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A prova por declarações de parte no código de processo civil

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Academic year: 2021

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da Universidade de Lisboa

A Prova por Declarações de Parte

no Código de Processo Civil

Joana Rijo Pedrosa Cabral

MESTRADO EM CIÊNCIAS JURÍDICO-FORENSES

Tese sob orientação da Professora Dr.ª Isabel Alexandre

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3 Advertências

A presente dissertação rege-se pelo anterior acordo ortográfico.

As disposições legais citadas com a sigla CPC, sem qualquer outra indicação, pertencem ao Código de Processo Civil, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho

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4 Agradecimentos

Para o meu Pai,

por todo o seu carinho e por me ensinar a nunca desistir. É sem dúvida uma conquista partilhada.

À minha mãe por toda a compreensão, dedicação e amor. Ao meu irmão Hugo, por todo o apoio e amizade.

À Salomé, pois sem ela parte deste percurso não seria possível. Ao Germano, por toda a amizade e paciência.

Um agradecimento especial à Sr.ª Professora Dr.ª Isabel Alexandre, por ter aceitado orientar este trabalho, pelo apoio na elaboração e compreensão.

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5 Lista de Abreviaturas

Ac. – Acórdão. Art.º – Artigo. art.s- Artigos.

ASJP – Associação Sindical dos Juízes Portugueses. CC – Código Civil Português.

Cf. – Confronte. Cfr. – Confira.

CPC – Código de Processo Civil (Código de Processo Civil em vigor). CRP – Constituição da República Portuguesa

N.º - Número.

OA – Ordem dos Advogados. Op. Cit. – Opus citatum. Proc. – Processo.

Ss. – Seguintes.

STJ – Supremo Tribunal de Justiça. TRC – Tribunal da Relação de Coimbra. TRG – Tribunal da Relação de Guimarães. TRL – Tribunal da Relação de Lisboa. TRP – Tribunal da Relação do Porto. Vol. – Volume.

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6 Resumo

A presente dissertação de mestrado tem como pano de fundo o estudo da prova por declarações de parte.

Várias foram as alterações feitas ao Código de Processo Civil. As inovações introduzidas pela introdução da Lei 41/2013 de 26 de Junho, trouxeram consigo alguma curiosidade, perplexidade e críticas perante as novidades.

As alterações feitas à fase de instrução criaram algumas dúvidas, principalmente no tocante aos novos meios probatórios. Referimo-nos portanto à prova por declarações de parte e às verificações não judiciais qualificadas.

O actual Código de Processo Civil vem saciar o desejo das partes de intervirem oralmente e por sua própria iniciativa até ao início das alegações orais em primeira instância.

Até à referida data a parte via a sua participação activa e directa no desenrolar do litígio limitada pelas normas impostas no artigo 627.º do CPC, estando estes sujeitos processuais impedidos de depor como testemunhas os que na causa possam depor como partes. O preceituado neste artigo mantêm-se no actual artigo 496.º do CPC. Levanta-se então a questão se a parte é ou não uma testemunha?

Com o presente trabalho cumpre-nos concluir que esta é uma testemunha em lato sensu da ocorrência dos factos, pois presenciou directa e pessoalmente tendo uma percepção sensorial da ocorrência do facto. Mas não será uma testemunha para os efeitos do processo civil.

A articulação independente deste meio probatório trata-se para nós de uma intenção obvia de autonomizar este meio de prova, atribuindo-lhe igual mérito na sua livre valoração, tal como, todos os meios probatórios que se regem por esta valoração. Não sendo portanto um indício de prova ou comportando um valor probatório inferior.

O Regime previsto no artigo 466.º em consonância com a supletividade da aplicação do regime previsto para o depoimento de parte, apesar de escasso quanto a especificações é possível extrair-se dele, com clareza, que a prova por declarações de parte poderá ser requerida pela própria ou oficiosamente. O requerimento poderá ser feito nos respectivos articulados ou até às alegações orais em primeira instância, no

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7 qual, deverá constar a discriminação dos factos sobre os quais irá recair, caso não aconteça o Juiz deverá ex officio convidar a parte a suprir tal insuficiência.

A Prova por Declarações de Parte está sujeita à livre apreciação do julgador, excepto quando dela resulte a confissão, que terá valor de prova plena.

Entendemos que embora a parte tenha um interesse directo no ganho da causa, este meio probatório será auto-suficiente para, em determinadas situações, formar a convicção do julgador quanto à boa decisão da causa.

Valerá, assim, tanto para todas as espécies de acções declarativas, nos termos do artigo 10.º do CPC como para os procedimentos cautelares (comuns e específicos), atendendo sempre ao circunstancialismo da causa.

Palavras - chave: Livre apreciação da prova; confissão; depoimento de parte; declarações de parte; valoração.

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8 Abstract

The present Master degree dissertation has the study of the evidence by party's declarations as background.

The modifications made to the civil process code were several. The innovations introduced by the law 41/2013 of july 26th, brought with it some curiosity, perplexity and critics towards the news.

The alterations made to the instruction fase created some doubts, mainly on what concerns the new mean of evidence. We are therefore referring to evidence by party's declarations and to the qualified non judicial verifications.

The present civil process code comes to indulge the part desire to intervene oraly and by their own initiative until the beginning of the oral alegations in first instance.

Until the mentioned date the part saw his active and direct participation in the unfolding of the litigation limited by rules imposed in the article 627.º from CPC, beeing these processual subjects disabled to testify as witnesses, those that in the cause might testify as parts. The reading of this article can still be found int the present civil process code in the current article 496.º from CPC. the question then rises, is the part a witness or not? With the current work we conclude that it is a witness in latu sensu of the occurrence facts because he has witnessed personaly and directly having a sensorial perception of the occurrence of the facts. But will not be a witness for civil process effects.

To us the independent articulation of this mean of evidence is about an obvious intention of autonomize this mean of evidence, giving it equal merit in its free valuation, just like, all the means of evidence which are governed by this valuation.Thus not being an indication of proof or having a lower probationary value.

The Scheme provided for in Article 466.º in line with the supplementary application of the regime provided for the testimony of a party, although scarce in terms of specifications can be clearly extracted from it that evidence by a party's declarations may be required by itself or ex officio. The request may be made in the respective pleadings or even the oral arguments in the first instance, which should include a breakdown of the facts on which it will fall, in case it does not happen the Judge should ex officio invite the party to remedy such insufficiency.

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9 The evidence by party's declarations is subject to the free appraisal of the judge, except when it results in confession, wich shall have full evidential value.

We understand that although the party has a direct interest in the cause gain,this means of evidence will be self-sufficient to, in certain situations, form the conviction of the judge as to the good decision of the cause.

It will thus apply to all kinds of declarative actions, in acordance with the article 10.º of CPP and for precautionary procedures (common and specific), always taking into account the circumstances of the case.

Therefore we are faced with a probative element in its fullness.

Keywords:Free apreciation od the evidence, confession, party’s declaration, party’s testemonys, valuation.

