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Os Progressos do Grupo de Trabalho e a Formação de Grupos

4. A BUSCA PELA REFORMA DO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES

4.2. O desenvolvimento do tema no pós Guerra Fria

4.2.3. Os Progressos do Grupo de Trabalho e a Formação de Grupos

A dificuldade do grupo em chegar a qualquer acordo fez com que o mesmo passasse a ser conhecido como Never- Ending Open- Ended Working Group (FASULO, 2009). Em 2004, no relatório do working group, os Estados participantes reconhecem explicitamente que enquanto conseguiram progressos nos trabalhos do das questões do grupo 2, já no grupo 1 este progresso se dava de forma muito lenta, como se pode ver no seguinte trecho:

“No Grupo de trabalho:

13. Alcançou-se progresso na última década derivada das sugestões do grupo de trabalho em relação ao grupo 2 , “Métodos de

Trabalho do Conselho de Segurança e transparência de seu trabalho”. Houve progresso, em particular, em respeito à transparência dos métodos de trabalho do Conselho. Movimentos em relação às questões centrais do grupo 1, no entanto, está progredindo lentamente. As questões mais difíceis envolvem as categorias de membros a serem alargadas, o veto e os números de um Conselho de Segurança expandido;

15; Apesar de algum sucesso limitado na área dos métodos de trabalho, um progresso significativo não foi feito quanto à reforma do Conselho de Segurança. O impasse que impede a evolução da reforma se deve à natureza complexa da questão. Entretanto, os métodos de trabalho adotados pelo Grupo de Trabalho podem ser aprimorados para facilitar o progresso. Mudanças em seus procedimentos pode contribuir para aumentar o passo do trabalho do Grupo” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, A/58/47, 2004. Tradução livre).

O Presidente propôs algumas medidas: 1) a continuação dos trabalhos de forma a apresentar à AGNU alguma proposta compreensiva; 2) um foco maior nas questões do grupo 1 nas discussões, relativas à reforma formal do CSNU; 3) a consideração interna do grupo de trabalho sobre seus próprios procedimentos, tomada de decisão e resultados; 4) a busca por maior apoio possível dos membros da organização; 5) a definição de uma data-limite para seus trabalhos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, A/58/47, 2004; ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS , A/58/100, 2004).

Alguns grupos começaram a se formar, elaborando conjuntamente propostas de reforma. O G-4, grupo formado por Brasil, Índia, Japão e Alemanha, interessados em obter assentos permanentes no órgão, propôs um alargamento dos membros permanentes, sem direito a veto, conforme proposta abaixo:

Tabela 8: Proposta do Grupo dos 4 (Alemanha, Brasil, Índia e Japão): alargamento para 25 membros do CSNU

Novos Membros Permanentes sem poder de veto Novos Membros Não- permanentes África 2 1 Ásia 2 1 Leste Europeu 0 1 América Latina e Caribe 1 1 Europa Ocidental e outros Estados 1 0 Total 6 4

Em resposta ao High Level Panel e ao G-4, o Coffee Club (Clube do Café), composto por Argentina, Colômbia, México, Quênia, Argélia, Itália, Espanha, Paquistão e Coréia do Sul, adotaram um documento intitulado Uniting for Consensus (que se tornou o nome do grupo), a favor de uma negociação ampla. Posteriormente apoiados por Qatar, Turquia, Gana, Costa Rica, Canadá, Marrocos, San Marino, Emirados Árabes, Bangladesh e a representação da Liga Árabe, o grupo elaborou uma proposta que se conformava com o modelo B proposto pelo High Level Panel, sem expansão dos membros permanentes, mas somente dos membros não- permanentes de 10 para 20, com a seguinte distribuição:

Tabela 9: Proposta do Grupo Uniting for Consensus: alargamento para 25 membros do CSNU Distribuição dos Membros Não- permanentes África 6 Ásia 5 Leste Europeu 2 América Latina e Caribe 4 Europa Ocidental e outros Estados 3 Total 20

Fonte: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, A/59/L.68, 2005.

Convencidos de que conseguiriam aprovação da maioria da AGNU, o G-4 elaborou um rascunho de resolução (A/59/L.64, 2005) inicialmente ampliando de 5 para 11 membros permanentes, com direito a veto. Devido à resistência, o grupo aceitou adiar a questão do poder de veto por ao menos 15 anos. Para criar resistência, o Uniting for Consensus elaboraram um rascunho de resolução com sua proposta (A/59/L.68), para rivalizar com a proposta do G-4 (CENTER FOR UN REFORM EDUCATION, 2013).

Não satisfeito com nenhuma das propostas, o grupo africano elaborou a sua própria, que se aproxima da proposta do G-4, mas não abre mão do poder de veto aos novos membros permanentes. Sua posição emergiu a partir de dois encontros,

no Ezulwini Consensus, em março de 2005, e Sirte Declaration, em junho do mesmo ano (CENTER FOR UN REFORM EDUCATION, 2013).

O rascunho da proposta africana foi também apresentado à AGNU, e se baseava em dois assentos permanentes para o continente, inclusive com poder de veto, enquanto este não fosse abolido como um todo (A/59/L.67). A distribuição destes supostos assentos permanentes ainda não é assunto de debate acirrado entre o grupo, tendo em vista que um acordo entre os membros da AGNU quanto aos moldes da reforma do CSNU ainda está longe de ser alcançado (CENTER FOR UN REFORM EDUCATION, 2013). Segue a proposta africana:

Tabela 10: Proposta Africana: alargamento para 26 membros do CSNU Novos Membros Permanentes com poder de veto Novos Membros Não- permanentes África 2 2 Ásia 2 1 Leste Europeu 0 1 América Latina e Caribe 1 1 Europa Ocidental e outros Estados 1 0 Total 6 5

Fonte: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, A/60/L.41, 2006.

Dado o embate, a questão passou a ser o G-4 convencer o grupo africano a abrir mão, ao menos temporariamente, do poder de veto. Essa possibilidade não foi bem recebida pelos grupos regionais rivais ao G-4 e os membros permanentes. Para China e Rússia, a expansão do CSNU ainda não havia sido suficientemente debatida e a decisão deveria ser tomada por consenso. Os EUA se posicionaram favoráveis a um assento permanente japonês, mas enquanto Bill Clinton era a favor de um assento para a Alemanha, George W. Bush se opôs. Além disto, os americanos defendiam um CSNU de no máximo 20 membros (CENTER FOR UN REFORM EDUCATION, 2013).

As críticas recebidas pelos EUA quanto ao uso da força sem autorização do CSNU no caso da invasão do Iraque também diminuiu a simpatia norte-americana

pela reforma do órgão, pois um aumento no número de assentos permanentes significaria um aumento na quantidade de países que poderiam, no CSNU, se posicionar contra futuras ações militares norte-americana de interesse do Estado (LUCK, 2006). EUA e China chegaram inclusive a coordenar seu posicionamento para evitar que, em caso de votação, a proposta fosse aprovada pela AGNU. Enquanto isso, o G-4 negociava com os Estados africanos, individualmente, enfraquecendo a demanda do grupo pelo poder de veto (CENTER FOR UN REFORM EDUCATION, 2013).

A insistência do grupo africano no poder de veto e a resistência dos EUA à Alemanha e da China ao Japão garantiram a obstrução de qualquer resultado concreto (CENTER FOR UN REFORM EDUCATION, 2013). O poder de veto dos membros permanentes, individualmente, já seria suficiente para não aprovar a reforma do CSNU, no caso de não-ratificação.

Na Cúpula Mundial de 2005, os parágrafos sobre a possível reforma tão esperada foram curtos e evasivos.