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2.2 CADEIA PRODUTIVA

2.2.3 Outras formas de caracterização da cadeia produtiva

Este tópico está relacionado à forma de descrição das características de uma cadeia produtiva. Burnquist et al (1994) chama a atenção para dois pontos principais em uma cadeia a serem analisados:

• Sua identificação (produtos, itinerários, agentes e operação). Neste item pode-se identificá-la pela análise do posicionamento das atividades produtivas, citada anteriormente; e

• A análise dos mecanismos de regulação (estrutura e funcionamento dos mercados).

Pode-se identificar esses conceitos pelo posicionamento da força produtiva e dos seguintes delineamentos propostos por alguns autores a seguir.

Gerrefi (1997) identifica duas maneiras de classificar as empresas líderes, que dentro de uma cadeia se destacam por sua liderança, controle e adequação processos e estruturas:

Producer-driven (focada na produção): grandes manufaturas coordenando a produção da cadeia, localizadas no elo de produção do produto final; e

Buyer-driven (focada no mercado): grandes varejistas, designers, que distribuem a produção por diversos países. Essas indústrias não produzem seu produto, mas apenas controlam como, quando e onde a produção irá acontecer. Por exemplo: Wal-Mart, Sears, Nike. Essas empresas estão localizadas no elo de comercialização do produto final.

Dess (1995) caracteriza três formas de organização da relação entre empresa para cadeias produtivas:

• Estrutura modular: a organização líder mantém as atividades essenciais da cadeia de valor e há uma grande terceirização das atividades de suporte. Este tipo de estrutura, especialmente, surgiu no setor de informática (PIRES, 1998) e vem sendo disseminado desde os anos 90 no Brasil, principalmente no setor automobilístico. O fornecedor, agora conhecido como modulista ou sistemista, é responsável por entregar módulos ou subconjuntos pré-montados para as montadoras (MARX; ZILBOVICIUS;

SALERNO, 2003). Dentre esses fornecedores, existem os que trabalham com produtos comuns, quase commodities (por exemplo, tapeçaria, plásticos, elementos de fixação) e aqueles que fornecem produtos relacionados à eletrônica (por exemplo, freios, sistema de segurança, etc.). Nos trabalhos de Pires (1998), Marx et al. (2003) e Scavarda e Hamacher (2001), confirmam-se mudanças da estrutura do setor automobilístico a respeito da relação entre fornecedor de autopeças e a montadora, comprovando a descentralização da cadeia em discussão. Scavarda e Hamacher (2001), em sua pesquisa sobre os benefícios aos fornecedores nesse de tipo de estrutura conclui, que os dirigentes acreditam que esse sistema é vantajoso, pois,

mantendo-se padronizados com as montadoras, estariam melhor posicionados em relação às fornecedoras das mesmas peças que não possuem vínculos com a empresa líder. A vantagem vista por eles também está relacionada com a troca de conhecimento entre fornecedor e montadora;

• Estrutura virtual: ligações com fornecedores, clientes, distribuidores somente temporariamente para maximizar competências; e

• Estrutura de livres barreiras: com pouca diferenciação de tarefas e papéis entre empresas.

Além de caracterizar a cadeia em relação à empresa líder e a relação estabelecida entre elas, existe também a caracterização pelas formas de fragmentação destas cadeias. Ao contrário de estruturas verticalizadas, em que grande parte da produção necessária é realizada no interior da empresa (SILVA, 1996), a fragmentação das cadeias promove a dispersão de processos de produção em diversas partes, entre diferentes organizações, por meio de filiais, subcontratações e terceirizações para a redução de custos organizacionais (DUPAS, 1999). A fragmentação “refere-se ao movimento de redução do tamanho da cadeia de atividades de uma dada empresa” (NETO, 1995, p.3 5). Um exemplo dessa situação é citado por Cattani (1996, p.120):

Um produto que antes era elaborado integralmente em uma usina, hoje pode ser fabricado em dezenas de empresas, montado, embalado e distribuído por dezenas de outras, sem que haja vínculos orgânicos, e, no que nos interessa, sem que os inúmeros trabalhadores envolvidos estejam em contato uns com os outros.

Pochman (2001) apresenta três tipos de subcontratação:

• A subcontratação primária: uso de serviços direto dos compradores finais, como é o caso da distribuição dos serviços;

• A subcontratação secundária: montagem de equipamento ou produto com baixa agregação de valor; e

• A subcontratação terciária: vínculos semipermanentes para obtenção de materiais ou uniformização de processos produtivos.

Essa tendência à teceirização ou subcontratação leva também ao surgimento de contratações de trabalhos domésticos ou organizações informais, que possuem condições de trabalho (por exemplo, pagamento de salários) mais precárias do que subcontratações formalizadas (CATTANI, 1996; POCHMAN, 2001). Em contrapartida, Neto (1995) afirma que, embora haja essa tendência de desverticalização, muitas empresas ainda mantêm grande parte da sua produção dentro da sua própria estrutura, pois ainda não há qualidade suficiente dos fornecedores para atender à demanda requerida. Ferreira e Barcellos (2004), em um estudo sobre a caracterização de alianças estratégicas na cadeia de carne bovina, concluem que um dos fatores de descontinuidade das relações de aliança é a confiança que uma empresa tem na efetividade das atividades da outra empresa.

A presença de mobilidade também é fator de caracterização de uma cadeia por se tratar de uma tendência mundial (HARVEY, 1989). Em relação à mobilidade, na mesma busca por mercados mais flexíveis e menores custos, as grandes corporações alteram suas cadeias produtivas geograficamente. Segundo Dupas (1999, p.84), “os segmentos do processo produtivo que utilizam mais trabalho intensivo não qualificado têm sido deslocados para países nos quais esse fator é abundante, em geral países da periferia”. Nos países de periferia, a mão-de-obra não qualificada é útil quando o produto já apresenta tecnologia estabilizada, padronização de processos e rotinização de tarefas.

A questão dos fornecedores também é importante para as cadeias, pois existem aqueles que fornecem um único componente para filiais do mundo todo. Porém, a tendência é que as grandes corporações utilizem fornecedores de vários países, flexibilizando a alocação de produção e diminuindo a pressão dos sindicatos (DUPAS, 1999). A pressão dos sindicatos por condições de trabalho nas economias centrais pode ser considerada um dos motivos do

deslocamento das grandes organizações para países onde há grandes estoques de reserva, baixos salários e menor poder de sindicatos. (DUPAS, 1999).

A busca pela cooperação global, a desintegração dos processos e o foco nas competências essenciais fizeram com que as empresas se organizassem de forma integrada numa cadeia produtiva, gerando o grande desafio do gerenciamento dos elos compostos por diferentes tipos de organizações. Mesmo que cadeias produtivas existam há muito tempo, a visão que se tem de gerenciamento dessa cadeia é algo recente. Os novos conceitos aprendidos com os dois temas tratados nos tópicos anteriores (Nova Economia Global e cadeia produtiva) levam a um terceiro, que são as relações de trabalho do mundo contemporâneo. Se há uma mudança na forma de organização das empresas, o empregado, de maneira sutil ou agressiva, também é afetado. Novas formas de relações trabalhistas estão fazendo com que haja grandes mudanças nos conceitos de, por exemplo, sindicato, flexibilidade e qualidade empregatícia. De acordo com os objetivos desta dissertação, o próximo tópico apresenta uma breve revisão sobre esse assunto.