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Na apresentação inicial dos grupos focais, ocorreu uma dinâmica, com um balão. Esta teve como objetivo levantarmos dados sobre as preferências de leitura dos estudantes e suas competências para formular questionamentos sobre o tema aos colegas.

As delimitações para a dinâmica, nos dois grupos, foram as seguintes: o participante que recebia um balão deveria dizer o seu nome, responder, na sequência, a pergunta do colega e elaborar outra pergunta ao outro colega que receberia o balão na sequência. A dinâmica durou aproximadamente dez minutos em cada grupo. A partir dessa dinâmica emergiu a categoria “Os paratextos nos livros preferidos dos estudantes”. Este tópico surge como uma das unidades de sentido diante das referências de leitura dos participantes estarem atreladas aos elementos paratextuais das obras mencionadas por eles. A Figura 11 explicita como aconteceu a atividade proposta no Grupo 1.

Figura 11 - Preferências de leitura dos estudantes do G.1

Fonte: Elaborada pela autora, com base em dados da pesquisa (2019).

Conforme se observa na Figura 11, os participantes preferem livros que pertencem a uma série. Quando questionados pela pesquisadora sobre os títulos escolhidos, indicam elementos paratextuais, como, por exemplo, Ariel G.1: Eu já li

quatro livros da série, são muito bons; a busca por livros que fazem parte da mesma série demonstra que se sentem instigados pela continuidade das narrativas abordadas nas obras em Série. A autora também chama a atenção dos participantes, como a resposta de Cereja G.1: Eu? É porque eu acho legal assim, saber da história que a escritora conta, a Paula Pimenta, acho legal. É uma escritora bem legal. Cereja demonstra que o nome da autora orienta sua busca para ler outros livros.

Durante a dinâmica, surgiu a rejeição pela leitura por Leão G.1: Eu não sei. Eu não gosto muito de ler. Eu gosto de uma série sobre Criptografia. Entretanto, a atenção para uma série sobre Criptografia é levantada pelo participante, o que reforça ainda mais a preferência por séries neste grupo. Neste caso, a sua identificação com as obras que tratam sobre tecnologia remete à presença de elementos que constituem a sua realidade, contemporâneos a sua vivência.

A resposta de Serena G.1: Não sei. Leio os livros aqui da biblioteca, o que remete à importância do acervo literário infantil na biblioteca escolar. Em concomitância, refletimos como a mediação de leitura na escola poderia aproximá-la ainda mais de livros clássicos literários, o que lhe circundaria o prazer pela leitura.

Notamos que as perguntas foram apenas repetidas pelos participantes, a partir da primeira estudante, não houve tentativa de elaborar questões diferentes. Refletimos, nessa etapa da dinâmica, que não houve novos tópicos tratados em perguntas feitas aos colegas, de modo que, a partir da atividade, inferimos que os participantes apontaram pouca interação com as obras literárias.

A Figura 12, por sua vez, ilustra a dinâmica em relação às preferências de leitura dos estudantes do Grupo 2:

Figura 12 - Preferências de leitura dos estudantes do G.2

Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa (2019).

Diante dos dados postos, percebemos que no G.2 houve perguntas diversificadas, apenas dois participantes repetiram a questão: Qual foi o livro que você mais gostou de ler?; os demais elaboraram outras indagações sobre livros. Quando as perguntas tocavam em preferências, os títulos anunciados foram: Diário de um Banana, que faz parte de uma coleção, e Princesa Adormecida, de Paula Pimenta. Como no G.1, observamos no G.2 duas narrativas sobre o interesse deste público por livros em séries voltadas à literatura infanto-juvenil.

Acerca do livro mais lido na biblioteca, destacamos Lendas de um deserto. O referido título, destinado ao público infantil, é formado por contos árabes, tendo como cenário o deserto, cuja autoria pertence a Malba Tahan. O título foi lido mais de uma vez, e a participante reiterou a sua posição, buscou-o outras vezes, ou seja, existe a possibilidade de retirar o mesmo livro da biblioteca mais de uma vez. Também a estudante sentiu vontade de retornar ao livro, como se algo ainda não estivesse resolvido entre ela e o objeto livro.

Ainda sobre as perguntas, Luísa G.2 deseja saber o motivo que mobilizava a pesquisadora a investigar livros, indicando-nos a curiosidade sobre o encontro em que participa.

Segundo conversa informal com a professora da escola, que atua na biblioteca, todos os livros mencionados pelos estudantes faziam parte do acervo da

biblioteca escolar. Para tanto, como a nossa busca é voltada aos elementos paratextuais, observamos na voz das crianças, quando se referiam aos livros que mais gostavam, elementos de nosso interesse de investigação, como podemos ver a seguir:

Quadro 10 - Paratextos dos livros preferidos dos estudantes Livro mencionado como preferido para

leitura

Paratexto explicitado ao mencionar a escolha da obra.

Minha vida fora de sério Nome da autora - Paula Pimenta

Fazendo meu filme Nome da autora - Paula Pimenta

Série da criptografia ---

Diário de um Zumbi, do Minecraft. Título

Larissa Manoela Autora

Princesa Adormecida Nome da autora - Paula Pimenta

Diário de um Banana, versão em miniatura Título

Lendas de um deserto --- Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa (2019).

Fomos à procura dos autores mencionados pelos participantes, em sites, visto que as referências que tínhamos sobre os autores eram poucas.

Pimenta, segundo seu sítio oficial, revela-se da seguinte forma: “como sou escritora de livros cor de rosa”, sua identidade com o elemento paratextual das capas de seus livros já demonstra a sua intencionalidade com as cores para atrair o público leitor. O livro Fazendo meu filme 1 virou uma série de quatro volumes, lançado em 2001. Já em 2011, ocorreu o novo seriado Minha vida fora de série. O livro Princesa Adormecida, por exemplo, é uma releitura moderna do clássico infantil Bela Adormecida, sendo o primeiro livro de uma série de histórias de princesas, o que nos induz que há a presença da literatura clássica infantil voltada ao público participante da pesquisa.

Paula Pimenta teve a divulgação de seu trabalho nas redes sociais, ainda no Orkut, em 2008, o que perdura até o momento. Os estudantes são usuários de tecnologia e podem ter acesso aos epitextos sobre a autora em suas redes sociais. De acordo com Genette (2009, p. 40), quanto mais o autor é conhecido maior é a tendência de que sejam acessadas as suas obras. Nessa perspectiva, os próprios participantes falam sobre a sua preferência pela autora Pimenta, o que poderá aguçar a curiosidade de outros estudantes, diante dos gostos de leitura dos colegas. Larissa Manoela é conhecida, consoante denomina Genette (2009, p. 40), por razões que vão além da literariedade, uma vez que a autora é atriz e cantora e atuou

como protagonista em telenovela voltada ao público infantil, em um canal aberto, o que possibilita o acesso livre de todas as crianças.

Já nos títulos mencionados, constatamos que Diário de um Zumbi, de Minecraft, tem o nome de um jogo tecnológico. De acordo com Ramos (2010), para que haja leitura é preciso que o texto esteja no horizonte de expectativas do leitor, o que nos sugere que o jogo tecnológico pode ser um ponto de interesse do menino, uma vez que o instiga a buscar essa leitura. Já O Diário de um Banana, versão miniatura (pocket), é um dos livros da Série homônima, o que reforça a preferência deste grupo por narrativas que possuam continuidade.

Esta breve contextualização possibilitou-nos conhecer um pouco sobre o perfil dos estudantes que participaram da pesquisa e das suas vivências e interações com livros.