber como foi interpretada a pergunta pelos inquiridos, isto é, se remete apenas para o envio ou recebimento de chamadas ou se inclui outras atividades como mandar mensagens, ou mesmo aceder aos SRS. O telemóvel também é um instrumento de acesso aos SRS, o que complexifica, metodologicamente, a medição

do que é usar uma coisa ou outra. Isto remete para o quadro mais geral de dificuldade de medição dos usos mediáticos num modelo comunicacional em rede).

Figura 7-1. Em média, quantas horas por semana passa em contato com amigos…

Fonte: CIES, Inquérito presencial, Sociedade em Rede, 2013

Além disso, cerca de um terço dos inquiridos não respondeu ou não soube responder quantas horas semanais passa nos SRS, verificando-se percentagens apreciáveis nos outros dois itens mas menores. Isto pode significar, em parte, que os inquiridos não têm noção do tempo que despendem nas redes sociais online e que lhes é difícil quantificar, ora porque o uso é demasiado intermitente, ou porque aquele canal de comunicação fica sempre aberto sem requerer uma atenção constantemente focada. Fica- se ainda com a ideia geral que parte substancial dos inquiridos passa 4 ou mais horas com amigos em interação face-a-face e que os vários meios de contato e a domesticação de media diferenciados funcionam em complementaridade e não numa lógica de substituição.

Desde a sua introdução, os sites de redes sociais, como o Facebook, têm atraído milhões de utilizadores, muitos dos quais integrando-os nas suas práticas diárias. Há centenas de SRS, com várias capacidades tecnológicas, suportando uma ampla gama de interesses e práticas. Apesar das suas características tecnológicas fundamentais serem bastante consistentes, as culturas que emergem em torno dos SRS são variadas. A maioria dos sítios na rede apoia a manutenção de redes sociais pré-existentes, mas outros ajudam

33,8 9,1 12,2 3,6 3,9 5,2 32,3 64,8 4,7 0,0 3,4 3,4 1,4 22,4 11,4 22,0 31,6 3,0 3,3 3,7 25,0 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 Menos de 3 horas

De 4 a 7 horas De 8 a 14 horas De 15 a 21 horas De 22 a 32 horas 33 horas ou mais Ns/nr

estranhos a conectarem-se com base em interesses comuns, opiniões políticas ou atividades (Ellison e boyd, 2013; Cardoso e Lamy, 2011). Alguns sitios atendem a diversos públicos, enquanto outros atraem as pessoas com base na linguagem comum ou na partilha identitária em termos raciais, sexuais, religiosos ou baseada nas identidades nacionais (Ellison e boyd, 2013). Os SRS também variam na medida em que incorporam novas informações e ferramentas de comunicação, tais como a conectividade móvel, blogues e a partilha de fotos e vídeos.

O estudo social das redes sociais online visa compreender as práticas, as implicações, cultura e significado dessas redes, bem como o envolvimento dos utilizadores com elas. Segundo Ellison e boyd, os sites de redes sociais são plataformas de comunicação em rede em que os participantes 1) têm perfis únicos identificáveis que consistem em conteúdos disponibilizados pelo próprio utilizador ou provisionados por outros e /ou dados ao nível do sistema (2) podem articular publicamente conexões que podem ser vistas e atravessadas por outros e (3) podem consumir, produzir e/ou interagir com as transmissões de conteúdos gerados pelos utilizadores disponibilizados pelas suas conexões no site (2013: 158). A natureza e a nomenclatura dessas conexões podem variar de site para site. Wellman (2001) sustenta que as redes de computadores são inerentemente redes sociais, que ligam pessoas, organizações e conhecimentos. Constituem instituições sociais que não devem ser estudadas isoladamente, mas integradas no quotidiano. Para Wellman, a proliferação das redes de computadores tem facilitado o recentramento das solidariedades de grupo no trabalho e nas comunidades nas redes virtuais e proporcionado uma viragem para as sociedades em rede que são vagamente delimitadas e pouco unidas.

Esta é uma visão mais otimista que a de Bauman e Lyon (2012), para quem as SRS compõem uma espécie de epítome dos laços sociais numa modernidade tardia cujo traço central é resumido na sua “liquicidade” (Bauman, 2000), isto é, laços fracos, líquidos, que evitam o compromisso a longo prazo, fáceis de conectar e desconectar. Para Bauman e Lyon, as pessoas são rastreadas mais e mais através das novas tecnologias, e, como os dados se acumulam em níveis sem precedentes, a vigilância decompõe-se para um estado líquido (2012: vi), caraterizada por uma forma mais suave de vigilância, especialmente encontrada no domínio do consumo e que se espalha e derrama de maneiras inimagináveis para todo o lado. Bauman e Lyon não teriam dificuldade em concordar

