• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 9. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES DA

9.4 OUTROS FATORES IMPORTANTES PARA A ACUMULAÇÃO DE

CAPACIDADES TECNOLOGICAS NA STN – 1986 A 2005

Conforme delimitação feita ao foco de estudo desta dissertação, é possível identificar alguns fatores importantes ao processo de acumulação de capacidades tecnológicas na STN, tecendo alguns comentários sobre cada um deles.

Basicamente, merecem destaque o contexto histórico de criação da STN; a interação do País e do MF com organismos de apoio multilaterais e da STN com outros órgãos de governo; e o papel dos membros da alta administração fazendária no período alvo de estudo.

Com relação ao contexto histórico comentado no Capítulo 4, pode-se verificar, da evidências apresentadas no Capítulo 6 e da análise realizada no Capítulo 8, que a STN foi

criada no bojo de uma série de medidas que tiveram grande impacto nas Finanças Públicas do Brasil.

O descontrole inflacionário e o caos financeiro instalado na década de 1980, motivados por variados fatores, levou o País a moratória unilateral de seus compromissos externos, em 1987, impondo ao Governo federal o desafio de administrar uma crise de liquidez, à medida que os recursos externos minguaram drasticamente e que o mercado financeiro nacional não detinha condições e tamanho para garantir a rolagem das dívidas interna e externa.

O Brasil precisava encontrar meios de reorganizar as suas finanças, de modo a reconquistar a estabilidade monetária e a credibilidade junto aos mercados nacional e estrangeiros. Por conta disso, todos os esforços da STN, em seus primeiros anos de criação, foram voltados à construção de rotinas e sistemas que permitissem a União, pela primeira vez na história, obter informações em tempo e em forma adequados ao estabelecimento de uma gestão de caixa segura.

Fato que levou ao desenvolvimento, implantação e consolidação do SIAFI, em pouco menos de 5 anos, permitindo ao Governo federal operar e dispor de informações contábeis e financeiras em tempo real.

Considerando que a crise dos anos 80 afetou, gravemente, os governos sub nacionais, os quais detinham muito menos recursos e condições para se auto ajustarem, foi necessário a apoio do Governo federal para resgatar o equilíbrio dos estados e de grande parte dos municípios. Situação que motivou o TN, em intervalo de aproximados 7 anos, a elaborar e aperfeiçoar programas de reestruturações de passivos e de incentivo a gestão fiscal responsável, que demandaram o desenvolvimento das capacidades tecnológicas sob a função “Gestão Federativa”.

Para obter e reter quadros à altura do desafio institucional que o cenário econômico demandava, a STN, também, precisou concentrar esforços para criação e consolidação de uma carreira própria, recrutando e formando pessoas sob premissas planejadas. Além de precisar desenvolver suas estruturas e métodos e processos. Com esse objetivo, em aproximados 10 anos, a área institucional da Secretaria começou a desenvolver

capacidades operacionais em nível avançado, desenvolvendo capacidades inovadoras logo em seguida.

Finalmente, com o propósito de vencer a complexa missão de assumir a gestão das dívidas interna e externa do Governo federal, até então sob os auspícios do BACEN, permitindo ao Brasil, enfim, dispor de condições para implementar políticas fiscais e monetárias, de modo independente e transparente – condições imprescindíveis a reabilitação do Pais junto à comunidade financeira –, a STN, em aproximados 12 anos, desenvolveu capacidades tecnológicas que a credenciaram a gerir a dívida nacional sob bases equivalentes ao benchmark mundial.

Portanto, parece claro que o contexto histórico de criação da Secretaria influenciou o modo, a direção e a velocidade com os quais a STN acumulou capacidades tecnológicas, entre 1986 e 2005. Sendo certo, também, que as condicionantes históricas acabaram por impor o desenvolvimento tecnológico observado na STN e noutros órgãos relacionados à Fazenda, sem o qual o Brasil poderia, até os dias presentes, estar imobilizado pela crise econômica da década de 1980.

Assim, parece possível afirmar que a acumulação tecnológica na STN foi facilitada e beneficiada pelo peso e pela importância dessa Secretaria no contexto de recuperação econômica vivenciado pelo País nas últimas décadas. Sendo possível, por lógica reversa, especular no sentido de que, eventualmente, a ausência das pressões advindas do ambiente externo poderia ter mantido a inércia de estruturas administrativas precárias e ultrapassadas, como, aliás, pode ser percebido em tantas outras áreas governamentais no Brasil.

No tocante a interações do Brasil e do MF com organismos multilaterais, em especial, o FMI e o BIRD, em função da necessidade de ajuda financeira externa para fechar o balanço de pagamentos, é possível afirmar que, ao menos quanto às capacidades tecnológicas relacionadas à “Gestão Financeira” e à “Gestão Federativa”, o contato de equipes da STN com as equipes e tecnologias detidas pelas referidas entidades permitiu a aquisição de conhecimentos que, após internalizados e convertidos em conhecimento organizacional, fomentaram as bases para uma “cultura de responsabilidade fiscal” estampada na missão do TN, definida nos idos de 1997.

Sobre as interações da STN com outros órgãos de governo, destacam-se a parceria estabelecida com o SERPRO, a partir da qual foi viabilizado a criação do SIAFI em meses; a cooperação constante com as equipes da SOF/MP, do BACEN, do BB e outros; bem como as estreitas relações estabelecidas com secretarias de fazenda de todos estados e municípios. Da troca de informações e experiências entre as equipes da STN e desses órgãos, variadas rotinas e sistemas foram criados e aperfeiçoados.

Por fim, quanto ao papel dos líderes e dos valores, observa-se das evidências extraídas da história da STN que os perfis de seus secretários e da sua alta gerência, bem como dos próprios Ministros da Fazenda, do período examinado, foram importantes para implantação e consolidação de princípios e diretrizes relacionados à gestão pública responsável. Da argúcia desses administradores, foi possível a STN, em poucos anos de existência, definir ações e estratégias, com apoio de consultorias renomadas, que contribuíram para acumulação de capacidades tecnológicas na Secretaria e para valorização dos processos de aprendizagem, tornando uma constante os processos de conversão de conhecimento do nível individual para o nível organizacional.

Sendo que, dos valores construídos no âmbito da STN, destaca-se a responsabilidade fiscal, obtida sob esforços árduos que culminaram com a edição da LRF, em 2000, e com ela a construção de novos paradigmas para os administradores públicos brasileiros, focados, não mais no tradicional eixo da arrecadação, mas, sim, no eixo das despesas, atrelando-as a receitas de modo a viabilizar o equilíbrio fiscal da União, estados e municípios.

Enfim, não obstante restarem do presente estudo evidenciadas as implicações dos processos de aprendizagem no acúmulo de capacidades tecnológicas da STN, as quais permitiram o desenvolvimento de atividades e projetos de suma importância para o MF e para o Brasil, é claro que, conforme mencionado nos primeiros Capítulos desta dissertação, há de serem considerados outros diversos e relevantes fatores que influíram no curso do desenvolvimento organizacional da STN.

Documentos relacionados