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10 Índice

Introdução………… ... 11

1. Princípios orientadores ... 14

1.1 Princípio da Igualdade de Partes ... 14

1.2 Princípio do Contraditório como corolário da Igualdade de Partes e a prova por Declarações de Parte. ... 15

1.3 O princípio da Livre Apreciação da Prova ... 19

2. A Prova Testemunhal em confronto com a Prova por Declarações de Parte… ... 22

3. A Prova por Confissão ... 25

4. A Prova por Depoimento de Parte ... 27

5. Declarações de Parte ... 35

5.1 Breve introdução ao tema Prova por Declarações de Parte ... 35

5.3 Será este meio de prova a consagração da prática judiciária? ... 40

5.4 Análise ao artigo 466.º do CPC ... 41

5.5 A quem incumbe a iniciativa da prestação da Prova por Declarações de Parte? ... 42

5.5.1 A iniciativa da própria parte. ... 45

5.6 O requerimento para a produção de Prova por Declarações de Parte. . 47

5.7 A valoração da Prova por Declarações de Parte ... 48

5.8 O regime supletivo do n.º 2 do Artigo 466.º do CPC. ... 56

5.9 Os factos levados a juízo através da Prova por Declarações de Parte. (O princípio do Dispositivo). ... 59

5.10 Os sintomas da verdade na Prova por Declarações de Parte. ... 65

6. Procedimentos Cautelares ... 69

6.1 Os procedimentos Cautelares Especificados ... 73

6.2 Sobre a Prova nos Procedimentos Cautelares ... 76

Conclusão………...………78

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11 Introdução

O tema da presente dissertação é a Prova por Declarações de Parte no direito processual civil português. Foram várias e vastas as críticas tecidas à alteração ao Código de Processo Civil1 e às introduções feitas com a publicação da Lei n.º 41/2013. Na fase de instrução a prova por declarações foi, manifestamente, um dos tópicos que mais polémica e controvérsia gerou. Não só pela capacidade que agora é atribuída à parte mas, também, pela subsidiariedade do seu regime.

Tenderemos analisar essas mesmas opiniões das entidades que se pronunciaram no sentido da fragilidade e inutilidade deste meio probatório, bem como, a recente jurisprudência que tem vindo a dar razão ao legislador apoiando a utilização deste meio probatório.

Se é certo que a comunidade jurídica em geral tem receado este meio de prova, outros se insurgiram pela utilização e valoração do mesmo.

Perante o presente tema, é óbvia a necessidade de dissecação dos princípios basilares orientadores da utilização deste meio probatório, desde logo o Princípio da Igualdade de Partes previsto no artigo 13.º e 20.º da Constituição da República Portuguesa.

Sendo ele o princípio que orienta todo o direito e, como é óbvio, a sua componente prática a nível processual impondo uma igualdade dos cidadãos perante a lei e a mesma dignidade social. Não podendo ninguém ser privilegiado, beneficiado, prejudicado ou privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever. A sua manifestação expressa no artigo 4.º do CPC será analisada e aplicada à prova por declarações de parte.

Por conseguinte, é essencial a abordagem ao Princípio do Contraditório e da Igualdade de Armas como corolário prático do Princípio de Igualdade de Partes, especificando a sua abordagem quando confrontado com o meio probatório em questão de modo a assegurar um igual estatuto para ambas as partes em litígio. Para além de que, foi um dos tópicos que mais gerou controvérsia quanto à aplicabilidade da prova por declarações de parte.

1 Doravante qualquer menção ao Código de Processo Civil ou CPC será relativa ao Código de

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12 A introdução do meio probatório previsto no artigo 466.º do CPC leva a uma necessária abordagem à sua evolução histórica. Quer isto dizer, que será necessário dissecar, a prova testemunhal, confrontando os dois regimes. Iremos analisar, portanto, a autonomização dos dois regimes apontando as suas diferenças e tentando analisar as semelhanças.

Para além da prova testemunhal é essencial uma abordagem à prova por confissão, pois, apesar de o artigo 466.º do CPC reportar, desde logo, a essência benéfica das declarações para a parte, poderá sempre resultar a confissão dos factos.

Para tanto, a prova por confissão será dissecada de modo a perceber-se os moldes destas e consequentemente entender-se o regime específico para o depoimento de parte.

Posteriormente será necessário o estudo do regime da prova por depoimento de parte, não só pela supletividade desde regime em relação à prova por declarações de parte, mas por se tratar da figura jurídica probatória que mais se assemelha ao elemento probatório que é objecto de estudo do presente trabalho.

Analisados estes regimes, estaremos então preparados para dissecarmos regime da Prova por Declarações de Parte previsto no artigo 466.º do CPC.

Tal como referido anteriormente, face à exposição de motivos, várias foram as entidades a pronunciarem-se relativamente a este meio probatório, como tal, procederemos à análise de cada uma delas tentando responder de forma cientificada a cada uma das questões colocadas.

Tentaremos uniformizar opiniões, de modo, a compreender e responder a questões tais como - a quem incumbe a iniciativa da prestação de declarações? Qual o aspecto formal e material do requerimento? Qual o modo de valoração da prova por declarações de parte? Como deverá a prova por declarações de parte pesar no processo de cognição do julgador? (entre outras questões).

Será inevitável uma passagem pelos procedimentos cautelares e os seus meios probatórios, de modo, a aferir da fidedignidade do uso da prova por declarações de parte nos mesmos.

As partes são os sujeitos mais bem informados sobre os factos, foram perante elas que eles ocorreram. Em inúmeras situações, foram aqueles os factores de criação dos

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13 factos. Como tal, tem um contacto privilegiado, podendo, em inúmeras circunstâncias os seus relatos serem essenciais para averiguar da veracidade dos mesmos, resultando assim, na importância evidente deste meio probatório para a resolução do litígio.

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14 1. Princípios orientadores

1.1 Princípio da Igualdade de Partes

No artigo 13.º da CRP encontra-se consagrado o Princípio da Igualdade e Não Discriminação, o qual afirma a existência de equidade de todos os sujeitos perante a lei e através da lei. Mediante este pilar constitucional nenhum cidadão poderá ser privilegiado, beneficiado, prejudicado ou privado devido a critérios pessoais e subjectivos.

Este preceito é o garante da igualdade dos cidadãos perante os tribunais e na aplicação do direito através destes, nos termos do artigo 13.º e 20.º n.º1 da CRP.

No âmbito do processo civil, o Princípio da Igualdade de parte, revê a sua consagração legal no artigo 4.º do CPC. Tem sido este, o entendimento encontrado na jurisprudência do Tribunal Constitucional, por derivarem em última instância do princípio do estado de direito.2

O artigo 4.º do CPC vem impor processualmente uma paridade na posição processual das partes perante o tribunal e um equilíbrio ao longo do processo. As partes devem possuir os mesmo direitos, poderes, ónus e deveres aquando da resolução do litígio, de modo, a concretizar-se uma igual posição perante a contra parte e o Tribunal. Tendo, aquelas, ao seu alcance os mesmos meios de defesa e de faculdades de que podem lançar mão durante o processo, devendo o Tribunal assegurar este estatuto de igualdade.

O Princípio da Igualdade de partes consagrado no artigo 4.º do CPC dispõe meios ao Tribunal para que possa efectivar este estatuto durante o processo, através de poderes instrutórios e inquisitórios, mas também, proíbe o Tribunal de no uso destes poderes, criar uma situação de disparidade e dissemelhança entre as partes para que não as prejudique.

É óbvio que nem sempre é possível tal simetria, desde logo e utilizando o exemplo mais comum na doutrina, é a situação do início do processo, pois “ a escolha do momento da propositura da acção cabe ao autor … enquanto que o prazo do réu para

2Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 259/ 00 [Conselheiro Messias Bento] proc. n.º 103/

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15 contestar é legalmente balizado.” 3 Nesta situação o réu vê o seu tempo para discernir, dos meios ao seu dispor reduzido e delimitado.

Não é de olvidar que o Princípio da Igualdade de partes não coloca em causa a boa decisão no que concerne à matéria de facto controvertida que, obviamente, será benéfica para uma parte e inconveniente para outra.

Contudo existência de uma igualdade formal será, dentro do máximo possível, alcançada através de uma equiparidade atribuída às partes no que respeita aos poderes, direitos, ónus, deveres, exercícios de faculdades e mesmo através do uso de meios de defesa.

1.2 Princípio do Contraditório como corolário da Igualdade de Partes e a prova por Declarações de Parte.

O Princípio do Contraditório é um dos pilares essenciais do processo civil, tratando-se de um mecanismo inerente ao impulsionamento e dinâmica da instância.

Como corolário do Princípio da Igualdade de Partes tem consagração constitucional, tal como de pode observar pela leitura do artigo 20.º da CRP.

