• Nenhum resultado encontrado

OS PILARES DA EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA

Figura 3: Os quatro pilares da Educação Nacional e o reconhecimento da nossa condição Humana, Social, Ecológica e Cultural . (DELORS, 2012).

As práticas pedagógicas dos professores devem buscar uma reconstrução política pedagógica, transformando as situações de aprendizagem docente em conscientização crítica da realidade, equalizando as oportunidades, partindo da autocrítica para a crítica do todo.

A prática pedagógica que buscamos elucidar nestes escritos é a conexão entre pensamento-ação/reflexão-prática aliada aos quatro pilares da educação como forma de contribuir para com o pleno desenvolvimento humano, onde o papel do educador, da escola, da formação tanto do professor quanto do aluno é o saber, é o pensar sobre o saber e sobre as influências que a escola sofre da sociedade e também em que a sociedade influencia a escola e seus sujeitos.

Proporcionar uma formação do indivíduo que ampare o global e o local, o universal e o singular, que seria conceber as particularidades e respeitar a diversidade, trabalhar a renovação por meio do exercício da compreensão. (DELORS 2012, p. 67).

Em relatório encaminhado à UNESCO (2005), a Comissão Internacional de Estudos sobre a Educação enfatiza que para conseguir alcançar uma educação de qualidade, necessitamos nos amparar em quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer (aprofundar o conhecimento na cultura geral e buscar uma educação contínua e permanente), aprender a fazer (desenvolver competências e habilidades para o enfrentamento das incertezas do mundo), aprender a viver juntos (trabalhar a cooperação e a partilha no processo de ensino e aprendizagem) e aprender a ser,

Aprender a Ser Aprender a Viver juntos Aprender a

(que seria o alicerce dos outros três pilares, buscando o indivíduo em sua totalidade).

Anteriormente ao relatório de Delors para a UNESCO, Edgar Faure já na década de 70, publicou sobre o aprender a ser, e nesta publicação defendeu a integração dos saberes formais e saberes informais no processo de aprendizagem.

Para Faure (1974), a relação educativa não se define pelo conteúdo ministrado, mas sim pela diversidade de experiências e do ato comunicativo que todos os seres humanos vão se constituindo enquanto sujeitos aprendizes.

Portanto, aprender a ser exprime entender além das disciplinas, ultrapassar o que está estático e estabelecido, mas atentar para o que é global e nato do ser humano. Aprender a ser se torna a base dos pilares da educação, uma vez que esta aprendizagem é constante ao longo da vida.

Este aprender a ser significa, ser melhor a cada dia, a reaprender com o outro, compreendendo e respeitando a diversidade e buscando a singularidade de cada ser humano por meio da tolerância.

Os quatro pilares da educação se interagem na definição do ser humano, a articulação entre o aprender a ser e aprender a conhecer se funda em uma conjugação simbolizadora que trata do ser autêntico, como afirma Severino (2007, p.31), “Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”.

Assim, o aprender a ser consolida por meio do aprender a conhecer, a aprendizagem ao longo da vida vai moldando a nossa capacidade de interagir, de se posicionar e de pensar sobre as questões sociais, econômicas e humanas.

A constituição do sujeito, se expressa pela prática social, esta por sua vez, é manifestada pelo aprender a fazer nos processos de ensino-aprendizagem que levam a elaboração de novos conceitos e de uma nova constituição do contexto vivido.

Severino (2007) traz a luz à necessidade de entendermos que o pensamento não é anterior à ação, mas surge na própria maneira de agir. Assim, o sujeito por meio da prática de produção, vai refletindo sobre a mesma, de modo a modificar

constantemente o seu pensamento relativo à sua prática, é uma ação que gera ao mesmo tempo a reflexão e a transformação.

No que tange o aprender a conviver, Severino (2007, p. 26) afirma que “[...] os homens estabelecem entre si relações que são funcionais e caracterizadas por um coeficiente de poder”.

A constituição da convivência humana está na interdependência dos seres humanos em todas as esferas da sociedade, esta por sua vez determina papeis relativos à consciência moral e social do que é permitido em determinado grupo.

De acordo com Demo (1999, p.40) “[...] não se pode indicar uma realidade sem antes defini-la em seus componentes mais centrais”. Isto significa que as práticas pedagógicas embasadas no diálogo entre os pilares da educação propostos pela UNESCO (2005) devem buscar conhecer quem são os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, a localidade em que a escola está inserida, quais suas dificuldades, seus anseios e suas expectativas frente ao trabalho pedagógico.

