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Os meios de produção da informação utilizados na pesquisa

3.2.4 A produção e a análise das informações

3.2.4.1 Os meios de produção da informação utilizados na pesquisa

Os meios de produção da informação, orientados pela Epistemologia Qualitativa, vão muito além da escolha de instrumentos adequados para a pesquisa. Para González Rey (2005a), o instrumento deve ser compreendido como um indutor da expressão do outro, representando uma fonte de informação e não categorias em si mesmas. A interlocução entre os instrumentos gera uma singularidade de informações que fogem às regras padronizadas de produção de conhecimento. Os instrumentos ainda possibilitam a expressão simbólica das pessoas de forma diferenciada e servem de indutores para envolver emocionalmente as pessoas.

Na presente pesquisa, além dos instrumentos com indutores escritos e não escritos, utilizamos como fonte de informação os sistemas conversacionais, os momentos informais, a análise documental e a observação, conforme veremos a seguir:

a. Sistemas conversacionais: permitem que o pesquisador se desloque da posição de quem pergunta e produza uma dinâmica com um clima favorável para a informação. Trata-se de um processo ativo, que deve ser regido pela iniciativa e criatividade do pesquisador em estabelecer indutores verbais da expressão do outro, partindo de momentos mais gerais para os mais particulares. Na presente pesquisa, denominamos esses momentos de Dinâmica Conversacional, conforme segue:

o

DINÂMICA CONVERSACIONAL COM DIREÇÃO

o DINÂMICA CONVERSACIONAL COM EQUIPE PEDAGÓGICA

o DINÂMICA CONVERSACIONAL COM ALUNOS

o DINÂMICA CONVERSACIONAL COM PAIS

b. Instrumentos apoiados em indutores não escritos: os indutores são parte do “repertório de operações simbólicas das pessoas em seus contextos culturais, os quais se convertem em instrumentos quando estão desenhados para produzir um tipo de expressão dentro de um contexto particular (o da pesquisa) com vistas à produção de conhecimento” (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 65). O uso desses indutores facilita a expressão de informações singulares, principalmente quando se trata de crianças e podem ser enriquecidos com elementos produzidos a partir de outros instrumentos.

o DESENHO: instrumento elaborado pela pesquisadora, pelo qual os alunos deveriam manifestar-se sobre suas alegrias e tristezas na escola. O desenho é visto por González Rey (2005a) como possibilidade de gerar sentidos subjetivos de forma diferente da palavra e, na presente pesquisa, esteve associado a dinâmicas conversacionais sobre o produzido.

o “COMO ME SINTO”: instrumento elaborado pela pesquisadora a partir

de dez situações observadas anteriormente em sala de aula, pelo qual o aluno deveria posicionar-se em relação à emocionalidade gerada (fichas com expressões faciais), argumentando sobre sua escolha.

o “MUDANDO VOCÊ”: instrumento elaborado pela pesquisadora,

segundo o qual a pesquisadora contaria aos alunos uma história, em cujo enredo cada aluno encontrava-se com um gênio, o qual lhe concedia pedir três mudanças em si mesmo. A partir da história ouvida, o aluno deveria escolher quais mudanças gostaria de fazer e argumentar a respeito de sua escolha.

o “ESCOLHAS”: instrumento elaborado pela pesquisadora, consistindo em dez situações em que o aluno deveria escolher alguém, de um conjunto de trinta imagens, para fazer algo junto, solicitar ajuda para alguma tarefa, fazer algo em seu benefício e outras.

o COMPLETAMENTO DE FRASES ILUSTRADO: instrumento elaborado pela pesquisadora, inspirado no completamento de frases proposto por González Rey e Mitjáns Martinez (1989), feito em forma de fichas ilustradas, utilizadas em forma de jogo com regras criadas pelo próprio aluno.

o “LINHA DA VIDA ESCOLAR”: instrumento elaborado pela

pesquisadora, pelo qual o aluno deveria construir uma linha da vida escolar, pelos meios que julgasse pertinentes (desenho, colagem, escrita).

