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Capítulo 3: O Projeto Granberyense

3.2. A Prática Educacional Granberyense

3.2.1. Os professores

O Colégio Americano Granbery teve, ao longo das quatro primeiras décadas de sua história, o seu corpo docente formado tanto por professores norte-americanos quanto por professores brasileiros, como já foi afirmado em outros momentos neste trabalho.

Os missionários educadores que passaram pelo Granbery podem ser divididos em dois grupos. Aqueles que ocuparam cargos administrativos e aqueles que atuaram como professores nos diferentes níveis de ensino da instituição. Entre esses últimos, houve aqueles que se dedicaram ao curso de teologia e à escola dominical. Houve ainda aqueles que ministravam o curso de inglês para os alunos do primário e do ginásio e, para os alunos das faculdades, havia professores com formação específica para as cadeiras dos cursos de odontologia e farmácia.

Não foi possível determinar com exatidão o tempo de permanência na instituição de todos os professores norte-americanos que trabalharam no Granbery e, para alguns casos, não encontrei informações com as quais pudesse definir a trajetória profissional e intelectual.

Com base na tabela 1, podemos perceber que em quatro décadas a instituição sofreu alteração na sua presidência apenas seis vezes e, o mais significativo: juntos, os missionários John Willian Tarboux, Charles Alexander Long e Anderson Weaver ocuparam a presidência por mais da metade do período estudado. Os dois primeiros fazem parte da primeira geração de missionários do empreendimento de fins do século XIX. Anderson Weaver ao lado de Walter H. Moore – aquele que mais tempo ocupou a presidência, 21 anos no total, se considerarmos os períodos das décadas de 1930, 1940 e 1950 – são representantes de uma segunda geração de missionários que pôde contar com o auxílio financeiro do Centenary Moviment.

Período de Permanência dos Presidentes do Granbery (1889-1830)

Presidentes do Granbery Início Termino

John McPhearson Lander 1889 1901

William Bowman Lee 1901 1903

John William Tarboux 1903 1914

John Lee Bruce 1913 1913

Charles Alexander Long 1914 1921

Walter Harvey Moore72 1922 1925

Anderson Weaver 1925 1930

Tabela 1

O missionário Charles A. Long dirigiu a instituição em um momento de mudanças em seu projeto educacional. Quando ele assumiu o cargo, os cursos superiores estavam consolidados e havia uma perspectiva de expansão das atividades. Depois de reformas educacionais que levaram ao fechamento do curso de direito, perdas de professores e o surgimento de instituições concorrentes e crises internas que culminaram com a interrupção dos cursos superiores, o empreendimento missionário em Juiz de Fora recebeu impulso financeiro dos Estados Unidos e passou a priorizar a educação das crianças em detrimento da educação superior como forma de atingir as famílias da elite.

Charles A. Long era filho de pais presbiterianos. Passou a frequentar a Igreja Metodista com 10 anos e aos 16 iniciou-se no ministério. Formou-se na Universidade de Oklahoma, em 1905, e, após lecionar por um ano e ser pastor por dois, seguiu seus estudos na Universidade de Vanderbilt. No empreendimento missionário no Brasil deu aulas na escola dominical.

Outros educadores metodistas ocuparam posição de destaque na administração do Granbery. Entre eles estiveram Paul Eugene Buyers, vice-reitor em 1919, Wesley Moore Carr, vice-reitor em 1933. Os demais professores identificados ao longo da pesquisa foram: Jalmar Bowden, Charles Wesley Clay, Emerson Smith e o Rev. B. H. Houston.

