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Os novos espaços e lugares criativos: The creative centres

No documento Momentum : Centro cultural e criativo (páginas 38-44)

CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. DINÂMICAS DE SUCESSO PARA O FUTURO

2.2. Os novos espaços e lugares criativos: The creative centres

Tal como já foram abordados ao longo do trabalho, os clusters e os centros criativos são muito mais do que simples lugares ou simples negócios. Estão relacionados tanto com as artes, como com a cultura, com a troca de conhecimentos, com a investigação científica e tecnológica, com as tendências do futuro, com aspectos sustentáveis e ecológicos, com pensamentos associados ao global thinking, com atividades turísticas e muito mais, sendo que, contribuem tanto para a liberdade de expressão, como para a geração de novas ideias e soluções, produtos e serviços ou até mesmo para aumentar o fluxo turístico de uma determinada região.

Estes centros caracterizam-se por se encarregarem por todas as etapas de produção dos produtos e/ou serviços culturais e criativos, até ao seu consumo, sendo que, estas etapas devem obedecer ao uso de processos criativos e inovadores em todas as suas fases, bem como, integrar características culturais e autênticas da região em que atuam, estimulando e promovendo o crescimento económico e cultural dessa região.

Os centros criativos são espaços que detêm um papel bastante relevante tanto na relação benéfica com os diferentes sectores económicos, como em relação a aspectos genéricos a todas as sociedades, uma vez que, são um factor essencial para aumentar as vantagens competitivas sobre os concorrentes por contribuírem para a atração, retenção e formação de pessoas e negócios criativos. São lugares que aumentam a capacidade de resiliência de toda a envolvente em que se inserem, dão garantias de sucesso económico devido à prática das suas indústrias e atividades de carácter criativo e inovador, promovem o

trabalho em colaboração, valorizam a inclusão social e crescem onde haja um património rico, recursos exclusivos e abundância de aspectos multiculturais (HUI:2006).

Os centros criativos têm como intuito reunir indivíduos e grupos de criativos, levando a que estes criem sinergias entre si e desenvolvam novas ideias, produtos e serviços, não só para bem da comunidade local, como também para alcançar objectivos turísticos e promover a identidade cultural regional. Por essa razão, os centros criativos por norma abrangem diversas áreas, desde aquelas associadas às artes e à cultura, até às disciplinas relacionadas com as ciências e tecnologias, aumentando as probabilidades dos criativos serem atraídos e desenvolverem novos conceitos, métodos, ideias, soluções e por aí adiante, na região em que se encontram.

O desenvolvimento de centros criativos satisfaz os desejos e as necessidades das novas gerações, revelando ser um instrumento de desenvolvimento crucial para as sociedades do futuro, uma vez que, têm a capacidade de converter espaços devolutos, normalmente antigas fábricas em que os seus negócios foram transferidas para países orientais, em lugares obrigatórios de visita, aumentando exponencialmente o seu valor, bem como, o melhoramento de toda a envolvente local, quer a nível de novos investimentos na requalificação do espaço urbano, quer na abertura de novos negócios associados às indústrias e atividades culturais e criativas, serviços de restauração e alojamento, equipamentos turísticos e muitos outros transversais a toda a economia.

A criação destes lugares renova a vida das comunidades onde estes estão inseridos que, para além de gerarem novos empregos, desempenham trabalhos relacionados com a arte, com a cultura e com os recursos locais, provando ser uma opção estratégica de sucesso para o desenvolvimento das sociedades. Os centros criativos fornecem as condições necessárias para que as atividades criativas, como a música, o design, a moda, a pintura, a dança, etc., possam ser exploradas e comercializadas em praticamente qualquer lugar do mundo. Isto é, os centros criativos proporcionam o desenvolvimento das próprias regiões, dependendo apenas do contexto, da cultura e da presença de recursos característicos e autênticos de cada lugar para alcançar e até superar os objectivos das diferentes estratégias delineadas segundo as exigências de cada região.

