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As entrevistas mostraram um respeito muito grande dos profissionais em relação às normas de instalações. Dos 14 entrevistados que compararam os sistemas a gás com os elétricos em termos de segurança (17. Na sua opinião, o gás natural apresenta algu-

ma vantagem em termos de segurança em relação aos demais energéticos? E em termos ambientais? Como o consumidor vê isso?), oito consideraram que os primeiros são mais

seguros (a maioria deles destacando a necessidade de que as normas sejam seguidas). Nesse sentido, quatro dos entrevistados destacaram que consideraram ambos os siste- mas seguros, desde que todas as normas sejam observadas. Os instaladores foram os que se mostraram mais favoráveis aos sistemas a gás em termos de segurança: três deles disseram que os consideram mais seguros (os outros dois não responderam essa ques- tão). Já os arquitetos, por outro lado, pouco contribuíram nesse sentido: dois disseram não saber e os outros três não responderam esse item.

Na avaliação dos entrevistados, muito mais do que com a segurança dos siste- mas, os consumidores estão preocupados com seu custo de instalação (caso tenham de comprar o aparelho, por exemplo) e de operação. Do total de entrevistados, sete destaca- ram essa percepção. Outros seis consideraram que os consumidores ignoraram/não li- gam/não vêem diferença entre os tipos de sistemas.

Com relação ao impacto ambiental dos sistemas de aquecimento de água, tam- bém questionado na pergunta 17, nove dos entrevistados (dos quais quatro representan- tes de grandes construtoras) afirmaram que o uso de gás natural tem menor impacto ambiental que o da eletricidade. Também chamou a atenção a percepção de sete dos entrevistados de que as duas formas têm impactos, embora diferenciado: por um lado, as hidrelétricas exigem o alagamento de grandes áreas, por outro, os dutos de transporte de gás natural também impactam o meio ambiente, por exemplo. Além disso, levantaram a

questão das emissões de gases causadores de efeito estufa tanto pela queima do gás co- mo pelo apodrecimento da matéria orgânica nos lagos das usinas. Essas comparações indicam pelo menos a percepção, entre esses entrevistados, de que, seja qual for o sis- tema escolhido, deve ser feito com o máximo de eficiência de modo que o impacto seja o menor possível.

Também nesse caso os entrevistados têm a percepção de que os consumidores dos apartamentos estão mais preocupados com o custo do que com o impacto ambiental dos sistemas (quatro respostas). A principal percepção (11 respostas), no entanto, foi de que os consumidores não vêem diferença entre o impacto dos sistemas ou não ligam para isso. Apenas 2 entrevistados indicaram que “Em termos ambientais, a preocupação

começa a aparecer, mas ainda é incipiente como fator de tomada de decisão” (P.3) e

“consumidor vê que o gás natural polui menos” (CBR.5). Além disso, um dos entrevis- tados, que disse que o que o consumidor é guiado pelo custo, destacou que, apesar dis- so, já existe uma noção entre os consumidores de que algumas formas de energia podem ser mais ou menos limpas.

Tabela 6.12 - Mudanças com o racionamento de eletricidade

Q18. Sua empresa trabalhava nesse setor durante o racionamento de 2001 e 2002? Em caso positivo, houve mudança em algum procedimento para diminuir os gastos de energia do consumidor/morador do apartamento? Terminada a crise, tal proce- dimento foi mantido? Terminada a crise, houve algum arrependimento/frustração com relação a algum sistema feito em 2001? Explique.

Houve mudança? Agentes

Sim Não

Não respondeu ou não estava na empre- sa na época Projetistas - - 5 Instaladores 2 2 1 Arquitetos - - 5 CGP 1 1 3 CBR 1 4 -

Fonte: Elaboração própria com base em FAGÁ ET AL.(2007a).

Essa questão ficou um pouco comprometida porque não foi perguntada para uma parcela dos entrevistados. De qualquer forma, as respostas obtidas indicam dois aspec- tos: os sistemas centrais elétricos foram substituídos por sistemas a gás nas construções de alto padrão (duas respostas) e a tentativa de reduzir os gastos de eletricidade levou

duas empresas (uma construtora de grande porte e uma voltada para baixa renda) a in- cluírem geradores a diesel no canteiro de obras. A primeira delas também passou a usar aquecedores a gás para o banho dos funcionários. Além disso, três dos instaladores indi- caram que foi a partir daquele momento que os sistemas a gás começaram a ser usados com maior freqüência; mas um deles especificou que isso se devia mais à expansão das redes da distribuidora de gás natural do que à exigência de economizar eletricidade du- rante o racionamento.

