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Todas as mulheres participantes são utentes da mesma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) em respostas sociais diferentes: Centro de Dia (CD), Estrutura Residencial para Idosos (ERI), Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). Pertencem, com a

134 exceção de uma, ao mesmo concelho, mas tiveram vidas díspares, tal como vão dando conta à medida que narram momentos da sua história de vida.

As 6 mulheres participantes, representadas agora com as letras A, B, C, D, E e F, são todas naturais do concelho de Vizela, com exceção da Participante E que é natural de Recife, Brasil.

A Participante A tem 76 anos e recentemente perdeu o seu marido. Enquanto este era vivo, a participante usufruía dos serviços de SAD (higienização habitacional, refeições), enquanto o seu marido a apoiava nas restantes tarefas. Esta mulher tinha problemas associados a depressão, não tendo vontade de sair de casa. Estabelecia uma relação conflitual com o seu marido, e este, por motivos desconhecidos, vedava a entrada aos técnicos na tentativa da realização de visitas domiciliárias e apoio psicossocial. Indicava que não tinham nada que lá estar, e que o objetivo destes profissionais era apenas observar os objetos de valor que tinham em casa. Permitia apenas a entrada dos colaboradores que faziam a higienização. A relação que tinha com o seu único filho era conflitual, fazendo com que este não os visitasse há algum tempo. Após o falecimento do seu marido, e por não reunir condições de autonomia, a participante A foi encaminhada para a resposta social (ERI), onde permanece até agora. É pouco comunicativa, mas gosta de participar em conversas, mesmo que seja só na qualidade de ouvinte. Recebe periodicamente a visita do seu filho.

A Participante B tem 75 Anos. É utente de SAD e o seu marido, em estado avançado das doenças de Parkinson e Alzheimer, encontra-se na resposta social de ERI. Regressaram da Alemanha desde que o seu marido começou a ter os primeiros sintomas da demência. Vieram viver para a sua casa que foram construindo na freguesia, durante os anos em que estiveram no estrangeiro. Nunca criou a autonomia necessária para resolver problemas sozinha, pois sempre viu o seu marido como pilar estruturante da sua família. Quando chegaram à instituição, esta utente teve que ser acompanhada pelo assistente social nas tarefas do seu dia-a-dia (fazer pagamentos, tratar de contas bancárias, etc.), enquanto o seu marido ficava na instituição. À medida que o seu marido ia ficando mais doente, a participante ia percebendo que nada consegue fazer para o ajudar, restando-lhe fazer-lhe companhia. Apesar de ter todo o apoio dos seus filhos, a participante não pode contar

135 muito com o seu auxílio, pois também estão emigrados. Estes, na tentativa de apaziguarem a angústia com que vive a participante, apelam várias vezes para que esta os visite, mas a resposta é sempre negativa: nunca em tempo algum, segundo esta utente, irá abandonar o seu marido. Comunica muito pouco com os restantes elementos da ERI. As vezes que fala é normalmente para solicitar ajuda ao seu marido, garantindo que não lhe falte nada. Vai-se movimentando entre as salas de convívio, o refeitório e o quarto onde dorme com ele. Passa grande parte do seu tempo a chorar.

A participante C tem 76 anos e é física e socialmente autónoma. Está na ERI há cerca de 5 anos. De quando em vez recebe visitas de alguns familiares e vai saindo do edifício sempre que precisa de ir ao médico, ir à missa e tratar de outros assuntos. Mesmo assim, e dado não sentir a existência de atrações na freguesia, passa a maior parte do seu tempo na estrutura, vendo televisão, participando nas atividades de animação socioculturais ajudando os colaboradores em pequenas tarefas. Passa grande parte do seu tempo, normalmente após o almoço, a jogar cartas com outros residentes, criando facilmente momentos de grande tensão entre os seus adversários. Esta participante cria com frequência situações de conflitualidade com os outros residentes, chegando, em muitos casos, a ser agressiva para com eles. Gosta de comunicar e de partilhar momentos da sua vida, contando histórias relacionadas com a falta de amor dos seus pais e a vida difícil da altura em que era jovem. A sua postura em relação aos outros é, regra geral, de superioridade, achando que tudo o que faz é melhor.