c. Instrumentos apoiados em indutores escritos: esses indutores têm por objetivo “facilitar expressões do sujeito que se complementam entre si, permitindo-nos uma construção, a mais ampla possível, dos sentidos subjetivos e dos processos simbólicos diferentes que caracterizam as configurações subjetivas do estudado” (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 51).

o

REDAÇÃO - “QUEM SOU EU”: as redações possibilitam a elaboração

pessoal e contribuem muito na produção de indicadores quando somadas aos instrumentos abertos, que são mais suscetíveis de distorções intencionais da pessoa. Nas redações, são utilizados três critérios de análise: conteúdo, vínculo afetivo e elaboração pessoal. “A redação tem a vantagem de seu caráter ser totalmente aberto, o que permite obter uma informação individualizada, portadora de múltiplos indicadores relevantes” (GONZÁLEZ REY & MITJÁNS MARTÍNEZ, 1989, p. 94).

o COMPLETAMENTO DE FRASES: instrumento criado por González Rey e Mitjáns Martínez (1989), que consiste em indutores curtos diretos e indiretos, o que acaba convertendo-se em uma fonte de indicadores capazes de gerar hipóteses, principalmente sobre a configuração subjetiva. Na presente pesquisa, foi utilizada uma versão adaptada reduzida contendo vinte frases para os alunos, e uma versão adaptada com setenta frases para os professores.

o EXPLORAÇÃO MÚLTIPLA: técnica orientada basicamente para o estudo dos indicadores funcionais: a flexibilidade e a capacidade de

estruturação do campo de ação. No uso do presente instrumento, orientamo-nos pela adaptação feita por Mitjáns Martinez (2003b).

o QUESTIONÁRIO ABERTO: instrumento elaborado pela pesquisadora,

orientado pelas considerações de González Rey (2005a), que destaca a importância de que as perguntas sejam em número reduzido e voltadas à construção em torno do tema. Foi direcionado aos professores, para que se manifestassem sobre cada aluno da pesquisa.

o “MUDANÇAS”: instrumento elaborado pela pesquisadora, com cinco grupos sociais dos quais o aluno faz parte, por meio do qual deveria sinalizar como estava no ano anterior e atualmente.

d.

Momentos informais: muitas vezes, na informalidade, os sujeitos manifestam elementos que estavam obscurecidos ou que não se sentiram à vontade para manifestar nos momentos formais. Pela dimensão comunicacional e dialógica da Epistemologia Qualitativa, as informações obtidas na informalidade têm a mesma legitimidade que aquelas que foram obtidas por meio dos demais instrumentos. Os momentos informais tanto podem ser os criados a partir das relações espontâneas com os participantes como os decorrentes da interação com os instrumentos da pesquisa, pelos indutores diretos e indiretos ali contidos. Nessa perspectiva, o pesquisador além de ser sujeito participante, “converte-se em sujeito intelectual ativo durante o curso da pesquisa. [...] O pesquisador e suas relações com o sujeito pesquisado são os principais protagonistas da pesquisa” (GONZÁLEZ REY, 2002, p. 57).

e.

Análise documental: normalmente, é feita a partir dos escritos, mas podem ser utilizados cartazes, murais, fotografias, etc., que já tenham sido produzidos, que existam independentemente da ação do pesquisador. É importante saber em quais condições foram elaborados e associá-los a outros instrumentos. Lüdke e André (1986) consideram que a análise documental é muito valiosa para a pesquisa qualitativa, porque dela podem surgir evidências que reforçam ou confrontam as informações obtidas por outros instrumentos; os documentos podem ser reiteradamente revistos, requerem apenas investimento de tempo do pesquisador; é

uma fonte não reativa, o que permite ao pesquisador acessá-la mesmo quando da ausência do sujeito. Sobre a forma de análise, destacam que, como em qualquer análise qualitativa, o papel do pesquisador é essencial, pois “é um processo criativo que exige grande rigor intelectual e muita dedicação” (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p. 42). Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999) reforçam a importância e validade dos documentos, alertando que o pesquisador deve saber por quem os documentos foram produzidos e com que intencionalidade, para poder fazer o devido filtro crítico na análise das informações. Na presente pesquisa, os documentos foram utilizados como fonte de informação na caracterização do sujeito, para esclarecer indicadores elaborados nos instrumentos e para sinalizar alguns elementos investigados da história do sujeito.