No CPC o direito à parte de exercer o contraditório encontra-se consagrado no artigo 4.º proibindo, à contrariu sensu, a indefesa de umas das partes perante o litígio, o que pressupõe logicamente um princípio de igualdade de armas e de partes, tal como referido no capítulo anterior e, consequentemente no artigo 366.º do mesmo código.

A sua concretização é manifesta na motivação da resolução de um conflito de interesses impulsionada por uma parte e na consequente oposição feita pela parte contrária, garantindo uma efectiva participação dos sujeitos processuais no desenvolvimento do litígio.

A parte pode deduzir a sua defesa no respectivo articulado, sendo ela feita, por excepção ou por impugnação no que respeita aos factos, tal como dispõe o n.º 1 do artigo 3.º do CPC.

3 Francisco Lucas Manuel Ferreira de Almeida in “ Direito Processual Civil”, Volume I,

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16 Para tanto, o processo civil concede às partes tantos articulados como os que elas necessitam para efectivar o seu contraditório, veja-se a petição inicial, a contestação, a reconvenção e a réplica.

No decorrer do processo, o Juiz cingir-se-á por este princípio, conferindo aos sujeitos processuais a possibilidade de se pronunciarem sobre as questões de facto e de direito nos termos do n.º 3 do supra mencionado artigo.

No plano probatório encontra-se a concretização do exercício do contraditório no artigo 415.º do CPC, o qual refere que “não são admitidas nem produzidas provas sem audiência contraditória da parte a quem haja de ser opostas” (cfr. n.º1 do artigo 415.º). Confere-se às partes uma igualdade na faculdade de proposição de todos os meios probatórios que julguem pertinentes para o apuramento da verdade material e, em consequência da sua apresentação, a contra parte pode sempre exercer contraprova.

A contraprova é aquela apresentada pela parte contrária de modo a opor-se aos factos apresentados, de modo a torná-los duvidosos, nos termos do artigo 346.º do CC.

No respeitante às provas constituendas, sendo estas as que se formam no decurso do processo, dependendo da sua necessidade durante o mesmo4, a parte é notificada, quando não for revel, para todos os actos de preparação e produção de prova, e é admitida a intervir nesses actos nos termos da lei, tendo em conta o disposto no n.º 2 do artigo 415.º do CPC.

Como irá ser abordado adiante, a prova por declarações de parte quando constituenda, poderá causar algumas dúvidas.

Ora veja-se, a título de exemplo, quando a prova por declarações de parte não é requerida nos respectivos articulados e o seu requerimento só é realizado, por necessidade da parte ou devido à dinâmica da instância, em audiência de julgamento, por sentir necessidade. Contudo, a parte contrária ao requerente não se encontra presente por motivo superveniente e, para tal, encontra-se representada na pessoa do seu mandatário.

4Acórdão do Tribunal da Relação do Porto datado de 13 de Maio de 1993 [Augusto Alves] proc.

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17 Neste âmbito, a contraparte poderá ver ferido e limitado o seu direito ao exercício do contraditório, bem como, colocado em causa o princípio da igualdade de partes. Pois querendo contraditar, não se encontra presente.

Face ao requerimento da prova por declarações de parte e ouvido o requerente, o Juiz poderá notificar a contraparte na pessoa do seu mandatário, que poderá opor-se ou não. Se nada tiver a opor exercerá o seu contraditório.

A questão essencial é de que a prova por declarações de parte pressupõe um conhecimento directo e uma intervenção pessoal sobre os factos que, logicamente só a parte tem e que o mandatário, apesar de cientificado, não possui.

A parte que não esteve presente, não concretiza na sua plenitude o seu exercício ao contraditório havendo aqui, uma possível opressão ao princípio da igualdade de partes, presente no artigo 4.º do CPC, o qual, o Tribunal tem a obrigação de assegurar durante todo o processo, um equitativo acesso ao exercício de faculdades e uso de meios de defesa.

Como tal, e sendo proibido ao Tribunal a execução de actos que prejudiquem os princípios basilares do processo civil, deverá a audiência ser prolongada e, consequentemente, adiada para que a contraparte exerça o seu contraditório na sua plenitude, nos termos do n.º 3 do artigo 651.º do CPC, com as necessárias adaptações.

Para além do carácter puramente processual, este princípio tem consagração constitucional, como se pode observar pela leitura do artigo 20.º da CRP.

A sua concretização é manifesta na motivação da resolução de um conflito de interesses impulsionada por uma parte e na consequente oposição feita pela contra parte, garantindo uma efectiva participação dos sujeitos processuais no desenvolvimento do litígio.

A parte pode deduzir a sua defesa no respectivo articulado sendo ela por excepção ou por impugnação no que respeita aos factos, tal como dispõe o n.º 1 do artigo 3.º do CPC.

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18 Para tanto, o processo civil concede às partes tantos articulados como os que elas necessitam para efectivar o seu contraditório, veja-se a petição inicial, contestação, reconvenção e réplica.

No decorrer do processo, o Juiz cingir-se-á por este princípio, conferindo às partes a possibilidade de se pronunciarem sobre as questões de facto e de direito nos termos do n.º 3 do supre mencionado artigo.

No plano probatório encontra-se a concretização do exercício do contraditório no artigo 415.º do CPC, o qual refere que “não são admitidas nem produzidas provas sem audiência contraditória da parte a quem haja de ser opostas” (cfr. n.º 1 do artigo 415.º). Confere-se às partes uma igualdade na faculdade de proposição de todos os meios probatórios que julguem pertinentes para o apuramento da verdade material e, em consequência da sua apresentação, a contra parte pode sempre exercer contraprova.

Ora veja-se, a título de exemplo, quando a prova por declarações de parte não for requerida nos respectivos articulados e o seu requerimento só é realizado em audiência de julgamento, por sentir necessidade. Contudo, a parte contrária ao requerente não se encontra presente por motivo superveniente e, para tal, encontra-se representada na pessoa do seu mandatário.

Neste âmbito, a contraparte poderá ver ferido e limitado o seu direito ao Princípio do Contraditório, bem como, colocado em causa o Princípio da Igualdade de parte.

Face ao requerimento da prova por declarações de parte e ouvida a parte, o Juiz poderá notificar a contraparte na pessoa do seu mandatário, que poderá opor-se ou não. Se nada tiver a opor exercerá o seu contraditório.

A questão essencial é de que a prova por declarações de parte pressupõe um conhecimento directo e uma intervenção pessoal sobre os factos que o mandatário, apesar de cientificado, não tem.

A parte que não esteve presente, não concretiza na sua plenitude o seu exercício ao contraditório havendo aqui, uma possível opressão ao Princípio da Igualdade de partes, presente no artigo 4.º do CPC, perante o qual o Tribunal tem a obrigação de

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19 assegurar, durante todo o processo, um equitativo acesso ao exercício de faculdades e uso de meios de defesa.

Como tal, e sendo proibido ao Tribunal a execução de actos que prejudiquem os princípios basilares do processo civil, deverá a audiência ser prolongada e, consequentemente, adiada para que a contraparte exerça o seu contraditório na sua plenitude, nos termos do n.º 3 do artigo 651.º do CPC, com as necessárias adaptações.

Cumpre-nos para tal concluir que o Princípio do Contraditório reporta-se, acima de tudo, aos factos invocados em litígio e às posições assumidas pelas partes.5

1.3 O princípio da Livre Apreciação da Prova

No ordenamento jurídico português o direito probatório encontra-se regulado em dois planos, movendo-se entre o direito probatório material e o direito probatório formal. O primeiro plano regula e estabelece as regras distributivas do ónus da prova, tal como vem previsto no artigo 342.º e seguintes do CC, e a força probatória dos diversos meios de prova. Neste âmbito as provas encontram um regime de regulamentação da sua força no que respeita à formação da convicção do Juiz.

