• Nenhum resultado encontrado

5 A ODEBRECHT E O PROJETO CAPANDA

5.4 A gestão da Odebrecht e o dia-a-dia do Projeto Capanda

5.4.1 A Gestão de Recursos Humanos

5.4.1.7 Os trabalhadores expatriados

Segundo os diretores e gerentes entrevistados, hoje já não vão para Angola trabalhadores de base, apenas profissionais que detenham conhecimento técnico específico sobre hidroelétrica. Além disso, o tempo de permanência desses profissionais em Angola está diminuindo.

A maior parte desses trabalhadores já trabalharam em outros projetos da Odebrecht, apesar de este não ser um requisito obrigatório. A captação desses profissionais é feita, geralmente, por indicação de um responsável por alguma área no projeto. Tem que ser alguém da confiança desse profissional, que já tenham trabalhado juntos.

Após a indicação, o responsável pelo setor de Recursos Humanos, ou o próprio responsável pela área que indica o profissional, entra em contato com a base Brasil, que localiza o profissional e o informa sobre a proposta de trabalho. Aceitando a proposta, o profissional passa por exames médicos. Se aprovado, assina o contrato e segue para Luanda, onde é embarcado para Capanda. Em Capanda, ele é recepcionado pelo setor de Recursos Humanos, seguindo o mesmo processo do trabalhador nacional. A diferença é que, no caso do trabalhador expatriado, as atividades do setor praticamente cessam por aí.

O profissional expatriado não recebe nenhum treinamento porque, a princípio, já tem experiência na área. Apenas ele é informado sobre a realidade do país e orientado para interagir com a comunidade e respeitar a cultura angolana.

E é justamente essa cultura que, segundo os entrevistados, facilita a adaptação dos mesmos em Angola.

“Eu diria que Angola é um pedacinho do Brasil no exterior. Nós nos sentimos muito identificados com o país, com a língua, com a cultura,

com a população, com a apropria arquitetura aqui de Angola. Eu sou de Salvador e vejo a similaridade de povos, de calor humano, a forma de fazer as coisas” (gerente).

“... o perfil do angolano acho que é muito próximo do baiano. Eu sou da Bahia e aqui me sinto em casa. Arquitetura de Luanda se assemelha muito à arquitetura de Salvador. Existem alguns trechos, algumas ruas, que são exatamente parte da cidade de Salvador. Você vê Angola em Salvador. A movimentação das pessoas, o pelourinho, muito parecido” (diretor).

“Eu sou baiano e me sinto muito em casa. Eu vejo muita similaridade das pessoas, da forma como as pessoas conversam, da forma como as pessoas são hospitaleiras. Acho o povo tão caloroso quanto o baiano. As comidas são muito próximas” (técnico brasileiro).

“Eu particularmente no princípio não tive dificuldades, eu me habituei muito rápido com Angola e com as pessoas, a vida, a comida, hábitos e até mesmo os dialetos a gente aprende alguma coisa. Primeiro você aprende as bobagens e depois aprende as coisas boas. A minha relação com o angolano é muito afinada, tendo em vista que a gente já está há muitos anos, vivi com uma angolana durante onze anos; não é pouca coisa” (técnico brasileiro).

“A minha adaptação em Angola não foi muito difícil. Eu já tinha muito tempo de Odebrecht no Brasil. Eu trabalhei em vários Estados, e isso pra gente é currículo, é bagagem, experiência. Então a gente vai aprendendo a se adaptar com os lugares, com as pessoas. Isso pra mim foi muito importante. Em Angola, há a particularidade do idioma ser o português. Então isso ajudou muito. O Brasil é um país misto, existe uma gama de raças. Então pra gente foi normal. Eu estou bem aqui, gosto do angolano, nunca fui maltratado, e estou me sentindo muito bem aqui” (técnico brasileiro).

Se a cultura foi um facilitador para a adaptação dos expatriados, o mesmo não se pode falar da realidade angolana que, segundo alguns entrevistados, choca.

“A adaptação, no começo, não poderia dizer que tenha sido difícil, mas choca. Quando você sai, por exemplo, de um país como a Malásia, que pra viver, pra morar, é muito melhor que o Brasil, em termos de limpeza urbana, qualidade de vida, cidades, aparelhamento das cidades...é um país que não é rico, mas distribui a riqueza de uma forma excelente. Em

dois anos que eu morei lá, nunca vi um mendigo na rua. Então, quando você chega aqui em Angola, choca” (gerente).

“No início foi um choque. Porque primeiro tudo é novidade. Lamentavelmente Angola ainda tem um alto índice de mortalidade, ainda existem problemas, mas que têm sido corrigidos ao longo do tempo” (técnico brasileiro).

“Para mim não foi muito difícil, porque o povo angolano e o brasileiro se dão muito bem, quase somos descendentes deles. A dificuldade foi o medo das doenças tropicais” (técnico brasileiro).

O que parece marcar profundamente os expatriados em Angola é o relacionamento entre os dois povos.

“Já trabalhamos em Moçambique, já trabalhamos na África do Sul, já trabalhamos em vários lugares, mas no final das contas um local que a gente se considera mais integrado é em Angola” (diretor).

“... lá nós tivemos batizado, casamento, tudo que você possa imaginar entre baiano e angolano ocorreu. Até o Ministro das Relações Exteriores do Brasil esteve lá e teve de batizar uma menina filha de uma angolana com brasileiro” (diretor)

“Eu passei três anos no Chile. Fiz no Chile um determinado círculo de amizades, mas foi um círculo pequeno, não foi grande, alguns poucos amigos. Mas aqui em Angola, meu círculo de amizades é grande; e é importante que ele seja grande, é importante esse relacionamento com as pessoas, é importante conhecer as pessoas, estar junto, ser amigo, ter um relacionamento familiar. Esse é um ponto marcante aqui em Angola, para mim e para a empresa de modo geral” (gerente).

“O povo angolano é um povo extremamente afável, todo mundo volta contente com o angolano. O angolano se parece muito com o baiano, são acolhedores, brincalhões, felizes. A última vez em que estive em Angola, fui a uma feira que tem trabalhos maravilhosos em madeira, os quadros são maravilhosos e as pessoas que vendem é uma felicidade. E isso encanta muito a gente. A amabilidade do angolano é uma coisa que chama muito a atenção da gente” (técnica brasileira).