E assim, oferecer um ensino/aprendizagem que não seja dependente de moldes de como dar aula, mas que traga o educador para o centro da discussão sobre como fazer o educando aprender. Que se auto avaliam e buscam reaplicar uma nova estratégia diante dos desafios que foram levantados.

No relatório para a UNESCO (2005) é enfatizado que a função da educação é conduzir a um desenvolvimento humano mais harmonioso e verdadeiro, que proporcione a diminuição da desigualdade e da exclusão social, de forma que desperte nas pessoas um pensamento coletivo, mas também único, frutificando e fortalecendo os talentos e as potencialidades de cada um, mas também ao mesmo tempo crescendo o sentimento de compreensão entre os sujeitos e de sua cultura por meio de uma educação de qualidade.

A inter-relação professor/aluno, o conhecimento do meio ambiente onde vivem as crianças, uma correta utilização dos modernos meios de comunicação (quando existentes) podem contribuir, no seu conjunto, para o desenvolvimento pessoal e intelectual de cada aluno. Os conhecimentos básicos desempenham, aqui, um papel importante: ler, escrever e contar. Combinar a escola clássica com contribuições exteriores à escola faculta à criança o acesso ás três dimensões da educação: ética e cultural; científica e tecnológica; econômica e social. (DELORS, 2012, p. 19).

Como a educação é uma experiência social, o educando deve experimentar por meio do contato a relacionar-se com os outros, a observar o mundo em que vive, a entender o seu espaço, a conhecer a história da sua cultura e a correlacionar fatos que influenciaram o desenvolvimento do mundo por meio de um diálogo articulado e dinâmico.

A educação básica para Delors (2012, p. 121), “[...] deve partir dos dados da vida cotidiana, que oferecem oportunidades de compreender os fenômenos naturais, bem como de ter acesso às diferentes formas de sociabilidade”. A sala de aula nos anos iniciais da educação básica precisa proporcionar a observação das experiências de cada um, trazendo para o espaço escolar uma nova reflexão coletiva sobre o mundo em que vivemos, diminuindo assim as rupturas causadas pela exclusão social.

Para Santos (2012, p. 35), “[...] a assimilação de padrões educativos hauridos junto aos modismos do momento não permite a muitos educadores vislumbrarem qual o modelo de cidadão e qual modelo de formação humana pretende-se encetar”.

O autor salienta que os educadores estão no impasse sobre que formação humana e conceito de cidadania se pretendem trabalhar nas escolas, uma vez que a área da educação passa por transformações constantes, comprometendo por muitas vezes a consolidação do trabalho docente.

Esta dicotomia entre conteúdo e prática, tem levado ao reducionismo do que deve ser trabalhado nas escolas, uma vez que segundo Palma Filho (1998, p.102), “[...] a educação escolar sempre está a serviço de um determinado tipo de cidadania, e que é a pedra de toque de controle social e econômico”.

O relatório da UNESCO (2005) recomenda que a educação ao longo da vida deva conduzir ao conceito de sociedade educativa, uma sociedade em que são oferecidas variadas oportunidades de aprender tanto na escola como na vida econômica, social e cultural.

De forma que, a maneira de se trabalhar as práticas pedagógicas nas escolas reflita diretamente em todo contexto social tanto dos educandos, quanto dos educadores. Esta relação de cidadania e planejamento educacional precisa de uma

forte consonância, de modo que as relações sociais, políticas e econômicas estejam visíveis aos olhos dos docentes e discutidas por eles nos planejamentos pedagógicos.

Segundo Demo (1996a, p. 37) “A capacidade de aprender implica, na mesma lógica, a capacidade de intervir com competência”. Esta afirmação traz à tona o questionamento sobre até que ponto as práticas educacionais estão interferindo na competência do educador em aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, não apenas do ponto de vista pedagógico, mas também enquanto mobilizadores da cidadania e formação humana na escola.