O plano probatório Formal regula o modo de produção das provas em Tribunal, mais concretamente, na fase de instrução do processo. Este regime vem enunciado nos artigos 410.º a 526.º do CPC, os quais integram os procedimentos probatórios, discriminando o modo de requerer, produzir e valorar as provas durante o litígio.

É perante este quadro que encontra-mos um dos maiores princípios orientadores no que à prova respeita, o Princípio da Livre Apreciação da Prova.

Segundo o Princípio da Livre Apreciação da Prova o tribunal goza de inteira liberdade na apreciação daquela. Através deste, o Juiz tem total autonomia e independência para discernir e decidir sobre os diversos pontos da matéria de facto, com base na sua prudente e cientificada capacidade de entendimento.

Regra geral estão sujeitas à livre apreciação do Juiz, a prova testemunhal (nos termos do artigo 396.º do CC), a prova por inspecção (nos termos do artigo 391.º do

5 vide Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, datado de 13 de Novembro de 2012 [José

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20 CC), a prova pericial (artigo 389.º do CC), a prova por verificações não judiciais qualificadas (nos termos do artigo 494.º n.º 2 do CPC) e a prova por declarações de parte, nos termos do artigo 466.º n.º 3 do CPC. É certo que os dois últimos meios probatórios mencionados não encontram a sua consagração e regularização no direito substantivo em regime próprio, devido ao carácter inovador, causa da recente introdução no ano de 2013 (dois mil e treze).

Releva-se, que tal como qualquer regra, esta comporta a sua excepção, pois perante determinadas circunstâncias, a prova tem valor de prova plena, ficando o julgador obrigado a cumprir fielmente o por ela demonstrado, declarando o facto como provado. Excepção feita, com valor probatório pleno encontra-se a prova por confissão judicial escrita e extrajudicial, em documento autêntico ou particular nos termos do artigo 358.º do CC, os documentos autênticos, tal como previsto no artigo 371.º do CC e os documentos particulares, nos termos do artigo 376.º do CC.

A livre convicção supra mencionada, está alicerçada em regras técnicas, em máximas da experiência e numa lógica dedutiva criteriosa.

O Juiz terá de apreciar ad initio a admissibilidade dos meios probatórios.

Para JOSÉ ALBERTO DOS REIS6 o Princípio da Livre Apreciação das Provas ou “prova livre” não significa uma prova arbitrária ou irracional, mas antes uma prova apreciada em inteira liberdade pelo julgador, sem obediência de uma tabela ditada externamente, mas em perfeita conformidade (…) com as regras da experiência e as leis que regulam a actividade mental.

Como referido anteriormente, em primeira linha, o Juiz irá analisar a admissibilidade dos elementos probatórios e tratando-se da presença de um sistema misto, não há lugar a uma livre apreciação no que respeita a provas processualmente ilícitas, como é o caso, de um depoimento produzido sob coacção ou violência, ou mediante desvio de princípios basilares do procedimento probatório (v.g o Princípio do Contraditório).

6 José Alberto dos Reis in “ Código de Processo Civil Anotado” vol. II, 3.ª ed., Coimbra

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21 As provas obtidas ilicitamente e levadas a juízo deverão ser inutilizadas, não podendo ser apreciadas. Sobre este tópico ISABEL ALEXANDRE indica que “ não é o poder do Juiz de valorar que fundamente a admissibilidade das provas ilícitas.”7

A convicção supra mencionada está alicerçada em regras técnicas, em máximas da experiencia e num lógica dedutiva criteriosa.

O princípio da livre apreciação tem por base a libertação do Juiz de regras severas no momento de cognição, mas sempre, sem atribuir um poder arbitrário e subjectivo para julgar os factos. Quer isto dizer que o sistema vigente no ordenamento jurídico português não exclui a observância de regras da experiência comum e critérios de lógica.

Portanto o julgador não está sujeito ao escrutínio da razão, das regras da lógica e da experiência que a vida vai proporcionando8.

7 Isabel Alexandre, in “Provas ilícitas em processo civil”, Coimbra Editora, citada por Lebre de

Freitas “introdução ao processo civil”, página 121, nota 40.

8 Acórdão do Tribunal da relação de Coimbra, datado de 30 de Junho de 2015 [Isabel Silva],

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22 2. A Prova Testemunhal em confronto com a Prova por Declarações de Parte Quando nos referimos à prova testemunhal dirigimo-nos ao meio probatório mais utilizado ao longo da história na prática judiciária, tendo sido, em tempos, considerada a “Rainha das provas.”

A prova testemunhal trata-se de um depoimento – declaração de ciência9 – produzido em juízo, provindo de uma terceira pessoa estranha ao litígio.

Este sujeito processual, acidental, designado por testemunha é formalmente convocada ao Tribunal para se manifestar sobre os factos de que tenha conhecimento e os quais sejam relevantes para a boa decisão da causa.

Desde logo, pela própria asserção do artigo 495.º do CPC e 466.º do mesmo código, se depreende o ponto de ruptura entre este meio de prova e as declarações de parte, enquanto elemento probatório. Sendo o ponto de distinção a qualidade dos sujeitos e intervenientes processuais, visto que “estão impedidos de depor como testemunha os que na causa possam depor como partes.”

ELIZABETH FERNANDEZ indica que “as partes que presenciaram directamente factos ou neles intervieram são tecnicamente testemunhas dos mesmos. O legislador, porém, teve ainda medo das palavras e recusou (…) a designação da parte como testemunha (…). Mais uma vez, a parte que, nestas situações, é materialmente uma testemunha, formalmente, apenas tem a dimensão de parte, tudo para continuar a manter a ilusão de que o nosso sistema processual só pode repudiar o testemunho de parte.”10

O único ponto em comum entre os meios probatórios é no nosso entender, a relação dos sujeitos face aos factos constitutivos do litígio e a sua posição perante eles.

Neste sentido, para ELIZABETH FERNANDEZ as partes “vão prestar depoimento sobre factos que testemunharam, pois são estes de que se tem conhecimento

9 Cfr. Manuel de Andrade in “Noções Elementares de Processo Civil”, Coimbra: Coimbra

editora, 1993, cit., p. 241. Como refere LEBRE DE FREITAS, a declaração de ciência “(…) contém uma informação sobre a realidade, isto é, sobre a verificação dos factos, passados ou presentes” in “A Ação Declarativa Comum: À Luz do Código Revisto” 2.ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2012, p. 215, nota 6.

10 Elizabeth Fernandez in “Um Novo Código de Processo Civil? Em busca das Diferenças”,

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23 pessoal ou directo. Isto para dizer que, as partes que presenciaram directamente os factos ou que neles intervieram, são tecnicamente testemunhas dos mesmos”.11

ALBERTO VICENTE RUÇO, citando MITTERMAYER, indica que só é “testemunha de um facto quem esteve de olhos e ouvidos abertos em frente do facto no momento em que ele se produziu”12 e neste sentido, aceitamos que as partes são testemunhas em lacto sensu da ocorrência dos factos, que a elas correspondem. Mas não serão testemunhas para os efeitos dos artigos 392.º e ss. do CC e artigos 495.º e ss. do CPC) – testemunha em stricto sensu.

A prova testemunhal e a prova por declarações de parte encontram em comum, o juramento que os sujeitos têm de prestar perante o tribunal, devendo ter sempre em conta o princípio da boa-fé e da cooperação, estando sempre cientes que terão de responder com verdade, nos termos do artigo 559.º do CPC ex vi do artigo 513.º n.º 2, no que respeita à prova testemunhal e 466.º n.º 2 no que à prova por declarações de parte diz respeito.

A valoração de ambos os meios probatórios poderia causar confusão quanto à sua semelhança, pois serão livremente apreciados pelo Tribunal, ademais, não tendo a prova por declarações de parte consagração no direito substantivo, poderíamos tender para a aplicação do artigo 396.º do CC.

