• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – O MODELO DE CONSELHO JUDICIAL ADOTADO NO BRASIL

3.5. O controle disciplinar

3.5.5. Os procedimentos disciplinares previstos

3.5.5.7. Revisão Disciplinar

Entre os procedimentos disciplinares de competência do Conselho Nacional de Justiça, a revisão disciplinar representa a grande inovação, indicando existir efetiva prevalência hierárquica do Conselho, em termos de controle disciplinar, em relação aos Tribunais do país, à exceção apenas do Supremo Tribunal Federal.

A Constituição Federal, em seu art. 103-B, § 4º, V, atribuiu ao Conselho competência para rever de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de Tribunais julgados há menos de um ano. De ver-se que a Constituição limitou a aplicação da revisão aos processos disciplinares alusivos a juízes e membros de Tribunais, bem como impôs a observância de um lapso temporal máximo para a sua utilização. Não estabeleceu, porém, quaisquer outros requisitos, competindo ao Conselho fazê-lo, no exercício do poder regulamentar, bem como delinear o procedimento a ser observado.

À luz do art. 83 do Regimento Interno, a revisão dos processos disciplinares será admitida: quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência dos autos ou a ato normativo do Conselho Nacional de Justiça; quando a decisão se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; e quando, após a decisão, surgirem fatos novos ou novas provas ou circunstâncias que determinem ou autorizem modificação de decisão proferida pelo órgão de origem.

O pedido de revisão pode ser apresentado por qualquer interessado, que deverá fazê- lo através de petição escrita, devidamente fundamentada e com toda a documentação necessária à comprovação dos fatos alegados. O pedido deve ser instruído, ainda, com a

certidão do julgamento do processo disciplinar e com as peças necessárias à comprovação dos fatos alegados.

O Relator poderá indeferir, de plano, o pedido de revisão que se mostre intempestivo, manifestamente infundado ou improcedente. Poderá o Relator determinar que se apensem ou os autos originais ou cópias autenticadas de todas as peças do processo, requisitando-se ao Tribunal competente as providências necessárias, no prazo de 15 (quinze) dias.

Por outro lado, prevê o Regimento Interno que a instauração de ofício da revisão de processo disciplinar poderá ser determinada pela maioria absoluta do Plenário do Conselho, mediante proposição de qualquer um dos Conselheiros, do Procurador-Geral da República ou do Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil298.

A instrução do processo de revisão disciplinar deve observar, necessariamente, os princípios do contraditório e da ampla defesa. Finda a instrução, o Procurador -Geral da República e o magistrado acusado ou seu defensor terão vista dos autos, por 10 (dez) dias, para razões.

Julgado procedente o pedido de revisão, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça poderá determinar a instauração de processo administrativo disciplinar, alterar a classificação da infração, absolver ou condenar o juiz ou membro de Tribunal, modificar a pena ou anular o processo.

Indicado o procedimento, algumas considerações devem ser feitas para que a revisão se processe de forma válida e consentânea com a Constituição da República.

Inicialmente, o procedimento de revisão sob análise promove uma inovação ao admitir o reexame de decisões disciplinares favoráveis ao acusado. A revisão disciplinar prevista na Lei nº 8.112/90, por exemplo, não prevê limite de tempo para a sua interposição, mas é admitida exclusivamente quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada. Estatui o art. 182, parágrafo único, do referido diploma, expressamente, que da revisão do processo não poderá resultar agravamento da penalidade.

Entendemos, inicialmente, que o Conselho Nacional de Justiça, nas hipóteses de revisão provocada por requerimento de qualquer interessado, está atrelado ao pedido formulado. Não se cuidando de revisão de ofício, a alteração da classificação da infração, a condenação do juiz ou membro do Tribunal e a majoração da penalidade só podem ser

298

Vislumbra-se, aqui, uma incongruência no Regimento Interno, tendo em vista que o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil atuam junto ao Conselho Nacional de Justiça, mas não figuram como membros. Portanto, a instauração da revisão disciplinar por proposição das referidas autoridades não corresponderia a uma instauração ex officio do próprio Conselho.

determinadas se corresponderem ao pedido formulado pelo interessado. A mera existência do pedido de revisão não autoriza o Conselho a reexaminar a questão em sua plenitude, substituindo-se ao órgão correicional de origem, exigindo-se que a análise esteja vinculada aos limites da pretensão.

De tal forma, se o magistrado punido dirigir-se ao Conselho, através do procedimento de revisão, pleiteando seja reconhecida a sua inocência, à vista de fatos novos ou novas provas, não poderá o órgão, por exemplo, reexaminar as provas e concluir pela majoração da penalidade.

Por outro lado, ainda que cabível, numa outra situação hipotética, o julgamento no sentido da majoração da penalidade, entendemos que o Conselho Nacional de Justiça não poderia impor sanções mais graves do que aquelas para as quais está autorizado pela Constituição da República: remoção compulsória, disponibilidade ou aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço.

Consideramos, no entanto, que seria possível a diminuição da pena inicialmente fixada, a partir, por exemplo, da alteração da classificação da infração ou da reapreciação das provas, com a imposição de sanções mais leves (como a advertência ou a suspensão). Ora, a despeito da ausência de previsão expressa da Constitucional, em face do poder, reservado ao Conselho Nacional de Justiça, de proceder ao controle da juridicidade dos atos administrativos do Judiciário, não haveria óbice a que determinasse a observância do postulado da proporcionalidade, promovendo, de logo, a redução da pena.

Apesar de a Constituição, no art. 103-B, § 4º, III, referir-se, igualmente, à possibilidade de aplicação de “outras sanções administrativas”, ainda não houve aprovação de lei estabelecendo o conteúdo da previsão. Sequer se poderia aplicar, por analogia, a previsão contida na Lei Orgânica da Magistratura Nacional, em relação ao extinto Conselho Nacional da Magistratura, uma vez que, em termos de punições, sua atuação era mais restrita do que a atualmente reservada ao Conselho Nacional de Justiça, admitindo-se, exclusivamente, a determinação da disponibilidade ou aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço.

Portanto, a revisão realizada pelo Conselho Nacional de Justiça jamais poderia conduzir, por exemplo, à determinação de perda do cargo, uma vez que não dispõe de competência para tanto. Deparando-se com situação análoga, em que a majoração da pena conduza à fixação de sanção não autorizada ao Conselho, o órgão, entendendo pela procedência, só poderia anular o processo, cabendo à instância disciplinar de origem, caso não decorrido o prazo prescricional, proceder a um novo julgamento da causa.

Por fim, entendemos que a atribuição revisional, uma vez observado o requisito temporal, pode atingir processos disciplinares conduzidos no próprio Conselho Nacional de Justiça, por não existir qualquer vedação constitucional299.