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ANEXO I – HABILITAÇÃO 4 Processo de Habilitação

SUBTOTAL CUSTOS

3.1.5 Outras considerações

É possível identificar, tanto no Jardim das Azaleias I quanto no II, que as intervenções construtivas ainda não foram realizadas, mesmo depois de três anos de pesquisas em campo, há muitas casas no formato original, por isso é possível identificar, facilmente, as diferentes etapas. A construção de fechamentos com alvenaria e portões metálicos são as mais frequentes, algumas unidades com garagens e poucas com a ampliação do corpo principal. Tal situação, tanto pode ser reflexo da recessão econômica, como advindo do próprio perfil econômico dos moradores, ou ainda a articulação dessas duas componentes e, sendo assim, provavelmente esta paisagem “construtiva” permaneça sem grandes mudanças por um tempo razoavelmente longo. “Não tem muro, não deu para fazer ainda, o dinheiro está curto, eu trabalho de faxina 1x na semana...", conforme o Entrevistado H.

Não deu ainda não, porque é meu genro que está mexendo, é ele mesmo que mexe, porque se for para contratar fica um absurdo aí não dá, aí devagarzinho ele está indo, eles não deixam a gente fazer do jeito que a gente quer. Esse quarto do menino, é um quarto novo, aí por enquanto é um quarto e a garagem

e os muros, que teve que fazer primeiro, mas está parado agora, o necessário, com portão eletrônico e tudo (Entrevistado LU).

Figura 50: Vistas das ruas e da unidade habitacional modificada no Jardim Azaleias I e II.

Fonte: Autora, 2015 e 2017.

Em entrevista, Aguiar (2015) justificou que o fato de o Governo Federal ter cortado, em 2015, os recursos destinados ao PMCMV-Entidades e faixa 1, o loteamento Jardim Aurora, que estava sendo lançado em agosto do mesmo ano com 500 unidades, inicialmente do PMCMV- Entidades, teve que se enquadrar em outra modalidade, o faixa 2 do PMCMV - Empresas. Tal situação, apenas revela a subordinação do poder público à iniciativa privada, como já apontado em vários trabalhos. A prefeitura doou o terreno e exigiu para tal que o processo de seleção fosse realizado pelo Setor da Habitação, usando os mesmos critérios do PMCMV faixa 1, mas neste caso não teria sorteio, a prefeitura indicaria as famílias.

De acordo com Aguiar (2015), “houve uma mistura dos papeis; a prefeitura está trabalhando para eles em troca de selecionar as famílias, evitar que venha gente de fora. Teve também a questão do esgoto... Se a prefeitura não entrasse no processo, eles não conseguiram viabilizar o empreendimento”. A seleção dirigida, tende a ser benéfica à iniciativa privada, que é premiada com uma demanda socialmente e mercadologicamente, mais apropriada.

Realizando uma autoanalise de suas iniciativas, Aguiar expõe o sucesso dos seus empreendimentos sob responsabilidade de EO e garante recursos pré-aprovados quando o programa voltar a operar.

Depois de ter feito o Jardim das Amoreiras, o Europa e o Azaleias com sucesso e muito baratos, num segundo momento a CAIXA chamou as associações para atualizar seus cadastros e entrar num ranking de classificação. Levamos toda a documentação e experiência que fizemos, e quando a CAIXA fez o ranking, a associação dos Sem Casa foi premiada com crédito para fazer mais mil casas (com recursos das entidades e do FDS). O Governo cortou esse recurso, mas, tendo um ótimo relacionamento com a CAIXA, assim que voltar a gente está habilitado para pedir (AGUIAR, 2015: s/p).

Pode-se dizer que houve um trabalho social com qualidade, realizado com seriedade. Entretanto, há uma licenciosidade quanto a considerar a participação em reuniões informativas, como um processo participativo social, que necessariamente, deve propiciar, ou ter como objetivo, a formulação de soluções (seja qual for a dimensão) por parte dos participantes desse mesmo processo. Participação, acabou sendo transformado em um recipiente no qual qualquer ação, informativa, educativa, assistencialista é incluída e a partir disso é autolegitimada. Da forma como foi realizada, ou seja, controlada, a natureza do que foi entendido como participação limitou-se a uma dimensão funcional, que tem alguns ganhos, mas não pode ser confundida com uma efetiva participação social.