No nosso entender, não caberá o uso do supra mencionado preceito legal, tendo a prova por declarações de parte o seu regime valorativo no próprio artigo 466.º do CPC.

Interessa-nos para tal salientar os pontos de ruptura entre ambos os meios probatórios. O primeiro ponto prende-se com interesse de cada um dos sujeitos perante o litígio, tal como referido anteriormente, a testemunha é um terceiro alheio à causa, consequentemente, despojada de qualquer tipo de intenção para com a mesma. Por contrário, a parte tem um interesse directo no ganho da causa e na boa resolução do litígio - entenda-se a seu favor.

No tocante aos respectivos procedimentos probatórios as diferenças continuam e são evidentes. Ora veja-se, o momento processual em que ambos os meios probatórios

11Elizabeth Fernandes “Um Novo… Op. Cit. Loc. Cit. Pág. 71.

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24 serão produzidos, para tal, as testemunhas serão arroladas (no máximo de dez) nos respectivo articulados nos termos do artigo 498.º, 552.º n.º 2 e 572.º alínea d) do CPC, por contrário à prova por declarações de parte, que poderá ser requerida até ao início das alegações orais em primeira instância, seguindo o seu regime próprio previsto no artigo 466.º do CPC que será analisado em tópico posterior.

Se o interrogatório feito à parte no âmbito da prova por declarações é conduzido pelo Juiz, nos termos do artigo 460.º do CPC ex vi do artigo 466.º n.º 2 do mesmo código, o interrogatório feito às testemunhas é conduzido pelo advogado da parte que ofereceu o rol onde aquela consta identificada, podendo o advogado da contraparte, colocar-lhe questões quanto aos factos sobre os quais tiver deposto, e proceder às instâncias indispensáveis para se completar ou esclarecer o depoimento.

O restante regime da prova testemunhal em nada de assemelha à prova por declarações de parte, permitindo-nos concluir que estes meios probatórios não têm ligação entre si, somente quanto à acessão do estatuto de testemunha.

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25

3. A Prova por Confissão

No Código Civil de 1867, que entrou em vigor em 1868 - também, designado como Código de Seabra - no capítulo referente às provas, o capítulo II com a epígrafe “Da confissão das partes”, no artigo 2408.º refere que “ A confissão é o reconhecimento expresso, que a parte faz, do direito da parte contrária, ou da verdade do facto por esta, alegado”. Trata-se do reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é desfavorável e consequentemente, favorece a parte contrária. Esta é a noção clara e exacta que o actual Código Civil anuncia, estabelecendo o regime substantivo da prova por confissão nos artigos 352.º a 361.º.

Da leitura da norma do artigo 352.º do CC é possível extrair-se que estamos perante uma declaração de ciência13 emanada pela parte, na qual é possível verificar quantitativamente na parte em que se revele prejudicial ao próprio confitente. Deste modo, a parte que declara um facto a si lesivo irá fazer impender na sua esfera jurídica a extinção ou modificação de um direito.

É óbvio que a parte não irá mentir em juízo, deturpando factos de modo a prejudicar-se e a beneficiar a parte contrária. Para além de que, durante o depoimento do confitente, este acaba por revelar factos que o beneficiam. É perante estas eventualidades que surge o corolário da indivisibilidade da confissão.

O Código de Seabra no seu artigo 2417.º referia que “ A confissão é indivisível: Não poderá, por isso, a parte que della se quizer aproveitar acceitar o que lhe for favorável, e rejeitar o que lhe possa ser prejudicial, salvo abrangendo a dicta confissão factos cuja falsidade se ache aliás demonstrada.”

Actualmente este tópico encontra-se previsto no artigo 360.º do CC o qual expõe que prestada a referida declaração de ciência que prejudique o confitente, não poderá ser fraccionada do restante depoimento, portanto “aquele que quiser valer-se das declarações judiciais ou extra judiciais de outrem não pode aceitá-las apenas na parte que lhe é favorável e rejeitá-la, pura e simplesmente, na parte que lhe é adversa”.14

13 Assim, José Lebre de Freitas in “A Confissão do Direito Probatório – Um Estudo de Direito

Positivo”, 2.ª edição, Coimbra Editora, 2013, página 186.

14Acórdão do STJ, datado de 2.10.2003 [Ferreira Girão], proc. n.º 033B1909, disponível em

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26 Esta questão só se coloca quando a parte “quiser aproveitar-se da confissão como meio de prova plena e tem como consequência complexa aceite, a inversão do ónus da prova quanto à parte favorável ao confitente.”15

A confissão poderá ser extrajudicial ou judicial, nos termos do artigo 356.º do CC. A Primeira é feita fora do processo, podendo ser escrita ou oral. A segunda é a que importa para o estudo do presente tema e realiza-se no próprio processo, sendo espontânea, quando realizada nos articulados ou fora desse momento, durante, por exemplo, a audiência de julgamento.

A confissão judicial pode resultar do depoimento de parte, previsto nos artigos 452.º a 465.º do CPC ou da prova por declarações de parte prevista no artigo 466.º do mesmo código. Quando obtida a confissão através destes meios de produção de prova, ela será reduzida a escrito nos termos do artigo 463.º e 466.º n.º 2 do CPC, adquirindo assim um valor de prova plena contra o confitente nos termos do artigo 358.º n.º 1 do CC.

A não redução a escrito da confissão judicial poderá levar à nulidade do acto nos termos do artigo 195.º n.º 1, sendo arguida no prazo ditado para o efeito, nos termos do artigo 199.º. “ A não redução a escrito, imposta pelo n.º 1 do artigo 563.º do CPC, da confissão obtida em depoimento de parte constitui nulidade, que tem de considerar-se sanada, caso não seja arguida nos termos e prazos gerais (art. 205.º n.º 1 do CPC).16

A confissão é um acto jurídico que só resultará se o confitente tiver legitimidade para o fazer. Portanto, só será eficaz se o confitente tiver capacidade e poder para fazer uso deste meio processual, quer isto dizer, que terá de ter autenticidade que será aferida, consoante detenha ou não o direito a que o facto respeita, nos termos do artigo 353.º n.º 1 do CC.

Por concluir, no âmbito do presente tema, a confissão judicial provocada, mediante requerimento da parte contrária, ou espontânea feita em juízo, como meio de prova típico e nominado é a que revela para efeitos de estudo da prova por depoimento de parte e por declarações de parte que posteriormente irão ser abordadas.

15José Lebre de Freitas, introdução ao processo…, op. cit. 16José Lebre de Freitas, introdução ao processo…, op. cit.

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27 4. A Prova por Depoimento de Parte

A secção II do Capítulo III do Título V do Código de Processo Civil intitula-se por Prova por confissão e por declarações de parte, ao olhar-se para o artigo 452.º do referido código é perceptível a sintonia entre a prova por confissão e o depoimento da parte.

Como anteriormente referido o depoimento de parte era um dos poucos momentos processuais em que a parte via a sua intervenção activa e directa durante o processo, sendo a figura probatória que mais se assemelha à prova por declarações de parte.

Este depoimento é requerido oficiosamente ou pela parte contrária, devendo o depoente pronunciar-se sobre informações necessárias ao litígio ou sobre esclarecimentos sobre factos que interessem à boa decisão da causa. Podendo, ainda, a parte requerer o depoimento dos seus compartes nos termos do n.º 3 do artigo 453.º do CPC.

O depoimento deverá versar sobre factos pessoais ou sobre os quais o depoente teve conhecimento directo nos termos do n.º 1 do artigo 454.º do CPC. Devendo ser prestado na audiência final, considerando o disposto no n.º 1 do artigo 456.º do CPC, excepcionando as situações em que o depoente estiver impossibilitado de comparecer no Tribunal, por motivo de doença.

A ordem dos depoimentos vem prevista no artigo 458.º do CPC, o qual refere que se ambas as partes tiverem requerido o depoimento, deverá depor primeiro o réu e em seguida o autor. Em situações que o depoimento de parte se estenda a mais de um autor ou de um réu, serão recolhidos a uma sala, de modo a que não possam assistir ao depoimento de qualquer deles.