Nessa dinâmica relacional, na qual estão envolvidas a atitude aprendente e a atividade de aprendizagem, tem uma responsabilidade significativa o educador, que, por meio do desenvolvimento de competências, didáticas ou metodológicas, conduz um processo educacional e, na medida em que se vive num meio sobre qual é possível agir, decidir, realizar ou avaliar, estariam criadas as condições mais favoráveis ao aprendizado do educando, do educador e da sociedade educativa. (SÍVERES, 2010, p.107).

As atividades em sala de aula devem partir da questão social e humana, perpassando pelo processo de conhecimento prévio do aluno, que segundo Duarte (2007, p. 51), “[...] não basta formar indivíduos, é preciso saber para que tipo de sociedade, para que tipo de prática social o educador está formando indivíduos”.

Uma vez que, para que se possa haver efetivamente uma aprendizagem significativa se faz necessário o encontro entre os sujeitos movidos por sentimentos e posicionamentos que irão de encontro a uma nova produção eclética de saberes.

Para tanto, há urgência em discutir e colocar em prática ações na educação do ponto de vista macro e micro, uma vez que as diferenças humanas, sociais, territoriais e culturais são gigantescas. É necessário atentarmos para a grande necessidade de se reformular as políticas públicas voltadas para uma prática pedagógica que forme e transforme para a vida.

A educação do educador e do educando não é um campo solto, ela exige uma reformulação de medidas que possam não apenas atender as demandas pedagógicas formais, mas também entender a estrutura que se organiza os ensinos dentro das variadas contradições existentes nas salas de aula e principalmente promover o desenvolvimento pleno do ser humano.

Se ficarmos apenas em frequência escolar, produção de resenhas fúteis, falação em sala, memorização de conteúdos, será fácil contabilizar dados, ainda que nada expressem de importante. É por isso, que preferimos avaliações mais cuidadosas que busquem expressar o saber pensar do aluno, o que em geral, exige a feitura acurada de textos próprios, individuais e coletivos. (DEMO, 2010, p.55).

O educador além do conhecimento técnico e pedagógico, precisa desenvolver sua capacidade de argumentar, auto avaliar, criticar e inferir nas diversas situações sociais que afetam o meio educacional. Para Palma Filho (1998, p. 119), “[...] uma educação voltada para a construção de uma cidadania democrática não pode se orientar apenas por valores advindos das forças do mercado”.

Não se pode educar apenas na objetividade, muito menos ir para a escola com apenas o intuito de vencer um conteúdo, mas ir para a escola e perceber a diferença que se pode fazer na vida dos alunos, a partir do momento que se toma consciência da liberdade de expressão, da valorização do outro na busca de uma sociedade mais humana, mais justa e menos desigual.

É este o maior desafio para a educação atualmente, tendo em vista que as relações estão cada vez mais difíceis e todos os seres humanos estão em busca de referências que lhe possam garantir melhor qualidade de vida neste mundo globalizado.

A dinâmica entre escola e sociedade está na força ética e social que irão conduzir o conhecimento, concordando assim com as palavras de Ira e Freire (1986, p. 157), “Os problemas da escola estão profundamente enraizados nas condições globais da sociedade, sobretudo no que diz respeito a essas questões de disciplina e alienação”.

Devemos questionar a lacuna no que diz respeito à formação humana, troca de saberes, diálogos sobre a vida prática tanto dos discentes quanto dos docentes, que segundo Freire (2011c) é por meio das práticas que se forma a curiosidade, os discursos se transformam e as mentes amadurecem.

De acordo com Libâneo (2011) a aprendizagem exige uma carga de valores, sentimentos e emoções. As condições apenas embasadas na objetividade engessam o processo pedagógico quando não se abre espaço para uma avaliação dos pontos positivos e negativos.

Assim, é preciso haver uma reflexão da realidade complexa existente em sala de aula. A prática pedagógica atual tem deixado lacunas, uma vez que se perde a oportunidade de interação entre educadores e educandos com o objetivo de ampliar a capacidade de percepção crítica da realidade escolar.

Esta realidade, segundo Demo (2010, p. 47) significa que “O gesto mais fundador é saber questionar, duvidar, inferir, não se contentando jamais com aquilo que já está dado”. Atualmente no meio educacional foca-se muito em metas, índices e painéis de desempenho.

De certa forma isto tem grande relevância para o crescimento econômico e social do nosso país, mas a formação dos educadores deve ir além, de forma que se busque uma ampliação de saberes questionadores que visem à emancipação do indivíduo, a percepção do outro como mediador do conhecimento e o ato de pensar as relações humanas como forma de inserção social.