A substituição de sistemas elétricos por outros a gás aparece na percepção dos corretores de imóveis (cujas demais respostas serão apresentadas no item 6.2). Dos qua- tro que já atuavam nessa área na época, três identificam que foi a partir de então que os aquecedores a gás começaram a ser incluídos nos apartamentos novos.

6.2. Respostas dos corretores de imóveis

Os corretores mostram-se conscientes de sua baixa participação no processo de definição das características dos imóveis. Quatro deles identificam, no entanto, que a etapa de venda das novas residências é um momento em que há coleta de informações que posteriormente subsidiarão as novas unidades. Ou seja, colaboram na transferência dos interesses dos potenciais compradores para os construtores.

Mas, com relação especificamente à obtenção de informações junto aos potenci- ais compradores sobre os sistemas de aquecimento de água, apenas dois entrevistados identificaram demandas nesse sentido, sendo que um deles explicitou o interesse dos compradores por sistemas a gás como um incentivo para que as construtoras passassem a incluí-los nos edifícios: “No caso do aquecimento a gás, foi quase que um movimento

social. Os clientes se manifestaram e virou o cotidiano” (C.5).

Quanto ao tipo de sistema usado nos apartamentos atualmente, todos os entrevis- tados citaram a presença de aquecedores a gás. O entrevistado C.3 informou que mesmo nos locais em que não há rede de gás natural, são usados cilindros de GLP. O entrevis- tado C.4 disse “não vendemos mais apartamentos com aquecimento de água elétrico já

faz muitos anos”. Além disso, o C.5 informou que essa é uma realidade mesmo para

empreendimentos de padrão médio a baixo.

Como citado acima, as entrevistas indicam que essa predominância dos aquece- dores a gás nos apartamentos começou a se definir no racionamento de eletricidade de 2001 e 2002.

Embora não sejam preparados para falar especificamente sobre sistemas de água quente, esses profissionais mostram-se tranqüilos no relacionamento com os clientes que têm dúvidas sobre o assunto. A maioria deles considera que as informações presen- tes no memorial descritivo dos imóveis já são suficientes para apresentar tais sistemas. Três deles destacaram a realização de treinamentos sobre as instalações como parte do processo preparatório para as vendas de novos edifícios, mas não específicos sobre os sistemas de aquecimento de água.

Quando questionados se teriam interesse em particular de um treinamento sobre sistemas de aquecimento de água a gás, dois deles responderam que não por falta de necessidade e de tempo. Os demais mostraram interesse, embora um deles tenha deixa- do claro que se tratava de um interesse mais pessoal do que profissional: “sou um con-

sumista de informação” (C.2).

Os entrevistados identificam que, na hora da compra do apartamento, os com- pradores levam em conta principalmente questões relativas ao preço, tamanho, localiza- ção, entre outras características. Há questionamentos específicos relativos ao custo do condomínio (“o condomínio é uma das primeiras coisas com que o cliente demonstra

estar preocupado”, C.3). Além disso, três dos corretores identificam preocupações com

os gastos com energia e com os sistemas de aquecimento de água instalados. Mas nem sempre: o entrevistado C.5 afirmou que “a preocupação com a questão energética já é

das classes mais informadas”.

Por fim, quanto à segurança e meio ambiente, as respostas indicam que os con- sumidores estão preocupados principalmente com o custo do sistema (duas das quatro respostas obtidas). Nenhum dos corretores identifica preocupações do público em ter- mos de segurança e impactos ambientais. Como usuários, os corretores mostram-se se- guros com relação aos sistemas a gás, sendo que um deles (C.4) identifica inclusive uma evolução nesse sentido: “O sistema (a gás) hoje está seguro; antes não era”.

6.3. Análise dos resultados

A análise dos resultados obtidos com as entrevistas conduz a sete reflexões prin- cipais. Esses pontos serão retomados no Capítulo 7, onde serão relacionados com outras questões levantadas ao longo do trabalho.

Reflexão 1. Diferentemente do que se supunha no início deste trabalho, há uma boa