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CAPÍTULO III – O MODELO DE CONSELHO JUDICIAL ADOTADO NO BRASIL

3.5. O controle disciplinar

3.5.3. Os requisitos para apresentação de reclamações e denúncias

A Constituição consagrou uma ampla possibilidade de apresentação de reclamações e denúncias perante o Conselho Nacional de Justiça, admitindo, como previsto em seu art. 103-B, § 5º, I, que qualquer interessado as apresente, relativamente a magistrados ou aos serviços judiciários.

Para que a reclamação alcance algum êxito, contudo, é necessário que seja proposta por escrito, com a narração compreensível dos fatos e esteja devidamente identificada. Apesar de não se exigir conhecimento técnico-jurídico dos cidadãos, é necessário que não tenha havido o decurso do prazo prescricional, que o fato constitua infração administrativa e que esteja devidamente demonstrada a verossimilhança das alegações, com arrimo em prova documental.

É óbvio que não se exige a comprovação, de plano, de todos os fatos alegados, uma vez que tal exigência esvaziaria a própria finalidade de eventual processo disciplinar, destinado à efetiva apuração dos fatos, com ampla possibilidade de produção de provas pelo investigado e pela parte responsável pela propositura da reclamação.

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Cf. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Anual 2008. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/images/conteudo2008/relatorios_anuais/relatorio_anual_cnj_2008.pdf>. Acesso em: 02 set. 2009.

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Para que seja preservada a subsidiariedade, é necessário que o Conselho, através da Corregedoria, na fase de recebimento das representações ou reclamações, fixe prazo para apuração pelo órgão disciplinar de origem antes de proceder diretamente à instauração do processo disciplinar.

Compete à Corregedoria Nacional de Justiça exercer o exame inicial de admissibilidade dos procedimentos disciplinares (Reclamação Disciplinar, Representação por Excesso de Prazo, Avocação e Revisão Disciplinar). Apurados os requisitos formais, é extremamente relevante a atuação restritiva da Corregedoria quanto ao aspecto material das denúncias ou reclamações, constatando se o fato constitui infração disciplinar, a fim de evitar desvirtuamentos.

Não raro tem a Corregedoria recebido reclamações motivadas exclusivamente na irresignação da parte com o julgamento proferido em seu processo judicial. O caminho a ser trilhado consiste no arquivamento ou indeferimento sumário da reclamação, procedimento que vem sendo seguido pela Corregedoria Nacional de Justiça.

De fato, a preocupação aqui exposta não é infundada. De acordo com o Relatório Final de Atividades da Corregedoria Nacional de Justiça, relativo ao biênio 2005/2007280, parcela substancial das reclamações contra magistrados, na ordem de 58,95%, revelam, na verdade, a irresignação do Reclamante contra decisão judicial que lhe foi desfavorável. O equívoco tem sido comum inclusive entre os operadores do Direito, o que tem ensejado o aumento das estatísticas de processos arquivados em virtude da manifesta improcedência na utilização do procedimento disciplinar.

O gráfico abaixo, extraído do Relatório Final de Atividades do biênio 2005/2007, demonstra a proporção de processos arquivados por manifesta improcedência do total recebido pela Corregedoria:

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Cf. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Final de Atividades – Biênio 2005/2007. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_corregedoria/relatorios/relatorio_final_2005_2007.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2009.

O mesmo Relatório aponta que uma proporção maciça dos processos recebidos na Corregedoria são inadmissíveis ou manifestamente improcedentes, por razões várias. Parcela significativa dos processos é, por exemplo, prematuramente arquivada em virtude da adoção das providências necessárias pela instância correicional de origem. Entre as Reclamações Disciplinares, do total de 441 (quatrocentos e quarenta e um) arquivamentos, 73,4% decorreram da improcedência flagrante das petições, constatando-se, como já ressaltado, que 58,95% referiam-se a matéria jurisdicional. Entre as 734 (setecentos e trinta e quatro) Representações por Excesso de Prazo contabilizadas como definitivamente solucionadas, aproximadamente 90% foram baixadas porque o objetivo da representação foi alcançado, com a constatação da regular tramitação dos processos judiciais ou administrativos a que se referiam.

Proporção equivalente de arquivamentos ou indeferimentos sumários foi observada nos anos de 2007 e 2008, conforme ressaltado nos Relatórios Anuais respectivos281.

É curioso observar que o número elevado de processos arquivados ou julgados manifestamente improcedentes foi interpretado, inicialmente, como “inação voluntariosa com evidentes propósitos de corporativismo da Corregedoria”282

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As críticas dirigidas ao exame restritivo das reclamações e denúncias dirigidas à Corregedoria revelam, na verdade, falta de conhecimento da sociedade acerca da competência do Conselho Nacional de Justiça e incumbe ao órgão sob análise disponibilizar recursos para levar aos cidadãos as informações sobre as suas atribuições e sobre as finalidades de sua estruturação.

Com efeito, o escopo da sociedade é o de que a Constituição seja cumprida. Deve-se evitar, portanto, toda e qualquer tentativa de utilização do Conselho Nacional de Justiça como um veículo para intimidação de magistrados ou para ulterior instauração de incidentes e exceções processuais, a exemplo da contumaz exceção de suspeição, com vistas a interferir no julgamento da causa ou a propiciar à parte irresignada a escolha do julgador, em violação ao princípio do juiz natural.

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Conferir: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Anual 2007. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/conteudo2008/relatorios_anuais/relatorio_anual_cnj_2007.pdf>. Acesso em: 02 set. 2009; CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Anual 2008. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/conteudo2008/relatorios_anuais/relatorio_anual_cnj_2008.pdf>. Acesso em: 02 set. 2009.

282

Cf. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Final de Atividades – Biênio 2005/2007. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_corregedoria/relatorios/relatorio_final_2005_2007.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2009.

É crucial que o Conselho Nacional de Justiça, através da Corregedoria, esteja permanentemente atento a investidas dessa ordem, primando pelo desenvolvimento de um controle disciplinar sério e efetivo, voltado exclusivamente à análise de infrações de natureza administrativa.