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Os Sectores Militar e Ambiental e as bases para a ampliação do conceito de

Capítulo II: Uma Mudança de Paradigma no Cenário Internacional: O Conceito de

2.3 Os Sectores Militar e Ambiental e as bases para a ampliação do conceito de

Nos últimos anos, o desenvolvimento do conceito de segurança ambiental tornou-se amplo, pois inicialmente tínhamos uma preocupação excessiva com a preservação da raça humana e dos recursos naturais necessários para a nossa sobrevivência.

Ao mesmo tempo estava claro que uma possível guerra nuclear nos tempos de Guerra Fria, poderia simplesmente extinguir a raça humana. Como tal o ainda incipiente conceito de segurança ambiental, com seu respectivo discurso securitário referia-se principalmente ao desarmamento e o não uso de armas de destruição em massa que gerassem grandes catástrofes naturais.

Porém este discurso foi alargado e com ele houve uma ampliação dos agentes públicos ou privados envolvidos no que vem a ser a segurança ambiental. A escassez de recursos somados ao uso desenfreado dos recursos naturais, advindos de uma população mundial em escala exponencial de crescimento no último século tornou-se também uma preocupação constante no sistema internacional (Buzan, Waever, & Wilde 1998).

Com a intensa securitização das ameaças ambientais houve também uma mudança de paradigma nos antigos conceitos das relações do homem com o seu habitat natural. Antigas teorias advindas de nomes como Rousseau ou mesmo Karl Marx que frisavam o homem como produto do meio ambiente11, passaram a ser redefinidas como uma via dupla, ou seja, não apenas o homem é produto do meio natural, como também o meio ambiente é produto da ação humana.

Com isso, o conceito de segurança ambiental, seguindo a trilha da redefinição do conceito de segurança clássico, restrito ao cunho político e militar, foi também ampliado. Ainda segundo Buzan o conceito de segurança ambiental significa “concerns the maintenance of the local and planetary biosphere as the essential support system on which all other human enterprises depend” (Buzan, Waever & Wilde 1998: p.76).

Temos neste início de século o aumento da preocupação com a dependência dos seres humanos relativa aos recursos naturais escassos, sendo a ameaça da falta destes recursos um objeto politicamente securitizado.

Ainda segundo os autores da Escola de Copenhagen como Buzan, Waever & Wilde (1998), as ameaças ambientais podem ser ainda ampliadas e dividas em três principais grupos nos quais se definem as estratégias políticas para combater estas ameaças, são eles: As ameaças para civilização não causadas por qualquer ação humana; as ameaças advindas da atividade humana que causam sérios danos e ainda as ações humanas que causam poucos danos ao ambiente natural.

O primeiro grupo de ameaças ambientais são causados por eventos naturais de grande proporção (como terremotos, maremotos, ações vulcânicas) causam sérios desastres naturais e exigem uma ação emergencial por parte das autoridades públicas.

As ações advindas da atividade humana inseridas no segundo grupo, causam sérios danos a civilização, modificam sistemas naturais e estruturais da biosfera. Como exemplo dessas ações temos os diversos desastres ambientais ocasionados por acidentes em indústrias, ou mesmo o uso indevido das ADM em atos de guerra. Temos ainda a atuação de organizações criminosas que causam o desmatamento a grandes extensões florestais.

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Vale dizer que estes pensadores da história moderna usaram esta frase em outro contexto para expressar as relações econômicas e sociais dos homens inseridos dentro de uma classe social e o meio ambiente. Portanto, possuem um outro enfoque analítico em relação a segurança ambiental e sua relação com o estado

Como exemplo das ações humanas que pouco ou relativo dano ao meio-ambiente, podemos citar a emissão pesticidas químicos em grandes lavouras ou mesmo a extração mineral excessiva. Essas ações apenas definem uma pequena mudança num determinado meio natural ao qual fazem parte.

Vale salientar que a securitização das ameaças ambientais que forjam o conceito de segurança ambiental, na maioria dos casos advém de ações no combate ao primeiro e segundo grupo de ameaças, e em ambas o poder militar torna-se importante nas estratégias de combate e cotenção oriundas do poder político.