De todo o modo, o sonho da habitação, a seguridade ideológica que incorpora e transmite ainda, tem um grande valor aos moradores. As condições que o capital impõe, valorizando o imóvel residencial a preços altíssimos no país, reforça a necessidade de ser um proprietário, e isto faz com que a população aumente as expectativas e aceite com satisfação o produto que lhe é entregue, sem muito questionar: “...só de ter a minha casa eu estou contente!”, afirmou o Entrevistado H. “Todo dia eu ergo a mão para o céu e agradeço que tenho minha casa, tenho meu varal, porque meu varal era no meio do pasto, estendia roupa num mato desta altura; agora é um paraíso!”, descreveu o Entrevistado G.

3.2 PMCMV-EMPRESAS

O Parque Resedás, aprovado em 2012 no PMCMV 2 e destinado às famílias de faixa 1 (zero a três salários mínimos), foi o maior conjunto já construído na cidade, com 926 unidades térreas em lotes individualizados. Com recursos do FAR, financiado pela CAIXA, em uma parceria com o Programa Casa Paulista na modalidade Parceria Governo Federal108, e pela

prefeitura municipal, e executado pela empresa privada aqui denominada por Construtora E, foi entregue em três etapas.

Figura 51: Parque Resedás

Fonte: Autora, 2015

3.2.1 Projeto arquitetônico

Um conjunto com grande número de unidades habitacionais, sem nenhuma diversificação, com projetos únicos, o típico projeto carimbo de HIS herdado da Era BNH. O projeto arquitetônico da unidade habitacional foi proposto pela Construtora E, a qual explicou que “...o institucional ficou para outras empresas, porque o nosso preço não era compatível...”.

Houve uma discussão sobre o projeto proposto pela prefeitura, e o resultante é sempre menor do que o órgão gostaria. Segundo Aguiar (2015) cada moradia tem 50,35m² (medida cerca 28% maior que a mínima exigida pelo PMCMV 2109), distribuídos em dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. As unidades foram executadas com forro de laje e piso cerâmico em todos os ambientes, azulejo até o teto no banheiro, cozinha e área de serviço, esquadrias de qualidade superior (alumínio anodizado), cobertura de estrutura metálica com telha cerâmica e aquecedor solar.

<http://www.habitacao.sp.gov.br/casapaulista/programas_habitacionais_casa_paulista.aspx >. Acesso em: 08 de março de 2016.A integração entre os programas federais e estaduais é um dos principais focos de ação da Casa Paulista. A proposta é complementar os recursos de investimento e subsídios necessários para a produção de moradias de qualidade nos municípios paulistas com grande demanda habitacional.

Figura 52: Pisos e revestimentos das unidades do Parque Resedás.

Fonte: Construtora E, 2016 e Autora, 2015.

Identifica-se que na planta, como no Jardim Azaleias II, há indução da expansão do imóvel, mesmo que não descrita no repertório do assessor do setor da habitação e da

Construtora E. Ela está presente na possibilidade de ampliação de quarto aos fundos com a

abertura de uma porta no corredor, sem causar nenhuma restrição de fluxos internos. As famílias entrevistadas demonstraram satisfação com a unidade, pois, quando foram questionadas sobre os melhores ambientes, as respostas foram: “...para mim está ótimo, para mim está bom!”, diz a Entrevistada A; "Eu acho bom, tem gente que reclama, quem reclama nunca sofreu, nunca pagou aluguel, nunca morou num cômodo, nunca sofreu assim...", de acordo com Entrevistado

MA e “...eu estou muito contente com esta casinha, muito contente!”, relatou o Entrevistada P.

Figura 53: Projeto arquitetônico Parque Resedás.

As unidades têm portas de 85 cm e não apresentam desníveis internos, garantindo a acessibilidade: “para entrar na casa é fácil, não tem desnível, tem as portas maiores... O que era difícil lá onde morava eram as escadarias, eu descia no corrimão com a cadeira de rodas”, narrou o Entrevistado MA. Seguindo as especificações do programa, todas as casas são adaptáveis: “Nós aguardávamos o sorteio para saber quais as necessidades e o tipo de adaptação seria necessário para cada um”, explicou a Construtora E. A cota de portador de necessidades especiais (3% = 28 unidades) também foi dividida nas etapas, sendo que, quando havia sorteio, eram verificadas as adaptações e se a pessoa ia querê-las. Caso a pessoa não quisesse as adaptações, assinava um termo e outro portador de necessidades especiais entrava no lugar (“...muitas pessoas não querem, perante à família, expor a adaptação...” Construtora E.), já que era obrigatório adaptar 28 unidades devido a uma exigência do programa. O mesmo aconteceu com os idosos, que tiveram suas adaptações solicitadas após o sorteio.