o PASTA DO ALUNO: conjunto de documentos de uso da secretaria da

escola, contendo a história escolar do aluno: cópia dos documentos pessoais, relatórios de aprendizagem de anos anteriores, registro de ocorrências escolares, como advertências e sansões, fichas de encaminhamento para profissionais especializados, diagnóstico de profissionais, entre outros.

o RELATÓRIO DO ALUNO: faz parte da pasta do aluno e é realizado

pelos professores ao final de cada bimestre, de forma descritiva, contendo informações sobre as conquistas e dificuldades do aluno naquele período.

o CADERNOS DO ALUNO: o caderno é um registro fortemente influenciado pela emocionalidade de cada aluno diante da atividade: forma de organização, empenho na realização das atividades, criatividade, entre outros.

o FICHA DO CONSELHO DE CLASSE: preenchida pelo professor ao final de cada bimestre, na qual aparecem em destaque os alunos que precisam de algum tipo de intervenção, seja junto à família, a profissionais especializados ou mesmo no âmbito da escola.

f. Observação: consideramos que a observação permite identificar comportamentos intencionais ou não-intencionais em seu contexto temporal-espacial, independentemente da capacidade verbal expressiva dos sujeitos, possibilitando o confronto com informações obtidas por meio dos instrumentos. Este não é um meio

de produção da informação que apareça na obra de González Rey para a pesquisa qualitativa, possivelmente porque a subjetividade não está no nível das coisas que possam ser observadas, como já discutimos anteriormente. Lüdke e André (1986) salientam que nossa tendência a observar está muito influenciada pela história pessoal e bagagem cultural, e que o pesquisador, para garantir que a observação tenha validade e fidedignidade científica, precisa planejar a observação, definindo o que e como vai observar. As autoras consideram que, metodologicamente, a observação pode ser dividida em duas partes: uma descritiva, em que o pesquisador faz um registro detalhado do campo, e uma reflexiva, na qual o observador registra suas especulações, sentimentos, impressões, ideias, dúvidas, surpresas. Na presente pesquisa, a observação foi utilizada como recurso para perceber o movimento dos sujeitos na relação com o outro (professores expressando suas opiniões sobre os alunos, professores conversando com alunos, reação dos alunos diante da postura assumida pelo professor a seu respeito, reação dos alunos diante da postura assumida pelo professor diante dos colegas, reação dos alunos na ausência dos professores, reação dos alunos junto aos colegas da escola, alunos expressando sua opinião sobre os professores, etc.), levantando e reforçando indicadores formulados no processo da pesquisa. A seguir, apresentamos alguns dos momentos em que participamos como observadores:

o CONSELHO DE CLASSE: realizado bimestralmente entre os

professores, direção e equipe pedagógica, para indicar alunos com dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, entre outros, bem como decidir em conjunto quais as providências a serem tomadas e quem ficará responsável pelas mesmas. Participamos de três momentos em 2008 e de um em 2009.

o REUNIÃO PEDAGÓGICA: realizada semanalmente com os

professores, para discussão da equipe pedagógica sobre temas relevantes, informativos, etc. A participação da pesquisadora ocorreu somente nos momentos em que foi possível conciliar os horários, devido às diversas atividades de pesquisa que desenvolveu com os alunos.

o COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: momento em que os professores

estudam e organizam suas aulas, em horário contrário ao dos alunos (dois a três dias por semana).

o INTERVALO DAS AULAS: no pátio da escola e na sala dos professores, nos dias em que esteve presente na escola (de dois a três dias por semana).

o AULAS: realizadas em sala, no laboratório de informática, na biblioteca (de dois a três dias por semana).