CAPÍTULO I – AS RELAÇÕES PÚBLICAS
4. Os papéis e funções dos profissionais de Relações Públicas nas organizações
mais variadas formas» (Theaker, 2013, p. 17), e, nessa medida, têm, impreterivelmente, um carácter multifacetado e necessitam, por conseguinte, de um variado leque de competências que lhes permita, não só adquirir um amplo e profundo conhecimento da organização, da envolvente, dos stakeholders e dos canais e suportes de comunicação, como também dominar várias ferramentas e técnicas de comunicação e gestão, para conceberem e aplicarem estratégias de comunicação eficazes.
6 “Benchmarking” é o processo que permite a comparação das performances das organizações e respetivas funções ou processos face ao que é considerado o melhor nível, visando não apenas a equiparação dos níveis de performance mas também a sua superação (Comissão Europeia, 2002), pois a avaliação e comparação permitem apoiar o processo de melhoria constituindo uma forma de aprendizagem, dado que a procura de melhores práticas implica uma análise cuidada das diversas formas de implementação dos processos e dos métodos de trabalho (icBench, 2012).
Desenvolvendo a sua atividade internamente (in-house), como consultores ou como profissionais liberais, isto é, sem vínculo contratual à organização (freelance), em qualquer setor, área de atividade ou organização, os profissionais de RP podem desempenhar diferentes papéis (Tench & Yeomans, 2006).
Pese embora Dozier & Broom (1995) distingam os papéis dos RP nas organizações sobretudo enquanto técnico ou gestor de comunicação, aqui adotamos a proposta de Steyn (1999), que conceptualiza três papéis base desempenhados pelos profissionais da comunicação: o de estratega, o de gestor e o de técnico.
Apesar de a autora ter utilizado, em 1999, a denominação “estratega” e posteriormente, em 2009, renomeado este papel para “estratega reflexivo” (reflective strategist), defendendo que, neste papel o profissional de RP está principalmente focado na reflexão estratégica, neste trabalho utilizaremos a designação original – estratega, dado
consideramos que um estratega tem obrigatoriamente uma forte componente reflexiva (Steyn, 1999, 2009).
Steyn (1999, 2007, 2009) entende o profissional de RP estratega como aquele que se envolve ao nível máximo da hierarquia organizacional. Na sua opinião, o profissional como estratega faz uma análise da envolvente e reúne informações estratégicas sobre os públicos (preocupações e/ou expetativas), interpreta a informação recolhida, faz a avaliação de riscos para a reputação ou de outros assuntos relevantes e com base no conhecimento produzido sustenta, influencia e contribui para a formulação estratégica e processo de tomada de decisão da organização. Na sua ótica, a atuação do profissional de RP neste papel é de fora para dentro (outside-in approach) e trabalha ao nível macro da organização.
Como gestor, ao nível meso, defende a autora, o profissional de RP desenvolve a estratégia de comunicação da organização. Assume na estrutura da organização um nível funcional, adotando uma abordagem de dentro para fora (inside-out approach). O profissional de RP, enquanto gestor, faz o planeamento estratégico da comunicação, identifica o que e quando deve ser comunicado com os diversos stakeholders, internos e externos e é responsável por transmitir para o exterior a identidade e os valores da organização (Steyn, 2007, 2009).
Enquanto técnico, ou operacional, o profissional de RP desenvolve a estratégia de execução, a um nível micro da organização. Adota também, de acordo com a autora, uma abordagem inside-out, apoia as estratégias definidas ao nível organizacional e funcional, desenvolve e implementa atividades que operacionalizam e suportam essas mesmas estratégias, definindo a melhor forma de concretização para atingir as metas determinadas, tendo em conta a missão e os objetivos da organização (ibidem).
Steyn (1999, 2007, 2009) defende, como visto, o profissional de RP como estratega, gestor e técnico, atuando aos três níveis organizacionais – micro, meso e macro. E, no nosso entendimento, é esta a distinção que melhor retrata o papel do profissional de RP nas organizações.