A participante D tem 58 anos, sendo o elemento mais novo do grupo. É autónoma fisicamente, mas criou ao longo da sua vida uma dependência social e afetiva com a sua mãe. O facto de ter sido abandonada pelo seu pai, ainda em bebé, contribuiu para que a ausência da figura paternal fosse razão para explicar quase todos os seus problemas: a ausência de um processo educativo contínuo, a falta de condições financeiras e a obrigação de ter que ficar com a sua mãe. A sua mãe é utente do CD desta instituição, assim como a participante, e apresenta uma série de problemas de saúde. Para além das visitas que faz diariamente à sua mãe no hospital, vai participando nas atividades de animação sociocultural da instituição e mantendo algumas amizades de longa duração dentro na estrutura. Tem um discurso que não se coaduna com o normal da faixa etária à

136 qual pertence, havendo a tendência de considerar-se uma mulher já pertencente à 3ª idade.

A participante E está imigrada em Portugal e é natural do Brasil. Tem 76 anos. É física, psicológica e socialmente autónoma. É utente de CD e gosta de participar em todas as atividades que possam existir dentro da instituição. Comunica facilmente com todos os seus colegas, não criando, regra geral, nenhum desacato ou desentendimento. Passa grande parte do seu tempo a jogar cartas, principalmente depois do almoço, onde cria alguns momentos de conflitualidade com os seus adversários. Vive com a sua única filha, diretora de recursos humanos e serviços desta instituição e com o seu genro, diretor financeiro da instituição. Ao longo da sua vida, esta participante perdeu 2 filhos e dois maridos, sendo os acontecimentos mais marcantes da história de vida desta participante. Apesar de já estar em Portugal há mais de 16 anos, demonstra alguma dificuldade em compreender certos aspetos da oralidade dos seus colegas, achando que os portugueses não sabem falar de acordo com o verdadeiro Português, que é o do Brasil. Acredita que Portugal é um país com muitos analfabetos e de uma pobreza extrema. Apesar de estar imigrada em Portugal, vai com alguma frequência ao Brasil (cerca de 2 vezes por ano). Mantém uma relação muito positiva com todos os utentes e equipa técnica, promovendo o bem-estar entre todos. Gosta muito de cantar e narrar momentos da sua história de vida.

A participante F tem 79 anos e é o elemento mais velho do grupo. É completamente autónoma no seu dia-a-dia e é utente de CD desta instituição. Não tem filhos nem marido. Nunca se casou. Estabelece um relacionamento positivo com os elementos da sua família de origem. É pouco comunicativa, mas gosta de participar em conversas com os outros elementos da instituição, na qualidade de ouvinte. Gosta de ler, ver televisão e de assistir aos jogos de cartas que se realizam geralmente após o almoço. Sempre se dedicou aos seus pais, enquanto eram vivos, e aos seus sobrinhos, que, como diz, os ajudou a criar. Durante a sua vida ativa, esta participante foi tendo diversas tarefas que a ajudavam na satisfação das necessidades financeiras que ia tendo. Teve alguns problemas de saúde que, apesar de ultrapassados, deixaram algumas sequelas psicológicas. Não

137 gosta de conflitos, preferindo estar no seu canto do que participar em situações problemáticas. Participa com satisfação nas atividades de animação sociocultural.

Todas as participantes, sem exceção, caracterizaram a sua família de origem como sendo pobre e sem grandes recursos. A possibilidade de darem continuidade aos seus estudos era algo que não estava ao alcance das suas famílias e, portanto, muitos sonhos foram deixados para trás. A zona geográfica de onde são naturais 5 das 6 participantes, e segundo o Plano de Desenvolvimento Social 2010-2015 de Vizela (2010), situa-se a norte de Portugal, mais propriamente na convergência do Minho e com o Douro Litoral. O concelho de Vizela está integrado no distrito de Braga, sendo dividido em sete freguesias: Infias, Santa Eulália, Santo Adrião, S. João das Caldas, S. Miguel das Caldas, S. Paio e Tagilde. As freguesias de S. Miguel e S. João constituem a cidade de Vizela, sendo, portanto, as freguesias urbanas e com maior número de pessoas do concelho (detêm 47% da população total).