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Os paradigmas curriculares para a Inovação Pedagógica

3. OS CAMINHOS PARA A INOVAÇÃO EDAGÓGICA

3.2 Os paradigmas curriculares para a Inovação Pedagógica

A escola que foi criada na revolução industrial, idealizada para formar os trabalhadores fabris daquela época é a escola atual do sistema do ensino da sociedade brasileira. Esta escola sofreu algumas alterações organizacionais, mas mantém o mesmo padrão curricular.

Perrenoud (2005, p. 10) afirma que a escola atual apresenta um discurso meio convincente, mas, tem uma prática tão distante do discurso que leva a

sociedade a não acreditar mais na escola. A escola diz uma coisa e faz outra. Mostra concepções e correntes pedagógicas que sugerem mudanças significativas, mas ainda não transformou seu discurso em prática na sala de aula.

Apple (2006) afirma que:

(...) Uma função tácita importante da escolarização parece ser o ensino de propensões de valores diferentes para diferentes populações escolares. Se considerar que um grupo de alunos possui futuros membros de uma classe profissional e administrativa, as escolaridades, escolha, pesquisa, etc. Se por outro lado, a destinação provável dos hábitos etc. Essas expectativas são reforçadas pelos tipos de currículo e testes que as escolas dão e pelos rótulos afixados a diferentes tipos de aluno. Assim, o conhecimento formal e informal ensinados nas escolas, os procedimentos de avaliação, etc., precisam ser analisados em conexão com outros aspectos, ou não percebemos boa parte de sua real significação. Essas práticas cotidianas da escola estão ligadas a estruturas econômicas, sociais e ideológicas que se encontram fora dos prédios escolares. Essas relações precisam ser desveladas tanto hoje quanto no passado. Será apenas o passado que nos interessará agora (APPLE, 2006, p. 105).

Para atender à complexidade da sociedade atual, a escola precisa enxergar o retrocesso de sua prática reprodutiva e fragmentadora de conteúdos e se reinventar. As novas concepções e teorias curriculares já sugerem caminhos para esta reinvenção da escola.

Percebe-se nas abordagens das teorias críticas do currículo, quando os teóricos defendem a construção de um currículo que acompanhe as mudanças, compreendendo a sua essência. Neste sentido, a composição curricular deve centrar-se na dialogicidade entre conhecimentos/saberes, cultura, política, e economia para a construção de um currículo dialético, democrático e coerente com a formação cidadã dos indivíduos.

Os mecanismos de condução da mesma na luta em prol da descentralização. A educação está intimamente ligada à politica da cultura. O currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimento, que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aulas de uma nação. Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. É produto das tensões, conflitos e concepções culturais, politicas e econômicas que organizam e desorganizam um povo. (APPLE, 1993, p. 59).

Nesta compreensão, a educação escolar deve refletir sobre as relações entre conhecimento, poder e cultura implícita em sua prática, elaborando novas posições metodológicas, capazes de despertar a consciência crítica nos educandos. Este é um dos caminhos para a construção de novos paradigmas curriculares para a Inovação Pedagógica.

Diante dos gigantescos problemas que o sistema de ensino brasileiro enfrenta, diga-se de passagem, que o comodismo social ainda prevalece na prática pedagógica de muitas escolas. Vale ressaltar ainda que mesmo com as abordagens dos mecanismos didáticos metodológicos das tendências pedagógicas descritas por Libâneo (1990), o sistema de ensino não conseguiu romper com o modelo de ensino tradicional. Ainda se faz alunos reproduzirem e memorizar conteúdos. Sobre as dimensões de ideologia e cultura do currículo, Moreira e Silva, (1995) salientam que o currículo deve ser encarado numa:

[...] perspectiva mais ampla de suas determinações sociais, de sua história, de sua produção contextual. O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares [...], (MOREIRA e SILVA, 1995, p. 78).

As críticas ao currículo tradicional produziram movimentações que fortaleceram as discussões em prol da reelaboração curricular com vista na inclusão dos conhecimentos heterogêneos e das multiculturalidades que ainda não estão totalmente contemplados no currículo escolar. A inclusão destes conhecimentos no currículo escolar faz parte do processo de construção de novos paradigmas educacionais.

É válido enfatizar que nenhuma concepção curricular se apresenta perfeita. Os currículos são produtos do pensamento humano objetivando um tipo de formação social como um fim. O currículo é também produto dos processos sóciohistóricos, culturais e políticos construtores da ideologia transcrita.

Sobre o contexto de formação educacional na concepção das correntes críticas do currículo, Giroux (1993) diz que:

Para os educadores, a preocupação modernista com sujeitos lúcidos, quando combinada com ênfase pós-moderna na diversidade, na contingência e no pluralismo cultural aponta para o objetivo de se educar os estudantes para um tipo de cidadania que não faça uma separação entre direitos abstratos e o domínio do cotidiano (...) (GIROUX, 1993, p.65).

As críticas feitas aos elaboradores de currículos em face das necessidades de analisar as mudanças sociais, os aspectos reais do processo educacional e as relações que se devem estabelecer entre o contexto social e a escola, são especificidades que o currículo na contemporaneidade precisa contemplar para a promoção da justiça social e o reconhecimento da heterogeneidade dos conhecimentos, conforme MacLaren (1993) e Cherryholmes (1993).

Como se pode ver, nas abordagens referentes aos novos paradigmas curriculares, a nova concepção de construção do currículo é dialética. O currículo deve conter o conjunto das vozes, dos saberes, sentimentos, fatores e valores e identidades dos agentes da sociedade sem supervalorizar determinadas culturas, ideologias, gêneros e fenômenos. Pois, o currículo ideal é elaborado no processo de reflexão contínua, sem se definir como pronto e acabado, mas, em construção à medida das alterações dos e nos contextos sociais. Vale dizer que o processo construtivo do currículo ideal não se esgota em reflexão, mas em reflexão, transformação, reorganização e reelaboração para definições e redefinições andando nos passos da complexidade.

3.3 As concepções de aprendizagem na visão do construtivismo e do