A maior parte desses missionários veio para o Brasil com suas esposas e filhos. Alguns que chegaram aqui solteiros retornaram casados para os Estados Unidos, mas as uniões, até onde pude perceber, ocorreram exclusivamente entre os missionários estadunidenses. Não encontrei nenhum caso em que um norte-americano tenha se casado com uma brasileira ou

mesmo com imigrantes norte-americanos que viviam no Brasil. 73 O Rev. James L. Kennedy,

por exemplo, se casou duas vezes. Sua primeira esposa foi Miss Jennie Wallace que trabalhou ao seu lado no Brasil, até a sua morte em 1913. Em 1918, ele se casa com Miss Daisy Pyles, professora do Colégio Americano Mineiro. Houve casos em que os filhos dos casais de missionários nasceram no Brasil, muitos deles aprenderam a falar durante o trabalho missionário. Essas marcas permaneceram em suas famílias por muito tempo, é o que se pode concluir dado a sua permanência no país por tantos anos e pelas redes de sociabilidade constituídas, a despeito de não terem sido registrados casamentos com nacionais.

Imagem 4 – Dr. Walter Harvey Moore, esposa e filhos. Publicado na Revista A Torre (1926)

Imagem 5 – Professor Jalmar Bowden, esposa e filho. Revista Missionary Voice (1929)

73 Cheguei a essa conclusão por meio da análise da coluna Missionary Personals da revista Missionary Voice

Quanto aos professores brasileiros do Colégio Americano Granbery, a primeira observação a fazer é em relação ao seu número. Eles compunham a maior parcela do corpo docente, logo, as suas presença e participação no empreendimento missionário foram fundamentais para o desenvolvimento da instituição.

Os primeiros cursos superiores do Granbery, ou seja, as Faculdades de Farmácia e Odontologia, criadas em 1904, foram os que dependeram mais da participação de professores brasileiros. O corpo docente do Granbery passou por uma renovação em meados 1913 com saída de alguns dos principais professores e profissionais de farmácia e odontologia da cidade, como podemos observar no gráfico 1. Configura-se então duas gerações de professores. A primeira foi formada por nomes como Eduardo de Menezes, João Massena, José Rangel, Augusto de Souza, Goulart, Antônio Dias de Carvalho.

O Doutor Eduardo Augusto de Menezes (1857-1923), natural de Niterói, estudou humanidades no Colégio Pedro II e concluiu o bacharelado em Letras, em 1874. Aos 23 anos, formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Recebeu a comenda da Ordem de Cristo do governo imperial.

Na sua trajetória como homem público, atuou como um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, da qual também foi presidente. Foi ainda presidente da Companhia Químico-Industrial Mineira e, também, do Conselho Administrativo da Academia de Comércio. Fundou e dirigiu a Liga Mineira Contra a Tuberculose e a Escola de Farmácia e Odontologia de Juiz de Fora, após ter se afastado da diretoria da Escola de Farmácia e Odontologia do Granbery. Ajudou, ainda, a fundar a Academia Mineira de Letras, em 1909, onde ocupou a cadeira de número 17 e foi o presidente da primeira mesa diretora.

Não há dúvidas de que o Dr. Eduardo de Menezes foi um dos intelectuais mais destacados da sociedade juiz-forana no início do século XX. Sua ligação com o Granbery está diretamente associada ao início do funcionamento dos cursos superiores de Farmácia e Odontologia.

Gráfico 1

José Rangel foi outro intelectual renomado de Juiz de Fora que, além de ter composto o corpo docente do Colégio Americano Granbery, por vários anos, destacou-se por ter fundado, em 1907, o Grupo Escolar de Juiz de Fora, do qual foi diretor. Com o passar do

1904 1908 1912 1916 1920 Souza Rubens Campos Rocha Junior Ricci Rangel Pedro Costa Paulo Japyassis Ottoni Tristão Nova Monteiro Menezes Massena Malta Luiz Ernica Horta Guimarães Goulart Emerson Smith Edgard Quinet Dutra Cruz Carvalho Brito Braga De Araujo Beanclair Batista de Faria Andrade

Tempo de Permanência dos Professores das Escolas Superiores de Farmácia e Odontologia

tempo, a instituição passou a ser chamada de Grupo Escolar José Rangel. 74

O professor Augusto Coelho e Souza (1863-1949) nasceu no Rio de Janeiro e iniciou os seus estudos no Liceu de Lisboa, em Portugal, para onde viajou com o seu pai após perder a mãe. Retornou ao Brasil com 19 anos e, formou-se como professor primário na Escola Normal de Niterói. Algum tempo depois, estudou Odontologia na Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1905, tornou-se membro da congregação do Curso de Odontologia do Granbery, onde atuou por 10 anos.

