• Nenhum resultado encontrado

Os Partidos das Candidaturas e como eles se localizam

Capítulo 3. Partidos Políticos, Candidaturas e o Financiamento de

3.4. Olhando a prestação de contas dos candidatos: o financiamento empresarial das

3.4.1. Os Partidos das Candidaturas e como eles se localizam

O primeiro passo foi observar se existiu algum padrão de distribuição de recursos das empresas aos partidos e alguns de seus posicionamentos, em 2006. É possível constatar maior proximidade do setor empresarial com um partido ou com um grupo de partidos alinhados ideologicamente? A posição do partido do candidato, em relação ao governo, leva a maior ou menor conquista de recursos de empresas? Assim, em um primeiro momento, a análise lidará com as distribuições que o conjunto total das empresas fizeram às candidaturas para deputado federal, buscando identificar se existe algum padrão partidário que defina o seu comportamento.

A Tabela 3.2 nos mostra a distribuição partidária dos recursos doados pelas empresas aos candidatos eleitos. Em 2006, o PSDB contava com o maior montante de recursos doados, com 22%, seguido pelo PMDB, com 18% e pelo PFL/DEM (DEM) e o PT, com 14%. Tratam-se de quantias que podem ser atribuídas a maior quantidade de candidatos eleitos por tais partidos, sendo importante nos atentarmos para os valores médios de financiamento. Quando olhamos a terceira coluna, que nos mostra a quantidade total das doações dividida pelo número de candidatos de cada partido, o PSDB volta a se destacar (R$ 563.706), seguido pelo PTB (R$ 451.927) e pelo PPS (R$ 362.074)34.

34 Quando comparamos com 2010, notamos poucas alterações na ordem dos partidos que mais

recursos receberam, em média, a partir de seus candidatos. O PSDB continuou com o maior valor por candidato (R$ 885.565), seguido pelo DEM (R$ 712.184) e pelo PPS (R$ 706.305). Ou seja, o PSDB permaneceu com maior quantidade de recursos por candidato. Os candidatos do PT que, em 2006, desfrutavam da oitava maior arrecadação média, em 2010 passaram ser a quinta (R$ 587.406). De qualquer modo, os padrões partidários são semelhantes.

Tabela 3.2. Doações feitas diretamente pelas empresas aos candidatos eleitos em 2006

% candidato Por (R$) PSDB 22% 563.706 PTB 6% 451.927 PPS 5% 362.074 PMDB 18% 349.815 PFL/DEM 14% 347.352 PP 7% 327.534 PR/PL 4% 287.067 PT 14% 279.186 PC do B 2% 248.751 PV 2% 225.539 PDT 3% 223.401 PSB 3% 189.266 Outros partidos 1% 113.072* Total 100% 339.382

* Valor obtidos a partir da média aritmética dos valores dos candidatos dos demais partidos

Fonte: TSE (Tribunal Superior Eleitoral)

Esses valores médios nos levam a pensar sobre teses e hipóteses acerca da relação dos grupos de interesse que se moveriam exclusivamente pelo interesse em políticas públicas35. O PT, que já ocupava o governo federal desde 2006, recebeu, em média, uma quantidade de recursos pequena, comparada a outros partidos. Trata-se de um dado que pode nos levar a questionar um possível comportamento “pragmático” das empresas que doariam àqueles que trariam maior retorno esperado em políticas públicas. Trata-se de um dado já identificado por outros estudos, que observaram um persistente financiamento reduzido aos candidatos do PT36.

35 Por exemplo, Thomas Brunell assim define os grupos de interesse: “Interest groups are policy

maximizers. Organized interests exist to transmit the policy preferences of their constituents to our elected officials. Groups are interested in passing legislation more favorable to their preferred policy” (Brunell, 2005: 683). Trata-se de uma definição comum das motivações dos grupos de interesse.

Um modo de pensar na existência de uma relação ideológica por parte dos financiadores é olhar os partidos, a partir da tradicional escala esquerda-direita. A classificação foi aplicada a apenas doze principais partidos que têm recebido a maior quantidade de votos e recursos privados de campanha. A “esquerda” foi composta por candidatos do PT, PDT, PSB, PPS, PV e PC do B; o “centro” contou com a agregação de candidatos do PMDB e o PSDB e a “direita” com candidatos do DEM, PP, PR e PTB37. Assim, a partir dessa classificação, as imagens

ideológicas que as siglas partidárias carregam influenciam as empresas no financiamento das candidaturas?

