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4 OUVINDO O TUTOR PRESENCIAL DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E

MATEMÁTICA NUMA ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR

Minha primeira experiência em EaD foi em um curso de desenho artístico que iniciei pelo Instituto Universal Brasileiro há muito tempo. O conheci um dia folheando umas revistas de recortes na Biblioteca da Escola Estadual Sebastião Gurgel onde estudava. Encontrei uma página cheia de cursos interessantes com uma ficha para inscrição e resolvi preen- cher, e como não tinha despesa de correios, mandei.

Um dia, passando na Agência dos Correios para pegar as corres- pondências do bairro onde eu morava, o Alto da Liberdade, fazia isso pelo fato de que os serviços dos correios não chegavam até lá, as casa não ti- nham números, também não tinha sistema de água encanada, muito me- nos energia elétrica, no meio das muitas correspondências que recolhi dos conhecidos, tinha um pacote pra mim, tratava-se do primeiro fascículo do módulo I, que era basicamente orientações como funcionava o curso e um carnê com as parcelas para serem pagas, por sinal muito caro para uma estudante sem emprego. Não segui no curso pela minha dificuldade finan- ceira combinada com as dificuldades que o curso apresentava.

O tempo passou e eu consegui ser aprovada no vestibular para Pedagogia, na UERN em um curso presencial, e em seguida consegui emprego como professora da 4ª série, um sonho para toda família. Minha mãe ficou muito orgulhosa de mim: “uma filha professora e formada”.

Certa vez, em um congresso de educação, falou-se muito sobre Educação a Distância e eu pensava como seria uma formação acadêmica de nível superior e uma pós-graduação a distância, lembrava-me dos qua- tro anos viajando todas as noites com grandes dificuldades de transportes, perigos na estrada, dupla jornada de trabalho, minha condição de mãe e dona de casa, era um filme que passava em minha cabeça também pelo fato da minha formação ter sido presencial. Eu confesso que fiquei ressa- biada com a novidade, mas, curiosa e com vontade que chegasse logo até

aqui na esperança que essa oportunidade viesse para todos, principalmen- te para os colegas que, por diversos motivos alheios as suas vontades, não tinham uma formação acadêmica e se tinham queriam se pós graduar.

Todos os professores que conheço desejam formação para suprir suas necessidades na sala de aula e acompanhar as novidades na educa- ção, mas como eu teriam que pagar um preço até significativo para o salá- rio de professor e, muitas vezes, em cursos realizados por instituições não muito confiáveis.

Um belo dia a EaD chegou, estava ali bem na nossa frente um Polo EaD na nossa cidade, e um dia conversando com o professor Marcos Roberto ele me falou sobre a seleção de tutores a distância, fiz minha ins- crição (fui quase a última a entregar a documentação) e então consegui ser classificada e após viajamos para Natal fazer a entrevista. Quando chega- mos no IFRN, um universo completamente diferente das nossas realida- des: muita organização, percebemos logo a seriedade que seria esse Polo e esse trabalho de tutor, muita responsabilidade e compromisso com essa nova modalidade da educação. Fiquei apreensiva, mas como o “novo” ao mesmo em que desperta medo nos impulsiona, a vontade de fazer parte dessa experiência era grande e então veio a primeira turma.

Lembro-me que na aula inaugural alguns alunos que pensavam que pelo fato de ser a distância ia ser moleza já se confrontavam com a reali- dade de que precisavam de dedicação, organização e estudo. Quebrava-se mais um paradigma com relação a essa nova modalidade de ensino.

As dificuldades foram muitas, alunos que não possuíam computa- dor em casa, outros não o dominavam, nunca nem ao menos tinha pego em um mouse, mas é verdade, alguns nos confessavam com vergonha e timidez. Lembro-me que um aluno me pediu até segredo pelo fato dele ser “analfabeto de informática”. Foi esse o termo usado por ele.

No decorrer do curso era gratificante observar em cada um a su- peração e como tinham sede de aprender, como queriam muito aquela pós-graduação. Cada situação era um desafio para eles e pra mim também. Receber alunos em casa, no meu trabalho, receber ligações em qualquer dia, hora ou lugar era e é comum e “normal”. Eu gosto de atendê-los, de ser útil, de poder contribuir indiretamente para a melhoria da educação do nosso país, do nosso estado e município. Sei que todo conhecimento reflete na aprendizagem dos alunos e isso não tem preço.

Pelo fato de estarmos mais presentes fisicamente criamos víncu- los, laços de amizades e quando um aluno desiste no meio do caminho fico triste demais; é como se eu fracassasse também, mas por outro lado, quando eles conseguem superar todas as adversidades e concluem é uma alegria que transborda.

Temos muitas histórias de superação, alunos da zona rural com di- ficuldades de aparecer no Polo durante a semana e eu às vezes os recebia aos domingos na minha casa para acessar a plataforma e enviar atividades. Certa vez, uma aluna me ligou tarde da noite perto das 23 horas, pois seu computador não “respondia” e a mesma tinha que enviar uma atividade. Como moramos no mesmo bairro ela foi à minha casa e do meu computa- dor enviou sua atividade. Foi uma felicidade dupla: dela por ter consegui- do enviar a atividade antes das 24 horas, prazo final para o envio da tarefa, e minha, pelo fato de tê-la ajudado.

Lembro-me também da minha colega de trabalho, professora, que cursava Educação Ambiental, como ela conseguiu superar as dificuldades mais simples no uso das novas tecnologias e depois pôde usar esses recur- sos nas suas aulas. Tínhamos também uma aluna que ficou doente durante o curso e conseguiu muitas vezes fazer a avaliação no Campus EaD em Natal, pois seu tratamento de radioterapia era feito na capital do estado.

Todas essas histórias e muitas outras fazem parte desse marco que é a Educação a Distância. Reconhecer sua importância na formação dos nossos colegas professores e a sua contribuição para a educação é um fato inegável e louvável.

5 OUVINDO O TUTOR PRESENCIAL DO CURSO DE