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A presente investigação decorreu na província do Namibe (Angola), e com maior ênfase nas localidades do Município do Virei, na comuna do Cavelocamue, no Município do Tombwa, aldeia do Curoca e comuna do Yona, no Município da Bibala, aldeia do Kapangombe e no Município de Moçamedes. Estas localidades foram escolhidas tendo em conta a fluência do povo em estudo. Isto é, são localidades onde reside maior parte dos povos com saberes tradicionais originais locais. Como define Godoy (1995, p. 20), “a etnografia, na sua conceção mais ampla, pode ser entendida como a arte e a ciência de descrever uma cultura ou grupo”. Nesta senda, recorremos, por muitas vezes, ao método referidocomo via básica da pesquisa social. Observámos, escutámos e registámos dados depois de um estudo antropológico do grupo. Para a recolha de dados do estudo etnomatemático, participaram os autóctones, Mucabais e Himbas, que são os construtores de casas próprias em pau-a-pique, os praticantes dos jogos owela, okuyakelá, okuilila oyongombe, e outros, os fabricantes de artefactos como Eholo, batuque, ombongola, epateka, os fabricantes de enfeites e missangas. Foram de igual modo entrevistados informalmente algumas crianças e jovens do grupo sobre

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os dados ligados a contagem gestual e ordinal na localidade de Tchikolodjilo (Namibe- Angola), para sabermos até que ponto a aprendizagem da cultura flui no seio desta faixa etária, assim como perceber as habilidades que têm para dar informações. Para o nosso caso, tomámos como ponto focal o estudo de manufaturação do Eholo e Batuque, casas de pau a pique, assim como o sistema de numeração e contagem gestual destes povos. Dos informantes dos dados que obtivemos, três possuem um nível de escolaridade que possibilitou detalhar e reforçar a história do povo, bem como a construção de alguns artefactos, todos pertencentes à tribo em estudo. Em alguns casos, tivemos um tradutor, outros sabiam falar português mesmo sem passar pela escola. O suporte etnográfico foi-nos fornecido por um antropólogo e historiador local, para além dos manuais.

Os dados recolhidos foram obtidos no período de setembro de 2013 até princípios de fevereiro de 2018. Numa primeira fase, contactaram-se as autoridades governamentais. Posteriormente, fomos dirigidos dentro das comunidades por algumas pessoas idóneas . De salientar que os entrevistados referidos na amostra foram a nossa base de consulta, mas durante a investigação, houve alguns intervenientes no sentido de reforçar os dados e que não constam no ponto de amostra.

O método de recolha de dados utilizado neste estudo foi, principalmente, a observação participante. É uma fase de investigação que não deve passar despercebida, uma vez que a utilização deste método teve em atenção não só o tipo de estudo, mas também os participantes, o tempo disponível, bem como as suas vantagens e desvantagens. Não podemos fixar um momento exato para começar a recolha de dados. Ela tem o seu início antes mesmo de o autor assumir o compromisso para realizar o estudo planificado. Diríamos que teve início quando contactámos pela primeira vez com estes povos, ainda jovem, porque é com os conhecimentos então adquiridos que analizamos os dados.

Os métodos de observação direta constituem os únicos métodos de investigação social (à exceção de investigação-ação) que captam os comportamentos no momento em que eles se produzem em si mesmos, sem a mediação de um documento ou testamento, isto é, “entrar e compreender a situação que está a ser descrita” (Quivy e Campenhoudt, 2005, p. 164). Ideia reforçada por Tuckman (2000) quando refere que na investigação qualitativa, a observação visa examinar o ambiente através de um esquema geral para nos orientar, e o produto dessa observação é registado em notas de campo. Ainda nesta linha, Tuckman (2000) acrescenta que a observação é a melhor técnica de recolha de dados do indivíduo em atividade, em primeira-mão, pois permite comparar aquilo que diz, ou o que não diz, com aquilo que faz. O