O depoente é advertido da importância moral do juramento e do dever de ser fiel à veracidade, sendo alertado das sanções aplicáveis às falsas declarações. Posteriormente o Tribunal exige ao depoente que este preste juramento referindo “Juro pela minha honra que hei-de dizer toda a verdade e só a verdade”, nos termos do artigo 459.º do CPC.

Após esta fase solene o Tribunal procede ao interrogatório com vista à identificação do depoente e por conseguinte dá início às questões sobre os factos que

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28 devem ser objecto do depoimento. Face a estas questões o depoente responde com exactidão, podendo socorrer-se de documentos ou apontamentos de datas ou de factos para responder às perguntas, mas jamais poderá levar o seu depoimento já escrito.

Todo o depoimento é reduzido a escrito, sendo a assentada lida ao depoente que confirma ou faz as rectificações que julgar necessárias nos termos do artigo 463.º do CPC.

O artigo 465.º refere-se à irretratabilidade da confissão o que necessariamente remete para uma leitura do artigo 360.º do CC. Outra das características da confissão é a indivisibilidade, pois relativamente a declaração confessória, neste âmbito, judicial provocada17, “feita em depoimento de parte, requerido pela contraparte, que contiver afirmações desfavoráveis ao depoente, mas também factos que são favoráveis, a contraparte que se quiser aproveitar de tal confissão como meio de prova plena deve, de igual modo, aceitar a realidade dos factos que lhe são desfavoráveis.18

Caso a parte queira aproveitar a confissão provinda do depoimento da parte contrária terá de fazer prova. A complexidade da indivisibilidade da confissão deriva da inversão do ónus da prova quanto à parte favorável ao confitente.

Tal como anteriormente referido o depoimento de parte integra-se no capítulo da prova por confissão e coloca-se aqui a questão de se saber se será esta o fim último daquele meio de prova. É certo que o depoente só irá depor sobre factos dos quais tenha um conhecimento directo e como tal, em inúmeras circunstâncias acabará por confessar.

Embora existam opiniões contrárias19 a doutrina e a jurisprudência maioritária entendiam que, o depoimento de parte constitui-a meio de prova com vista à obtenção da confissão, da parte que requereu e não do depoente.

17Estrela Chabby in “ O depoimento de parte em Processo Civil”, 1.ª edição, Coimbra Editora,

Outubro 2014, página 17 §3.

18Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, datado de 9 de Outubro de 2017 [Serra Baptista],

proc. n.º 311/11.0TCFUN.L1.S1, disponível em dgsi.pt.

19Assim, o acórdão Tribunal da relação de Guimarães, datado de 14 de Maio de 2011, [Raquel

Rego] proc. n.º 1498/08.4TVLSB.G1 -“ quando a parte presta o seu depoimento não se visa exclusivamente a confissão. IV - Nada obsta a que o tribunal na sequência dos poderes que tem de ouvir qualquer pessoa, incluindo as partes, por sua iniciativa, na busca da verdade material, tome em consideração, para fins probatórios, as declarações não confessórias da parte, as quais

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29 Exemplo desta linha de pensamento é o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, datado de 20 de Novembro de 2014 [Ana Azevedo Coelho] processo n.º 24233/13.0 T2SNT-A.L1-620, o qual refere que “O depoimento de parte (da parte contrária ou de co-Réu) destina-se a obter a confissão21 pelo que a sua admissibilidade depende de o conteúdo ser coerente com o disposto no artigo 352.º do CC, que a caracteriza como o reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte contrária.”. Neste sentido o depoimento de parte só pode incidir em factos em que a parte tenha conhecimento directo e se trate de matéria controvertida entre o depoente e a parte contrária. Não sendo o depoimento admissível caso os factos em que o depoimento verse sejam relativos ao depoente e um terceiro.

Nesta última situação a confissão não iria obter os seus efeitos, não trazendo desvantagens para o confitente e alguma vantagem para a parte contrária. Neste sentido o Acórdão do STJ, datado de 12 de Novembro de 2010 [Alberto Sobrinho] processo n.º 3070/04.9TVLSB.L1.S122, refere que “ O depoimento de parte é um meio processual destinado a provocar a confissão judicial, ou seja, o reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte contrária (art. 352º C. Civil). Porque a confissão é uma declaração de ciência de reconhecimento da realidade de um facto, basta-se com a vontade dessa declaração de verdade dirigida à parte contrária, assentando a sua força provatória plena – n.º 1 do art.º. 358º C. Civil - na regra da experiência. Se a parte confessa determinado facto que, em princípio, teria interesse em ocultar ou negar, então é admissível, dada a sua logicidade, concluir que esse facto se apresenta como verdadeiro. Mas a confissão, como meio de prova e de prova plena contra o confitente, pressupõe o reconhecimento da verdade de factos contrários ao interesse desse confitente.

A confissão tem forçosamente que incidir sobre factos desfavoráveis ao confitente e favoráveis à parte contrária.

serão livremente apreciadas, nos termos do artº 655º, nº 1, do Código de Processo Civil.” Disponível em dgsi.pt.

20Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, datado de 20 de Novembro de 2014 [Ana

Azevedo Coelho], proc. n.º 2433/13.0 T2SNT – A.L1-6, disponível em dgsi.pt.

21 Sublinhado próprio.

22Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, datado de 12 de Novembro de 2010 [Alberto

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30 E esta declaração de vontade tem como destinatário a parte contrária e não o Juiz, ainda que, como meio de prova que é, sempre possa ajudar a suportar a formação do convencimento do julgador na conjugação com outros elementos de prova.

Mas este testemunho qualificado é diferente e não constitui um testemunho de parte, ou seja, um depoimento livremente apreciável pelo Tribunal, algo que a nossa lei não admite.”

Durante a vigência do anterior CPC uma corrente minoritária começou a pronunciar-se em sentido contrário, ao demonstrado até então, admitindo a possibilidade de o depoimento de parte não ter somente como fim principal a confissão, admitindo assim, a possibilidade de valoração de factos favoráveis ao depoente. Constituindo meio de prova de livre apreciação pelo julgador, com base no artigo 361.º do CC – “ O reconhecimento de factos desfavoráveis, que não possa valer como confissão, vale como elemento probatório que o Tribunal apreciará livremente”.

Neste sentido o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça datado de 2 de Outubro de 2003 [Ferreira Girão], refere que “Confissão e depoimento de parte são realidades jurídicas distintas, sendo este mais abrangente do que aquela, pois que é um meio de prova admissível mesmo relativamente a factos que não sejam desfavoráveis aos depoentes.”23

Com a introdução do novo CPC a anterior linha de pensamento tendeu a aumentar, sendo quase unânime, que o depoimento poderá ou não conter confissão e de todo modo, não será desvalorizado quando este último aconteça, devendo ser apreciado à luz do referido artigo 361.º do CC. Neste sentido o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, datado de 19 de Janeiro de 2015 [Rita Romeira]24vem pronunciar-se referindo que a figura jurídica da confissão e do depoimento de parte são realidades distintas, não devendo ser confundidas. Como tal, o fim último do depoimento de parte não é a confissão. “Podendo o depoimento incidir sobre factos pessoais ou de que o depoente deva ter conhecimento, desde que não sejam criminosos ou torpes, art.s 452º e 454º, do CPC, podendo ou não conduzir à confissão, cfr. art. 453º, nº 2, do mesmo código e art.s 352º e 361º do CC.”

23 Acórdão Supremo Tribunal de Justiça, datado de 2 de Outubro de 2003, op. cit.

24 Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, datado de 19 de Janeiro de 2015 [Rita Romeira]

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31 Na sequência dos poderes de direcção e gestão processual conferidos ao Juiz, nos termos do artigo 6.º do CPC, que lhe conferem a faculdade de ouvir qualquer pessoa, incluindo as partes, por sua iniciativa, nada obsta a que o Tribunal, na busca da verdade material, tome em consideração, para fins probatórios, as declarações não confessórias da parte, as quais serão livremente apreciadas, nos termos do art. 607º, n.º 5, do CPC.