O sistema construtivo utilizado foi de parede de concreto com fundação em radier direto; a carga é distribuída e o solo da cidade favoreceu. A Construtora E contou que “...a parede de concreto é levantar a armação de concreto armado; a espessura das paredes e lajes é 100% de 10cm, é um bloco todo resistente, precisa ter uma força muito grande para abalar...”. Foram utilizadas seis formas e, em média, foram concretadas cinco formas por dia, para cumprir o planejamento de obra, da construção de 926 unidades num prazo de 18 meses.

Para isso foi necessária uma equipe muito grande, e SJBV não estava preparada para uma obra deste porte: “...eu tive que levar muitas empresas de fora. A mão de obra de forma é 100% nossa, mas de resto podíamos terceirizar. Elétrica, revestimento...O que eu consegui contratar de gente lá, eu fui fazendo...”, descreveu o engenheiro responsável. O padrão de qualidade era verificado em um laboratório montado na antiga sede da fazenda, com testes em todo concreto que entrava na obra, e todos os laudos resultaram acima de 25Mpa.

Melhoramos os caixilhos e colocamos venezianas por pedido da prefeitura. A cerâmica que nós utilizamos é boa, não só porque estava no memorial, porque o benefício é não só do morador, mas também da construtora, que não tem assistência técnica... É a credibilidade da construtora para ter um bom relacionamento com a CAIXA (Construtora E).

Figura 54: Obras do Parque Resedás.

Fonte: Autora, 2015

Na licitação, o sistema foi apresentado à CAIXA, que na época já estava aceitando outros tipos de sistemas construtivos sem ser o convencional. O sistema tem todo o processo pronto, elétrica embutida e hidráulica aparente, e com ele eliminam-se etapas e se antecipam prazos do convencional. Esta antecipação faz com que as unidades fiquem prontas em um prazo inferior ao da construção convencional, em apenas 60 dias a unidade está acabada.

O tamanho da unidade é um grande influenciador no cotidiano dos moradores. A maioria dos entrevistados não aparentou contentamento, principalmente com o número de cômodos, já que é comum famílias com mais de cinco pessoas, por isso é constante ver a sala transformada em dormitório, como relatam: "Dá, mas é apertado, na verdade tem que dormir eu, minha mãe e a menina numa cama só, porque não cabe outra, está difícil, por isso queria mais um quarto, mas eu não dou conta, eu não posso fazer nada, mas o muro está em primeiro lugar", Entrevistado A. O Entrevistado P relata: "Cabe né, cabe, por enquanto está todo mundo morando aqui, está meu neto com a mulher dele e as crianças pequenas, até eles comprarem uma casa, o patrão dele que vai ajudar ele comprar, daí ele vai para casa dele".

As assistentes sociais que estão sempre em campo descreveram inúmeras situações quanto a isso: "Muitas casas vejo isso, não é pelo tanto que a pessoa ganha, nem pelo tamanho, mas pela higiene, tem casas que já estão destruídas, paredes sujas tem outras impecáveis, tem morador com dez filhos que a casa é um brinco" (SILVA, 2017a).

Ficou bem organizado, um quarto ficou as meninas que são quatro e no outro os meninos que são seis e eu fiquei sem quarto, eu fiquei na sala, comprei as camas que cabia, dos meninos são duas treliches, e da meninas são duas camas daquelas que puxam, ficou bem organizado, eu não gosto de amontoar, só tem o básico, o que dá para usar. E ainda tem guarda roupa, que tem que caber, eu tenho mania de arrumação, principalmente, com guarda roupa. É espaçoso lá,

quando eu olhei sem nada dentro, eu falei para as crianças ou leva os móveis ou vocês, porque não vai caber dentro da casa, mais depois de organizado cabe (Entrevistado CA).

Figura 55: Ambientes internos de unidades do Parque Resedás.

Fonte: Autora, 2017.

