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6 CAUSAS DA EVASÃO DAS ESCOLAS DOS TERRITÓRIOS CAMPESINOS DO

6.1 Caracterização das/os Sujeitas/os da Pesquisa

6.1.2 Os Perfis das/os Sujeitas/os do 3º Distrito

A primeira Sujeita do 3º Distrito será chamada na pesquisa de S5. Possui 19 anos de idade, é casada, tem um filho e mora com o companheiro, o filho, a mãe e a irmã. Durante toda a sua vida S5 residiu no Território Campesino, no 3º Distrito. A sua residência fica a 12 km da Escola 2. Com relação à escolaridade, S5 concluiu o 7º ano do Ensino Fundamental. A mesma já se evadiu da escola por três vezes. A Sujeita nunca estudou no espaço urbano assim como nunca desenvolveu atividade remunerada. As suas responsabilidades na atualidade consistem em atividades domésticas, sobretudo na assistência ao filho.

O momento da entrevista com S5 foi acompanhado da presença da mãe, irmã, cunhada e filho. Apesar de não apresentar nenhuma resistência à pesquisa, S5 desejou que a entrevista fosse realizada no momento do nosso primeiro contato o que não nos possibilitou maior aproximação.

A segunda Sujeita do 3º Distrito será chamada por nós de S6. A mesma possui 22 anos de idade, é casada, mora com o companheiro e não possui filhos. Sempre morou no Território Campesino, no 3º Distrito a uma distância de 2 km da Escola 2. Nunca estudou no Território Urbano. Concluiu o 8º ano do Ensino Fundamental e evadiu-se da escola apenas uma vez. Trabalha como costureira em um fabrico no mesmo sítio em que reside com uma carga horária de 9 horas diárias.

A aproximação com S6 se deu no próprio ambiente de trabalho e em três contatos. No primeiro momento explicamos os objetivos da pesquisa e agendamos para a semana seguinte,

momento em que S6 estaria menos ocupada. Ao retornarmos, tivemos que reagendar a entrevista devido a imprevistos no trabalho da Sujeita. No terceiro momento conseguimos efetivar a entrevista que foi feita no seu local de trabalho.

O terceiro Sujeito do 3º Distrito será chamado nesta pesquisa de S7 e possui 18 anos de idade. É solteiro, mora com as duas irmãs e os seus pais já faleceram. Conseguiu concluir o 7º ano do Ensino Fundamental, evadiu-se da escola apenas uma vez no ano de 2013. Sempre morou no Território Campesino, no 3º Distrito e a sua residência fica a uma distância de 4 km da Escola 2.

Desde que os seus pais faleceram, quando ele tinha 16 anos de idade, S7 trabalha. O seu trabalho é em um fabrico, onde desenvolve a função de costureiro. A sua jornada de trabalho é de 9 horas diárias. A aproximação com S7 foi feita em dois momentos: no primeiro momento agendamos a entrevista e no segundo momento realizamos a mesma. Ressaltamos que a entrevista foi realizada na porta do seu local de trabalho.

O quarto Sujeito do 3º Distrito será chamado de S8. Este possui 17 anos de idade, é solteiro e mora com a sua mãe. Durante toda a sua vida S8 morou no Território Campesino, no 3º Distrito, a uma distância de 1 km da Escola 2. O Sujeito concluiu o 5º ano do Ensino Fundamental e evadiu-se da escola apenas uma vez. Este nunca estudou no Território Urbano. Em 2013 S8 já desenvolvia atividade remunerada. O mesmo trabalha com construção fazendo as ferragens. O seu trabalho é desenvolvido em construções do Território Urbano.

O primeiro contato com S8 não foi fácil porque havia uma preocupação da família de que trouxéssemos problemas judiciais – pensavam que éramos do Conselho Tutelar. Assim, para que a entrevista com S8 pudesse ser desenvolvida necessitamos de cinco momentos. Os três primeiros consistiram na nossa apresentação, explicação sobre os objetivos da pesquisa e aproximação para entendermos a rotina da família. Os dois últimos momentos representaram a aplicação do questionário, e em seguida a realização da entrevista. Cada um destes momentos aconteceu em dias distintos. A entrevista com S8 foi realizada com a presença da mãe que ficou vigilante a tudo o que perguntávamos.