Já em termos de funções, ou áreas de intervenção dos profissionais de RP, estas não são simples de definir linearmente e Bivins (2011) refere mesmo a este respeito que, as RP são «um pacote eclético que engloba um grande número de descrições de cargos e funções» (p. 3).
O espectro de ação das RP nas organizações é, de facto, muito vasto e os profissionais desempenham nas organizações uma série de atividades de comunicação, que podem também ser agrupadas e entendidas como áreas comuns, funções, partes da função ou áreas de intervenção (Lesly, 1997; Tench & Yeomans, 2006; Cutlip, Center & Broom, 2009).
Dado que na literatura de referência a designação das várias funções das RP raramente são semelhantes ou coincidentes entre si, optamos por apresentar na Tabela 1, uma síntese daquelas que são consideradas as principais.
Tabela 1 - Principais funções das Relações Públicas
AUTORES FUNÇÕES
(Prout, 1997)
Public Relations Policy Corporate Statements Corporate Publicity Product Publicity Government Relations Community Relations
AUTORES FUNÇÕES Inventory Relations Institutional Promotion Corporate Donations Employee Publications Guest Relations
Coordinating and Integrating Miscellaneous (Fawkes, 2004) Internal Communications Corporate PR Media Relations Business to Business Public Affairs
Community Relations/Corporate Social Responsability Investor Relations Strategic Communication Issues Management Crisis Management Copywriting Publications Management Events Management, exhibitions
(Viegas Soares & Marques Mendez, 2004) Corporate Advertising Sponsoring Media Relations Internal Communication Financial PR Marketing Communication Fairs and Exhibitions Research and Evaluation Publications Production Multimedia Production Events Management
(Wilcox, Cameron & Xifra, 2006)
Assesoría Investigación
Relaciones com los médios de comunicación Publicity
Relaciones con los trabajadores/miembros Relaciones con la comunidad
Asuntos públicos
Asuntos gubernamentales Géstion de conflictos potenciales Relaciones financieras
AUTORES FUNÇÕES Relaciones sectoriales
Desarrollo / Captación de fondos
Relaciones multicultares / diversidad del lugar de trabajo
Acontecimientos especiales Comunicación de marketing
(Argenti, 2007)
Reputation Management
Corporate Advertising and Advocacy Media Relations
Marketing Communications Internal Communications Investor Relations
Corporate Social Responsability Government Relations
Crisis Management
(Cutlip, Center & Broom, 2009) Internal Relations Publicity Advertising Press Agentry Public Affairs Lobbying Issues Management Investor Relations Development
Nota. Adaptado de “3rd sector PR or when Community is our main stakeholders,” de M. Eiró-Gomes & T. Nunes, 2012, Sinergie, revista di studi e richerche, 89, p. 172.
Como podemos verificar, são muitas as áreas de intervenção das RP, diferenciadas e nomeadas de forma distinta, de autor para autor. Importa-nos, contudo, sublinhar que, a Comunicação Interna é uma das suas principais funções, apesar de ser referida, pelos vários autores, sob diferentes designações, como por exemplo “Relaciones con los
trabajadores/membros” (Wilcox, Cameron & Xifra, 2006), ou “Internal Relations”
(Cutlip, Center & Broom, 2009).
Ainda que não consideremos atualmente “Employee Publications”, como designa Prout (1997), uma função per se, entendemos que esta denominação se relaciona com as origens da CI e consideramos que as publicações internas, ou suportes internos, servem o propósito estratégico da CI, como defenderemos mais à frente.
De acordo com o que fica exposto neste capítulo, as RP são multifacetadas e apresentam diversos benefícios para qualquer organização, seja em que setor ou área de atuação for e, em virtude disso são, e muito provavelmente continuarão a ser, fundamentais no mundo organizacional.