Para adequar a unidade ao perfil de cada família, os moradores fazem as intervenções construtivas possíveis e necessárias, não havendo grandes modificações por todo o bairro. As modificações mais correntes são os fechamentos frontais e laterais, garagem e extensão da área de serviço: "Fiz uma área para as crianças brincarem, para estender a roupa e não tomar chuva e ficou bom...", Entrevistado P. Isso pode ser justificado pelo fato de ser um conjunto relativamente novo (última entrega em junho de 2015), pela faixa de renda (0 a 3 salários mínimos), ou mesmo pela crise financeira atual110: "...quando mudamos começamos a construir o muro, depois paramos, até hoje ainda não consegui, agora que está dando uma estabilizada",

Entrevistado CA. "Fizemos esse cercado e o galinheiro111, tudo eu e meu menino, não temos condições de fazer diferente, ainda...", Entrevistado MA. "Eu coloquei só esse telhado, só isso só, não consigo fazer mais...", Entrevistado A.

Silva (2017b) e Noronha (2017) dizem que "Tem muitos que começam a construir e param, depois voltam, faz bastante tempo, porque são famílias extremamente numerosas e sem condições financeiras..." e ainda: "Quantas casa você viu sem muro? Tem muitas, muitas não

110 BARBOSA (2017). A ECONOMIA brasileira encontra-se formalmente em recessão desde o segundo trimestre

de 2014, segundo o Comitê de Datação do Ciclo Econômico (Codace) da Fundação Getúlio Vargas. O produto per capita brasileiro caiu cerca de 9% entre 2014 e 2016. Essa situação cria um ambiente de forte pressão para uma pronta recuperação da economia brasileira.

111 Entrevistado relatou usá-lo para terapia, pois é cadeirante e não consegue sair de casa. "Eu que faço tudo, essas

aves é de um amigo meu, ele mora no apartamento e não pode cuidar ai eu trouxe para casa e ele dividiu comigo, a gente vai criando junto, é mais uma terapia. “No entanto, segundo Silva (2017a/b) e Noronha (2017) o galinheiro em questão é para manter galos de briga e que o entrevistado em questão é o maior traficante do bairro "Ele é traficante você, sabe né? É traficante da pesada, as meninas vão sempre fazer visita".

fizeram nem o muro mesmo, sabe porquê? Porque é realmente a renda que ele pôs...". Por outro lado, alguns relatos indicam uma questão recorrente, a inconsistência do processo de análise de renda:

Eu não sei como dão conta, eu já vi um monte de casa construindo, com muro, com quarto, o povo deve mentir a renda, só pode, vou te falar uma coisa tem muita gente aqui que tem carro novo, a gente sabe que eles tem, na hora eles devem ter transferido para nome de família, porque não é possível, como é que consegue, você vê rapidinho eles levantaram tudo e eu não consigo fazer nada, eu não faço nada e aqui tem muro para fazer, muito muro (Entrevistado A).

Outra informação muito importante dada pelas assistentes sociais que atendem o bairro e que nenhum dos entrevistados mostrou ciência, é que a prefeitura fornece caminhão de terra para poder aterrar as casas que estão desbarrancando. Embora as obras que acontecem não bairro não sejam grandiosas, há várias intervenções pontuais, principalmente, na fachada. Algumas reformas que estão dentro da legalidade contratual e já estão sendo vistas no bairro é a construção de outra unidade dentro do lote para atender familiares consanguíneos, por isso – relatou o Entrevistado L – que a prefeitura está com uma fiscalização assídua para a verificação das regularidades construtivas, pois a implantação recente do conjunto leva a várias obras simultâneas.

Fiz o muro, não todo, falta uma lateral, fiz mais três cômodos para minha sogra no fundo e estou fazendo, devagar a gente vai fazendo. Aqui é unitário, não é para terceiros, a sogra é mãe então pode construir, não pode fazer lá e alugar, ou eu não morar aqui, fazer para outra pessoa e tem gente realmente que faz isso, mas como a gente precisava tinha que fazer. Para a construção tive que ir na prefeitura tirar licença, certinho, como meu tinha menos 60m² não precisei de engenheiro, só precisei pagar umas taxas, porque fizemos antes de ter a licença, aí o fiscal veio falou que se não acertasse pagava multa aí fui lá e resolvemos (Entrevistado L).

Figura 56: Intervenções construtivas das unidades do Parque Resedás.

Fonte: Autora, 2015 e 2017.

Mesmo com muitas reformas acontecendo elas ainda não suficiente para descaracterizar o tipo habitacional inicial, mantendo a paisagem edilícia do conjunto sem muitas alterações.