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4 UMA IMERSÃO NO CONTEXTO ESCOLAR DA REE/MG

4.3 A fase exploratória do trabalho em campo

4.3.1 Os primeiros contatos

Foram realizadas visitas para um primeiro contato com os diretores, em cada escola, tendo em vista obter o consentimento para a realização do trabalho, e expor os procedimentos da pesquisa. Os professores, sujeitos do trabalho, são os que atuam nas últimas séries do Ensino Fundamental (5ª à 8ª).

Segundo Biklen (1999, p. 116) torna-se fundamental estabelecer bons contatos com os sujeitos que integram a pesquisa, uma vez que,

mesmo no caso de a autorização ser dada por instâncias superiores sem as inferiores serem consultadas, é dever do pesquisador encontrar-se com os membros da unidade onde vai realizar o trabalho de campo, a fim de conseguir o seu apoio, e para não ferir susceptibilidade. É necessário desbravar o caminho para uma relação sólida a ser estabelecida com aquelas com quem irá passar tempo, para que o aceitem e o que pretende realizar.

A diretora da Escola Norte, Nucy foi atenciosa, dispôs-se a colaborar, e desde o primeiro contato deixou clara sua posição contrária ao sistema de organização em ciclos. Preveniu quanto a possíveis insatisfações dos professores sobre suas relações com o Estado. Durante o percurso feito pelas áreas e espaços da escola, os profissionais iam sendo apresentados. Solicitado um horário com os professores, ficou combinada a cessão de um horário, em um reunião já marcada pela escola, para discutir outros assuntos.

No dia combinado, e no momento em que foi passada a palavra, após a apresentação, foram feitos esclarecimentos aos professores, durante reunião, sobre a pesquisa: ações que seriam realizadas pelo investigador; envolvimento dos participantes da escola; intencionalidade de não causar transtornos ao funcionamento da escola; resultados, benefícios do estudo e divulgação da pesquisa.

A aceitação foi boa, tanto por parte da direção, como dos professores, que entenderam o objetivo do trabalho.

A reunião foi realizada no horário da manhã. À tarde e à noite, no mesmo dia, aproveitando parte de horário de reunião já marcada com os professores, foi apresentada a pesquisa.

A seqüência da apresentação foi baseada em Biklen (1999, p. 115-121): • em que consiste o trabalho de campo;

• cuidados em não causar transtornos ao trabalho escolar; • o que vai ser feito com os resultados,

• razões da escolha da escola; • benefícios do estudo.

Os professores fizeram algumas perguntas sobre a seqüência dos trabalhos, mas o maior interesse deles era quanto ao tema da pesquisa: condições de trabalho dos professores da REE/MG. Eles diziam: “Você vai ter muito a falar sobre o assunto”. A disposição em colaborar era evidente. O primeiro contato com a Escola Sul foi feito em 18 de setembro de 2003, um mês após a primeira visita à Escola Norte. Foi feito pela manhã, tendo sido procurada a diretora Silvia, que também mostrou boa aceitação da pesquisa, após apresentação.

No mesmo dia, foi realizada reunião com os professores, para os quais foi apresentado o trabalho da pesquisa, a ser feito na escola Sul. Havia 10 professoras presentes e apenas um professor. Houve interesse e atenção. Algumas perguntas, disposição em colaborar, abertura em relação à observação das atividades. Foi criado um bom “clima”, e conversas sobre o trabalho, as paralisações e reposições, sobre os alunos, métodos de ensino.

Antes de iniciar a coleta sistemática dos dados, através dos levantamentos, estudo dos documentos de alunos e professores, propostas e regimentos escolares, foi realizada, conforme prevê Mazzotti e Gewandsnajder (1999, p. 148) uma fase exploratória, que se constituiu em muitas visitas em ambas escolas, nos vários horários de funcionamento, procurando comparecer em horários que contemplassem o intervalo do recreio, onde seriam encontrados mais professores. O espaço adequado a uma convivência mais estreita era a sala dos professores. Nas duas escolas, essas salas são amplas, têm banheiro, escaninhos para guarda de materiais de trabalho, uma grande mesa, com muitas cadeiras, microcomputador para uso dos professores, bancadas ou mesas, onde são servidos os lanches, e murais onde são afixados cartazes, avisos,

horários, calendários, resoluções e portarias, planos de trabalho da escola, reportagens de jornais, tratando de temas sobre educação e assuntos ligados ao plano de carreira. São também afixados fôlderes sobre seminários, cursos e outros avisos da SEE/MG. Neste local, os professores permanecem, quando têm horários vagos, geralmente corrigindo trabalhos, lendo e preparando aulas.

Na Escola Norte, a direção e a equipe pedagógica vêm à sala dos professores, nos intervalos de recreio, para juntos tomar o lanche, mesmo em dias em que não se realiza reunião. São momentos de confraternização e descanso, onde ocorre entrosamento.

Durante a fase exploratória, o objetivo era procurar conhecer melhor as escolas e, de acordo com Mazzottii e Gewandsnajder (1999, p.161), “obter informações suficientes para orientar decisões e estabelecer as fronteiras da investigação, e ainda ajudar a selecionar os professores que seriam focalizados”.

Procurava-se conversar com os professores e demais funcionários da escola, percorrendo as instalações e fazendo perguntas bem gerais sobre as condições de trabalho, tema investigado. As anotações sobre o que era observado foram feitas nos cadernos de campo, tão logo era encerrado o período de observação.

Uma tarde a professora da 1ª série (alunos que devem completar seis anos em 2004) veio solicitar a visita à sua sala de aula. São alunos muito pequeninos. Os móveis não são adequados ao tamanho dos alunos. A mesma sala é utilizada pela manhã para a 8ª série e à noite pelos alunos do Ensino Médio. Alguns pequeninos estavam com as pernas dobradas em cima do assento e se sentavam sobre elas. Outros estavam com as pernas na horizontal. Alguns eram tão pequenos que os rostos estavam quase à altura da mesa onde escreviam. A professora explicou que chega mais cedo todos os dias, e procura na escola as menores carteiras. A sala estava com cerca de 30 alunos. A professora disse que precisam de atenção especial o tempo todo. Fez curso preparatório para trabalhar com os pequenos, mas considera as instalações físicas, móveis e salas inadequadas. A escola não tem móveis próprios a esta idade, e a diretora já os solicitou à SEE/MG.