Merece destaque, ainda, a passagem do ensaísta e crítico literário Silvio Romero (1851-1914) pela Escola de Direito do Granbery. Romero mudou-se para Juiz de Fora em 1912 e permaneceu na cidade por um ano. 75 Sua passagem foi rápida, mas teria provocado

bastante entusiasmo entre os intelectuais liberais juiz-foranos. Respeitado e admirado, 76 logo

se tornou o grande nome do curso de Direito Granbery. Na ocasião da sua morte, o Jornal do Commercio destacou a sua participação na implantação da Escola de Direito:

Quando residiu em Juiz de Fora, onde deixou um traço inapagável da sua passagem, influindo poderosamente para que se fundasse a escola de Direito do Granbery. Sílvio Romero se tornou o patriarca de todos os nossos intelectuais: entravam-lhe todos pela casa a dentro e iam procurá-lo no escritório, modesto e simples, no meio de seus livros e de seus trabalhos escritos em longas e largas tiras espalhadas sobre a mesa. E aquela intimidade o encantava porque todo ele se espanejava, feliz no meio de seus discípulos, mostrando por todos um interesse paternal. 77

É patente a indicação da Escola de Direito do Granbery como a herança intelectual de Silvio Romero para Juiz de Fora. Essa Escola contava ainda com uma constelação de homens públicos destacados. A lista completa de professores era composta por Fernando Lobo, Feliciano Penna, Antônio Carlos, Constantino Paletta, Luiz Heugenio Horta Barbosa, José Luiz do Couto e Silva, Eduardo Menezes (Filho do Dr. Eduardo de Menezes) e Benjamim Colucci.

A segunda geração de professores das escolas superiores, por sua vez, tinha nomes como Martinho da Rocha Junior, Moysés Andrade, Álvaro Braga de Araújo, Sinval de Brito, Manuel Dias da Cruz Netto, Antônio Guimarães. Entre eles temos médicos e farmacêuticos

74

Cf.: YAZBECK, Dalva. Formando os bons trabalhadores: os primeiros grupos escolares em Juiz de Fora, Minas Gerais. Cadernos de História da Educação (UFU), Uberlândia - MG, v. 2, p. 99-105, 2003.

75 Silvio Romero teria se mudado para Juiz de Fora por questões de saúde. Ele teria sido acometido por uma

doença renal e buscava alívio na cidade, mas durante o inverno de 1912 se mudou novamente, primeiro para Vassouras e, depois Niterói e Rio de Janeiro, onde veio a falecer. Jornal do Commercio. 21/04/1912, p. 1.

76 Cf.: Jornal do Commercio, 21/04/1912, p. 1. 77 Jornal do Commercio, 21/07/1914, p. 1.

formados na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e farmacêuticos formados na Escola de Ouro Preto, e também médicos formados fora do país como o caso de dois professores que estudaram na Faculdade de Medicina de Berlim. Entre os cirurgiões dentistas, o principal centro de formação é a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Nessa segunda geração de professores, há também dois alunos egressos da Faculdade de Odontologia do Granbery. São eles Sinval de Brito e Moysés Andrade.

Em suma, os dirigentes estadunidenses do Granbery buscaram professores oriundos da elite e com formação sólida em centros nacionais e internacionais reconhecidos. Esse quadro ajudou a solidificar a imagem do Granbery como uma instituição de excelência. Ajudou também a aproximar os intelectuais locais e os membros do empreendimento missionário, chegando até mesmo a neutralizar algumas críticas dos opositores do projeto.