com Putnam (2000) que aponta para o declínio do capital social31 dos indivíduos – relativo aos laços sociais reforçados de uma dada comunidade, tendo em vista benefícios mútuos - nas sociedades contemporâneas. Com uma nuance, enquanto Putnam parece apontar para o impacto negativo das redes no capital social dos indivíduos e nas comunidades formadas no mundo offline, Bauman afirma que essas redes simplesmente espelham processos sociais mais vastos, como o processo de individualização, presentes na sociedade como um todo. Já Wellman (2001) argumenta que a internet, pelo contrário, tem a capacidade de aumentar o capital social das pessoas, ampliando o contato com amigos e parentes que moram perto e longe e de desenvolver novas ferramentas capazes de ajudar as pessoas a navegar e encontrar conhecimentos fragmentados nas sociedades complexas e em rede. No entanto, como podemos ver na Figura 7-2, em baixo, é com a rede de amizades mais próxima que mais de metade dos adolescentes inquiridos partilha, pelo menos uma vez por dia, assuntos ou preocupações pessoais e hobbies ou interesses menos íntimos. Além disso, para uma parte dos inquiridos as pessoas com quem se lida diariamente (família ou colegas da escola ou trabalho) são também alvo diário de assuntos relativos aos sentimentos e preocupações pessoais, assim como de outros interesses menos íntimos.

Figura 7-2. Fala ou partilha ideias na sua rede social online, pelo menos uma vez por dia, sobre…

Fonte: CIES, Inquérito presencial, Sociedade em Rede, 2013

31 O conceito refere-se a elementos de organização social como as redes, normas e confiança social que

facilitam a coordenação e a cooperação com benefícios mútuos (Putnam, 1995). 35,8 54,0 30,5 15,2 31,6 53,2 28,8 14,8 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Família Amigos íntimos Colegas de trabalho ou de escola

Amigos menos íntimos/conhecidos Assuntos pessoais, emoções, sentimentos ou preocupações

Os dados parecem não ir de encontro com o estudo de McPherson, Smith-Lovin, e Brashears (2006) que indica que os utilizadores da internet, embora se foque nos mais intensivos, têm menos pessoas com quem discutir assuntos importantes, e essas discussões ocorrem com menor frequência, em comparação com a situação no passado relativamente recente. Aqui não dispomos de dados diacrónicos para fazer uma comparação com o passado, mas, como se verifica, os assuntos íntimos, a par dos interesses menos íntimos, são tema de conversa diário nos SRS com os círculos mais próximos para percentagens apreciáveis de inquiridos. Também ao contrário do que Bauman e Lyon sugerem, os dados demonstram uma relação forte com o círculo íntimo, onde os SRS surgem como recurso que faz a ponte entre os espaços sociais offline com o espaço online. O que, neste ponto, converge com o estudo de Pempek, Yermolayeva, e Calvert (2009) e de Almeida et al. (2014). Como indicam estes últimos autores as redes sociais 'virtuais' somam-se às e multiplicam as conexões com os pares no mundo "real". Porque os adolescentes usam as redes sociais online para facilitar as relações pré- estabelecidas, interagem principalmente com as pessoas em quem confiam. Não há igualmente indicação que o espaço social online tenha impactos negativos generalizados naquilo que podemos entender como o capital social das crianças, no sentido atribuído por Putnam. Neste âmbito, os resultados da pesquisa de Ellison, Steinfield e Lampe (2007), centrados no uso do Facebook de uma população estudantil, contrastam com as perspectivas de Putnam e, em certa medida, de Bauman e Lyon. Segundo Ellison, Steinfield e Lampe (2007), embora haja claramente alguns problemas de gestão de imagem vivenciadas pelos estudantes, havendo um potencial para abusos de privacidade, os resultados apontam para uma ligação forte entre o uso do Facebook e os indicadores de capital social. Para os autores, o uso da internet por si só não ajuda a prever a acumulação de capital social, ao passo que o uso intensivo de Facebook sim.

Olhando para o Quadro 7-2 averígua-se que entre as motivações principais para a inscrição nas redes encontra-se o desejo de fortalecer os laços sociais que já existem offline, ou de manter o contato com pessoas que estão distantes, assim como a pressão normativa de cariz durkheimiano pelo facto da maioria das pessoas conhecidas estar nesse tipo de sites. Uma maioria significativa aponta ainda como motivação a partilha de conteúdos nos SRS, o que poderá ser indicador de um conjunto de fenómenos: a extensão no espaço e no tempo das interações no espaço social dos SRS, podendo servir o uso relacional de facilitação da comunicação na escola ou mesmo em casa; a comunicação

fática, em que o conteúdo partilhado é uma forma de fortalecimento dos laços; a partilha de interesses; e a gestão goffmaniana das impressões no espaço público dos SRS.

