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A escolha dos modos de participação dos professores/colaboradores desse estudo foi definida a partir de minha inserção no Grupo de Trabalho (GT), já contextualizado na Introdução deste trabalho. Nossos participantes residem no assentamento 17 de abril, no município de Eldorado dos Carajás. Chamou-nos atenção o fato de, do início das formações realizadas pelo GT, março de 2011 até o encerramento, em agosto de 2013 – ocorrer a diminuição significativa, do número de educadores participantes do estudo (de nove para três sujeitos).

Diversos foram os motivos para os afastamentos, mas a maior parte deles é de ordem política. Nenhum dos educadores pesquisados é concursado e é recorrente que a cada mudança de prefeito ocorra a mudança de funcionários atuantes na educação do município. Esse fenômeno figura, em nosso entendimento, como prática comum no

interior de muitos estados brasileiros. A manutenção de contratos (professor temporário), e a não ocorrência de concursos, assegura ao contratante (prefeituras, secretarias de educação) que os contratados (professores entre outros profissionais) sintam-se “devedores” ao governo municipal que os empregou, agindo assim se garante eleitores, quase que certos, para as próximas eleições.

Os três educadores de nossa pesquisa - dois homens e uma mulher – Etelvina, Francisco e Ronildo38. Todos possuem formação no

curso Letras/Pronera, ocorrido de 2006 a 2009. Etelvina é casada, dois filhos, tem quarenta anos, e há treze é professora, também atua como vendedora de produtos de cosméticos e roupas. Estudou em escolas rural e urbana, aos sete anos foi pela primeira vez a escola, interrompeu por cerca de cinco anos seu percurso escolar, atuou como professora no programa PETI(Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), considera tardia a aprendizagem da leitura e escrita, em suas palavras ao lembrar de sua experiência com a escola: “eu tive experiências de::... não saber como lidar assim com as professoras os professores que me ensinaram a ler e escrever né?... eu não me lembro muita coisa não...acho que não gosto muito é de lembrar sabe?”. A professora não teve experiência com os movimentos sociais antes de morar no assentamento 17 de abril.

Francisco tem vinte e nove anos, é casado, dois filhos e atua há oito anos como professor de língua materna, atualmente exerce também o cargo de vice coordenador pedagógico, estudou em escolas rural e urbana, relata que a experiência numa e noutra instituição se diferencia, nas palavras do professor “foi muito diferente não a diferença foi porque na n/a zona urbana tinha energia e tudo na zona rural não era no motor ainda e ... diferença mesmo só na energia e tal (assim) o ambiente da roça é difícil né?”. Em sua trajetória escolar ficou um ano sem estudar, devido ao fato de não ter condições financeiras de se estabelecer na cidade. Ao falar de sua aprendizagem do ato de ler e escrever assevera que tinha muitas dificuldades de aprender: “sempre tive muita dificuldade... na verdade nunca fui bom com a leitura”. Antes de morar

38 A participação efetiva dos professores ocorreu mediante a assinatura do

Termo de Consentimento Livre Esclarecido, em anexo nessa pesquisa, bem como o cumprimento de todos os trâmites legais do Comitê de Ética da UFSC.

no assentamento 17 de abril não teve experiências com movimentos sociais, tampouco participou de ocupações de terras.

Ronildo tem trinta e um anos, é professor há oito, casado, e também trabalha como mototaxista39 no assentamento. Diferente dos

outros dois professores, Ronildo participou do processo de ocupação, como o mesmo afirma: “eu não tinha planos de ir pra lá não né? só que como por exemplo os meus pais se cadastraram lá no início aí eu senti uma necessidade assim de participar junto com eles mas assim eu não participei diretamente assim igual eles junto com eles todos os dias, porque tinha que ir para cidade estudar né? mas participei”. No relato, aponta que a experiência escolar se deu inicialmente em escola urbana, e depois foi estudar no assentamento, pois tinha que estudar e trabalhar, a fim de contribuir financeiramente com os pais. Ao falar de sua trajetória de aprendizagem da leitura e escrita enuncia que chegou à terceira série sem saber ler, e foi esse um dos motivos que o impulsionaram a querer ser professor.

Uma questão comum aos três participantes é à baixa ou nenhuma escolarização dos pais; os do educador Ronildo são os mais escolarizados, cursaram até a sexta série. Os pais de Etelvina frequentaram a escola até a quarta série e os de Francisco são analfabetos. A minha vivência com os participantes da pesquisa se iniciou na universidade, no denominado tempo acadêmico e no tempo comunidade, (anos de 2006/2007). Passados alguns anos, nos reencontramos em 2011/2012 no curso de formação continuada, motivo que alavancou o propósito dessa investigação, quando a formação ali acontecia e, ainda, no assentamento quando os encontros também ali se realizaram.

Apresentamos acima, de forma breve, os participantes desse estudo, bem como referências às suas trajetórias de vida, realizadas em contextos cambiáveis, que segundo Moita Lopes (2003,) “os espaços de interação profissional, lazer, e ativismo social, que evidenciam outras linguagens, somente apreendidas nas vivências, pois mesmo sendo professor, o mesmo sujeito exerce papeis diferenciados”. (MOITA

39 Profissional que trabalha em uma motocicleta transportando pessoas, seja

para cidade, seja para vilas próximas ao assentamento. Em alguns municípios brasileiros, essa classe de trabalhadores é regularizada e reconhecida, noutros é clandestina.

LOPES, 2003, p.22). São identidades sociais a viver, em “esferas diversas da sociedade, ao passo que não só se é professor, mas também homem, mulher, liderança política, entre outras atribuições”. (MOITA LOPES, 2003, p.25). E isso só é possível visualizar, interpretar, refletir, se vivenciarmos os contextos dos sujeitos. Nessa perspectiva, importa dizer que mais recentemente - em agosto/setembro de 2013 - estive novamente no assentamento, na escola, e na casa dos sujeitos, a fim de interagirmos nas rodas de conversas, e realização de novas entrevistas individuais.