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tipo de estudo em causa e as características dos profissionais desta tribo, contribuem fortemente para que se opte pelo registo de notas de campo, baseadas fundamentalmente na observação dos mesmos, o registo dos seus comentários, das suas explicações, recolha de desenhos de ornamentação dos objetos de uso tradicional, assim como as respostas dadas às questões apresentadas pelo investigador. Como afirmam Denzin e Lincom (citados por Mesquita, 2014), a técnica previlegiada para desenvolver estes processos é a observação participante, que inclui o uso de notas de campo, de entrevistas informais e formais ou a recolha de artefactos. Trata-se, assim, de uma abordagem investigativa cujo objetivo principal é a compreensão de uma determinada realidade social e cultural, mantendo-a intacta. Em contraposição à visão positivista de verdade (como representação ou reflexão do mundo, um mundo exterior aos sujeitos), as abordagens qualitativas, mormente as etnográficas, trazem outro conceito da verdade – uma verdade intersubjetiva (como construção reflexiva dos sujeitos participantes nos fenómenos sociais e culturais), não pondo em causa a busca de uma correspondência entre o objeto estudado e a teoria que se constrói. Foram cumpridas as recomendações ou regras estipuladas por Amado (2013), no seu manual de investigação qualitativa em educação, aquando do dever de cumprir o seguinte:

-Tratar os participantes como seres humanos; -Atender ao seu conforto físico e segurança; -Assegurar a privacidade dos participantes; -Esclarecer os meios usados para gravar a sessão; -Manter o foco no tema em questão;

-Manter as pessoas ativas exprimindo claramente a pergunta, dando tempo para que cada participante exprima (e grave) a sua resposta, facilitar a discussão das respostas (perguntas entre os participantes para o esclarecimento mútuo, reconsideração do posicionamento de cada um sobre o tema, etc.);

-Manter a discussão na linha pretendida (focando o tema); -Evitar a inibição dos respondentes;

-Certificar-se de que todos os respondentes contribuem, sem que uma opinião domine as outras ou seja preferida pelo moderador;

-Entre outras recomendações.

Trata-se, portanto, de um exame aprofundado sobre um tópico relevante para o estudo das comunidades Mucubais e Himbas, estudo pouco conhecido pelos participantes, mas relacionado com a vida quotidiana das pessoas destas tribos, e que produz um amplo corpo de

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conhecimentos expressos na própria linguagem dos participantes, nas respostas e do seu contexto.

Por outro lado, a recolha de dados para o estudo etnomatemático é reforçada com base em recolha documental, além das fotografias, entrevistas estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas, notas de campo, produções dos participantes (sobretudo nas áreas ligadas aos artefactos, contagem e sistema de numeração). A opção metodológica de investigação, foi pelo facto de o observador estar inserido no grupo observado, o que permite uma análise geral e intensa dos fenómenos em estudo. É uma investigação prática voltada a intervir na realidade social, com um caráter de avaliação qualitativa, pois é fundamental, mas não determinante. Logo, a observação participativa não é tudo, ela pode apresentar defeitos, a título indicativo, os participantes podem ser influenciados a ponto de não considerarem a realização da atividade com responsabilidade e podem dar respostas ao acaso, tendo em conta os segredos que existem na sua atividade profissional.

A nossa presença durante a investigação pode ser um motivo de influência positiva ou negativa na emissão das suas opiniões sobre o inquérito. Mas se o investigador fizer parte da comunidade étnica, as limitações referidas, no caso da observação participante, serão dissipadas pelo autor. No que concerne a investigação documental, servem para o efeito a revisão bibliográfica de várias obras, sobretudo aquelas desenvolvidas no campo da etnomatemática no continente africano e noutras partes do mundo. Do ponto de vista do grupo em estudo, estão ser revistas as obras literárias que tratam dos Mucubais e Himbas no campo etnográfico. As obras ligadas à educação matemática são preponderantes no enquadramento das matemáticas nas sociedades multiculturais e de obras relacionadas com o tratamento, análise e interpretação dos dados.

Um dos recursos usados para a recolha de dados foi a entrevista não estruturada. O investigador entrou em conversa com os autóctones, Mucubais e Himbas, através da senhora HM., FGC e do senhor MT., todos Mucubais, bem como da senhora LK.(Himba) e de um historiador, durante o trabalho de campo. Uma vez que o investigador não domina a língua, as autoridades governamentais locais indicaram-lhe os participantes na conversa de cada variante linguística. Cuja a caracterização dos entrevistados está pasmada na tabela 4.

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