Geralmente, estas indústrias tendem a agrupar-se para que possam extrair maiores vantagens e benefícios, tais como, tornar o próprio lugar mais atrativo e credível a nível internacional, proporcionar melhores níveis de rentabilidade e produtividade nos seus processos e etapas, facilitar a criação de parcerias e partilha de conhecimentos, etc., e também porque os locais de eleição que estas indústrias escolhem para se fixarem, por norma,

correspondem a espaços fabris de grandes dimensões e com inúmeros edifícios abandonados na sua envolvente, perfeitos para serem transformados em estúdios, ateliers, oficinas, residências artísticas, salas de pintura, de design e de edição, espaços de restauração e de lazer, galerias e espaços para espetáculos e ainda em muitas outras áreas de carácter multifuncional e mercantil, seja para usufruto dos artistas das áreas mais criativas e inovadoras emergentes, seja para os membros da comunidade local, empreendedores ou para qualquer individuo que visite estes lugares (LANDRY:2012).

Muitos dos bairros criativos têm origem na ocupação e posterior aglomeração de indústrias e atividades culturais e criativas em áreas degradadas dentro dos centros urbanos ou nas suas periferias, como por exemplo, antigas plataformas industriais e estaleiros, antigas fábricas militares, palacetes, espaços religiosos abandonados, escolas e hospitais fora de serviço, etc. atuando como um efeito âncora no desenvolvimento sustentável de uma nova economia nessa região, bem como, contribuindo para a reabilitação não só dos espaços abandonados e devolutos, mas também de toda a envolvente. Assim, podemos deduzir que a estimulação da concentração e a consequente aglomeração de indústrias e atividades culturais e criativas numa determinada região, promove autonomia e crescimento económico regional (UNCTAD:2008), permitindo que, tanto pessoas individuais como empresas e até nações cooperem entre si, formando novas parcerias e originando novas ideias, conceitos, produtos e serviços, tendo como objectivo, não só diminuírem custos, como também aumentarem as probabilidades de alcançarem maiores níveis de produtividade, eficiência, credibilidade e sucesso no futuro.

Os centros criativos funcionam como um íman de atração de capital criativo, uma vez que, proporcionam a oportunidade para que qualquer indivíduo possa usufruir de espaços totalmente equipados e dotados de todas as condições necessárias e imprescindíveis para os talentosos idealizarem, produzirem e comercializarem os seus produtos e serviços culturais e criativos, quer aqueles de características tangíveis, quer intangíveis, tanto para consumo das comunidades locais, como de todos aqueles que visitam estes lugares. É uma oportunidade que as regiões devem aproveitar para aumentar o seu reconhecimento e a sua imagem a nível internacional e ainda para satisfazerem as novas tendências de consumo e estilos de vida emergentes.

Em muitas regiões do mundo, os centros criativos já representam grande parte do total de postos de trabalho, desempenhando um papel de liderança nas estratégias regionais orientadas para o crescimento económico sustentável. Na europa, o sector cultural e criativo é responsável pela geração de mais de 12 milhões postos de trabalho a tempo inteiro,

correspondendo a cerca de 8% do total de emprego da União Europeia, contribuindo com aproximadamente 509 000 milhões de euros em valor acrescentado no PIB (UNCTAD:2018).

Desta forma, os centros criativos devem ser vistos como uma ferramenta capaz de impulsionar o crescimento e desenvolvimento económico transversal a todas as indústrias e sectores, consistindo no ponto de ligação do uso da criatividade nos mais diversos sectores económicos através da disponibilização de espaços colaborativos que proporcionam as condições favoráveis para que os criativos comuniquem e dialoguem de acordo com os obstáculos e necessidades dos diversos sectores, trocando conhecimentos e estimulando o networking, com vista a gerarem novas soluções, parcerias, ideias, negócios, produtos e serviços que favoreçam não só o desenvolvimento micro, mas principalmente a evolução global.

Assim, estes espaços apostam em estratégias de crescimento pessoal, na potenciação dos seus recursos, bem como, no desenvolvimento cultural, tecnológico, político, social e ambiental, através do uso da criatividade e da inovação, e diferenciam-se dos lugares tradicionais devido ao seu ambiente informal e descontraído e, sobretudo, devido à diversidade e autenticidade inerentes à sua oferta, satisfazendo objectivos quer sociais, quer turísticos, quer culturais, quer económicos, quer ambientais ou qualquer outra temática que agreguem.

