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Os procedimentos Cautelares Especificados

6. Procedimentos Cautelares

6.1 Os procedimentos Cautelares Especificados

Os procedimentos cautelares especificados vêm previstos a partir do artigo 377.º do CPC, estando eles ordenados do seguinte modo - a restituição provisória da posse (artigo 377.º e ss. do CPC), a suspensão de deliberações sociais (artigo 380.º e ss. do CPC), os alimentos provisórios (artigo 384.º e ss. do CPC), o arbitramento de reparação provisória (artigo 388.º e ss. do CPC), o arresto (artigo 391.º e ss. do CPC), o embargo de obra nova (artigo 397.º e ss do CPC) e, por fim, o arrolamento (artigo 403.º e ss. do CPC).

Tal como referido em sede própria não nos cumpre dissecar o regime total de aplicabilidade destes procedimentos mas sim a sua regulamentação no que tange à prova. Portanto, à que referir desde logo, que o modo de produção das diligências probatórias nestes procedimentos especificados terá por base o regime referido no ponto anterior relativo ao procedimento cautelar comum. Mas não é de olvidar que se o legislador os destacou em regime próprio é porque comportam algumas excepções, não só na sua natureza, mas também, no que à produção de prova diz respeito.

Observe-se para tal o princípio do contraditório presente em cada um deles, a título de exemplo da supressão deste princípio, veja-se o arresto (vide artigo 393.º n.º 1) e a restituição provisória da posse (vide artigo 378.º do CPC). Na maioria das situações o requerente pede pela não audição do requerido.

Tal como referido no tópico anterior para os procedimentos cautelares comuns, estes deverá observar sempre o princípio do contraditório com os seus corolários bases

74 do direito de defesa e de ser ouvido. Devendo também, neste âmbito o requerente pronunciar-se previamente sobre cada acto que o afecte.

É certo que é ilícito ao Juiz decidir de questões de direito e de facto, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem, mas o próprio artigo 3.º n.º 2 e n.º 3 abre portas à limitação do princípio do contraditório. E é neste tópico que os procedimentos cautelares especificados vão absorver esta liberdade concedida ao Juiz. Pois, estamos perante casos excepcionais previsto na lei em que o Tribunal toma providências contra determinada pessoa, neste caso o requerido, sem que esta seja previamente ouvida.

Os procedimentos cautelares especificados visam a manutenção de uma determinada situação de facto ou o adiamento provisório da decisão principal, como tal, a observância escrutinada do princípio do contraditório poderia colocar em causa a eficácia da providência, pois o seu fim último é a celeridade e rapidez na conservação do direito em causa. Por outro lado, a supressão do princípio do contraditório encontra- se justificado pelo “periculum in mora”.

A restituição provisória da posse é um procedimento cautelar especificado preliminar ou incidental da acção possessória de restituição da posse em caso de esbulho violento nos termos do artigo 1279.º do CC. No âmbito desta providência o requerente terá de fazer prova da violência do esbulho, demonstrando a existência de coacção física, moral, de ofensa ou agressão contra a coisa.

Feita a prova e apreciada pelo Juiz, este pode reconhecer que o requerente tinha a posse e foi esbulhado violentamente, ordenando a restituição da mesma, sem necessidade de citação nem audiência do esbulhador. Portanto nos termos do artigo 378.º do CPC o Juiz fere legitimamente o princípio do contraditório no âmbito do procedimento cautelar especificado.

No caso de requerida a suspensão de deliberações sociais contrárias à lei, aos estatutos ou ao contrato, qualquer sócio terá de fazer prova mediante a apresentação de uma cópia da ata em que a deliberação foi tomada ou de um documento comprovativo da decisão daquela, nos termos do n.º 2 do artigo 380.º do CPC.

75 Caso a ata não seja junta ao processo, por não ter sido fornecida ao requerente, o tribunal ordena a citação da sociedade ou associação, informando de que se a contestação não se fizer acompanhar da mesma culminará no não recebimento do articulado em causa (artigo 381.º n.º 1 do CPC).

O procedimento cautelar de alimentos provisórios será requerido pelo titular de direito a alimentos no qual poderá requerer a fixação da quantia mensal que deva receber, enquanto não houver pagamento da primeira prestação definitiva. Para tal, deverá ser apresentada prova sumária, que no caso de não comparecimento de alguma das partes ou se a tentativa de conciliação se frustrar, o Juiz observará e decidirá proferindo sentença oral, com base nas provas em questão.

Como dependência da acção principal de indemnização fundada em morte ou lesão corporal, podem os lesados, bem como os titulares do direito a que se refere o n.º 3 do artigo 495.º do CPC requerer este procedimento.

O requerente terá de provar a existência de uma situação de necessidade em consequência dos danos sofridos e sobre se encontra indiciada a existência de obrigação de indemnizar por parte do requerido.

No que respeita ao arresto previsto no artigo 391.º e seguintes do CPC, este tem um fim de conservação da garantia geral das obrigações, tendo em conta o disposto no n.º 1 do artigo 601.º do CC. Como tal, o credor que tenha justo receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito pode querer o arresto dos bens do devedor. O arresto do bens, mais não é, do que a apreensão judicial destes.

Para que tal situação se verifique o requerente terá de provar o “periculum in mora”, bem como, o perigo de insatisfação do direito a satisfazer o crédito, neste âmbito baste que se verifique um justo receio.

O embargo de obra nova é requerido pelo detentor de um direito de propriedade, ou de qualquer outro direito real de gozo ou de posse, que se encontre ofendido ou ameaçado, em consequência de uma obra, trabalho ou serviço novo, nos termos do n.º 1 do artigo 397.º do CPC.

Após o conhecimento do facto danoso ou ameaçador o requerente tem o prazo de trinta dias para refutar o acontecimento e poder colocar o referido procedimento.

76 A prova no âmbito deste procedimento, os meios probatórios deverá, tal como nos anteriores, ser sumários, neste sentido o Tribunal da Relação de Coimbra pronunciou-se no sentido que “o embargo de obra nova não pressupõe a demonstração da lesão grave ou dificilmente reparável da lesão ou ofensa, apanágio do procedimento cautelar comum, face ao regime próprio do artigo 482.º n.º 1 do C.P.C, não sendo aplicável subsidiariamente ao requisito do n.º 1 do artigo 38.º do C.P.C.”88

O último procedimento cautelar enunciado no Código de Processo Civil é o arrolamento o qual poderá ser requerido quando haja um justo receio de extravio, ocultação ou dissipação de bens, móveis ou imóveis, ou de documentos. Perante estas situações o requerente fará prova sumária do direito relativo aos bens e dos factos em que fundamenta o receio do seu extravio ou dissipação.

Quando o direito relativo aos bens depender de acção proposta ou a propor, tem o requerente de convencer o tribunal da provável procedência do pedido correspondente.

Para tal, o requerente terá de provar sumariamente que tem um interesse jurídico na conservação de certos bens ou documentos, que existe justo receio de que eles possam vir a ser extraviados, ocultos ou dissipados e que há um perigo real de perda dos bens ou documentos, se o arrolamento não for decretado. 89

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