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Mapa 4 – Projetos de assentamento de reforma agrária identificados (2005)

4. FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA CONSTRUÇÃO CIVIL E

4.3. O PERCURSO DA PESQUISA

4.5.10. Outras transformações promovidas pelos cursos

Ao longo desta pesquisa, foi possível identificar, entre os aprendizes, a ocorrência de algumas transformações que não constavam nos objetivos dos cursos. Uma destas transformações foi a aproximação de pessoas e o estreitamento de relações previamente existentes, como se percebe nas falas transcritas a seguir:

A minha avaliação geral, primeiro, do curso, foi bom até demais, até porque pessoas que não tinham certa amizade, certo vínculo, eu peguei aqui, dentro do curso. Muita amizade, brincava, dava risada, mas tudo dentro das normas, dentro do curso.

Trabalhei, vamos dizer assim, com ele aí, todos eles, a gente era da família, mesmo, e fizemos várias casas aí [...].

Pra mim, não podia ser melhor, de jeito nenhum, que, graças a Deus, todo o mundo começou amigo, terminamos amigos, sempre.

A equipe que trabalhou comigo era boa, era ótima.

A minha avaliação que eu tenho, do curso, foi muito boa, trabalhei com um grupo também excelente, o coroa ali, e o que eu tenho a dizer é que foi produtivo, nós produziu, deu pra aprender várias coisas, e seguir em frente.

O educador Adilson Arruda acredita que esta aproximação das pessoas é fruto da própria dinâmica introduzida pelo curso entre os aprendizes, mobilizando-os em torno de um objetivo comum:

E, também, a própria movimentação que um curso desse dá, que um curso desse proporciona dentro do assentamento, ou seja, você passar quatro meses, quatro dias por semana – sexta, sábado, domingo e segunda –, todos

juntos, de sete da manhã, sete e meia da manhã, até cinco da tarde, isso acaba aproximando as pessoas.

O total envolvimento dos aprendizes com o curso e com as casas que eles estavam construindo foi apontado pelo educador Gilberto Oliveira:

Agora, tem uma característica, no nosso curso, que os alunos, vamos dizer assim, que eles se apegam à construção. Se apegam, assim, com carinho, com aquilo que eles estão fazendo, né? Que eles estão vendo que aquilo é produto deles, né? Principalmente no aprendizado, então acontece muito isso. E lá – foram quatro construções – teve alguns casos específicos, por exemplo: a casa de Antônio, mesmo, quando estava com problema de saúde, a gente percebia que os alunos tinham um maior carinho por aquilo ali, aquele grupo de alunos que estava responsável por aquela construção. Então, justamente por isso. E, em alguns momentos, a gente percebia até que eles cuidavam até do entorno do lote, que ele tinha algumas coisas plantadas lá, e percebia que eles tinham um cuidado.

Os 48 aprendizes estavam organizados em quatro equipes, cada qual com 12 componentes. Cada equipe era responsável pela construção de uma casa. Segundo a assistente social Rosângela Jacó, houve, entre as equipes, um saudável clima de competição – no sentido da obtenção de resultados práticos de maior qualidade – que inclusive estimulou o aprendizado e reforçou a união do grupo:

Embora o fato de serem quatro construções levasse eles a uma competição, mas era uma competição saudável. Então, eles ficavam muito comparando o nível que tava a construção deles pro nível que tava a construção das outras equipes. Mas era uma competição saudável, porque eles conversavam entre si, eles diziam: “não, oh, precisa melhorar o acabamento, você viu o acabamento de não-sei-quem? Ele tá usando esse material. Você não quer tentar também?”. Então, assim: a relação desse grupo, com certeza, mudou do que que era antes, né? Eles começaram a se identificar enquanto grupo, mesmo.

Outra transformação promovida entre os aprendizes, durante o período do curso, foi a diminuição do índice de alcoolismo, conforme informa a assistente social:

E a gente percebeu, logo quando chegou lá, que, assim: o índice de alcoolismo, embora fosse proibido o uso de bebida alcoólica no assentamento, mas a gente percebeu que era muito alto. E, no decorrer do curso, esse índice de alcoolismo, mesmo, no assentamento, com esses alunos que ficaram envolvidos no curso, diminui muito. É porque assim: enquanto eles não estavam fazendo atividade agrícola, eles estavam se qualificando. Então, até nesse sentido, o curso serviu pra poder melhorar a dinâmica deles.

Arruda explica que o consumo de bebidas alcoólicas nas noites de sábado atrapalhou o andamento das tarefas dos domingos, no início do curso. Com o passar do tempo, e o envolvimento dos aprendizes nas atividades educativas, esse quadro desapareceu:

Por exemplo: no primeiro final-de-semana que a gente chegou lá, pra trabalhar sexta, sábado, domingo e segunda, quando nós chegamos no

domingo pela manhã, no primeiro final-de-semana, no domingo pela manhã, houve uma queda altíssima na freqüência dos alunos. Digamos, mas de 15, 20 alunos, faltaram no domingo de manhã, devido a alcoolismo. [...] E, um mês depois de iniciadas as atividades, você já via que já tinha caído muito. No domingo, já era uma atividade normal, como era na sexta, no sábado e na segunda. E, depois, ficou um dia normal de atividade para os alunos.

Outro desdobramento das atividades do curso, mas que não estava dentre os seus objetivos – especificamente no assentamento – foi a geração de trabalho e renda. A formação profissional promovida pelo Thaba comumente tem essa meta – a geração de trabalho e renda –, mas no caso de Água Fria buscava-se capacitar os assentados para construir as casas da agrovila. Os participantes do segundo grupo focal estimaram que entre quatro e cinco egressos dos cursos hoje trabalham fora do assentamento, na construção civil, como atesta o depoimento a seguir:

Esse curso ele é bom, bom porque ele aperfeiçoou muitas pessoas aqui dentro, né? E teve deles aí que recebeu até o diploma, e tá desenvolvendo o diploma. Tem muitos dele aí que começou tocar o barco, continuou. Aqueles que quis desenvolver, deu continuidade, e tá aí. No caso, mesmo, tem um rapaz aí, que foi pra lá pro lado do Rio Grande do Sul, como é o nome dele? [...] Já tá no Rio Grande do Sul, trabalhando, em cima da construção civil. Trabalha lá. Então, um menino que não sabia o que era prumo, não sabia como é que fazia um traço de massa, nem nada. Então, o Thaba veio aqui pra dentro, tá entendendo? E aí deu um avanço muito grande, e isso aí foi bom, que o Thaba veio aqui, que incentivou, deu um fogo, tá entendendo?