Contudo, quando se fala em segurança ambiental temos na maioria dos casos a necessidade de efetivar uma estratégia híbrida, ou seja, a atuação conjunta de diversos setores do poder político e militar, entre estes podemos citar o Ministério do Meio Ambiente, da Justiça e as FAs.

Como já identificado no setor ambiental, a atuação de diversos órgãos governamentais bem como de organismos internacionais, acabam por influenciar nesta decisão que abarca diversos setores e interesses. Porém, o setor militar ainda continua sendo de grande importância neste processo, mesmo que não seja usado diretamente na resolução dos conflitos ambientais, pois, ainda sim serve como “poder de barganha” oriundo da máquina estatal (Alsina, 2009).

Mesmo tendo a finalidade de tornar mais fácil os estudos das áreas de segurança através da divisão do conceito de segurança em “setores”, o setor militar assim como o setor político ainda representa as bases originais do estudo de segurança. Estes setores quando atuam de forma conjunta tem por finalidade desenvolver a relação de autoridade, o status governamental bem como o seu reconhecimento pela população, nas diversas parcerias dos órgãos governamentais (Silva, 2008).

Apesar de ter como base o setor militar e político, muitas estratégias governamentais tem-se reformulado, ao acrescentar ao seu corolário novos temas. A colocar em prática o que Buzan, Waever & Wilde (1998) chamaram de transversalidade dos setores, ou seja, mesmo dando um caráter de especialidade a cada um dos setores, os seus temas se entrelaçam, a tornar mais abrangentes aquelas assuntos que estão a ganhar maior relevância no âmbito internacional, como é o caso da segurança ambiental.

Apesar disso, as estratégias necessárias para o controle ambiental bem como a securitização destes temas é ainda relativamente recente e muitos dos temas apesar de globais devem ser encarados de forma regionalizada. Os atores globais apesar de terem uma certa influência, não possuem o poder decisório para resolução das principais ameaças ambientais.

Contudo, alguns autores acreditam que o apoio de toda comunidade internacional na resolução dos conflitos ambientais é fundamental, quando estamos nos referindo a grandes biomas e regiões que envolvem a administração de diversos países conforme percebemos nas pesquisas de Andrew Hurrel e Benedict Kingsbury (1992) ao dizer que:

“ Humanity is now faced by a range of environmental problems that are global in the strong sense that they affect everyone and can only be effectively managed on the basis of cooperation between all or at least a very high percentage of the states of the world (…) the protection of the ozone layer, safeguarding biodiversity, protecting special regions such as Antarctica or the Amazon” (Hurrel e Kingsbury, 1992: 2).

Está posição dos autores referidos acima é fortemente criticada por autores como Buzan, Waever & Wilde (1998), que acreditam que em muitos casos o apoio internacional acaba sendo pouco relevante na resolução dos conflitos. Em situações como a Antártida, mesmo com o apoio internacional será apenas com a concórdia dos países com o direito sobre o território que teríamos o desenvolvimento de algum projeto relativo à preservação e controle da fauna deste território.

Além disso, muitos países veem com certa repulsa a interferência da comunidade internacional com relação a preservação ambiental, pois, pode ser encarada como um estratégia para interferir nos assuntos exclusivos da soberania de um determinado Estado ou mesmo região do globo.

Assim como acontecesse na Antártida, ainda segundo estes autores na região Amazônica, por exemplo, região que possuí mais de 1/3 da fauna e flora conhecida neste planeta, a atuação dos governos sul-americanos tornam-se extremamente importante na resolução de qualquer conflito ou preservação ambiental. Dentro deste escopo, não apenas a América Latina, mas o Brasil torna-se um centro importante no desenvolvimento deste

conceito ambiental de segurança. No próximo capítulo iremos melhor analisar o papel do Brasil na segurança ambiental.

CAPÍTULO III – AS FORÇAS ARMADAS DO BRASIL: O PAPEL DO MEIO AMBIENTE NA