A Tabela 3.3 foi organizada de maneira semelhante às anteriores, com o percentual indicando os valores absolutos e as contribuições médias, pela quantidade de candidatos. Como era esperado, partidos de Centro (425.749) e Direita (R$ 348.006) receberam, respectivamente, maior quantidade de recursos que os partidos de esquerda (R$266.128). A redução do valor médio dos recursos dos partidos de esquerda, em relação aos de centro, foi de 37%. Pensando na existência do “modelo partidário”, pode-se argumentar que o comportamento do setor empresarial está dentro do esperado, isto é, que empresas se vinculariam àqueles que poderiam favorecer “o capital”38.

Tabela 3.3. Distribuição por posição na escala ideológica* em 2006 % Por candidato (R$) Direita 30% 348.006 Centro 42% 425.749 Esquerda 27% 266.128 Outros 1% 124.530 Total Geral 100% 339.382

* Direita = DEM, PP, PR, PTB, Centro = PSDB e PMDB,

Esquerda = PT, PDT, PSB, PPS, PV e PC do B. Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

Outro modo de organizar os partidos é a partir do posicionamento em relação ao governo federal, no período que antecedeu as eleições. Trata-se de um teste do efeito de um possível “governismo” das empresas que, pragmaticamente,

37 Essa classificação se pauta na sugerida por Figueiredo e Limongi (1999).

38 Em 2010, também foi identificada uma concentração de recursos nos candidatos de partidos de

investiriam apenas naqueles candidatos que trariam maiores benefícios na produção de políticas públicas e que pertencessem aos partidos de apoio ao governo federal. Assim, os candidatos de partidos governistas tenderiam a ser “mais atraentes” para o setor empresarial, por seu partido ocupar importantes cargos no governo federal?

Os partidos denominados governistas, no período do segundo mandato de Lula, foram o PT, PMDB, PP, PR, PTB, PDT, PSB e o PC do B. Já os da oposição eram o PSDB, DEM, PPS e PV. A Tabela 3.4 nos mostra a distribuição de recursos a partir dessa classificação “governo x oposição”, evidenciando que as candidaturas dos partidos de oposição receberam, em média, maior quantidade de recursos: o valor médio recebido pelos candidatos de partidos oposicionistas foi de R$ 425.049, contra R$ 303.268 dos governistas39.

Tabela 3.4. Distribuição por posição*no governo em 2006 % Por candidato (R$) Governo 56% 303.268 Oposição 43% 425.049 Outros 1% 124.530 Total Geral 100% 339.382 * Situação: PT, PMDB, PP, PR, PTB, PDT, PSB e PC do B. Oposição: PSDB, DEM, PPS e PV.

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

Assim, é possível observar algumas inclinações do setor empresarial, conforme olhamos para o conjunto de contribuições privadas, de maneira agregada. Embora o PT e uma parte dos partidos de esquerda estivessem ocupando cargos no governo federal, desde 2002, é importante notar a existência de um maior investimento em partidos de centro e direita. É possível destacar o PSDB como o partido que desfrutou de maior preferência, quando olhamos as doações médias feitas pelas empresas. Dentre os partidos de esquerda que se encontravam mais próximos do setor, destaca-se o PPS, cujas candidaturas receberam expressiva quantidade de recursos. Essa menor arrecadação dos candidatos petistas pode

39 Em 2010, o valor dos oposicionistas foi de R$ 756.228 e dos partidos que apoiavam o governo foi

significar especificidades no modo como o PT e outros partidos de esquerda necessitam e conquistam recursos para suas campanhas.

Assim, pensando nos modelos propostos, na parte anterior, a tese de um “personalismo” de campanha pode ser questionada, pois o sistema partidário brasileiro tem oferecido um “menu” relativamente nítido às empresas no financiamento, com um maior movimento de doações em partidos de centro e de direita. Trata-se de uma evidência importante, que mostra uma certa nitidez de nosso sistema partidário, mesmo quando olhamos para os recursos em que se espera maior manifestação de uma situação de “personalismo”.