Para melhor analisarmos os perfis das/os Sujeitas/os do 3º Distrito, apontaremos no quadro abaixo a caracterização de todas/os as/os sujeitas/os, de modo que, da mesma forma que foi realizado com as/os Sujeitas/os do 1º Distrito, possamos realizar as inferências sobre tais dados.

QUADRO 16 - Caracterização das/os Sujeitas/os da Escola 1 Cola b. Sexo Idad e Estado Civil Cor/ Raça Com quem mora Moradia em 2013 Tempo de Estudo Trab Quant. de vezes que se evadiu Estudou no Territ.Urbano S5 F 19 Casada Morena Clara Mãe Irmã Companheiro Filho. Território Campesino

7 anos Não 3 vezes Não

S6 F 22 Casada Pard Companheiro Território Campesino

8 anos Sim 1 vez Não

S7 M 18 Solteiro Bran Irmãs. Território Campesino

7 anos Sim 1 vez Não

S8 M 17 Solteiro Bran Mãe Território Campesino

5 anos Sim 1 vezes Não Fonte: Quadro construído pela autora a partir dos dados coletados através de questionários.

Os dados de caracterização das/os Sujeitas/os da pesquisa do 3º Distrito possuem elementos que se assemelham com os das pessoas que constituem o 1º Distrito: todos os homens são solteiros e as mulheres casadas; apenas uma mulher desenvolve atividade remunerada; todos os homens têm trabalho remunerado.

Estes dados já anunciam a influência da Sociedade Patriarcal que será discutida com uma maior profundidade no trato com as entrevistas, mas apontamos que, segundo Narvaz e Koller (2006), a lógica da Sociedade Patriarcal estabelece os papéis sociais que devem ser desenvolvidos por homens e mulheres e que com o casamento os homens têm poder sobre as suas esposas, determinando o que pode e não ser feito por estas. Neste sentido, um dos elementos que comprovou que esta lógica se consolida foi quando constatamos que apenas duas Sujeitas da pesquisa trabalhavam. Apesar disto, o desenvolvimento da atividade remunerada da primeira Sujeita é em casa e a segunda Sujeita sai do espaço doméstico para trabalhar, mas este espaço fica ao lado da sua casa.

A prevalência de todos os Sujeitos trabalharem coaduna com a ideia de que o homem deve prover o sustento do lar e à mulher competem apenas as atividades domésticas. Com a lógica Moderna/Colonial a mulher consegue até o direito de trabalhar desde que as suas atividades/responsabilidades domésticas não deixem de ser realizadas. Por este motivo que o trabalho desenvolvido por S4 e S6 não foge a esta lógica. A realização do trabalho em casa ou perto de casa garante o cumprimento das atividades domésticas destinadas a elas.

Outro elemento identificado pelos questionários que nos chamou a atenção foi o fato de que todas as mulheres são casadas ao passo que nenhum dos homens é. A força do casamento para as mulheres expressa outra influência do Patriarcado, onde as mulheres necessitam ter o seu corpo, a sua sexualidade, as suas decisões controladas por um homem em

uma relação monogâmica (NARVAZ; KOLLER, 2006). Este dado aponta que a afirmação da mulher se estabelece com o casamento e para o homem esta afirmação se dá por meio do trabalho.

As/os sujeitas/os que constituem esta pesquisa, no 3º Distrito, possuem uma média de 6,7 anos de estudos concluídos. Notamos que, com exceção de S7 que já tem os pais falecidos, em todos os casos, os pais, apesar de não terem muitos anos de estudo, são os maiores incentivadores para que as/os filhas/os retornem à escola. Em nenhum dos casos as Sujeitas pontuaram o estímulo por parte dos seus Companheiros para que voltassem a estudar. A influência familiar (dos pais) deixa de ser forte no momento em que as mulheres pesquisadas casam. Os pais tecem opiniões sobre as decisões que necessitam ser tomadas, mas a voz dos companheiros destas é que define o que podem ou não fazer. Com estas evidências em mãos, consideramos que a decisão de olhar para os dados da pesquisa com o enfoque da discussão sobre Patriarcado apontada por Narvaz e Koller (2006) e Aguiar (2000) foi uma escolha acertada, pois nos ajudará a compreendê-los com maior precisão. Desta forma, a sessão a seguir trará os elementos constituintes das entrevistas realizadas com as/os Sujeitas/os desta pesquisa.

6.2 O trato das causas possibilitadoras da evasão da EJA no Território Campesino do