Não sendo os factos reconhecidos, através do depoimento de parte, desfavoráveis ao depoente, os mesmos não têm valor confessório.

No entanto, sendo as declarações, prestadas pelas partes, sob juramento (nos termos do artigo 459º do CPC) podem ser valoradas pelo tribunal para fundar a sua convicção acerca da veracidade de factos controvertidos favoráveis a qualquer delas.”25

A evolução da valoração probatória do depoimento não confessório, será posteriormente abordado em sede própria.

As alterações feitas ao Código de Processo Civil vieram acender, ainda mais, a discussão sobre este tema. Ora veja-se, que a prova por declarações de parte comporta o objectivo de a parte poder declarar factos favoráveis a si, não tendo como objectivo a confissão.

Se a intenção do legislador fosse, no âmbito do depoimento de parte, a livre valoração do depoimento e não a obtenção da confissão com fim último, teria consagrado no próprio regime essa possibilidade. Não tenderia a criar uma nova figura probatória com a pretensão de a parte participar, por iniciativa própria, ou por convite do Juiz, de modo, a produzir prova a seu favor. Se fosse esta a pretensão do legislador quanto ao depoimento de parte comportar a valoração de factos favoráveis à parte, a consagração da prova por declarações de parte e a inalterabilidade do regime probatório do depoimento teria sido o percurso mais indirecto para se perceber o seu intento.26

Neste âmbito adoptamos pela posição de ESTRELA CHABBY ao concluir que “ A reforma de 2013 veio prever expressamente a criação da prova por declarações da

25Acórdão do TRP datado de 19 de Janeiro de 2015, [Rita Romeira], proc. n.º 3201/12.5

TBPRD-A.P1

26 Estrela Chabby in “ O depoimento de parte em processo civil” Coimbra Editora, 2014, pág.

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32 parte, bem como o respectivo valor probatório”27, para tal, a valoração de declarações favoráveis à parte estão no âmbito da prova por declarações não podendo ser o fim último do depoimento de parte.

Neste sentido o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, datado de 10 de Abril de 2014 [Ondina Carmo Alves]28, expõe com clareza a posição pela qual adoptamos e relatos que merece a nossa total concordância e uma breve análise.

O referido acórdão tem como base da matéria de facto controvertida uma acção de divórcio. Acontece que durante a pendência da acção a autora faleceu. Em virtude de tal infortúnio o réu manifestou a sua intenção para prestação de declarações de parte por se tratarem de factos em que apenas as partes tiveram intervenção, estando enquadrados no âmbito de direitos indisponíveis. Para tal, o respectivo mandatário proferiu o seguinte requerimento:

“ Requeiro que o réu possa prestar declarações nos termos do disposto no artigo 466.º do CPC.”

Deduzida a oposição pelo mandatário da contraparte, a Meritíssima Juiz do Tribunal de primeira instância proferiu despacho indicando que “O Réu veio agora requerer a sua "declaração de parte" nos termos do disposto do Art.° 466° do novo CPC. De acordo com o citado normativo legal, as partes podem requerer até ao início das alegações orais em 1ª Instância a prestação de declarações sobre factos em que tenham intervindo pessoalmente ou que tenham conhecimento directo.

Nos termos do n.° 3 do citado normativo legal, resulta que o Tribunal aprecia livremente as declarações das partes, salvo se as mesmas constituírem confissão. Resulta assim que o presente meio de prova se destina justamente do depoimento de parte cujo regime se encontra regulado nos Art.°s 452° e seguintes do Código Civil, o qual é vedado nas acções como a presente por se estar perante a discussão de direitos indisponíveis.

Ora, embora possa ser este o momento processualmente adequado para requerer o meio de prova em causa, ao que acresce que a parte interveio pessoalmente nos factos

27 Op. Cit. Loc.cit.

28Acórdão do tribunal da Relação de Lisboa, datado de 10 de Abril de 2014 [Ondina Carmo

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33 em causa e terá necessariamente conhecimento directo sobre os mesmos, caso responda sobre tal matéria a sua resposta poderá necessariamente levar a uma eventual confissão, a qual não poderá ser valorada, atento o objecto dos presentes autos. Nessa medida entende-se desnecessária a sua audição por inútil face ao que supra se expôs, pelo que se indefere o ora requerido. Notifique.”

Inconformado com tal situação o réu interpôs recurso de apelação, relativamente à supra aludida decisão no tocante ao indeferimento da prova por declarações de parte.

O Tribunal Superior pronunciou-se no sentido da utilidade da prova por declarações de parte no que respeita a situações de facto em que apenas as partes tenham tido intervenção (temática que será posteriormente abordada em sede própria), relevando que, tal como em qualquer outro meio probatório a contraparte terá sempre a possibilidade de se pronunciar, exercendo assim o seu contraditório.

No que releva para este tópico o tribunal atalhou no sentido de distinguir a figura do depoimento de parte, da prova por declarações de parte. Atribuindo especial relevância face a este tipo de matéria de facto, à prova presente no artigo 466.º do CPC. Quer isto dizer que o Tribunal da Relação, declarou não ser unânime na jurisprudência o entendimento sobre a valoração da prova resultante do depoimento de parte (matéria falada até então). Tratando-se de um meio de prova com vista à obtenção da confissão mas, nas situações em que não verse sobre matéria confessória, o depoimento poderá ser livremente apreciado pelo tribunal nos termos do n.º 5 do artigo 607.º do CPC e 361.º do mesmo código.

Mas perante o caso em apreço, falar do instituto do depoimento de parte não parece ter cabimento. Ora veja-se que, está em causa uma acção de divórcio e como tal, “os factos em apreço são necessariamente relativos a direitos indisponíveis.”29 e como tal, a prova por depoimento de parte não poderia ter lugar nos termos do artigo 354.º do CPC.

Não sendo o objectivo claro da prova por declarações de parte a obtenção da confissão, até porque, assim sendo a figura jurídica aplicável seria inútil face à natureza da causa supra mencionada. Como tal, a parte poderá declarar sobre factos a si favoráveis que o Tribunal apreciará livremente.

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34 Com base na exposta argumentação o Tribunal da Relação de Lisboa, julgou a apelação procedente, revogando o despacho recorrido. Tendo substituído por outro em que se admitiu a pretensão do réu em prestar declarações nos termos do artigo 466.º do CPC, o que nos permite concluir pela dissemelhança entre ambos os meios probatórios, não só quanto ao seu fim último, mas também, no tocante ao seu âmbito de aplicação.

O acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, datado de 17 de Janeiro de 2017 [Carlos Moreira]30 na asserção até então falada refere-se às diferenças de ambos os meios probatórios em questão. Neste sentido reforça a ideia de que ambos os meios probatórios atendem a um conhecimento directo e pessoal dos factos, embora se distingam no seu fim, pois a prova por depoimento de parte tem como fim último a confissão.

30 Acórdão Tribunal da Relação de Coimbra datado de 17 de Janeiro de 2017 [Carlos Moreira],

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35 5. Declarações de Parte

5.1 Breve introdução ao tema Prova por Declarações de Parte

No presente capítulo irá ser feita uma breve abordagem sobre a prova por declarações de parte.

A explicação de motivos relativa à Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho vem enunciar a simplificação e a racionalização do processo civil, de modo, a “tornar célere a realização do fim essencial do processo civil”. Portanto, as alterações ao CPC vêm conferir ao Juiz poderes inquisitórios e de direcção do processo reforçados.

Em sede de direito probatório a exposição de motivos apresenta a nova possibilidade de as partes prestarem declarações em audiência, atendendo ao princípio da economia processual, sempre que tal diligência se justifique.