Quadro 7-2. Motivos por que se inscreveu nas redes sociais online

% Fortalecer os laços sociais que já existem offline 75,5

Conhecer pessoas novas 72,9

Motivos profissionais 5,2

Porque a maioria das pessoas que conheço está nesse tipo de sites 73,3 Para poder manter contacto com pessoas que estão longe 74,1 Para encontrar e manter contacto com pessoas que já não vejo há muito tempo 71,0

Para não me sentir excluído 33,3

Para poder partilhar pensamentos/comentários/vídeos/fotos 74,7

Porque me convidaram 34,3

Iniciar/potenciar uma relação amorosa 13,0

Para promover o meu trabalho 3,3

Para promover eventos 15,1

Para promover causas ou posições 12,7

Fonte: CIES, Inquérito presencial, Sociedade em Rede, 2013

Pela leitura do Quadro 7-2, podemos identificar ainda uma grande maioria de inquiridos que refere como motivo de adesão o conhecimento de pessoas novas, o que sugere que, no âmbito das motivações, os SRS podem servir tanto o interesse de manter e fortalecer laços como o desejo de estar presente num espaço que pode ser entendido como público (boyd, 2007), que permite uma vida pública aberta a novas possibilidades de contato. Nesta senda, boyd argumenta que o espaço público das redes sociais online pode desempenhar um papel crucial no desenvolvimento dos adolescentes, visto que esse espaço, como outros espaços públicos on e offline, são campos para a formação, ativação e desempenho de identidades sociais (Fraser, 1992). A interação com pessoas novas significa uma socialização na sociedade, onde as normas são definidas e reforçadas, sempre que um terreno comum é formado (boyd, 2007). Como argumentam Almeida et al. (2014: 14), o risco de ser abordado por adultos existe e é reconhecido por muitas das crianças entrevistadas. Porém, esses novos amigos são, muitas vezes, outras crianças, que podem viver em lugares distantes, com quem partilham interesses e atividades.

Os SRS podem ainda ser entendidos como espaços sociais no sentido dado por Giddens (1984), isto é, como espaços construídos por relações sociais, onde se intersectam espaços de consumo, de conexão social ou de entretenimento e comunicação.

boyd (2007) sugere igualmente que os media sociais vieram contribuir para a constituição de um espaço público em rede, que abala definições construídas, historica e socialmente, de vida pública e privada e remete para uma estrutura social cujos contornos começamos a conhecer aos poucos, o que coloca desafios educativos. Podemos ainda colocar em causa, como fazem Bauman, Lyon (2012) e Putnam (2000), a “qualidade” das relações na internet e nos SRS, isto é, a força ou a intensidade das formas de coesão social baseadas na comunicação mediada online. Mas, se olharmos a gestão dos contactos online à luz do modelo cultural durkheimiano, podemos assumir que a organização social nas redes sociais online é criadora de símbolos, onde os indivíduos procuram um conjunto de significados que possam ser partilhados com outros para formar e manter laços. As formas simbólicas partilhadas nos perfis, nos comentários e nas mensagens servem um papel na intensidade dos vínculos, que a comunicação entre pares revela. Nesta abordagem não há uma diferenciação fundamental entre comunicação mediada e não mediada.

Este processo aproxima-se do que o antropólogo Malinowski apelidou de "comunhão fática", em que o valor social da comunicação não está no conteúdo em si (informação, ideias ou valores), mas na forma ritualista que traz a gratificação de falar em conjunto com os outros, de usar a fala para o estabelecimento de um vínculo social entre o emissor e o recetor (Burke, 1950). Tal noção inspirou o campo da sociolinguística, aplicável na compreensão da comunicação no dia-a-dia e, consequentemente, nas redes sociais online, onde a linguagem fática refere-se ao trivial e às trocas simbólicas óbvias e dadas como adquiridas sobre o quotidiano, compostas por frases feitas e afirmações expectáveis. Em suma, a conversa fiada é um importante lubrificante dos laços sociais (Boxer, 2002; Casalegno e McWilliam, 2004), incluindo nas redes sociais online. Nas palavras de Goffman, “gestures which we sometimes call empty are perhaps in fact the fullest things of all" (1967: 91). Desta maneira, podemos não só diferenciar, dentro de uma dada rede social, conteúdos fáticos (mais guiados por relações de amizade/pessoais) dos não-fáticos (mais guiados por interesses particulares) como distinguir os usos dos SRS consoante o pendor mais ou menos fático dos propósitos que os promovem.

Olhando para o Quadro 7-3, verifica-se que maiorias substanciais de inquiridos dos 15 aos 18 anos concorda ou concorda totalmente que as redes sociais online permitem uma maior aproximação e um conhecimento mais aprofundado dos gostos, opiniões e