O aparecimento dos centros criativos, espaços onde cada indivíduo pode idealizar, conceber, testar e comercializar novas ideias, produtos e serviços, é um tema de sucesso que se tem vindo a alastrar por todo o mundo, pois, viabilizam a criação de inovações e avanços tecnológicos frutíferos, estimulam a produção de experiências únicas onde, em alguns casos, os consumidores passam a criadores, contribuem para a regeneração urbana e para a melhoria do sistema educativo, combatem os níveis de pobreza local, tomam medidas que valorizam a integração social, promovem o acesso ao conhecimento e a outras culturas de vida, aumentam os níveis de qualidade de vida individuais e regionais, bem como, de satisfação no trabalho, proporcionam oportunidades e estratégias de sucesso tanto para indivíduos particulares como para empresas, valorizam o envolvimento da comunidade e dos seus visitantes, exploram vantagens e benefícios quer genéricos quer específicos, entre muitas outras mais-valias, levando a que a aglomeração de criativos cresça, formando bairros com elevados níveis de atratividade e de desenvolvimento.

Assim, não só inúmeras regiões do planeta mas também diversas marcas e empresas de renome têm vindo a valorizar e a procurar cada vez mais a atração e a retenção de departamentos criativos nas suas estruturas para que estes, em associação com as restantes

áreas pré-existentes das respectivas organizações, colaborem e produzam sucesso, vantagens competitivas, melhorias na capacidade de resiliência, bem como, grandes progressos no desenvolvimento económico sustentável da própria estrutura onde operam.

Embora as regiões devam incentivar a construção de centros criativos com vista a atrair e reter os criativos entre a sua população para obterem sucesso e desenvolvimento económico, o interesse das empresas não trata necessariamente de trazer estes indivíduos para onde operam ou, por outro lado, a mudarem toda a sua estrutura para regiões que detenham elevados índices de indivíduos criativos, apesar de ser a decisão mais conveniente e mais vantajosa quer para a própria estrutura, quer para a região. Estas empresas, com vista a manterem-se competitivas no mercado, têm então a necessidade de trabalhar em parceria com departamentos criativos e indivíduos talentosos, sendo que, estes tendem a instalar-se em regiões onde aspectos como o clima, a segurança, a qualidade de vida, o nível cultural, os incentivos e as oportunidades de trabalho segundo estratégias e processos criativos que estimulem o potencial criativo e assim promovam o aumento dos níveis de criatividade e inovação e, consequentemente, de produtividade e eficiência, sejam valorizados e dados como garantidos, uma vez que, estes são factores básicos para satisfazer as exigências dos criativos, bem como, responsáveis por gerarem sucesso.

Para além de todos os factores antes enumerados, os centros criativos são reconhecidos por implementarem medidas e estratégias com fortes vertentes de consciência ambiental e de inclusão social, atuando como uma alternativa aos estilos de vida tradicionais e como uma ferramenta estratégica na valorização da cultura da região onde se inserem de forma sustentável, uma vez que, criam oportunidades de desenvolvimento de competências pessoais em ambientes colaborativos, angariam financiamentos com o objectivo de apoiar os seus colaboradores e fornecedores locais, potenciam o sucesso de negócios mais conscientes, revitalizam toda a sua envolvente e ainda criam parcerias internacionais com o objectivo de solucionar problemas globais de naturezas diversas e muito mais (RICHARDS:2007).

Desta forma, com o intuito de salvaguardar o crescimento económico, bem como, inúmeros outros factores relevantes para o sucesso dos diversos sectores e indústrias das sociedades no mercado atual e futuro, estas devem então reformular as suas políticas e estratégias de acordo com as necessidades impostas pelos centros criativos, uma vez que, tal como têm vindo a ser referidas, os centros criativos contribuem com inúmeras vantagens e benefícios para as regiões onde operam, entre elas:

Ø Reforço da competitividade do sector cultural e criativo e das restantes indústrias em que opera;

Ø Aumento dos níveis de diversidade da oferta e da procura;

Ø Aumento de transações de obras culturais e criativas, bem como, melhorarias o acesso às mesmas reforçando o sector cultural e criativo;

Ø Apoio na exploração de recursos endógenos aumentando o número de exportações e reduzindo o de importações;

Ø Contribuição para o aumento da visibilidade e da atratividade da região; Ø Promoção de um crescimento mais consciente, sustentável e inclusivo;

Ø Melhorias na geração de parcerias internacionais facilitando a comunicação e as relações entre indústrias de todo o mundo;

Ø Contribuição para o aumento das motivações dos viajantes para maior circulação e aumento do fluxo de turistas, em especial, criativos na região;

Ø Avanços no sistema de educação através da formação de capital criativo; Ø Estimulação de novas ideias, perspectivas de vida e postos de trabalho.

No documento Momentum : Centro cultural e criativo (páginas 38-44)