Não se pode negar que a avaliação é necessária para que se conheçam as deficiências do sistema, porém a pergunta se embasa em Demo (1999, p. 36) sobre “[...] quais parâmetros teóricos e metodológicos se faz a avaliação”.

Não podemos nos enganar, e utilizar destes dados apenas para manter certa aparência de que estamos caminhando. É fato que, chegando próximo às avaliações externas as escolas caem em uma maratona de treinamento, onde só se pratica atividades que congratulem as capacidades das matrizes de referência que serão avaliadas e que consequentemente os resultados dos sistemas escolares, estados e municípios estarão expostos para que se verifiquem o desempenho de cada segmento.

De acordo com Delors (2012, p. 104), “A educação básica é, ao mesmo tempo, uma preparação para a vida e o melhor momento para se aprender a aprender”. Reestruturar a prática pedagógica dos educadores é buscar um engajamento ético, onde todos da educação são convocados a desenvolver uma prática que traga uma reflexão social acerca do compromisso pedagógico.

Considerar o reconhecimento das diferenças, que oscile entre a singularidade e a parceria, que olhe e perceba o contexto social, que se perca a concepção de

reprodução e que se busque o inacabado. Para Freire (2011b, p. 116) “A educação autêntica não se faz de A para B ou de A sobre B, mediatizados pelo mundo”.

Não se pode preterir que a formação do educador possa absorver todas as demandas elencadas na sociedade atual, mas que pelo menos se parta do princípio da equidade de condições, visando o desenvolvimento pleno do indivíduo, percebendo sua identidade, sua cultura e seu contexto social.

A aprendizagem não deve ser um procedimento acumulativo de informações, mas um processo significativo para vivenciar a própria condição humana e social de forma que o discente seja o sujeito da aprendizagem e a educação um percurso comunitário por meio de práticas pedagógicas que trabalhe a complexidade, segundo Morin (2011c, p. 16), tal palavra é originada de “complexus, aquilo que se tece em conjunto”.

Dessa forma, deve-se resgatar a importância de se considerar a prática de forma dialógica, dentro de um processo de auto formação que vise à transformação, reelaborando saberes de forma reflexiva, constituindo assim uma visão do parcial e do todo no processo de aprendizagem, sedimentando uma postura educadora voltada para o desenvolvimento não apenas de habilidades específicas e conteudistas, mas uma formação humana que reflita sobre suas próprias ações e pensamentos.

Uma prática pedagógica centrada no aprender a ser, a fazer, conviver e a conhecer é parte relevante para que se tenha qualidade nos trabalhos pedagógicos que se inserem nos interiores das salas de aula. Para Demo (2007, p.1), “O avanço tecnológico é crucial para conquistar mercados. Mas não se pode perder de vista que a meta maior da educação continua sendo sua relevância para a cidadania, quer dizer, a formação de sociedades que conjuguem riqueza com bem comum”.

A educação em seu conjunto de possibilidades deve estar inspirada no princípio da formação da cidadania, para tanto, o educador deve ter em suas situações de formação pedagógica oportunidades de dialogar as questões sociais que são manifestadas nas escolas.

Não podemos viver com muita ênfase apenas o foco pedagógico e metodológico, negando por muitas vezes as barreiras sociais, culturais e emocionais que afligem os docentes em seu cotidiano. De acordo com Morin (2010, p. 16), “[...] as informações constituem parcelas dispersas do saber. Em toda parte, nas ciências como nas mídias, estamos afogados de informações”. É possível evidenciar que as situações ocasionadas pela falta de um olhar mais rigoroso frente às questões sociais e humanas desmotivem os educadores a interagir nas salas de aula.

De acordo com Gomes (2010, p. 90), “Para ser educador hoje é preciso ser o educador de amanhã”. O educador não é um sujeito fragmentado, ele traz em sua trajetória visões sobre a função social da educação, se faz relevante buscar entender até que ponto os cursos de formação continuada estão agregando valor real à estes educadores, fazendo com que os mesmos possam não penas inserir em suas salas de aula metodologias, mas consigam entender que todos carregam um contexto social e histórico que não pode ser negligenciado pela escola.

1.7 O DIÁLOGO DE SABERES COMO PROMOÇÃO DO PLENO