As declarações atenderão à natureza pessoal dos factos a averiguar, terão de incidir sobre aqueles em que a parte tenha intervindo pessoalmente ou sobre os quais tenha conhecimento directo.

No que respeita ao valor probatório das declarações a exposição de motivos refere que “serão livremente valoradas pelo Juiz, na parte em que não representem confissão”.

A prova por declarações de parte foi então acolhida no Novo Código de Processo Civil, tendo sido integrada no capítulo referente à prova por confissão e por declarações de parte, mas em secção autónoma, estando contemplada no artigo 466.º CPC.

O n.º 1 do artigo 466.º refere que “As partes podem requerer, até ao início das alegações orais em 1.ª instância, a prestação de declarações sobre factos em que tenham intervindo pessoalmente ou de que tenham conhecimento directo.”

O n.º 2 do referido artigo contempla o regime supletivo a aplicar, remetendo assim para o artigo 417.º do CPC, em súmula, após a parte requerer a sua audição não poderá posteriormente recusar-se a depor, ou mentir. Caso aconteça, poderá ser aplicada em ultima ratio uma multa e valorada a sua recusa. 31

31Assim, Isabel Alexandre “A fase da instrução e os novos meios de prova no Código de

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36 O artigo 466.º n.º 1 in fine, remete a para a aplicação do regime da secção I do capítulo III – Prova por confissão e por declarações das partes. Neste âmbito não significa, e não deverá ser esse o fim último da produção de prova de declarações de parte, a obtenção da confissão. Este regime

supletivo orienta a produção de prova em audiência final indicando, a título de exemplo, a necessária prestação de juramento.

A participação directa, por sua própria iniciativa surge então no Código de Processo Civil português, acarretando críticas, elogios e suscitando algumas dúvidas que serão posteriormente analisadas.

5.2 Carácter inovador

Após uma breve introdução em sede própria, o presente capítulo irá abordar o regime da prova por declarações de parte no ordenamento jurídico português.

A exposição de motivos referente à Lei n.º 41/ 2013 de 26 de Junho justifica as alterações feitas através da racionalização, simplificação e celeridade na realização do fim essencial do processo civil, enaltecendo e relevando os princípios basilares do mesmo.

A prova por declarações de parte é um dos novos meios ao alcance dos sujeitos processuais de modo a fazer jus ao objectivo das alterações. Como tal, “prevê-se a possibilidade de prestarem declarações em audiência as próprias partes, quando – face, nomeadamente, à natureza pessoal dos factos a averiguar – tal diligência se justifique, as quais são livremente valoradas pelo Juiz, na parte em que não representem confissão.”32

Aquando da leitura da exposição de motivos, entende-se que não estamos perante a introdução de um novo meio de prova, mas sim da atribuição de uma faculdade à parte durante o processo. Visto que, está-se encontrava vedada a depor na qualidade de testemunha de factos próprios, tal como mencionado no anterior artigo 617.º do CPC. A exposição de motivos só menciona a introdução de um novo meio probatório quando se refere às verificações não judiciais qualificadas.

A Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho, concedeu às partes uma participação activa, directa e verbal durante a instrução do processo até ao início das alegações orais em

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37 primeira instância. Desde logo, porque a parte pode agora prestar o seu depoimento dos factos sobre os quais teve um conhecimento directo ou intervenção pessoal, tendo em conta o disposto no n.º 1 do artigo 466.º do CPC.

É claro que a parte já explanou a sua verdade de facto nos respectivos articulados, mas através da prova por declarações de parte a sua intervenção é aberta perante o julgador, sem os filtros das palavras dos advogados. Podendo o Juiz ter uma percepção da linguagem corporal da própria parte.

As declarações de parte serão apreciadas livremente, exceptuando quando as declarações tenham carácter confessório. Como tal, o julgador cumprirá o disposto no n.º 5 do artigo 607.º do CPC, apreciando livremente as declarações segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto.

JOSÉ ALBERTO DOS REIS refere que “ Quando se diz que o Tribunal julga segundo a sua convicção, formada sobre a livre apreciação das provas, não se pensa em proclamar o império do arbítrio, do capricho, da vontade desregrada e discricionária a avaliação e julgamento das provas; o que se quer significar é que o Juiz não está adstrito a critérios legais fixos e predeterminados, a normas absolutas, abstractas e severas, impostas pela lei.”. 33

Situação excepcional será aquela prevista no n.º 3 do artigo 466.º do CPC in fine, por contrário se das declarações da parte resultar a confissão o Juiz deverá cumprir os critérios previstos no artigo 358.º n.º 1 do CC, ex vi do artigo 463.º do CPC, - “ O depoimento de parte é sempre reduzido a escrito, na parte em que houver confissão do depoente, ou em que este narre factos ou circunstâncias que impliquem a indivisibilidade da declaração confessória.”

A introdução da prova por declarações de parte no processo civil gerou alguma controvérsia, tendo sido várias as críticas apontadas.

A mais evidente das ponderações feitas à prova por declarações de parte, prende-se com a tendenciosidade que o próprio sujeito poderá fazer reflectir nas suas declarações e se, por si só, se bastará como prova suficiente na resolução de um litígio, sem necessidade de ser corroborada por outros meios probatórios.

33 Alberto Vicente Ruço in “ Prova e formação da Convicção do Juiz”, Almedina, Junho de

(38)

38 Neste sentido, comummente tem sido aceite a utilidade deste meio de prova para a descoberta da verdade material em relação a factos em que apenas as partes tenham sido os únicos sujeitos a intervir, que não tenham contado coma intervenção de terceiros. Neste sentido pronunciou-se o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, datado de 10 de Abril de 2014 [Ondina Carmo Alves], processo n.º 2022/07.1TBCSC-BL1.2, referindo que “este inovador meio de prova, dirige-se, primordialmente, às situações de facto em que apenas tenham tido intervenção as próprias partes, ou relativamente às quais as partes tenham tido uma percepção directa privilegiada em que são reduzidas as possibilidades de produção de prova (documental, testemunhal ou pericial), em virtude de terem ocorrido na presença circunscrita das partes. E, sujeitá-las a arrolar testemunhas sem conhecimento directo, que apenas reproduzam o que teriam ouvido dizer ou que expressem a sua opinião, tem reduzido interesse e muito limitado valor processual”.34

Por conseguinte, a ASJP no seu parecer referiu o seu receio no atraso que a utilização deste meio de prova poderia provocar no processo, justificando com o facto de a parte tender a “desabafar” com o Juiz podendo alterar o curso programado para a audiência final e restantes momentos processuais. De modo a contornar esta situação a ASJP propõe que a admissibilidade deste meio probatório seja “limitada ao controlo da necessidade da diligência pelo Juiz”. 35

O Conselho superior do Ministério Público considerou como alvo de crítica o prazo adoptado para este meio probatório. Como tal, insurgiu-se, no sentido de o prazo fixado para a prova por declarações de parte como excessivamente alargado e propondo como alternativa o prazo previsto no artigo 552.º n.º 2, sendo feito juntamente com os articulados e no artigo 598.º, sendo este, até vinte dias antes da realização da audiência de julgamento.36

34 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, datado de 10.04.2014 [Ondina Carmo Alves],

proc. n.º 2022/07.1TBCSC-BL1.2, disponível em dgsi.pt.

35António Martins, Carlos Castelo Branco, Filipe César Marques, Nuno de Lemos, Paulo Ramos

de Faria, in, Parecer Sindical dos Juízes Portugueses - “Projecto de Novo Código de Processo Civil”, Novembro de 2012.

36 Parecer do Conselho Superior do Ministério Público. Referência, Oficio n.º 320/2013, proc.

N.º 233/2007 – L.º115, datado de 04/01/2013 – “ Parecer sobre Projecto de Lei n.º113/XII/2.ª (GOV) – “ Aprova o Código de Processo Civil”.

Referências

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